Vida longa à Reunião Argentino-Brasileira de Gravitação, Astrofísica e Cosmologia
De 4 a 8 de outubro de 2011 aconteceu a Primeira Reunião Argentino-Brasileira de Gravitação, Astrofísica e Cosmologia, em Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil. Érico Goulart comenta suas percepções sobre esta nova oportunidade de colaboração entre os dois países.
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Brasil e Argentina são países vizinhos, de proporções continentais, imersos nessa nossa America Latina repleta de vontades, severas limitações e problemas históricos semelhantes. No ano de 2011, achei-me a errar, pela primeira vez, por solos argentinos. Estive primeiro em La Cumbre, onde acontecia em lugar especialmente acolhedor a conferência Grav 11. Neste pequeno encontro de apenas três ou quatro dias, ouvi especialistas e estudantes argentinos apresentarem e discutirem suas recentes aquisições no campo da física gravitacional, da astrofísica e da cosmologia. Nas horas de festa, ouvíamos com satisfação no salão do hotel um professor que passeava ao piano velho (porém afinado) por tangos intrincadíssimos, jazz da época do bebop e sonatas de Beethoven. Era sempre ali, compartilhando uma boa dose de mate quente, que discutia física com novos amigos e cogitava a possibilidade de voltar, dessa nova vez, para colaborar com pesquisadores argentinos. Só uma coisa me passava na cabeça por essa época: por que não havia pensado nisso antes? Afinal, o nível da conferência era elevado, mas o importante era perceber que a forma de pensar e os métodos dos argentinos soaram como complementares aos nossos. Imaginava se essas incursões pudessem acontecer em escala maior, envolvendo grupos amigáveis de pesquisadores das duas partes.
Essas investidas em maiores proporções aconteceram de fato, não muito depois, às margens das cataratas do Iguaçu. Por que não havíamos pensado nisso antes? Essa também foi a sensação geral dos participantes na sessão de encerramento da Primeira Reunião Argentino-Brasileira de Gravitação, Astrofísica e Cosmologia (GrACo 2011). A idéia dos organizadores era exatamente a de aproximar as comunidades de relativistas, astrofísicos e cosmólogos dos dois países, compondo forças e evitando esforços simultâneos redundantes. A ideia vaga de que a língua seria uma barreira para essa composição de forças tornou-se difusa na conferência. Muito pelo contrário, as palestras, podendo ser apresentadas em português ou espanhol, mostraram que, se não falamos exatamente a mesma língua, nos entendemos muito bem, pelo menos se o alvo do discurso ‘restringir-se’ ao cosmos.
A GrACo 2011 aconteceu em Foz do Iguaçu, entre 4 e 8 de outubro, e representou exatamente esse sentimento de colaboração, onde Brasil e Argentina só têm a ganhar. Nesta primeira versão, a reunião consistiu em palestras de revisão, seguidas de palestras específicas relacionadas a estes temas. O amplo espectro de temas variou de questões formais da teoria da gravitação e da cosmologia, à fenomenologia de sistemas astrofísicos, passando por diversos projetos experimentais. Os tópicos abordaram fundamentos de relatividade geral, teoria de campos em espaços curvos, teoremas de singularidades e universos eternos, matéria e energia escuras, astrofísica de ondas gravitacionais, radiação cósmica de fundos, buracos negros e radiação Hawking, modelos análogos de gravitação, dentre muitos outros. Todos os palestrantes foram escolhidos por um comitê científico bi-nacional com o objetivo de pluralizar o debate entre a ampla gama de temas do evento. Os demais inscritos, além de participar integralmente do evento, apresentaram seus trabalhos durante as sessões de pôsteres. Houve ainda uma mesa redonda na qual se foram discutidos diversos conceitos fundamentais das teorias que descrevem o espaço-tempo e os fenômenos quânticos. A GrACo 2011 contou com a participação de aproximadamente 70 palestrantes, pós-doutores e estudantes avançados de doutorado. O conteúdo das palestras e dos pôsteres evidenciou o alto nível da pesquisa desenvolvida nos dois países nas áreas de gravitação, astrofísica e cosmologia.
O clima descontraído gerado pela amálgama da língua portuguesa com o espanhol, nos proporcionou um ambiente favorável aos debates, conversas de corredor e um sentimento coletivo da necessidade de continuar. Encaminhando para o fim da reunião, todos – alunos, colaboradores e pesquisadores – sentíamos misto de satisfação e orgulho por presenciar a alta sofisticação e amplo alcance do nosso próprio trabalho. O trabalho feito pelos brasileiros e pelos argentinos. Ou melhor, pelos brasileiros com os argentinos. Se existe algo que precisamos definitivamente aprender por essas nossas bandas é que também podemos buscar. Buscar por nós mesmos. Essa é a ideia…Vida longa à Reunião Argentino-Brasileira de Gravitação, Astrofísica e Cosmologia!
No fechamento do evento foi anunciada a realização da GrACo 2013 em Buenos Aires. A segunda edição terá um formato mais tradicional, com palestras de pesquisadores convidados pela manhã, e sessões com contribuições orais à tarde. Os anais da reunião serão publicados pela Cambridge University Press e servirão como referência do estado atual da atividade nas áreas do evento. O apoio das agências financiadoras (Fundação Araucária, FAPESP, CNPQ e FAPERJ), do ICRA/CBPF e da CFC/CBPF, bem como a ajuda dos membros dos comitês científicos e organizadores foi fundamental para o sucesso do evento. Mais informações sobre a reunião, bem como os arquivos das palestras podem ser encontrados na página http://gac.iar-conicet.gov.ar/index_br.html
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Érico Goulart é doutor em cosmologia e gravitação pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Atualmente é pós-doutor no Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofísica do Rio de Janeiro (ICRA/CBPF), atuando principalmente nos temas: eletrodinâmica não linear, modelos análogos de gravitação, quadro quasi-maxwelliano das equações de Einstein, teoria de perturbações cosmológicas e gravidade em baixas dimensões. Junto com Mario Novello, é autor do livro Eletrodinâmica Não Linear – Causalidade e Efeitos Cosmológicos, publicado pela Editora Livraria da Física em 2010.