Sintaxe*

Newton, William Blake - 1795

 

“Quando se amarra bem o próprio coração e se faz dele um prisioneiro,
pode-se permitir ao próprio espírito muitas liberdades. “

F. Nietzsche

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Olhando fixamente suas equações,

o homem disse: “o universo teve um começo.

Houve uma explosão”.

Uma cadeia de estrondos e o universo nasceu.

E se expande, disse.

E assim permitiu-se calcular a extensão de sua existência:

dez bilhões de voltas em torno do Sol.

E todo planeta aplaudiu;

Seus cálculos foram chamados “ciência”.

Ninguém ousou dizer que ao produzir um começo (do universo),

o homem refletiu somente a sintaxe de sua língua materna;

uma sintaxe que para validar qualquer fato

exige começo, como o nascimento,

continuação, como a maturidade,

e fim, como a morte.

“O universo começou,

e está envelhecendo”, garantiu o homem.

“E morrerá, como tudo morre”.

Como ele mesmo morreu, depois de confirmar matematicamente

a sintaxe de sua língua materna.

 

*Trecho retirado do livro O lado ativo do infinito de Carlos Castaneda.

Autor

  • Professor Emérito do Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas (2012), publicou diversos livros de divulgação científica e mais de 150 artigos científicos em prestigiosos periódicos internacionais, e orientou inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado no CBPF.