Poema

Afinal, disse o senhor-de-terno-escuro,

se soubéssemos ao menos por que devemos esperar pela noite para

podermos sair dessa caverna, eu ficaria mais tranquilo.

 

Os outros, vestidos como serviçais,

olhavam,

quietos,

o tempo todo para fora

exceto Writ

ele andava em volta do círculo como se mergulhando em antiga

remota

muito remota

viagem.

 

A carcaça do tigre-dentes-de-sabre

que oscilava ao vento na entrada principal trazia um cheiro insuportável.

 

Um estranho diálogo começou então

mas de onde eu estava não podia ouvir o que discutiam

só rumores.

 

Por minha hesitação,

a hora de estar no sonho já tinha passado

e todos se acumulavam na saída para poderem

(desta vez, enfim!)

entrarem por essa ponte no sonho do outro.

 

Uma bolinha (um odradek?) começou a rolar por entre suas pernas

a princípio timidamente. Depois, com mais rapidez

outra bolinha apareceu

e mais outra

e outra mais

e a quantidade delas foi crescendo de tal modo que ele se embaralhou pela noite adentro

correndo desesperadamente

fugindo dessa caverna.

 

O tigre-dentes-de-sabre que o esperava lá fora

(todos sabíamos disso)

se apoderou de sua alma e de seu corpo.

 

sem esforço.

 

fácil, como esperar a noite.

 

M. Novello

 

 

 

 

 

Autor

  • Professor Emérito do Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas (2012), publicou diversos livros de divulgação científica e mais de 150 artigos científicos em prestigiosos periódicos internacionais, e orientou inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado no CBPF.