Um olhar sobre Giordano Bruno e sua utopia ou Para iniciarmos um novo ano
Giordano Bruno acreditava que exibindo as maravilhas celestes – o que hoje reconhecemos como as centenas de bilhões de galáxias contendo cada uma delas centenas de bilhões de estrelas – e o modo como o universo parece solidário, os homens se tornariam melhores. As sociedades deixariam de lado as ilusões que as dividem e aceitariam a grandiosidade do cosmos como uma dádiva que nos faz grandes e significantes.
As catástrofes cósmicas, a fusão de galáxias canibais, a variação das leis físicas com o tempo global, a eternidade do universo, sua definitiva autocriação, deveriam ser interpretadas como harmonia celeste na qual nosso eu, cada um de nós, pode se identificar.
Essa eternidade reconquistada no cosmos deveria ser a estrada principal que levaria a sociedade humana a uma unidade coerentemente heterogênea em sua múltipla diversidade. E, mais importante, sem a necessidade de sermos guiados por sacerdotes ou cientistas.
Essa crença em um mundo de comunhão com a natureza, para além da batalha darwiniana da sobrevivência, levaria à solidariedade humana refletindo essa solidariedade cósmica recém-descoberta.
Em 17 de fevereiro de 1600, em Roma, no Campo de Fiori, Giordano Bruno foi queimado. Mostraram a ele quem efetivamente tinha o poder.
No entanto, 400 anos depois, suas exuberantes ideias permanecem e soam como música encantadora estimulando a produção de uma utopia unindo Terra e Céu.
Que os astrônomos de hoje nos tragam as maravilhas dos céus e que possamos interpretá-las cada um de nós, cientistas ou não, à luz da esperança poética de Giordano.
E que esse cosmos desvendado, inacabado, ainda em formação, nos revele um encantamento que permita a construção de uma sociedade melhor, menos injusta, mais solidária e universal. E, se possível, abolindo as nefastas práticas políticas dominantes e rejeitando o simbolismo da fogueira que no século XX se identificou com o capitalismo.