Editorial – Edição de Aniversário – Reedição
Artigo publicado originalmente em 14/12/2012.
Olhei na fachada onde despontava a estranha figura de um homenzinho dentro de um átomo. Li: Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Ao lado, a sigla CBPF/ MCT (i).
Dava para perceber que haviam adicionado uma vogal às pressas. O i parecia meio sem jeito, quase envergonhado de estar ali. Olhei uma vez mais o postal para me certificar. A figura de um padre medieval tomava conta de toda a parte principal onde se lia Revista Eletrônica de Cosmologia e Cultura. Em baixo, em letras menores, o endereço que me havia permitido chegar até aqui: Rua Dr. Xavier Sigaud, 150, Urca.
Procurei em volta. Praticamente não havia ninguém na rua. Um passante lá longe tentava se abrigar da chuva entre a saliência do prédio vizinho e uma marquise que ousava se erguer entre as árvores.
– Bem, é aqui mesmo.
Busquei a entrada principal. Um vigia me informou que ainda não havia ninguém no prédio. E ao mesmo tempo apontava para um relógio que lhe pendia (era bem esse o termo) do bolso: 5 horas da manhã.
– Posso esperar aí dentro?
Embora minha roupa lhe parecesse estranha, a chuva forte e meu olhar desamparado abriram-me a porta.
É aqui que Cosmos e Contexto é feito, pensei.
Curioso. Havia, talvez por ser tão cedo, um ar de lugar encantado. Uma porta lateral levava a um caminho que, visto de longe, lembrava a estrada que usavam para chegar ao mágico de Oz.
Perguntei se podia esperar lá no quinto andar.
O porteiro não respondeu, mas fez um sinal com a mão que eu deveria esperar ali.
Olhei na data que aparecia por cima da escrivaninha na entrada: 15 de dezembro de 2011.
Aos poucos as pessoas foram aparecendo. Eu havia descansado um pouco e até mesmo cheguei a dormir sentado no sofá no saguão de entrada. Alguns jovens apressados adentravam o Centro e depois de me lançar um olhar curioso e espantado, como se me reconhecessem – mas sem acreditar nisso – se dirigiam rapidamente ao elevador, conversando alegremente. Dava para perceber que estavam falando de coisas técnicas. Equações, evolução do universo, explosões de estrelas…
Misturei-me a um grupo que subia ao quinto andar. Sala do ICRA, pude ler.
Havia detalhes estranhos, quadros cobriam os muros e quase todas as portas. Reparei que se tratava na maioria das vezes de fotografias de grupos de pessoas, reuniões de conferência, eventos.
Procurei nas portas pelo nome. Não encontrei. Numa secretaria perguntei pela revista Cosmos e Contexto. A secretária não sabia de nada, mas um aluno que passava disse: tente lá na sala 502.
Bati na porta.
Uma voz agradável e com um tom quase infantil respondeu: está aberta!
Quando me viu não pode deixar de se mostrar surpreendido. Por um breve momento parecia que isso não estava verdadeiramente acontecendo. Com uma voz bem baixa, abandonando o tom infantil de antes, mas com uma alegria que parecia verdadeira, arriscou reconhecer:
– Você?
E assim começou Cosmos e Contexto.