Reflexões de um cosmólogo
Eu gostaria de iniciar essa minha intervenção nesse 12 de setembro de 2022, agradecendo a meus amigos e colaboradores que, como Nelson Pinto Neto, se envolveram nessa homenagem aos meus 80 anos. Agradeço também ao competente corpo administrativo desse Centro de Pesquisas e, em particular Márcio Portes de Albuquerque, Claudia Vanise e Denise Coutinho.
Vou aproveitar esse momento único para fazer uns poucos comentários sobre o modo pelo qual entendo minha profissão e as escolhas que fiz em minha carreira.
Um dia, conversando com meu professor de Yoga fiquei verdadeiramente surpreso quando ele, depois de descobrir que eu era um cosmólogo, disse, de modo quase solene:
É a atividade que está mais próxima de Deus!
Isso me espantou porque eu acabara de escrever um texto onde eu afirmava que a cosmologia relativista, baseada na teoria não linear da Relatividade Geral, havia demonstrado que o universo não havia sido criado, mas sim era eterno. Isso parecia mostrar que não havia lugar por onde se poderia atribuir a um Deus um papel importante na elaboração desse cosmos.
Depois dessa conversa, comecei a entender porque meus colegas físicos, nos anos 1970 e em algumas décadas do século passado afirmavam, de modo que para eles deveria ter caráter bastante depreciativo, que a cosmologia pertencia ao campo da filosofia.
De minha parte, eu considerava isso um elogio, pois eu pensava, e ainda penso, que o momento mais grandioso do pensamento se encontra nas análises filosóficas.
Não é por acaso que alguns dos mais competentes cientistas, como Heisenberg, Hoyle, Schrödinger, Einstein, Auger, Narlikar, Planck e muitos outros, em um dado momento de suas carreiras começam a se voltar para questões de fundamentos, que eles julgam ser do território da filosofia. É bem verdade que seus colegas mais jovens consideram essa orientação como uma prova de decadência, no limiar da senilidade.
No caso da cosmologia, parece que essa orientação começa muito mais cedo. Como pretendia meu yogin, a cosmologia provoca uma reflexão sobre o cosmos que se faz presente no momento em que o jovem físico escolhe se encaminhar para o exame de questões cosmológicas e se identificar como um cosmólogo, ou seja, se transformar em um amigo do Cosmos, como disse Nelson Job.
No entanto, é possível que o físico se deixe envolver e fique absorvido completamente pela técnica e jamais considere seu objeto de estudo, o universo, como algo grandioso que transcende a simples manipulação de cálculos e observações astronômicas.
Sem ser preconceituoso, eu não chamaria de cosmólogo a essa pessoa, por mais competente que ela possa ser.
Em verdade, me causa descontentamento reconhecer que um físico ou astrônomo, ao invés de fazer de sua atividade momentos que eu chamaria de sublimes, possa deixar escapar um tema de reflexão tão maravilhoso, capaz de permitir pensamentos que conduzem a um encantamento que só o sentimento religioso parece igualar.
Entretanto, nas duas últimas décadas do século passado houve uma mudança importante na visão dos físicos sobre o papel da cosmologia. Em particular isso aconteceu entre os físicos de partículas elementares, os físicos de altas energias. Podemos citar como simbólico dessa transformação no ocidente, a conferência Inner Space, Outer Space que nosso amigo Edward Kolb e seus companheiros do FermiLab organizaram em 1984 em Chicago.
Como as experiências sobre o microcosmo exigiam máquinas extremamente custosas que, por exemplo, os EUA não estavam dispostos a financiar (e que mais adiante a Europa construiu no CERN) eles se voltaram para os céus, pois a visão da cosmologia de um universo em expansão permitia associar um passado longínquo a altíssimas temperaturas, ou seja, um laboratório ideal para examinar propriedades de altas energias. E, aparentemente, sem custos maiores: bastava olhar os céus.
Isso permitiu a ascensão da atividade cosmológica e o nascimento de uma estreita cooperação entre cosmólogos e físicos de altas energias. Nos Estados Unidos e na Europa, a criação por parte do Fermilab de reuniões periódicas envolvendo essas duas comunidades foi o estopim para que esse tipo de cooperação prosperasse em outros países. A comunidade científica brasileira seguiu atrás.
É importante notar que naquele momento, o Brasil já possuía uma pequena, mas bastante ativa comunidade de cosmólogos.
Creio que posso afirmar que para a existência desse grupo de cosmólogos brasileiros, muito contribuiu a realização de Encontros como esse que estamos vendo hoje, as Brazilian School of Cosmology and Gravitation (BSCG). Claro está que isso é o resultado de esforço coletivo que envolveu alunos e professores extremamente qualificados.
Uma prova direta do sucesso dessas Escolas podemos ver aqui, hoje: o coordenador dessa XVIII BSCG foi aluno nas primeiras reuniões, anos depois foi convidado a dar alguns seminários; mais adiante participou como professor e hoje é seu coordenador.
Vários outros antigos alunos se tornaram professores da própria BSCG e em Universidades, alguns deles estão aqui hoje, o que muito me alegra.
A aceitação, pela maioria da comunidade científica, de que a Cosmologia deveria se subordinar à Fisica, sem a introdução de nenhum conceito novo, nenhuma propriedade que não estivesse já contida nesta ciência, fez com que ao final da segunda metade do século XX ela ganhasse um qualificativo e passasse a ser chamada de Cosmologia Física e os órgãos financiadores brasileiros a identificassem como Física Extra Galática.
Abandonava-se a idéia de Einstein de que para entender o objeto da cosmologia se faz necessário novos conceitos, novas propriedades, como a ousada introdução da constante cosmológica, uma ideia que antecipou de quase um século, o papel do vácuo quântico na evolução da geometria do espaço-tempo.
O Universo seria, dentro desta concepção, um sistema físico convencional, como qualquer outro sistema com que os cientistas lidam em seu cotidiano. Não haveria nenhuma propriedade extraordinária, que exigiria uma mudança profunda na Física, a não ser – como acontece em qualquer novo território de qualquer ciência – aquelas que poderiam estar associadas a um específico sistema físico. Para estes cientistas, o Programa Cosmológico de Einstein não introduz nenhuma novidade além daquelas que a Fisica está acostumada a encontrar ao tratar de um novo processo, uma nova configuração, por mais complexa que ela seja.
Essa ideia, retirava a especificidade da cosmologia que lhe havia permitido ser qualificada como irmã da filosofia. Ela contribuía também para afastar essa nova ciência de seu encantamento.
Até muito pouco tempo a microfísica e, de modo mais amplo, a física terrestre, eram pensadas fora do contexto cósmico. Elas pareciam não necessitar de explicação ulterior, eram tratadas como sistemas auto referentes, sem admitir qualquer forma de análise extrínseca para constituir uma razão auto consistente.
No entanto, nas últimas décadas a Cosmologia invadiu abruptamente esse domínio tranquilo do pensamento positivista dominante e destruiu a paz racional daqueles que acreditam que a Terra, os homens, possuem um papel especial no Universo.
Essa interferência cósmica sobre a física local não deve ser entendida como a substituição de uma razão absoluta por outra razão absoluta. Não se trata de trocar o absolutismo associado ao caráter universal da física local pelo absolutismo de uma física global. A questão é um pouco mais complexa. O matemático A. Lautman faz uma bela síntese do que está em jogo em seu livro Essai sur les notions de structure et d´existence en mathématiques. Ao examinar a dicotomia local-global ele propõe uma alternativa extremamente interessante com consequências tentaculares, referindo à possibilidade de produzir uma síntese orgânica entre diferentes teorias matemáticas que tratam das conexões local-global e que escolhem o predomínio de uma sobre a outra. Lautman argumenta que é preciso estabelecer uma ligação poderosa entre a estrutura do todo e as propriedades das partes de modo a que se manifeste clara e precisamente, nessas partes, a influência organizadora do todo ao qual elas pertencem.
Esse ponto de vista, que parece adotar ideias e programas retirados seja da biologia seja da sociologia, pode aparecer na matemática como um procedimento de síntese. Para isso deve-se abandonar o programa de Russel-Whitehead de reduzir a matemática a estruturas lógicas atomísticas; como também a visão de Wittgenstein e Carnap segundo a qual as matemáticas nada mais são do que uma linguagem indiferente ao conteúdo que elas exprimem. De modo semelhante ao que ocorreu na Cosmologia relativista na última década, com o reconhecimento da limitação da axiomatização proposta por Penrose, Hawking e outros, que foi estruturada para dar apoio à identificação da existência de um momento único de criação do universo, separado de nós por um tempo finito.
Embora diversas tentativas de contornar essa visão tivessem aparecido ao longo do século XX, foi somente neste século XXI que uma novidade de grande alcance conseguiu retomar a singular característica da cosmologia, capaz de ser a origem de uma terceira revolução na física do século XX, ao lado da Relatividade e o Quantum. Podemos situar sua origem quando, desde o final dos anos 1930 hipóteses envolvendo a dependência cósmica das interações apareceram através de propostas de Sambursky, Dirac, Sakharov, Lattes e vários outros cientistas.
Recentemente, essa questão voltou a ter grande interesse, como o que aparece no projeto de investigação sistemática do estudo das constantes fundamentais da física com o objetivo ulterior de elucidar a possível variação dessas constantes, que meu amigo o físico Vitaly Melnikov no Center for Gravitation and Fundamental Metrology (CGFM) do Institute of Gravitation and Cosmology, People´s Friendship University of Russia, Moscou, iniciou no final do século passado e que seus colaboradores estão continuando, depois de seu falecimento inesperado, há dois anos.
A atividade sistemática desse grupo pioneiro em Moscou e outros que lhes seguiram nos Estados Unidos e na Europa, coloca em questão alguns dos princípios da ciência que Galileu, Kepler, Newton e outros iniciaram lá atrás.
A física adquiriu um elevado status devido principalmente à construção de leis da natureza que deveriam ser fixas e imutáveis. A possível variação dessas leis desestrutura essa organização da ciência.
Nesse ponto, eu gostaria de retomar alguns comentários extraídos de meu Manifesto Cósmico de 2016. Disse eu ali, começando pela citação de Marx e Engels em A ideologia alemã.:
Nós só reconhecemos uma ciência: a ciência da história
Como entender essa sentença no interior da atividade científica, na física, por exemplo? Somente aprofundando uma autocrítica que permita exibir as origens de sua refundação na cosmologia – a ciência histórica por excelência. Não exclusivamente baseada na aceitação da variação temporal do volume total do universo, mas por outros indícios esclarecedores, como a existência de processos de bifurcação.
É verdade que essa historicidade foi alardeada aqui e ali, por diversas vezes. A proposta recente mais atraente se deveu a Prigogine, que deu um passo nessa direção propondo uma aliança formal entre as diversas ciências e as humanidades. No entanto, sua extensão foi tímida por não ter incluído em sua análise a cosmologia, mas sim apoiando-se exclusivamente em processos descritos na física e na química, ciências locais. Somente ao consideramos a cosmologia e sua função desestabilizadora é possível enxergar com clareza a amplitude do conceito de que a ciência fundamental é histórica.
Imaginar que as leis da física são eternas e imutáveis, dadas por um decálogo cósmico é ter uma visão a-histórica dos processos no universo. Somente introduzindo a dependência cósmica das interações é possível retirar qualquer resquício de irracionalidade na descrição dos fenômenos na natureza e afirmar a força do modo científico de pensar o mundo.
É ingênuo pensar que no século XX se tenha introduzido a função histórica na cosmologia somente porque se conseguiu (a partir de interpretações especiais de dados astronômicos) caracterizar a dinâmica gravitacional como processo de expansão do universo, negando o imobilismo cósmico do primeiro cenário cosmológico proposto por Einstein. A dependência das leis da física ao processo de evolução dinâmica do universo retira o conteúdo principal que orientava os cientistas na busca da unificação das leis físicas entendidas então como fixas e imutáveis. A cosmologia enfraqueceu essa paz racional aceita até então como natural e definitiva.
Os físicos não consideraram aquela afirmação de Marx e Engels seriamente porque a quase totalidade dos cientistas acreditavam que aqueles filósofos estavam se referindo às questões humanas, o território natural da historicidade. A física, a ciência da natureza por excelência, sempre foi associada a uma prática que lida com processos que não se submetem à evolução e transformação que aquela asserção sub-repticiamente remete. No entanto, há argumentos sólidos segundo os quais aquela sentença pode efetivamente ser aplicada igualmente à física.
Podemos nos perguntar: as leis da física são “para sempre”? Talvez fosse importante esclarecer que ao tratar das mudanças das leis da física não estou me referindo àquelas alterações que fazem parte natural de seu procedimento de conhecimento. Sabemos que as leis de Newton, por exemplo o seu cenário espaço absoluto e tempo absoluto, foram alteradas por Poincaré e Einstein. Esses não mostraram que Newton estava errado, mas sim limitaram o alcance de sua descrição da natureza. Esse procedimento, essa correção de rumo, é corriqueiro em todas as atividades sociais, e diz respeito, não ao objeto de exame, a natureza, mas sim à condição humana. Não é dessa historicidade de representação do real, que estou me referindo, mas sim da alteração das leis da natureza como intrínseca ao cosmos.
As necessidades do sistema econômico moderno não requerem essa historicidade, mas não lhes têm hostilidade, pelo menos enquanto ela não inibir o modo de produção da ciência. Pois, na visão utilitarista dominante, o que se quer da ciência é o fundamento que permite o desdobramento de novas técnicas capazes de gerar tecnologias, produtos. É assim que a prática dos cientistas é conduzida sub-repticiamente à sujeição aos modos de dominação capitalista.
A alienação não se encontra na atuação formal no interior da atividade científica, nem em seus modos sociais, mas sim no próprio fazer ciência, na elaboração de novas questões, dos caminhos para sua solução e principalmente no abandono da prioridade maior dos cientistas: a pura curiosidade.
Infelizmente, para isso muito contribuiu os mecanismos governamentais de apoio, que, como uma verdadeira submissão política, privilegia aspectos comerciais da atividade científica através das técnicas que dela decorrem.
Deixemos claro que essa atividade técnica é importante e não pode ser abandonada. No entanto, ela deve ser entendida como subsidiária. Em alguns momentos, nossos próprios colegas parecem esquecer essa hierarquia essencial de nossa profissão.
Por fim, quero agradecer a meus colaboradores e amigos, em especial a Nelson Pinto Neto, Roland Triay e Ugo Moschella, por tornarem esse momento possível.
Eu gostaria de terminar essa minha intervenção repetindo as mesmas palavras que aqui nesse mesmo anfiteatro pronunciei, quando o CBPF me homenageou nos meus 70 anos.
Infelizmente, minha mãe que naquela ocasião estava sentada na primeira fila naquela solenidade, não está mais aqui.
Disse eu naquela ocasião o seguinte:
Quero encerrar saudando minha mãe, Assunta Miceli Novello, que veio da Calábria há 78 anos e me cedeu o encantamento pelo mundo que só uma camponesa da Europa Meridional, do início do século passado, pode exibir. Ter ela a meu lado esses 70 anos tem sido uma alegria constante. Não posso dizer mais, pois em nossa família, seguindo antigas tradições calabresas, as alegrias e efusões intimas não devem se tornar públicas.
Obrigado
Mario Novello
Referências
- N. Melnikov. Gravity as a key problem of the millennium, in: Proc. of 2000 NASA/JPL Conference on Fundamental Physics in Microgravity, Solvang, CA, USA, 2000; NASA Document D-21522, 2001: 4.1-4.17; gr-qc/0007067.
- N. Melnikov, in: Cosmology and Gravitation, ed. M. Novello, Editions Frontieres, Singapore, 1994: 147.
- N. Melnikov. Variations of constants as a test of gravity, cosmology and unified models. Grav. Cosmol., 2007, 13, N 2(50): 81.
- Novello S. E. P. Bergliaffa: Bouncing Cosmology in Physics Reports 463 (2008) ; ver também em https://cosmosecontexto.org.br/bouncing-cosmologies
Reflections of a cosmologist
I would like to begin my speech on the 12th of September 2022 by thanking my friends and collaborators who, like Nelson Pinto Neto, have been involved in this tribute to my 80th birthday. I will say no more about this tribute so I don’t get too emotional.
That said, I will make a few comments on the way in which I understand my profession and the choices I have made.
One day, talking to my Yoga teacher, I was truly surprised when he, after discovering that I was a cosmologist, said, in an almost solemn way:
It is the activity that is closest to God!
This astonished me because I had just written a text in which I state that Relativistic cosmology, based on the non-linear theory of General Relativity, has demonstrated that the Universe was not created, but is actually eternal. This seems to show that there is no room for God to play any major role in the making of the Cosmos.
After this conversation, I began to understand why, back in the 1970s and some other decades of the last century, my physics colleagues claimed, in a way they intended to be rather derogatory, cosmology belonged to the field of philosophy.
For my part, I considered that a compliment, for I thought, and still think, that the acumen of human thought is found in philosophical analyses.
It is no accident that some of the most competent scientists, such as Heisenberg, Hoyle, Schrödinger, Einstein, Auger, Narlikar, Planck, and many others, at a certain point in their careers turned to foundational questions, which they considered to belong to the territory of philosophy. It is quite true that their younger colleagues considered this orientation as evidence of decadence, on the threshold of senility.
In the case of cosmology, it seems that this orientation begins much earlier in life. As my yogin implied, cosmology provokes a reflection on the Cosmos that is already present at the very moment the young physicist chooses to examine cosmological questions. That is, to become a friend of the Cosmos, as Nelson Job said.
On the other hand, it is possible that the cosmologist allows herself to get involved and becomes completely absorbed by the technique, and never considers her object of study, the Universe, as something grandiose that transcends the simple manipulation of astronomical calculations and observations.
Without being prejudiced, I would not call this person a cosmologist, however competent she may be.
Actually, it causes me discontent to acknowledge that this physicist or astronomer, instead of making what I would call sublime moments of her activity, can let slip a theme of reflection so wonderful and so natural, capable of allowing thoughts that lead to an enchantment that only religious feeling seems to equal.
However, in the last two decades of the last century, there was an important change in physicists’ views on the role of cosmology. This happened, in particular, among particle physicists, the physicists of high energies. We can mention, as symbolic of this transformation, the conference Inner Space, Outer Space that our friend Edward Kolb and his Fermilab colleagues organized in 1984 in Chicago.
As experiments on the microcosm require extremely expensive machines that the USA, for example, was unwilling to fund at that time (and which Europe later built at the CERN), they turned to the sky, as the cosmological vision of an expanding Universe allowed a distant past to be associated with very high temperatures, making it an ideal laboratory for examining high energy phenomena. And, apparently, at no great cost: all you have to do is look up to the sky.
This allowed the rise of cosmological research activity and the birth of close cooperation between cosmologists and high-energy physicists. In the West, Fermilab’s creation of periodic meetings involving these two communities was the trigger for this kind of cooperation to prosper in other countries. The Brazilian scientific community followed behind.
It is important to note that, at that time, Brazil already had a small but quite active community of cosmologists.
I think I can say that the organization of meetings like the one we are seeing today, the Brazilian School of Cosmology and Gravitation (BSCG), contributed a lot to the existence of this group of Brazilian cosmologists. It is clear that this was the result of a collective effort that involved extremely qualified students and teachers.
A direct proof of the success of these schools can be seen here today: the coordinator of this XVIII BSCG was a student in the first meetings, years later he was invited to give some seminars; further on he participated as a teacher, and today he is its coordinator.
Several other former students became teachers at the BSCG itself and in Universities, some of them are here today, which makes me very happy.
The acceptance, by the majority of the scientific community, that cosmology should be subordinated to physics, without the introduction of any new concept, any property that was not already contained in this science, led it, at the end of the second half of the 20th century, to gain a qualifier and begin to be called physical cosmology, and also to be identified as extra galactic astrophysics by the Brazilian funding agencies.
That implied the abandonment of Einstein’s idea that, to understand the object of cosmology, new concepts and properties were needed, such as the bold introduction of the cosmological constant, an idea that anticipated by almost a century the role of the quantum vacuum in the evolution of space time geometry.
The Universe would be, within this conception, a conventional physical system, like any other system that scientists deal with in their daily lives. There would be no extraordinary properties, which would require a profound change in physics, except — as happens in any new territory of science — those which could be associated with a specific physical system. For these scientists, Einstein’s Cosmological Program does not introduce any novelty beyond those physics is used to encounter when dealing with a new process, a new configuration, however complex.
This idea removed the specificity of cosmology that had allowed it to be qualified, at once, as a sister of philosophy and contributed to remove from this new science its enchantment.
Until very recently, microphysics and, more broadly, terrestrial physics were though of outside the cosmic context. They seemed to need no further explanation; they were treated as self referential systems, without admitting any form of extrinsic analysis in order to constitute a self consistent reason.
However, in recent decades cosmology has abruptly invaded this quiet domain of dominant positivist thinking and destroyed the rational peace of those who believe that the Earth and men have a special place in the Universe.
The cosmic interference on local physics should not be understood as the replacement of an absolute reason by another absolute reason. It is not a matter of replacing the absolutism associated with the universal character of local physics for the absolutism of a global physics. The question is a little more complex. The mathematician Albert Lautman gave a beautiful synthesis of what is at stake in his book Essai sur les notions de structure et d’existence en mathématiques. In examining the local global dichotomy he proposed an extremely interesting alternative, with tentacular consequences, referring to the possibility of producing an organic synthesis between different mathematical theories dealing with local global connections and choosing the predominance of one over the other. Lautman argued that a powerful connection must be established between the structure of the whole and the properties of the parts, so that the organising influence of the whole to which they belong is clearly and precisely manifested in those parts. This point of view, which seems to adopt ideas and programmes taken either from biology or from sociology, can appear in mathematics as a procedure of synthesis. To that end, one must abandon the Russel Whitehead program of reducing mathematics to atomistic logical structures, as well as the view of Wittgenstein and Carnap according to which mathematics is nothing more than a language indifferent to the content it expresses. This is similar to what has occurred in relativistic cosmology in the last decade, with the abandonment of the Penrose Hawking axiomatisation that was structured to support the identification of the existence of a single moment of creation of the universe separated from us by a finite time.
Although several attempts to circumvent this view had appeared throughout the twentieth century, it was only in this twenty first century that a far reaching novelty managed to resume the singular characteristic of cosmology, capable of being the origin of a third revolution in twentieth century physics, alongside relativity and the quantum. We can situate its origin at the end of the 1930’s, when hypotheses involving the cosmic dependence of interactions appeared through proposals by Sambursky, Dirac, Sakharov, Lattes and several other scientists.
Recently, this question has again become of great interest, as it appears in the project of systematic investigation of the study of the fundamental constants of physics with the ulterior objective of elucidating the possible variation of these constants, which my friend the physicist Vitaly Melnikov at the Center for Gravitation and Fundamental Metrology (CGFM) of the Institute of Gravitation and Cosmology, People’s Friendship
University of Russia, Moscow, initiated at the end of the last century.
The systematic activity of this pioneering group in Moscow and others that followed them in the United States and Europe, calls into question some of the principles of science that Galileo, Kepler, Newton and others initiated in the past. Physics acquired a high status mainly due to the construction of laws of nature that should be fixed and immutable. The possible variation of these laws disrupts this organisation of science.
At this point, I would like to return to some comments taken from my 2016 Cosmic Manifesto. I said there, beginning with the quote from Marx and Engels in The German Ideology:
We recognise only one science: the science of history.
How to understand this sentence within the scientific activity, inphysics, for example? Only by deepening a self criticism that allows showing the origins of its re foundation in cosmology the historical science par excellence. Not exclusively based on the acceptance of the temporal variation of the total volume of the universe, but by other enlightening clues, like the existence of bifurcation processes.
It is true that this historicity has been vaunted here and there, several times. The most attractive recent proposal was due to Prigogine, who took a step in this direction by proposing a formal alliance between the various sciences and the humanities. However, his extension was timid because he did not include cosmology in his analysis but relied exclusively on processes described in physics and chemistry, local sciences. Only by considering cosmology and its destabilising function is it possible to see clearly the breadth of the concept that fundamental science is historical.
To imagine that the laws of physics are eternal and immutable, given by a cosmic decalogue, is to have an ahistorical view of the processes in the universe. Only by introducing the cosmic dependence of interactions is it possible to remove any trace of irrationality in the description of phenomena in nature and to affirm the strength of the scientific way of thinking about the world. It is naive to think that in the 20th century the historical function was introduced in cosmology only because it was possible (from special interpretations of astronomical data) to characterize the gravitational dynamics as a process of expansion of the universe, denying the cosmic immobility of the first cosmological scenario proposed by Einstein. The dependence of the laws of physics on the
process of dynamic evolution of the universe removes the main content that guided scientists in the search for an unification of the physical laws, understood then as fixed and immutable. Cosmology has weakened this rational peace, accepted until then as natural and definitive.
Physicists did not take that statement by Marx and Engels seriously because almost all scientists believed that those philosophers were referring to human questions, the natural territory of historicity. Physics, the science of nature par excellence, has always been associated with a practice that deals with processes that are not subject to the evolution and transformation that that assertion surreptitiously refers to. However, there are solid arguments according to which that sentence can indeed be applied equally well to physics. How is that possible?
Are the laws of physics “forever”? Perhaps it would be important to clarify that when dealing with changes in the laws of physics I am not referring to those changes that are a natural part of its knowledge procedure. We know that Newton’s laws, for example, and its absolute space and absolute time setting, were changed by Poincaré and Einstein. They did not show that Newton was wrong, but they limited the scope of his description of Nature. This procedure, this course correction, is commonplace in all social activities, and concerns not the object of examination, i.e. Nature, but the human condition. I am not referring to this historicity of the representation of the real, but to the alteration of the laws of nature as intrinsic to the Cosmos.
The needs of the modern economic system do not require this historicity, but they are not hostile to it, at least as long as it does not inhibit the mode of production of science. For, in the dominant utilitarian vision, what is wanted of science is the foundation that allows the unfolding of new techniques capable of generating technologies, products. This is how the practice of scientists is surreptitiously led to a subjection to the modes of capitalist domination.
The alienation is not found in the formal acting within scientific activity, nor in its social modes, but in the very doing of science, in the elaboration of new questions, of the paths to their solution and mainly in the abandonment of the scientists’ highest priority: pure curiosity.
Unfortunately, the governmental support mechanisms have contributed a lot to this alienation, which, as a true political submission, privilege commercial aspects of the scientific activity through the techniques that result from it.
Let us make it clear that this technical activity is important and cannot be abandoned. However, it must be understood as subsidiary. At times, our own colleagues seem to forget this essential hierarchy of our profession.
Finally, I thank in particular Nelson Pinto Neto, Roland Triay and Ugo Moschella for making this moment possible.
I would like to end my speech repeating the same words that I spoke here when CBPF honored me on my 70th birthday and that led to my compulsory retirement. Unfortunately, my mother who was sitting in the front row at that ceremony, 10 years ago, is no longer here.
I said in that occasion the following:
I want to close by greeting my mother, Assunta Miceli Novello, who came from Calabria 78 years ago and gave me the enchantment for the world that only a peasant woman from Europe at the beginning of the last century could display. Having her by my side these 70 years has been a constant joy. I cannot say more, because in our family, following old Calabrian traditions, the joys and intimate effusions should not be made public.
Thank you!
Mario Novello