Mitos Cosmogônicos I – O mundo antes da criação (Egito Antigo)*
ARTIGO /
A partir deste número, Cosmos e Contexto irá examinar alguns mitos de criação do Universo em diferentes civilizações. Neste texto, seguimos a apresentação de Serge Sauneron** e Jean Yoyotte*** proferida no encontro ocorrido em 1959, na França, onde se juntaram antropólogos, arqueólogos e historiadores para discutir acerca desta questão.
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Segundo as descrições mitológicas da gênese, as coisas criadas não saíram do nada pela ação de uma divindade atemporal. Os textos nos deixam adivinhar a existência prévia de um caos, de um “mundo anterior”, poderíamos dizer, que já continha em si, mas em estado latente ou sob uma disposição diferente, toda a “matéria prima” que será posta em obra para a criação. Melhor ainda, o demiurgo em potencial está como afogado neste caos; ele deverá então primeiro tomar consciência de si próprio antes de despertar para a existência e iniciar seu trabalho.
Com o que se parecia esse mundo caótico? Muitos textos comentam essa questão, onde é surpreendente constatar que os Egípcios o definiram como a ausência (ou o contrário) dos elementos constituintes do mundo criado. O “caos” não pode ser explicado, ele não se parece com nada, ele é, de certo modo, o “negativo” do presente. Assim diz uma fórmula dos Textos das Pirâmides, quando pretende divinizar o rei defunto assimilando-o ao demiurgo: “(Este rei nasceu) enquanto que o céu não tinha nascido, enquanto que a terra não tinha nascido, enquanto que os homens não tinham nascidos, enquanto que os deuses não tinham sido paridos, enquanto que a morte não tinha nascido.” Encontramos várias definições similares do não-criado inicial. Mas este não-criado tinha uma forma concreta.
No tempo do faraó Osorkon III (século VIII a.C.), a cheia do Nilo atingiu uma altura sem precedentes na memória do povo. Este dilúvio foi como um retorno aos tempos primordiais: “ O Noun subiu […] esta terra toda, ele veio bater os dois vertentes montanhosos como no tempo das origens. Esta terra estava entregue à sua potência como à de um mar….” A presença, como único aspecto descritível do caos, de uma extensão de água absoluta contendo os germes das criações em espera, o Noun, é o único traço absolutamente comum a todas as cosmogonias egípcias… e a muitas outras. O surgimento do demiurgo se fará de maneira distinta segundo as tradições: surgimento de um outeiro, eclosão de um ovo, desabrochar de um lótus, jorro misterioso de um deus de quem tudo nascerá. Mas este oceano total e aparentemente estéril, anterior a toda manifestação da vida e do movimento, é o dado permanente e comum, admitido por diversas interpretações.
Isto não deveria nos surpreender. Não nos surpreenderia também de ver que, segundo a maioria das teologias, a primeira coisa criada que se manifestou fora uma espécie de ilha, um montículo de terra saído do mar preexistente. Seria pouco verossímil considerar que os egípcios imaginaram a gênese de seu mundo a partir de especulações puramente abstratas. Na realidade, eles parecem terem transposto à aurora do universo a imagem amplificada de um fenômeno concreto: a formação progressiva do vale do Nilo, seu habitat. Os historiadores da pré-história podem seguir, nos terraços das falésias arábicas, as etapas da lenta descida rumo ao talvegue dos habitantes primitivos dos platôs. A seus pés, os humanos tiveram, durante séculos, o espetáculo de um torrente lodacento, de um verdadeiro mar iniciando-se, aos violentos remoinhos e aos turbilhões destrutivos, o Nilo, que se cavava uma cama através da massa do continente africano. Ao fim desta gigantesca formação geológica, este Nilo transformou-se num rio dotado de ritmo anual, cheia e baixa das águas. Á paisagem inicial, feita de rochas e água corrente, somou-se um novo elemento, as emergências limosas que a maré deixava após seu refluxo, em suas beiras e no meio de seu leito, e as praias arenosas que marcavam as franjas. Ao lado do torrente acalmado nascera o pântano, zona incerta, meio aquática meio terrestre, luxuriante de vegetação, fervilhante de pássaros e pequenos animais. Lembrança desta longa gênese cujos homens tinham seguido as últimas etapas e cujas gerações tinham incontestavelmente guardado uma vaga lembrança, a cheia do Nilo devia, nos tempos históricos, trazer anualmente o país à sua forma original, a de um imenso mar donde emergia apenas os vilarejos e os diques; logo após a retirada das águas, todo o vale uniformemente untado de uma camada terrosa, verdejava e se cobria de todas as formas de vida.
Estes fatos de geografia física sendo lembrados, acreditaremos de bom grado, sem dúvida, que os Egípcios imaginaram a criação do mundo como uma réplica distante e generalizada do nascimento do solo às margens do Nilo. A sociedade faraônica foi uma sociedade agrária por excelência e os sacerdotes mais eruditos sentiram e descreveram muitas vezes as coisas divinas empregando o vocabulário dos homens da terra. Concebendo o primeiro berço do sol como um lótus (nenúfar) ou como o ovo de um pássaro aquático, desenhando os deuses primordiais com cabeças de batráquios e de répteis, os Egípcios tinham em mente a visão do pântano, local elementar de toda planície aluvial. Fazendo da emergência de uma ilha o primeiro ato da gênese, atribuindo à areia uma importância fundamental na formação do solo, eles transfiguravam a imagem, repetida constantemente desde a pré-história até os tempos modernos, do nascimento das “terras novas”, ilhas jovens de limo e praias agarradas nas bordas dos meandros, “terras novas” que o camponês reencontrava no outono, depois do refluxo do Nilo, este Noun sempre recomeçado. Postulando a existência de uma água inicial, o Noun, “pai dos deuses”, assim, eles generalizavam na escala cósmica, a lembrança das épocas onde todo vale não estava ainda aterrado, onde o Nilo “batia as duas montanhas”, onde “todo o Egito, com exceção de Tebas, era um pântano, onde nada emergia ainda das partes do país que se encontram mais abaixo do lago de Moeris”, segundo Heródoto.
Para os cosmógrafos egípcios, o Noun, agora rejeitado à periferia do nosso mundo, permanece: ele é somente o imenso reservatório cujos mares são os afloramentos, de onde o Nilo extrai sua corrente, de onde o aumento da cheia nasce sob a impulsão do deus Hapi (princípio de inundação), de onde vem também a água das fontes e das chuvas. Sob o clima saariano do Egito, onde a vida só pode existir graças à cheia, aparece como uma evidência que esta água do Noun é a própria condição da vida.
Os textos egípcios descrevem então a gênese como um estabelecimento do universo onde nós estamos – e tal como nós o vemos – mas não como um mero sair do nada: a água já existia! A água era anterior ao criador de todas as coisas (1). Nessas condições, o deus Noun, personificação do oceano primordial, não poderia ele ser considerado como o primeiro deus autógeno e como o verdadeiro iniciador da gênese? Esta dupla questão, o Egípcio se colocou. Em geral, justapõe-se duas doutrinas que concernem à identidade “Daquele que veio de si mesmo à existência”: é o Noun que nós nomeamos correntemente “o pai dos deuses” ou o sol de quem dizia-se em Heliópolis que ele era o seu próprio criador e que estava na origem de tudo? Em uma narrativa mitológica, o Livro da Vaca do Céu1, Ré interpela assim o deus Noun: “Ó, tu, o mais antigo dos deuses, de quem eu sou originário!” e Noun responde: “Meu filho Ré, tu, o deus que é maior do que seu pai e do que seus criadores…” (os ditos “criadores” sendo os Oito Deuses que, segundo a cosmogonia de Hermópolis, tinham misteriosamente preparado o nascimento do sol).
O DEMIURGO
O Egípcio admite então que as componentes do mundo atual, os deuses e os astros, o céu, a terra e o reino dos mortos, os seres subaéreos, em resumo todas as dimensões da existência humana, tiveram, exceto a água, um começo. Daquele que provocou este começo, os textos, tão amplamente distribuídos no tempo e no espaço, não nos deixaram uma definição comum, universalmente válida, nem mesmo o meio de deduzir uma entre elas para a satisfação de nossa lógica cartesiana. Seria em vão querer condensar em algumas frases uma “noção egípcia” do demiurgo, criador não-criado. Certamente, houve um ser que colocou em movimento a gênese do nosso universo, mas este ser não se confunde com o criador de todas as coisas, e sua personalidade, variável e multiforme, não se deixava apreender facilmente na desordem densa das tradições divergentes e das sínteses convergentes.
Nós podemos pelo menos reconhecer que todos os sistemas, no estado onde chegaram até nós, dão ao sol, ao grande sol do Egito, terrível e benfeitor, um papel fundamental na criação, que este deus de luz tenha tudo criado e construído por ele mesmo, ou que ele tenha extraído de sua substância uma hierarquia mais ou menos longa de divindades cósmicas para obrar o detalhe da criação, ou ainda que ele tenha se encarregado de dar vida aos seres fabricados por um outro demiurgo. Mas, nas descrições do papel do sol, nós podemos detectar por comodidade três tendências primitivamente bem diferenciadas. Uma (menfita), a menos lisonjeira para o astro supremo, reduz este último ao papel de luminária permanente do mundo, a terra inicial, emergida do Noun sendo o demiurgo universal. A segunda (heliopolitana) faz do sol o demiurgo absoluto (o deus da terra sendo apenas seu neto). Estas duas teses diametralmente opostas, admitem um princípio comum: o criador supremo, mestre de sua cidade, do Egito e do mundo, não é originário de ninguém, ele é autógeno por excelência. Nisto, as tendências menfitas e heliopolitanas se distinguem da terceira tendência (provincial), que supõe que o demiurgo, em ocorrência o sol, foi colocado no mundo por uma entidade divina proveniente do Noun antes dele, um “proto-demiurgo” poderíamos dizer, e que, segundo algumas tradições, elaborou uma parte da criação.
A noção de demiurgo autógeno
Assim é, segundo a visão heliopolitana, partilhada pelos menfitas desde os tempos antigos, depois enriquecida e comentada por gerações de teólogos, o nascimento do demiurgo: o Noun líquido sendo determinado como um absoluto, anterior a toda gênese, um acontecimento misterioso se produz no dia da “Primeira Vez”, a inexplicável emergência do deus criador. Os textos são ricos de alusões a este episódio fundamental. O demiurgo “veio à existência de si mesmo”, nenhum ventre que o tenha carregado, nenhum pai que o tenha gerado, nenhum deus que tenha assistido ao seu nascimento. Ele é, por definição, o Solitário, o Único, sem família e sem testemunhas, daí o seu mistério total.
As frases que falam do nascimento do demiurgo, como também aquelas que descrevem o nascimento das coisa criadas, empregam geralmente o verbo kheper, que corresponde a uma noção bem difícil de apreender, e mais difícil ainda de transpor, do pensamento egípcio. Segundo os contextos onde figuram esta palavra, um ocidental moderno é constrangido a traduzi-la de maneira bem diferente: “nascer”, “vir à existência”, ou “existir”, “ser na existência”, ou “devir”, “se transformar (em)”, “se manifestar (de tal forma)”; o substantivo kheperou será por vezes traduzido por “(modo de) existência”, outras por “transformação”. Somente uma melhor apreciação do sentido fundamental desta raiz kheper, sentido estático e dinâmico segundo os casos, permitirá determinar as verdadeiras concepções metafísicas dos Egípcios sobre o assunto da gênese do criador (e das criaturas). As longas dissertações cosmogônicas do Papyrus Bremner Rhind usam e abusam dos termos kheper e kheperou com uma sutileza desconcertante. Ao menos podemos dizer, por hipótese de trabalho, que kheper, ao mesmo tempo “existência” e “transformação”, representa, quando se aplica ao demiurgo, não um verdadeiro nascimento ex nihilo, mas melhor, a “realização” de uma entidade existente já virtualmente e que o kheperou do deus inicial constitui a adoção por ele de um “modo de existência” tangível e ativo. Esta conclusão parece confirmar pelas alusões textuais à “sonolência”, ao estado de “inércia” onde se encontrava o deus, no tempo onde ele estava misturado ao Noun. Se o oceano primitivo era seu habitat, ele não era sua razão de ser. A gênese do mundo atual começa quando o deus, constituindo seu próprio corpo, toma consciência de si mesmo sem o aporte de uma ajuda externa.
O tema menfita: “A terra que se levanta”
Desde sempre na doutrina de Ménfis dominava a primazia da terra será sempre proclamada bem alto, mesmo nas sínteses eruditas que procuraram conciliar as crenças locais e os sistemas de Heliópolis e de Hermópolis. O grande deus da cidade é Ptah de outra forma chamado Ta-tenen “a terra que se levanta”. Ptah (literalmente, sem dúvida, “o escultor”) é o fundador das artes e ofícios, patrono da construção, da escultura, da metalurgia. Como o deus Khnum, e sem dúvida por “contaminação sincretista”, ele é às vezes descrito como o oleiro que faz os seres vivos, mas nós o definimos sobretudo como um criador de imagens, aquele que derreteu do metal as carnes do Faraó ou aquele que colore cores de vida o corpo real modelado por Khnum. Sendo Ta-tenen, Ptah é o solo, iniciador da gênese, o mestre de todas as matérias trabalháveis, como plantas indispensáveis a todos; é ele que coloca e mantém o céu no lugar. Se identificando com Noun, ele provoca a inundação do Nilo. O sol, definitivamente, é apenas uma parte do deus menfita ou mesmo “a obra de suas mãos”, e ele se contenta em ser uma fonte de luz.
O tema heliopolitano: o sol e seus filhos
A tese que faz do sol – chamado Ré, Atum, Khepri, e ainda Ré-Harakhte – o demiurgo autógeno é uma das mais antigas, uma vez que ela constituía, desde o IIIº milênio, o dado essencial do sistema helipolitano. No curso da história, a maioria dos deuses supremos venerados nas grandes cidades da província seriam identificados com Ré, mestre de Heliópolis: o obscuro Amon, senhor de Tebas, este vilarejo que se torna uma capital em torno de 2000 a.C.; Khnum, o carneiro procriador, divindade maior de Assuã, Esna e de outros lugares; o crocodilo Sobek, filho das águas nascidas no coração de uma ilhota de areia, e que era adorado sobretudo em Sumenu e em Crocodilópolis. Amon-Ré, Khnum-Ré, Sobek-Ré, etc, serão tão assimilados ao sol “vindo à existência de si mesmo”, que os atributos dados a esses deuses por seus mitos primitivos foram relegados ao segundo plano, até quase inteiramente obliterados, pela concepção heliopolitana do demiurgo e que nós conferiremos os modos de aparição e os processos de criação próprios ao mestre de Heliópolis. A doutrina da “cidade do sol” predominará então em numerosos hinos sincretistas cantados desde o Novo Império (por volta de 1500 a.C.) e até a época romana (século IIIº da nossa era) para saudar esses deuses, que se tornaram solares por contaminação. Esta doutrina será finalmente mantida nas escolas onde o astro era tido por filho de alguém, ao preço de sábias especulações destinadas a reduzir o paradoxo.
Adoradores convencidos de um demiurgo único e autógeno, mestre supremo do cosmos e protótipo de Faraó, a gente de Heliópolis nem por isso deixava de fazer intervir outras divindades além de Ré-Atum-Khepri na sua narrativa da gênese. Mas a hierarquia de deuses da qual nos falam com frequência não prepara o nascimento deste criador; ela é oriunda dele. Nós o vemos nos mais antigos vestígios da teologia heliopolitana que figuram nos Textos das Pirâmides e nos Textos dos Sarcófagos, e cujo dados se encontrarão, à exaustão, nos escritos de todas as épocas. Um grupo de nove deuses, a Enéade, encarna os elementos e as forças do cosmos; ela é parte integrante do corpo solar. Testemunhamos uma demiurgia escalonada, onde se afirmam sucessivamente Atum (o sol), em seguida Sou (ar e luz) e Tefnut (a humidade), depois os filhos desse casal, Geb, o deus-terra, ao qual algumas tradições atribuirão a criação contínua de minerais e de plantas, e Nut, deusa do céu “que colocou no mundo os (outros) deuses”. Estes outros deuses são Osíris, Isis, Seth et Néftis, heróis da célebre lenda de Osíris. Somando a Ré-Atum, Shu e Tefnout, Geb e Nut, completam a Enéade. Mas, na forma antiga da teogonia heliopolitana, os quatro filhos de Nut não representavam, diferentemente dos cinco primeiros, partes do universo físico e, segundo os mitos clássicos, eles participaram na criação apenas de maneira indireta e complementária. Contudo, toda a novena, concebida como um único “corpo” é uma manifestação do demiurgo.
Na verdade, o único destes personagens que tem um papel realmente ativo na criação, é Shu, a atmosfera luminosa. É ele que vem separar a terra (Geb) e o céu (Nut), estabelecendo os esteios do mundo, os oito Heh [Hehou], e eleva a abóboda celeste. Ele é um verdadeiro demiurgo, originário do demiurgo mas tão antigo quanto ele e consubstancial; ele é o sopro de Atum, o vento de vida, força dinâmica do universo. Da sua associada, sua gêmea Tefnut, fala-se pouco. Sem dúvida ela era, na elaboração primitiva do mito, a necessária contrapartida feminina de Shu (mas sua identificação com a humidade atmosférica é uma pura conjectura dos egiptólogos). De todo modo, os teólogos insistiam ainda na dependência íntima do casal Shu-Tefnut em relação a Atum, de quem ele é mais que um filho pela carne, mais ainda que uma dupla emanação pelo espírito : ‘Eu era um e me tornei três”.
Mitos provinciais: o “Proto-demiurgo”
Paralelamente ao princípio admitido nas metrópoles antigas, Heliópolis e Mênfis, e mostrando o demiurgo vindo à existência de si mesmo, uma tendência “provincial”, então suscetível de apresentar tantas variantes quanto haviam cidades, admitia, com os Helipolitanos, que o sol era o autor principal do mundo atual, mas o supunha fabricado por uma divindade anterior, nascida antes dele na água absoluta.
Estes sistemas afirmando a existência de um demiurgo pré-solar pertencem, provavelmente, aos fundamentos mais antigos das crenças faraônicas. É assim que nós temos todas as razões para presumir que um mito arcaico colocava em cena uma vaca primordial oriunda do Noun para derrubar o sol. Uma das narrativas cosmogônicas de Esna e diferentes alusões dispersas nos textos falam de fato da “vaca Ahet que pariu Ré” e de quem nós dizemos que era “sua mãe desde a Primeira Vez”. Nos tempos históricos, a personalidade desta Ahet se confundia com a de uma outra vaca primordial, Mehet-ourte (literalmente: “a Grande Nadadora”), em grego Methyer. Em todo caso, é certo que em Saïs, a deusa Neith, ilustre patrona desta metrópole do Delta, era identificada com a vaca Ahet e que ela foi tradicionalmente considerada como a mãe do deus solar e como iniciadora primeira da criação, papéis que ela ainda preencherá nas sínteses teogônicas de Esna no começo de nossa era.
Mas o melhor exemplo conhecido, senão o mais claro, de um sistema fazendo intervir um “proto-demiurgo” é o de Hermópolis: as pessoas desta cidade, os sábios de Crocodilópolis e de Tebas, seus herdeiros espirituais, sustentavam que o sol, por mais importante que ele fosse, não tinha sido o primeiro, mas que ele tinha sido procriado por uma coletividade inseparável de quatro casais divinos, os Oito, a Ogdóade, que tinha fecundado uma planta (ou um ovo) para que houvesse luz.
SÍNTESES COSMOGÔNICAS
Tais são então as principais concepções egípcias relativas à personalidade do demiurgo, convergentes em alguns pontos, divergentes em outros. Em um Egito politicamente e moralmente centralizado, a concorrência destas doutrinas colocava um problema de lógica, mesmo para os espíritos dispostos a apreender uma mesma realidade a partir de abordagens diferentes. Os sacerdotes de diferentes cidades também procederam a sínteses para conciliar à maneira os dados contidos nas tradições. Desde cedo, esforços foram feitos para conciliar parcialmente os três sistemas maiores (Mênfis e Heliópolis, Heliópolis e Hermópolis) e, quando as cidades, antigamente pouco influentes, tornaram-se importantes, seus cleros, descontentes de identificar o grande deus local à Ré de Heliópolis, retomaram os dados dos sistemas maiores e ainda os de outras cidades, para elaborar sínteses particulares.
O inventário destes trabalhos eruditos nos apresentam um troca-troca inextricável. Para não nos perdemos no labirinto de todas as sutilezas nascidas do espírito egípcio, nos contentemos de evocar alguns exemplos notórios de sínteses cosmogônicas.
1. Heliópolis e Hermópolis: Em Heliópolis, onde o sol, deus do lugar, estava nas origens, onde sua luz era primordial, não foi evidentemente nunca contestado o caráter de demiurgo autógeno de Rá-Atum-Khepri, e o tema hermopolitano da Ogdóade serviu apenas para relegar os Oito ao grau de emanações indiretas de Atum : eles eram os suportes do céu, os Hehou originários de Shou, ou seja da atmosfera luminosa.
2. Heliópolis e Mênfis: o “documento de teologia de menfita” admite que Ptah demiurgo se diferenciou em oito hipóstases das quais a principal é Atum. Em seguida, no Novo Império, conciliou-se o sistema invasivo de Heliópolis e a doutrina decididamente particularista de Mênfis, à satisfação das duas partes, concluindo que o demiurgo, o futuro sol, tinha antes se manifestado sob a forma de uma “terra emergindo” (Ta-tenen, ou seja Ptah) criando assim seu próprio suporte e pôde-se invocar o demiurgo ao mesmo tempo como sol e como terra : “Ó Ré que criou tudo que é, ó Ta-tenem que dá vida aos homens.”
3. Hermópolis e Mênfis: Segundo uma síntese menfita da Baixa Época, o demiurgo tendo antes manifestado em Ptah suscitou a Ogdóade, que colocou no mundo o sol no coração de um lótus.
4. A síntese tebana: Na Baixa Época, os Tebanos, atribuindo ao mesmo tempo a criação do sol à Ogdóade hermopolitana, decidiram que esta era filha de uma serpente Ir-ta “aquela que fez a terra” (identificada ao Ptah menfita), ela mesmo filha de uma misteriosa serpente inicial Kematef, “aquela que cumpriu seu tempo” (entidade que, sob o nome de Kneph, era ainda conhecida dos Pais da Igreja como tendo gerado o criador, no dito do Egípcios). Os dois répteis eram duas manifestações primordiais do grande Amon de Tebas. Esta surpreendente sequência de demiurgos é evidentemente o resultado de um compromisso entre as diferentes tradições regionais.
Salvo em algumas compilações de Esna, onde aparece um tipo de bipartição igualitária (Neith criando o físico e Khnum criando o biológico), os sacerdotes recorreram nas suas sínteses a dois processos que levavam ambos a subordinar os demiurgos reconhecidos em outro lugar ao grande deus local, e que, além disso, são bastante difíceis de diferenciar totalmente. Um processo, mais “filosófico”, consistia em apresenta os demiurgos estrangeiros como emanações, hipóstases do deus local. O outro, “histórico”, consistia a supor a existência de uma hierarquia de criadores, de quem o deus local era o chefe.
As múltiplas implicações de tais sínteses colocaram evidentemente aos teólogos dos períodos recentes numa enorme quantidade de problemas subsidiários. Assim, no corpus dos textos tebanos, nós poderemos ressaltar duas afirmações contraditórias sobre este assunto. Por vezes a Ogdóade foi criada pelo sol; outras o sol foi criado pela Ogdóade. Os teólogos souberam justificar implicitamente os dois termos da contradição: “a Ogdóade foi a manifestação primeira até que tu tenhas completado seu número, sendo o Um”. Esboço consubstancial de Amon-Ré, a confraria dos oito ancestrais podia ser chamada seu criador e sua criatura.
A experiência, por outro lado, mostrava que todo nascimento demandava a intervenção de um macho e de uma fêmea: Atum ele mesmo logo se dividiu em um casal sexuado, a Ogdóade hermopolitana, contava com quatro casais. Por outro lado, algumas mitologias colocavam uma deusa (Ahet, Neith) na origem da gênese, lá onde os outros colocavam um deus macho. Chega-se à conclusão que o demiurgo, fosse o que fosse, era um princípio hermafrodita: Ptah, Khnum, Amon e a grande Neith foram então nomeados comumente : “o pai dos pais e a mãe das mães.”
Estes dois exemplos mostram como os sacerdotes, querendo resolver as antinomias nascidas do sincretismo, chegaram à definições cada vez mais unitárias do criador: definitivamente, as inumeráveis tradições representavam apenas variantes descritivas das manifestações de um mesmo ser. E como os primeiros deuses originários do sol eram ao mesmo tempo, na doutrina predominante de Heliópolis, figuras elementares (ar, luz, terra, céu), como Noun ele mesmo podia apenas se explicar como a forma primeira do deus intemporal, o sincretismo chega a uma forma de panteísmo. “Tu elevastes o céu à largura de teus braços, tu alargastes a terra na medida dos seus passos”, canta um hino ao sol nascente. O cosmos é então à escala de seu artesão. Poder-se-ia citar, para ilustrar o resultado panteísta das especulações relativas ao demiurgo, muitos outros hinos do Novo Império e várias composições da Baixa Época. Assinalemos somente esta espécie de conclusão se pode ler no fim de um belo hino à Amon primordial: “Tu és o céu, tu és a terra, tu és o mundo inferior, tu és a água, tu és o ar que está entre eles.”
MODOS DE MANIFESTACÃO DO DEMIURGO
A acreditarmos nos teólogos do Egito faraônico, o Noun era a forma inorgânica e pré-temporal do deus criador e o montículo primordial foi a sua primeira forma dinâmica e constituiu o alicerce necessário que ele se deu para poder tomar forma. Mas as águas e o montículo eram ainda apenas formas prévias e inativas. Sob quais aparências descritíveis o deus autógeno apareceu no momento onde ele conseguiu se tornar um demiurgo? Novamente, nós nos depararmos com uma multiplicidade de tradições concorrentes.
A aparição do demiurgo sendo, essencialmente, a eclosão da vida atual, alguns mitos a descrevem como o resultado de um processo biológico. Assim os temas do ovo inicial e do lótus inicial, desempenham um papel fundamental em certas evocações mais naturalistas da gênese. O tema do ovo cósmico apresenta sem dúvida diversas variantes. Os textos não cosmogônicos conhecerão sobretudo a lembrança de uma obscura deusa, senhora de forças vitais da espécie humana, e cujo nome, Qerehet, é aquele que designa o ovo primordial. O nascimento do sol e o começo das coisas a partir de um ovo constituíam por outro lado um elemento essencial da cosmogonia de Hermópolis.
O tema do lótus aparece fluentemente na iconografia e escritos bem variados atribuem este modo de aparição ao demiurgo solar. Os diversos deuses que foram identificados a Ré foram automaticamente definidos ou figurados como “aquele que se levantou no grande lótus proveniente do Noun”, sentado ou em pé sobre o cálice do nenúfar (Amon-Ré, Herichef de Heracleópolis, Khnum de Esna, Harpócrates, os deuses serpentes Harsontus e Dendera e Neferhotep de Hou, etc.) O lótus, nenúfar que enraíza sobre os fundos lamacentos cuja corola desabrocha pela manhã sobre as águas onde ela estava fechada durante a noite, penteava uma imagem brilhante do que foi a primeira vida, se afirmando sobre a primeira lama, impregnada de água do Noun. Os alicerces dos templos e as bases das colunas florais serão então frequentemente ornadas com imagem do lótus inicial carregando o sol infantil, e as vinhetas ilustrando o capítulo 81 do Livro dos Mortos, “Fórmula para se transformar em lótus” reproduzirão também, com uma felicidade particular, o cálice iluminado de onde o Ser pode jorrar: “Um lótus puro, vindo da pradaria húmida”. Este tema do lótus, cobertura espontânea do sol, é especialmente desenvolvido nos textos de inspiração hermopolitana e, de fato, parece ter sido originário de Hermópolis (onde ele se justapunha paradoxalmente ao tema do ovo inicial).
Segundo muitas lendas primitivas, muito mal conhecidas pois alguns sobrenomes e alguns figurações secundárias de grandes deuses são praticamente os únicos vestígios que nos restam, um deus primordial se manifestou sob a aparência de uma serpente: assim o enigmático Nehebkau, réptil com os braços de homem que foi talvez originariamente um gênio da mãe-terra; Kematef que era para os Tebanos da Baixa Época, o protagonista efêmero da gênese.
Se é verdade que estas serpentes foram todas “seres ctónicos primordiais” – como os exegetas modernos o admitem correntemente – teríamos que concluir que um antigo fundamento mitológico descrevia o iniciador da criação como um gênio do sol encarnado em um réptil. Na realidade, estes ofídios primordiais, como podemos julgar, não apresentavam todos a mesma característica. Sendo apelidados ‘filhos da terra”, algumas são talvez forças emanadas do solo preexistente, mas Ir-ta é, literalmente, “aquele que fez a terra”. Harsontus é explicitamente descrito como “o sol que era uma bela serpente de cobre no interior do lótus de ouro saído do Noun, a Primeira Vez”. E, definitivamente, nada permite concluir que Atum, na sua cidade de Heliópolis, foi, paradoxalmente, uma personificação da terra, antes de se tornar o sol por excelência, mas ele foi talvez uma “serpente d’água” esboço do sol no Noun, pois a enguia foi, assim, seu animal sagrado.
Ainda existiam outros temas zoolátricos. Segundo alguns, o demiurgo tinha se elevado sob o aspecto de um voador: “O Grande Grasnador”, macho do ganso do Nilo, que quebra o ovo onde tinha sido formado e se atira gritando; o Fênix, a bela garça cinzenta que pousa sobre as emersões durante a inundação, e evoca o sol planando sobre as águas; Khepri, o escaravelho sagrado cujo desenho simbolizava frequentemente o deus solar de Heliópolis e servia por outro lado para anotar hieroglificamente o verbo kheper, “vir à existência”. Mas convém assinalar que a garça e o escaravelho foram sobretudo lembrados como imagens da renovação cotidiana do sol e como símbolos de ressurreição.
Enfim, duas formas bem distintas da aparição do demiurgo principal são sempre, uma e outra, subjacentes em todas as tradições, qualquer que seja a “poesia” mitológica prevalente. Ou o deus é a Terra (tipo Ptah) que se impõe sobre o elemento líquido e extrai as coisas e os vivos da sua substância. Ou então ele é o Sol (tipo Ré-Atum) cuja claridade é a condição mesma de toda criação apreensível; a chama repentina, ejetada do sexo de Atum, ou irradiada pelos dois olhos da criança que saiu do lótus na “Ilha do Fogo, dissipa as trevas e, segundo os sábios de Tebas, cozinham os elementos lodacentos que formarão a terra.
Longe dos diversos quadros naturalistas, muitas evocações cosmogônicas se exprimem exatamente como se o corpo que o demiurgo se deu a Primeira Vez, tenha sido um corpo humano; olho, boca, língua, mão, coração, membro viril, braços e pernas. Este modo de aparição, conforme a iconografia habitual e que responde incontestavelmente a uma noção antropomorfista do deus (e não a uma noção de um simbolismo) encontra seu prolongamento na imagem que nos é feita dos processos criadores do demiurgo. Que a sua técnica seja puramente material ou que ela seja intelectual, este precisa de um corpo parecido com o nosso.
OS MECANISMOS DA CRIAÇÃO
Por simplicidade iremos distinguir somente duas categorias principais na diversidade dos meios empregados pela divindade antropomórfica para suscitar a gênese dos deuses e dos outros seres.
Para caracterizar a primeira, citemos primeiro o velho mito heliopolitano que fazia nascer as primeiras criaturas, na espécie do casal divino Shu-Tefnut, do líquido seminal que o demiurgo solitário tinha feito jorrar pela sua mão; depois a outra versão, da mesma tradição, segundo a qual este casal nascera dos escarros (ishesh, tefen) do demiurgo, tema retomado à exaustão nos textos de todas as épocas. Do mesmo modo é a história, também frequentemente evocada, do nascimento dos homens originados pela metamorfose das lágrimas do sol. Materialmente, então, “os homens saíram de seus olhos e os deuses de sua boca”, mas devemos notar a intervenção do jogo de palavras teológico, que postula uma correspondência íntima entre as palavras, articulações da linguagem, e a força vital das coisas por eles designadas. De uma certa maneira, estas gêneses por emanação física descrevem como um processo espontâneo a materialização dos “substantivos”, o que os textos atestando a “criação pelo verbo” atribuem a uma iniciativa consciente “daquele que fez os nomes”.
A este segundo modo de criação, pelo espírito e pela fala, se ligam à doutrina menfita antiga que, com muita penetração, conta como Ptah concebeu no seu coração os seres por criar e deu por sua língua uma existência real a suas ideias; a divertida lenda de Atum suscitando oito gênios aéreos conversando com a água primordial; a de Neith criando o universo em sete propostas, palavras simples ou frases completas; e o tema sincretista de Amon “anunciando as coisas por vir” para as fazer nascer. Na realidade é difícil traçar uma demarcação clara entre os processos físicos e o recurso à magia verbal, pois os teólogos interpretaram muito cedo os primeiros como “símbolos” do segundo. Desde o IIIº milênio, os sacerdotes menfitas admitiam assim que “a semente e as mãos de Atum” eram nada menos que os dentes e os lábios de Ptah. Bem mais tarde ainda, as passagens cosmogônicas do Papyrus Bremner-Rhind admitem que o sol, gerando Shou-Tefnout (pelo escarro e pela masturbação), não fazia apenas que implementar o plano de criação concebido no seu coração, e uma forma derivada da doutrina heliopolitana, cujo texto tardio de Edfu, apresenta Shu, não mais como um sopro exalado com a baba do criador, mas como uma pura emanação dos seus lábios, encontrando assim o tema do verbo criador.
Face aos processos essenciais dessas cosmogonias, frequentemente os textos definem o ato criador apenas pelos termos vagos: “fazer”, “formar”, “parir”, “inaugurar”, “fazer vir à existência”, etc. Outras expressões são mais reveladoras: “construir”, “moldar”, “fazer em torno”, “modelar”. Estes verbos são do vocabulário artesanal; eles não são sempre empregados por pura metáfora, eles assumem com frequência, nas evocações cosmológicas, um sentido perfeitamente concreto, os três últimos em particular. O que nos leva a considerar, ao lado do “processo por emanação física” e “do processo verbal”, um terceiro tipo de técnica criadora: “o processo artesanal”, modo de ação demiúrgica complementar, uma vez que ele se aplica praticamente à formação dos únicos seres vivos (e à manutenção das espécies).
Vimos acima que Ptah menfita, mestre das imagens, molda e anima o corpo do rei; deus dos solos, ele permite que os deuses tenham corpos visíveis, e verdadeiramente vivos: suas estátuas são de terra, de madeira ou de pedra. Mas a ideia que Ptah tenha sido primitivamente o escultor inicial do mundo animado, antes de se tornar uma Terra-Mãe, para depois ser um criador pelo Verbo, é, por mais plausível que seja, uma conjectura dos pensadores modernos.
Por outro lado, o deus Khnum, que foi venerado sob o aspecto de um carneiro em cinco cidades notórias do Médio e do Alto Egito e que era popular por todo o país, foi o demiurgo-artesão por excelência: ele foi o deus-oleiro, fabricante soberano dos deuses, dos homens e das bestas, incluindo os répteis e a espécie aquática. É Khnum, carneiro caloroso e modelador sútil, que coloca os pequenos nos ventres das mães; sobre o círculo de seu torno, o deus fabrica “o ovo”, o vaso ou a criança embrionária, amassando os germes de vida. Se as alusões ao “modelador de carnes” são numerosas nas inscrições sagradas e aparecem na literatura profana, se a representação frequente, de Khnum fazendo seu trabalho no torno onde todo ser animado acede à existência, nós não pudemos encontrar, textos que especificam com rigor de que matéria prima o deus cria suas criaturas. Mas o tema do oleiro dos oleiros permite presumir com alguma verossimilhança que uma das velhas tradições faraônicas via em nós, e em nosso irmãos os animais, seres vindos dos barros nilóticos, pré-formados sob os dedos de Khnum primordial.
Lembremos enfim de um último processo de criação, a gênese do mundo e da vida sob o impulso de um deus de ar. Este deus era uma misteriosa força alada saída de um ovo misterioso depositado em Hermopólis, que ele fosse o sopro da boca do demiurgo (e que, em Heliopólis, era personificado pelo Shou), este grande deus que se vangloria, com soberba e dogmatismo de “não ter sido formado em um ovo”.
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1 (1) Entre os Oito Deuses da tradição hermopolitana, o primeiro é ele mesmo nomeado Noun; e tem um duplo feminino Naunet. Embora o gênio Noun pareça por vezes diferente do “Noun o Antigo”, ele se confunde geralmente com esta personificação do oceano inicial; ele e Naunet são os “pais” dos três outros casais, de quem não podemos dizer se são aparentados de maneira descendente ou colateral.
* Trecho adaptado do texto La Naissance du Monde selon L’Égypte Ancienne, em La Naissance du Monde, de Anne Marie Esnoul et al. – Éditions du Seuil, França,1959.
** Serge Sauneron (1927-1976) – egiptólogo francês, diretor do IFAO – Institut Français d’Arquéologie Orientale.
*** Jean Yoyotte (1927-2009) – egiptólogo francês, titular da cátedra de Egiptologia no Collège de France, e diretor de estudos na EPHE – École Pratique des Hautes Études.