Simpósio 1900 – Artigos
Nos dias 11 e 12 de abril de 2019, no anfiteatro principal do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas foi realiazado o Simpósio 1900. Publicamos nas postagens anteriores, os artigos correspondentes às palestras apresentadas durante o evento.
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Algo singular aconteceu na virada do século 19 para o 20, com tanta intensidade que só agora parecemos ter os elementos necessários para compreendê-lo. Podemos sugerir que tenha ali emergido uma espécie de “pulso” na Europa, que se alastrou e afetou tudo e todos, com alguns platôs mais evidentes. Esse pulso teve como trampolins o Iluminismo e o Renascimento. A eletricidade ganhava o cotidiano, mudando radicalmente o panorama da cidade junto ao rádio, telefone, automóvel, avião e edifícios. O cinema ampliava seu mercado, criando o star system.
Na ciência, a segunda metade do século 19 trouxe a Teoria da Evolução de Darwin-Wallace e as descobertas da natureza da luz e do campo eletromagnético, que, por sua vez, deram fomento, em 1900, ao quantum de Planck. Poincaré permitiu a Relatividade Restrita e, anos depois, com Einstein, a relatividade Geral. No campo da lógica, houve uma grande revolução com Cantor, Russel e outros, culminado em 1931 com o Teorema de Gödel, o qual evidenciou a matemática, outrora linguagem perfeita da Natureza, como incompleta e/ou inconsistente.
Na filosofia, a virada do século viu os últimos momentos de Nietzsche e conheceu a obra de Bergson, que conceituou o virtual – espécie de memória cósmica atemporal que abriga todos os tempos múltiplos. Simultaneamente, Freud sistematizava uma clínica do inconsciente, a psicanálise.
O inconsciente transbordava também na arte. O impressionismo do século 19 convidava à linha livre de Klee, ao abstrato de Kandinsky e ao cubismo de Picasso. Estavam abertas as portas para as vanguardas do século 20. Os monstros se insinuavam para além da escuridão na literatura de Lovecraft, borrava as fronteiras ao longo de leitor, obra e escritor em Kafka. Os irmãos James criavam o conceito de fluxo de consciência, que culminaria na obra de Joyce. Fernando Pessoa(s) inventava a poética dos heteronômios. O poeta fez o mapa astral e ajudou a forjar o suicídio do mago Aleister Crowley, que, ao lado de Austin Osman Spare e Dion Fortune, moldariam o esoterismo do século 20, menos secreto, logo, mais acessível. Esse pulso da virada deixou o mundo nas mais intensas vibrações: o cinema colocou a fotografia em movimento; a mecânica quântica injetou devir e instabilidade na física; as artes, a lógica e a geometria encontravam novas forças de expressão.
Hoje, também observamos instabilidades em vários níveis. Percebemos, então, que todas essas novidades do momento 1900 possuíam uma forte correlação: desestabilizar, para além do Bem e do Mal, o que estava arrogantemente estabelecido como verdade. Podemos igualmente aprender, com o pulso da virada do século, a existência de uma grande ressonância entrelaçando saberes e eventos históricos.