Cosmologia, Natureza e Ética
Este seminário pretende retornar aos últimos momentos em que as utopias ainda não eram controladas e a ciência surgiu, cheia de esperanças e de ambições de encontrar as razões que as transcendências projetadas no cosmos escondiam dos humanos. Hoje, e por razões que analisaremos neste seminário, estamos ansiando por um novo cosmos, alargado no espaço e em sua eternidade, para nos libertar do peso excessivo a que a técnica, ao impor à ciência sua orientação pragmática, submeteu-nos.
Na segunda metade do século 20, a física esqueceu por momentos seu sucesso prático e pretendeu se abrir para uma entusiasmante discussão sobre o universo. A partir de duas propostas geradas entre os anos 1915 e 1919 por Albert Einstein e Alexander Friedmann, os cientistas mergulharam, pela primeira vez desde a época de Isaac Newton, em um modo novo de análise das propriedades globais do universo. Como consequência, e sem controle, instalou-se uma batalha entre diferentes modos acessíveis aos cientistas: o modo associado ao pensamento aberto, que esperava por novidades que viriam de observações de regiões longínquas, muito além de nossa galáxia; e, em oposição, um pensamento rígido, moldado na eternidade das leis da natureza a partir da extensão da física terrestre ao universo e que impedia o exame de novidades formais não reconhecidas no programa convencional da ciência.
Ao longo das últimas duas décadas do século 20 e nos primeiros anos do século 21, as evidências obtidas pelos astrônomos pareciam ter encerrado a questão e dado vitória ao modo conservador de produzir ciência. No entanto, observações inesperadas projetadas para a frente da cena cósmica determinaram o retorno a propostas abandonadas no final do século passado, provocando uma crise que se instaurou na racionalidade dura que até então controlava a cosmologia.
É desse movimento de liberação, desse renascimento do pensamento cósmico que iremos falar. No entanto, é importante que tenhamos em mente que se trata ainda de um movimento subterrâneo, fora dos holofotes da mídia com que hoje se produz verdades científicas. Os grandes programas, os projetos ambiciosos para além de uma racionalidade simplista, as fantasias idealizadas e as utopias formais foram colocados à parte, tornando-se programas vigiados pelo sistema, controlados de inúmeras formas, em particular, por meio dos procedimentos de financiamento das pesquisas.
Dessa nossa análise emerge cristalina a necessidade de um novo compromisso cósmico, que requer um novo Copérnico, novas utopias, espelhadas nas maravilhosas propostas de Kurt Gödel e Georg Cantor. Devemos, enfim, examinar as consequências do espanto provocado pela perda do controle da finitude do cosmos e a necessidade de compreender o significado da eternidade do universo que os cosmólogos produziram. Porque, afinal, é isso que estamos aprendendo: não há nenhuma evidência cósmica que nos permita retirar dessa análise a concordância que nos faça entender o diminuto papel do homem no cosmos.