Sintaxe*
“Quando se amarra bem o próprio coração e se faz dele um prisioneiro,
pode-se permitir ao próprio espírito muitas liberdades. “
F. Nietzsche
//
Olhando fixamente suas equações,
o homem disse: “o universo teve um começo.
Houve uma explosão”.
Uma cadeia de estrondos e o universo nasceu.
E se expande, disse.
E assim permitiu-se calcular a extensão de sua existência:
dez bilhões de voltas em torno do Sol.
E todo planeta aplaudiu;
Seus cálculos foram chamados “ciência”.
Ninguém ousou dizer que ao produzir um começo (do universo),
o homem refletiu somente a sintaxe de sua língua materna;
uma sintaxe que para validar qualquer fato
exige começo, como o nascimento,
continuação, como a maturidade,
e fim, como a morte.
“O universo começou,
e está envelhecendo”, garantiu o homem.
“E morrerá, como tudo morre”.
Como ele mesmo morreu, depois de confirmar matematicamente
a sintaxe de sua língua materna.
*Trecho retirado do livro O lado ativo do infinito de Carlos Castaneda.