Para uma ciência dos sentidos: a lição de Galileu Galilei
Vaidade e medo nunca constroem conhecimento algum.
Em um de seus textos sobre hassidismo,[1] Martin Buber, filósofo, escritor e tradutor judeu-austríaco, escreve que o principal perigo para o homem é a «religião», frase que, dita por quem dedicou a vida inteira ao estudo do judaísmo em suas diferentes formas, pode soar bastante estranha, e até contraditória. Buber, obviamente, não recusa a experiência da religiosidade, nem rejeita a dimensão por meio da qual se busca a comunhão com o divino, muito pelo contrário: o que desmistifica e aponta como perigo é a ação humana que, tornando-se independente do vínculo espiritual e referência de si mesma, produz um sistema institucionalizado, legitimando o exercício do poder por meio da fé.
A História testemunha diversas situações em que o poder foi exercido de modo a disfarçar sua natureza, e o período da Contra-reforma é um exemplo. Iniciando-se em meados do século XVI com o Concílio de Trento e estendendo-se durante todo o século seguinte, a Contra-reforma determinou a aplicação de medidas de controle e repressão a fim de contrastar posições que não se alinhavam com a doutrina eclesiástica, e Galileu Galilei (1564-1642) aprendeu na própria pele como esse mecanismo funcionava.
Antes de Galileu ser acusado e preso, a teoria de Nicolau Copérnico havia sido condenada pelo Tribunal do Santo Ofício (1616): em 1543, o astrônomo polonês publicara De revolutionibus orbium coelestium, onde se formulava a teoria heliocêntrica,[2] retomada, algumas décadas mais tarde, pelo cientista pisano. O texto bíblico confirmava a doutrina aristótelico-ptolomaica e por isso a instituição eclesiástica a havia tornado própria: demonstrar os movimentos de rotação e revolução da Terra significava desafiar não apenas a noção cosmológica vigente, mas atacar o sistema teológico católico — baseado nas Sagradas Escrituras — e, assim, o poder político.
As proposições não aceitas pelo Tribunal do Santo Ofício eram banidas e perseguidas em nome da Igreja, e quem as promovia, além de censurado, corria o risco de ser preso e condenado à morte. Galileu Galilei passou a integrar aquela fileira de cientistas e filósofos acusados de heresia: Giordano Bruno (1546-1600) foi queimado vivo em Campo de’ Fiori por manter-se firme em suas convicções, e Tommaso Campanella (1568-1639), mesmo escapando à sentença de morte, foi preso e processado em diversas ocasiões.
Galilei, Bruno e Campanella se comportaram de modo diferente diante da censura — séculos mais tarde, reescrevendo algumas partes de Vida de Galileu,[3] Brecht criticaria duramente o cientista pisano por ter cedido diante do poder eclesiástico —, mostrando, cada um da própria maneira, a necessidade de desconfiar de proposições tidas como invioláveis: o conhecimento não é hierárquico e dogmático, mas livre e sujeito à mutação; precisa ser repensado na medida em que novas proposições aparecem, e aplicar censura significa seguir outro propósito que não o do saber.
Em seus escritos e teorias, Galileu nunca negou a fé católica — portanto, nunca houve heresia ou descrença —, afirmando que a fé jamais poderia ser ameaçada por uma descoberta astronômica, porque entre o conhecimento científico e a experiência espiritual não existe conflito: um se ocupa da vida terrena, investigando as diversas manifestações da natureza e seu funcionamento; a outra busca o vínculo com o divino, transcendendo a razão. As duas esferas não apenas não se contrapõem, mas se complementam nos diversos aspectos da vida humana: o texto bíblico representa o ditado de Deus, enquanto a natureza é a executora das ordens divinas,[4] e se expressa através da linguagem matemática.
Entre 1613 e 1615, Galileu redigiu um grupo de textos que seria denominado Cartas copernicanas, em que fala sobre a relação entre Sagradas Escrituras e teoria heliocêntrica, expondo, além do dado científico, um pensamento filosófico consistente e maestria literária.
Com o objetivo de demonstrar que a teoria copernicana não se contrapõe às afirmações do texto bíblico, o autor mira o cerne da questão, oferecendo uma verdadeira lição de hermenêutica: para entender as Sagradas Escrituras, o sentido recôndito de sua mensagem divina, é necessário interpretar, não limitando-se a uma recepção literal, porque, se não forem interpretadas devidamente, muitas palavras se revelariam falazes, e até heréticas.
Na carta a Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana, o autor escreve:
O motivo, pois, que eles apresentam para condenar a opinião da mobilidade da Terra e estabilidade do Sol é que, lendo-se nas Sagradas Escrituras em muitas passagens que o Sol se move e que a Terra permanece parada e, não podendo a Escritura jamais mentir ou errar, segue-se daí como consequência necessária que é errônea e condenável a sentença de quem pretendesse afirmar que o Sol é por si mesmo imóvel e a Terra móvel.
Sobre este argumento parece-me que se deve considerar em primeiro lugar que se diz com grande santidade e se sustenta com grande sabedoria que a Sagrada Escritura não pode nunca mentir, sempre que se tenha penetrado o seu verdadeiro sentido. Ora, não creio que se possa negar que este muitas vezes é escondido e muito diverso daquilo que soa o puro significado das palavras. Do que se segue que toda vez que alguém ao expô-la, quisesse ater-se sempre ao som literal nu, poderia, errando este alguém, fazer aparecer nas Escrituras não só contradições e proposições afastadas da verdade, mas graves heresias e mesmo blasfêmias. Posto que seria necessário dar a Deus pés, mãos, olhos não menos que afecções corporais e humanas tais como de ira, de arrependimento, de ódio e até certa vez o esquecimento das coisas passadas e a ignorância das futuras.[5]
Nessa epístola, Galileu explica como o objetivo da ciência é o de estudar a realidade tangível e observável, enquanto à fé cabe a metafísica do espírito: as Sagradas Escrituras querem ilustrar como si vadia al Cielo e não como vadia il cielo — ou seja, como se vai ao céu e não qual seu funcionamento.[6] Um jogo de palavras simples e engenhoso para explicar os grandes propósitos de ciência e teologia.
Nos primeiros parágrafos, dando prova mais uma vez de ironia e elegância, Galileu critica o princípio de autoridade e a construção hierárquica do saber, que, não podendo ser reformulado ou discutido, nem mesmo diante da obviedade, se torna dogma: o processo de investigação e de formação do conhecimento, além das proposições teóricas, requer sensate esperienze e dimostrazioni necessarie[7]: o cientista há de buscar evidências na observação e na prática, não se escondendo atrás das verdades dos grandes mestres, mas tomando a responsabilidade da própria palavra, do próprio pensar.
Nesse mesmo texto, o autor também se defende das muitas críticas que recebera por parte daqueles que, professando-se filósofos e cientistas, não investigam nem pensam, tendo «maior apego por suas próprias opiniões do que pela verdade»[8]: vaidade e medo nunca constroem conhecimento algum.
Outra grande etapa da escrita galileana é o Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano, redigido entre 1624 e 1630, publicado em 1632. Trata-se de seu texto mais famoso, fundamental pela contribuição inovadora do conteúdo científico, mas também pela escolha da tipologia textual e pelo uso da língua.
Galileu, de fato, ao invés do tratado, opta pela estrutura dialógica, remetendo à tradição do diálogo platônico e renascentista, aspirando, ao mesmo tempo, a uma divulgação mais ampla; a respeito da língua, escolhe o italiano e não o latim, como se costumava fazer nos tratados científicos e filosóficos da época, também com o objetivo de atingir um público maior, composto não só por cientistas. Esses dois aspectos se revelam profundamente inovadores dentro da escrita especializada, e o Diálogo se torna exemplo de grande literatura científica e de excelente prosa literária.
Essa obra não é a primeira em que Galileu combina a intenção científica com o intuito literário: as Cartas copernicanas também foram compostas em língua italiana e com finalidade divulgativa, revelando como a epístola podia ser considerada uma tipologia textual apta a falar sobre ciência e filosofia. Diferente havia sido o caso do Sidereus Nuncius [O mensageiro das estrelas] (1610) — texto em que o autor tornava públicas as descobertas permitidas pelo recém-chegado telescópio —, em que se escolhe o tratado e a língua latina.
O Diálogo não representa um manifesto em defesa da teoria copernicana, nem um ataque às noções aristotélico-ptolomaicas: trata-se de um texto construído com sutileza e ironia, em que são discutidas as posições geocêntrica e heliocêntrica, mas também questões filosófico-científicas que se vinculam a esse argumento. A obra nos projeta dentro de um esquema dialógico vívido e ritmado — o texto pode ser encenado como peça teatral sem precisar de adaptação alguma —, mostrando as engrenagens do debate e do confronto, como se constrói retoricamente uma afirmação.
As posições são expressas pelas falas de três personagens: Filippo Salviati (homem que de fato existiu, nobre florentino e amigo de Galileu; apoiador do copernicanismo e porta-voz das ideias do autor); Giovanni Francesco Sagredo (nobre veneziano e próximo de Galileu; figura que representa o público curioso, mas não necessariamente especializado), e Simplício (personagem imaginário cujo nome remete ao comentador de Aristóteles do VI século d.C., e, como sugere a palavra, a certo caráter simplório.) Os interlocutores se reúnem em Veneza[9] para discorrer, ao longo de quatro jornadas, sobre os dois principais sistemas cosmológicos; direta é a referência ao Decameron de Boccaccio, ao poder da palavra que liberta quem a sabe usar.
A obra é caracterizada, assim, por uma pluralidade de vozes, por uma construção dinâmica que mistura ação e reflexão, teoria e prática, ciência e ironia; no texto, o pensamento de Galileu não se impõe pela força da assertividade, mas pela solidez das proposições e pelo engenho da linguagem.
Já a partir das primeiras páginas percebe-se o uso perspicaz do vocabulário: o Proêmio é dedicado ao «discreto leitor», ou seja, àquele que possui a capacidade de «discriminar», «discernir» o verdadeiro do falso. O Diálogo é, de fato, uma obra que, além de informar, instiga a capacidade crítica do público: a recepção há de ser sempre ativa, e a quem lê cabe entender que não tudo aquilo que será dito é verdadeiro, como muitas verdades serão apresentadas afirmando ironicamente seu contrário. A linguagem é vívida e se adapta às exigências do conteúdo, desafiando os limites da censura; muitas cenas são construídas a partir da linguagem do humor, em que o elemento cômico se sobressai naturalmente, sem precisar sublinhar palavras ou ações.
No início do livro, por exemplo, o autor remete a certo editto salutifero[10] — «édito salutífero» que protegeria, de fato, das perigosas heresias —, referindo-se àquele exarado pelo Santo Ofício em 1616, que condenava a teoria de Copérnico e proibia todas as posições a favor da mobilidade da Terra e da centralidade do Sol. Grande a ironia do autor, sutil e elegante o uso da retórica.
A teoria heliocêntrica não é apresentada como verdade absoluta, mas como mera hipótese matemática: essa é a única maneira de expô-la sem receber reprovação imediata, e podendo, desse modo, continuar a sustentá-la. O embate direto e o uso da assertividade que exclui outras perspectivas não permitiriam a Galileu estruturar a própria obra: a retórica se torna para o autor não apenas uma ferramenta de escrita ou um padrão estilístico da época, mas uma maneira de abrir espaço de pensamento e crítica, num equilíbrio feito de engenho e perspicácia, ambiguidade e ironia, verdade e verosimilhança.
Célebre é o episódio do Diálogo em que Sagredo se lembra da história de um aristotélico que, presenciando a dissecção de um corpo, não acreditava na evidência de que os nervos partissem do cérebro e não do coração, porque nos livros de seu mestre havia lido o contrário:
Encontrava-me certa feita na casa de um médico muito estimado em Veneza, onde alguns por estudo, e outros por curiosidade, reuniam-se algumas vezes para presenciar uma dissecação anatômica pela mão de um anatomista verdadeiramente não menos douto que diligente e prático. E aconteceu naquele dia, que se investigava a origem e começo dos nervos, acerca do que existe uma famosa controvérsia entre os médicos galenistas e peripatéticos; e mostrando o anatomista como, partindo do cérebro e passando pela nuca, o grandíssimo cepo dos nervos estendia-se depois pela espinha e ramificava-se por todo o corpo, chegando ao coração somente um fio finíssimo como uma linha de coser, dirigiu-se a um gentil-homem que conhecia como filósofo peripatético e em virtude de cuja presença tinha, com extraordinário zelo, aberto e mostrado tudo, perguntando-lhe se estava satisfeito e certificado de que a origem dos nervos vem do cérebro e não do coração, ao que o filósofo, depois de pensar algum tempo consigo mesmo, respondeu: «vós me fizestes ver esta coisa de modo tão aberto e sensível que, quando o texto de Aristóteles não dissesse o contrário, posto que diz claramente que os nervos nascem no coração, precisaríamos forçosamente confessá-la verdadeira».[11]
O debate que se abre entre os fautores das diversas posições já não pode se sustentar apenas na teoria: a chegada de novos instrumentos e práticas impõe um processo de reconsideração e redefinição do conhecimento. A necessidade de desconstruir o discurso de autoridade é um dos temas mais recorrentes da escrita galileana, revelando a necessidade de repensar os modos de entender e construir o saber: o novo, o desconhecido que transforma — não o irrelevante — se torna estimulo para avaliar o que foi sedimentado ao longo dos tempos, confirmando ou refutando noções estruturadas, e, se necessário, pondo em discussão também as palavras dos grandes mestres.
A crítica do autor não é direcionada a Aristóteles, filósofo que em seus acertos e erros teve o grande mérito de investigar e organizar as diversas áreas do cognoscível, utilizando da melhor forma possível os recursos de sua época, mas aos aristotélicos, que seguem pia e cegamente suas palavras, sem questioná-las nem mesmo diante da evidência. Nesse caso, o ipse dixit justifica o dogma e a deliberada ignorância. Mais adiante Salviati diz:
Duvidais talvez que Aristóteles, se visse as novidades descobertas no céu, não mudaria de opinião, corrigindo seus livros, para aproximar-se de doutrinas mais sensíveis, afastando de si aqueles tão pobres de juízo que muito pusilanimemente insistem em querer sustentar cada uma de suas afirmações, sem entender que Aristóteles, quando fosse tal e qual eles o imaginam, seria um cérebro indócil, uma mente obstinada, um espírito repleto de barbárie, uma vontade tirânica, que, reputando todos os outros como estúpidos carneiros, quisesse que seus decretos fossem antepostos aos sentidos, às experiências, à própria natureza? São os seus seguidores que outorgaram a autoridade a Aristóteles, e não ele mesmo que a usurpou ou tomou; e, porque é mais fácil ocultar-se debaixo do escudo de outrem que comparecer de viso aberto, temem e nem se aventuram a afastar-se somente um passo, e, antes de alterar alguma coisa no céu de Aristóteles, querem impertinentemente negar aquelas coisas que veem no céu da natureza.[12]
O telescópio foi um instrumento que revolucionou o conhecimento astronômico — os primeiros modelos aumentavam os objetos em duas ou três vezes, enquanto o de Galileu chegava até trinta —, mas teve também um importante valor político: tornava possíveis novas observações e novos cálculos, desafiando de modo prático aquele discurso de autoridade, que não podia se sustentar de modo algum. Esse instrumento não foi ideado por Galileu — foi inventado na Holanda, no começo do século XVII —, mas é ao cientista pisano que se deve seu aprimoramento: inspirado também pelos mestres vidraceiros de Murano, Galileu elaborou seu cannocchiale utilizando-se tanto do conhecimento teórico, matemático e astronômico, quanto das habilidades de artesão e artista.
Permitindo a experiência da observação, livre de ipse dixit e de outras formulações prévias, o telescópio favoreceu uma nova visão de universo, mais ampla e menos perfeita. Dilatava-se, então, não apenas a superfície do Céu, mas a noção que se tinha dele: pela primeira vez se percebia o caráter imperfeito dos corpos celestes e sua mutabilidade, aspectos que desconstruíam — esse é o caso da Lua —, um imaginário feito de superfícies lisas, brilhantes e homogêneas, mostrando, ao contrário, irregularidades, recantos de luz e sombra.
As descobertas dessa época geram medo e espanto, são hostilizadas e proibidas, porque abrem um diálogo com o desconhecido, espaço de não-respostas onde é impossível aplicar uma organização já existente: o ser humano, pequeno e irrisório, diante da natureza e do cosmos.
Para registrar as próprias descobertas, os cientistas da época precisavam aprimorar-se também em outras técnicas, sobretudo no desenho, combinando as diversas disciplinas da ciência e da arte. Galileu foi um dos poucos — guardadas as devidas proporções, como Leonardo Da Vinci — a reunir de maneira tão extraordinária as habilidades de cientista, filósofo, escritor, artista e artesão. A revolução galileana, de fato, se dá em muitas áreas: mudando o modo de olhar para o Céu, mudam também as maneiras de retratá-lo, seja na representação científica, seja na arte; exemplos eloquentes se veem no desenho, na pintura e na poesia.
Em seu livro Sidereus Nuncius, atribuem-se ao próprio autor as figuras da Lua vista pelo telescópio; é a partir dessas ilustrações que a cartografia lunar começa a se desenvolver, tornando-se cada vez mais primorosa: os trabalhos de Pierre Gassendi, Johannes Hevelius, Robert Hooke e Giovanni Domenico Cassini seriam impossíveis sem a contribuição de Galileu.
O artista Ludovico Cardi (1559-1613), conhecido também como «Il Cigoli», amigo de Galileu desde a época da juventude, em 1612 termina um afresco na cúpula da Capela Paulina da Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma: a obra retrata a Imaculada Conceição da Virgem Maria, que se eleva sobre uma lua rugosa, caracterizada por relevos e crateras, e muito se afasta daquele corpo celeste imaginado liso e perfeito; o Sidereus Nuncius havia sido publicado dois anos antes.
Alguns anos mais tarde, o poeta Giambattista Marino (1569-1625) compôs L’Adone (1623), uma das obras mais importantes do período, em que, remetendo às descobertas galileanas, fala de um planeta caracterizado por recantos profundos e escuros, vales e penhascos, não muito diferente da Terra:
Hor io ti fò saver, che quel Pianeta
Non è (com’altri vuol) polito e piano,
Ma ne’ recessi suoi profondi e cupi
Hà non men che la terra, e valli e rupi.La superficie sua mal conosciuta
Dico, ch’è pur come la terra istessa,
Aspra, ineguale, e tumida e scrignuta,
Concava in parte, in parte ancor convessa.
Quivi veder potrai (ma la veduta
Nol può raffigurar, se non s’appressa)
Altri mari, altri fiumi, ed altri fonti,
Città, regni, provincie, e piani, e monti.[13]
Em seus versos, Marino critica aqueles que negam a posição de Galileu — quel Pianeta/ non è (com’altri vuol) polito e piano — mesmo diante de suas demonstrações, elaborando, também na poesia, uma nova maneira de descrever a Lua — corpo áspero e inchado, com partes côncavas e convexas. E fazendo uma homenagem ao cientista, o poeta destaca o uso de certo «instrumento admirável»:
Tempo verrà, che senza impedimento
Queste sue note ancor fien note e chiare,
Mercè d’un ammirabile stromento
Per cui ciò ch’è lontan, vicino appare;
E con un occhio chiuso, e l’altro intento
Specolando ciascun l’orbe lunare,
Scorciar potrà lunghissimi intervalli
Per un picciol cannone, e duo cristalli.Del Telescopio a questa etate ignoto
Per te fia, Galileo, l’opra composta,
L’opra, ch’al senso altrui, ben che remoto,
Fatto molto maggior l’oggetto accosta.
Tu solo osservator d’ogni suo moto,
e di qualunque hà in lei parte nascosta,
Potrai, senza che vel nulla ne chiuda,
Novello Endimion, mirarla ignuda.[14]
Galileu, novo Endimião que olha para a Lua em sua nudez, observando sua beleza irregular e heterogênea.
Na Primeira Jornada do Diálogo são criticados aspectos da física aristotélica e, em especial, a noção que subordina a natureza do que muda à do que é tido como inalterável; para o autor, as características de alterabilidade e imperfeição não retirariam valor algum aos corpos celestes. Da beleza das criaturas e dos corpos que se metamorfoseiam fala Sagredo:
Eu não posso sem grande admiração, e acrescento sem grande relutância de meu intelecto, ouvir atribuir aos corpos naturais e integrantes do universo, como prova de grande nobreza e perfeição, a impassibilidade, imutabilidade, inalterabilidade etc. e, por oposição, considerar como sendo uma grande imperfeição a alterabilidade, gerabilidade, mutabilidade etc.: de minha parte, considero a Terra nobilíssima e admirável por tantas e tão diversas alterações, mutações, gerações etc. que nela acontecem incessantemente; e quando, sem estar sujeita a qualquer mutação, ela fosse toda um imenso deserto de areia ou uma massa de calcário, ou que no tempo do dilúvio, congelando-se as águas que a cobriam, fosse transformada num imenso globo de cristal, onde jamais nascesse nem se alterasse ou mudasse coisa alguma, eu a consideraria um corpinho inútil no mundo, ocioso e, resumindo, supérfluo e como que inexistente na natureza, com aquela mesma diferença que existe entre o animal vivo e o morto […]. E que maior estultícia se pode imaginar que aquela que chama coisas preciosas as joias, a prata e o ouro, e vilíssimas a terra e o barro? […] Os que exaltam tanto a incorruptibilidade, a inalterabilidade etc., acredito que se limitam a dizer essas coisas pelo imenso desejo de viver muito e pelo terror que têm da morte; e não consideram que se os homens fossem imortais, não caberia a eles vir ao mundo.[15]
Frequentemente, o medo fala mais alto, cristalizando pensamentos e ações, impedindo nossa disponibilidade a mudar. De escola ovidiana, Sagredo — e junto com ele Galileu — nos fala da necessidade de transformar e transformar-se, da beleza das coisas que, ao viver, mudam suas feições e, enfim, desaparecem. Nascimento, fugacidade e morte em oposição a perfeição, esterilidade e não-vida: o contrário da vida não é a morte (que complementa o nascimento), mas a imutabilidade.
«Diálogo» — e nisso também voltamos a Buber — é a palavra que melhor define a figura e a obra de Galileu: o conhecimento nunca se dá na dimensão monológica, e quando se torna demasiado específico e fragmentário, afundando suas raízes só na verticalidade, sem olhar ao redor, perde sua consistência, o caráter dúctil e poroso.
Os textos de Galileu, fruíveis a partir de diversas perspectivas, para serem entendidos em toda a sua importância, hão de ser lidos também como obra literária: na prosa ágil e refinada, irônica e filosófica, que varia conforme as necessidades expressivas, os tipos de intuição da ciência e da arte se misturam e complementam, do mesmo modo que ao pensamento analítico das disciplinas exatas e da filosofia se integra a linguagem sintética da arte: arte que não explica, mas faz sentir.
E é na percepção do tangível e do observável que a obra de Galileu toma forma, mostrando a necessidade de uma busca que seja integrada, curiosa e audaz, plural e fluida, de um saber que transita entre suas diversas áreas: olhar para o novo e o contemporâneo num processo de diálogo que perpassa as épocas, de «formas mudadas em novos corpos».[16]
Agradecimentos:
a Eduardo Bittencourt, pelo convite; a Emmanuel Taub pelos ensinamentos buberianos.
Obras citadas:
Brecht, Bertolt. Teatro completo. Volume 6. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
Buber, Martin. The Origin and Meaning of Hasidism. Nova York: Harper Torchbooks, 1966, pp. 89-112.
Galilei, Galileu. Opere (ed. Franz Brunetti), Volume II. Turim: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1964.
Galilei, Galileu. «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, pp. 91-123.
Galilei, Galileu. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Tradução, introdução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011.
Marino, Giambattista. L’Adone poema del cavalier Marino. Veneza: Giacomo Sarzina, [depois de 1623].
Mattioli, Raffaele e Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão-Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953.
Ovídio. Metamorfoses. Tradução de Paulo Farmhouse Alberto. Lisboa: Livros Cotovia, 2007.
[1] Remeto à leitura do capítulo Spinoza, Sabbatai Zvi, and the Baal-Shem, que integra o volume The Origin and Meaning of Hasidism (cf. Martin Buber, The Origin and Meaning of Hasidism. Nova York: Harper Torchbooks, 1966, pp. 89-112.)
[2] Hipóteses heliocêntricas já haviam aparecido ao longo dos séculos — Aristarco de Samos, em primeiro lugar —, porém é a Copérnico que se deve a proposição moderna da teoria: além de desconstruir o geocentrismo, sua hipótese resultava num confronto com a teologia.
[3] Cf. Bertolt Brecht, Teatro completo. Volume 6. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
[4] « […] a Sagrada Escritura e a Natureza, procedendo igualmente do Verbo divino, aquela como ditado do Espírito Santo e esta como executante muito obediente das ordens de Deus» (cf. Galileu Galilei, «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, p. 103); no original: […] procedendo di pari dal Verbo divino la Scrittura Sacra e la natura, quella come dettatura dello Spirito Santo, e questa come osservantissima essecutrice de gli ordini di Dio. (cf. Raffaele Mattioli, Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão – Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953, p. 1014).
[5] Galileu Galilei, «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, p. 102; no original: Il motivo, dunque, che loro producono per condennar l’opinione della mobilità della Terra e stabilità del Sole, è, che leggendosi nelle Sacre lettere, in molti luoghi, che il Sole si muove e che la Terra sta ferma, né potendo la Scrittura mai mentire o errare, ne séguita per necessaria conseguenza che erronea e dannanda sia la sentenza di chi volesse asserire, il Sole esser per se stesso immobile, e mobile la Terra. Sopra questa ragione parmi primieramente da considerare, essere e santissimamente detto e prudentissimamente stabilito, non poter mai la Sacra Scrittura mentire, tutta volta che si sia penetrato il suo vero sentimento; il qual non credo che si possa negare essere molte volte recondito e molto diverso da quello che suona il puro significato delle parole. Dal che ne séguita, che qualunque volta alcuno, nell’esporla, volesse fermarsi sempre nel nudo suono literale, potrebbe, errando esso, far apparir nelle Scritture non solo contradizioni e proposizioni remote dal vero, ma gravi eresie e bestemmie ancora: poi che sarebbe necessario dare a Iddio e piedi e mani e occhi, non meno affetti corporali ed umani, come d’ira, di pentimento, d’odio, ed anco tal volta la dimenticanza delle cose passate e l’ignoranza delle future; […]. (cf. Raffaele Mattioli, Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão-Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953, p. 1013).
[6] «Isto é, que a intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como se vai para o céu e não como vai o céu.» (cf. Galileu Galilei, «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, p. 105); no original: ciò è l’intenzione dello Spirito Santo essere d’insegnarci come si vadia al cielo, e non come vadia il cielo. (cf. Raffaele Mattioli, Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão-Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953, p. 1018).
[7] «Parece-me que nas discussões de problemas concernentes à Natureza, não se deveria começar com a autoridade de passagens das Escrituras, mas com as experiências sensíveis e com as demonstrações necessárias» (cf. Galileu Galilei, «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, p. 103); no original: mi par che nelle dispute di problemi naturali non si dovrebbe cominciare dalle autorità di luoghi delle Scritture, ma dalle sensate esperienze e dalle dimostrazioni necessarie[…]. (cf. Raffaele Mattioli, Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão-Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953, p. 1014.
[8] «Esquecidos, de certo modo, de que a multiplicação das verdades concorre para a investigação, crescimento e estabilização das disciplinas, e não para sua diminuição ou destruição, e demostrando, ao mesmo tempo, maior apego por suas próprias opiniões do que pela verdade, esses professores chegaram a negar e tentar anular aquelas novidades, sobre as quais, caso tivessem querido considerá-las com atenção, poderiam ter ganho segurança através de seus próprios sentidos. Por isso tomaram várias providências e publicaram alguns escritos repletos de discussões vazias; e, o que foi erro mais grave, salpicados de testemunhos das Sagradas Escrituras, tirados de passagens que não entenderam bem e aduzidas fora de propósito.» (cf. Galileu Galilei, «Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana». Tradução e introdução de C. A. R: do Nascimento, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 5, 1983, p. 98); no original: E scordatisi in certo modo che la moltitudine de’ veri concorre all’investigazione, accrescimento e stabilimento delle discipline, e non alla diminuzione o destruzione, e dimostrandosi nell’istesso tempo più affezionati alle proprie opinioni che alle vere, scorsero a negare e far prova d’annullare quelle novità, delle quali il senso istesso, quando avessero voluto con attenzione riguardarle, gli averebbe potuti render sicuri; e per questo produssero varie cose, ed alcune scritture pubblicarono ripiene di vani discorsi, e, quel che fu più grave errore, sparse di attestazioni delle Sacre Scritture, tolte da luoghi non bene da loro intesi e lontano dal proposito addotti […]. (cf. Raffaele Mattioli, Pietro Pancrazi e Alfredo Schiaffini (eds.), La letteratura italiana, storia e testi. Volume 34, Tomo I, Galileo Galilei, opere. Milão-Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1953, p. 1013.)
[9] Por sua posição geográfica, a Serenissima constituía um ponto nevrálgico para a comunicação entre Oriente e Ocidente, sendo continuamente exposta a processos de mudança e inovação, que reverberavam também na atividade econômica da cidade, no ambiente das letras e na editoria.
[10] «Promulgou-se há alguns anos em Roma um benéfico édito que, para evitar os perigosos escândalos da presente época, impunha um silêncio oportuno a respeito da opinião pitagórica da mobilidade da Terra.» (cf. Galileu Galilei, Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Tradução, introdução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011, p. 91); no original: Si promulgò a gli anni passati in Roma un salutifero editto, che, per ovviare a’ pericolosi scandoli dell’età presente, imponeva opportuno silenzio all’opinione Pittagorica della mobilità della Terra. (cf. Galileu Galilei. Opere (ed. Franz Brunetti), Volume II. Turim: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1964, p. 15).
[11] Galileu Galilei, Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Tradução, introdução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011, pp. 190-191; no original: Mi trovai un giorno in casa un medico molto stimato in Venezia, dove alcuni per loro studio, ed altri per curiosità, convenivano tal volta a veder qualche taglio di notomia per mano di uno veramente non men dotto che diligente e pratico notomista. Ed accadde quel giorno, che si andava ricercando l’origine e nascimento de i nervi, sopra di che è famosa controversia tra i medici Galenisti ed i Peripatetici; e mostrando il notomista come, partendosi dal cervello e passando per la nuca, il grandissimo ceppo de i nervi si andava poi distendendo per la spinale e diramandosi per tutto il corpo, e che solo un filo sottilissimo come il refe arrivava al cuore, voltosi ad un gentil uomo ch’egli conosceva per filosofo peripatetico, e per la presenza del quale egli aveva con estraordinaria diligenza scoperto e mostrato il tutto, gli domandò s’ei restava ben pago e sicuro, l’origine de i nervi venir dal cervello e non dal cuore; al quale il filosofo, doppo essere stato alquanto sopra di sé, rispose: «Voi mi avete fatto veder questa cosa talmente aperta e sensata, che quando il testo d’Aristotile non fusse in contrario, che apertamente dice, i nervi nascer dal cuore, bisognerebbe per forza confessarla per vera» (cf. Galileu Galilei, Opere (ed. Franz Brunetti), Volume II. Turim: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1964, pp. 141-142).
[12] Galileu Galilei, Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Tradução, introdução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011, p. 193; no original: Avete voi forse dubbio che quando Aristotile vedesse le novità scoperte in cielo, e’ non fusse per mutar opinione e per emendar i suoi libri e per accostarsi alle più sensate dottrine, discacciando da sé quei così poveretti di cervello che troppo pusillanimamente s’inducono a voler sostenere ogni suo detto, senza intendere che quando Aristotile fusse tale quale essi se lo figurano, sarebbe un cervello indocile, una mente ostinata, un animo pieno di barbarie, un voler tirannico, che, reputando tutti gli altri come pecore stolide, volesse che i suoi decreti fussero anteposti a i sensi, alle esperienze, alla natura istessa? Sono i suoi seguaci che hanno data l’autorità ad Aristotile, e non esso che se la sia usurpata o presa; e perché è più facile il coprirsi sotto lo scudo d’un altro che ’l comparire a faccia aperta, temono né si ardiscono d’allontanarsi un sol passo, e più tosto che mettere qualche alterazione nel cielo di Aristotile, vogliono impertinentemente negar quelle che veggono nel cielo della natura. (cf. Galileu Galilei, Opere (ed. Franz Brunetti), Volume II. Turim: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1964, p. 145).
[13] Giambattista Marino, L’Adone poema del cavalier Marino. Veneza: Giacomo Sarzina, [depois de 1623], Canto X; 39, 40, p. 211. Literalmente: «Agora eu te faço saber que aquele Planeta/ não é (como outros querem) polido e plano,/ mas em seus profundos e escuros recantos/ tem, não menos que a terra, vales e penhascos.// Sua superfície mal conhecida/ digo que é como a mesma terra,/ áspera, desigual, inchada e corcunda/ côncava em parte, em parte ainda convexa./ Aqui poderás ver (mas a visão/ não podes retratar, se [o telescópio] não se aproxima)/ outros mares, outros rios, e outras fontes, cidades, reinos, províncias, planícies e montes.»
[14] Ibidem, Canto X; 42, 43, p. 211. Literalmente: «Virá uma época em que sem impedimento/ esses seus aspectos serão ainda conhecidos e claros,/ graças a um admirável instrumento/ pelo qual o que é distante, aparece próximo;/ e com um olho fechado e outro absorto/ cada um, observando a órbita lunar,/ poderá encurtar longuíssimas distâncias/ por meio de um pequeno canhão e dois cristais.// A obra do telescópio, nessa idade desconhecido/ será feita por ti, Galileu,/ obra que aos sentidos dos outros, mesmo que distante,/ tornado muito maior, o objeto aproxima./ Tu, único observador de todos seus movimentos e de qualquer uma de suas partes escondidas,/ poderás, sem que nenhum véu a cubra,/ olhá-la nua, como um novo Endimião.»
[15] Galileu Galilei, Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Tradução, introdução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011, pp. 143-144; no original: Io non posso senza grande ammirazione, e dirò gran repugnanza al mio intelletto, sentir attribuir per gran nobiltà e perfezione a i corpi naturali ed integranti dell’universo questo esser impassibile, immutabile, inalterabile etc., ed all’incontro stimar grande imperfezione l’esser alterabile, generabile, mutabile etc.: io per me reputo la Terra nobilissima ed ammirabile per le tante e sì diverse alterazioni, mutazioni, generazioni etc., che in lei incessabilmente sì fanno; e quando, senza esser suggetta ad alcuna mutazione, ella fusse tutta una vasta solitudine d’arena o una massa di diaspro, o che al tempo del diluvio diacciandosi l’acque che la coprivano fusse restata un globo immenso di cristallo, dove mai non nascesse né si alterasse o si mutasse cosa veruna, io la stimerei un corpaccio inutile al mondo, pieno di ozio e, per dirla in breve, superfluo e come se non fusse in natura, e quella stessa differenza ci farei che è tra l’animal vivo e il morto; […] E qual maggior sciocchezza si può immaginar di quella che chiama cose preziose le gemme, l’argento e l’oro, e vilissime la terra e il fango? […] Questi che esaltano tanto l’incorruttibilità, l’inalterabilità etc., credo che si riduchino a dir queste cose per il desiderio grande di campare assai e per il terrore che hanno della morte; e non considerano che quando gli uomini fussero immortali, a loro non toccava a venire al mondo. (cf. Galileu Galilei, Opere (ed. Franz Brunetti), Volume II. Turim: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1964, pp. 82-83).
[16] Ovídio, Metamorfoses. Tradução de Paulo Farmhouse Alberto. Lisboa: Livros Cotovia, 2007, p. 35.