Editorial 27
Durante o ano de 2013 Cosmos e Contexto publicou as palestras apresentadas na Conferência Mitos Cosmogônicos.
Em 2015 continuamos a organizar Conferências internacionais reunindo cientistas e pensadores de vários outros saberes, em dois eventos:
- GR100 in Rio: uma conferência celebrando o centenário da teoria da relatividade geral (27 a 31 de julho);
- Renascimentos: Cosmologia, Natureza, Ética (9 a 11 de setembro).
A primeira tratou de questões técnicas envolvendo cosmólogos, físicos de partículas elementares e astrofísicos. Essas palestras não serão reproduzidas aqui, devido a seu caráter extremamente técnico.
Neste número especial de C&C iremos publicar os textos da segunda reunião de 2015. Apresentamos a seguir uma breve introdução a esses textos.
Algumas apresentações, a maior parte delas, são contribuições preparadas especificamente para essa reunião; outras são originais apresentados em outras conferências intimamente relacionadas a essa e que foram apresentadas igualmente nessa reunião.
Esse Encontro chamado Renascimentos – cosmologia, natureza, ética, pretendeu reativar propostas ancoradas em projetos apresentados no limiar da idade moderna, nos últimos momentos em que as utopias ainda não eram controladas e a ciência surgiu, cheia de esperanças e de ambições de encontrar as razões escondidas no cosmos que as transcendências nele projetadas escondiam dos humanos. Hoje, e por razões que analisaremos nesse Seminário, estamos ansiando por um novo Copérnico, uma nova utopia, um novo cosmos alargado no espaço e em sua eternidade para nos libertar do peso excessivo que a técnica, ao impor à ciência sua orientação pragmática, submeteu-nos.
Com efeito, na segunda metade do século XX a física esqueceu por momentos seu sucesso prático e pretendeu se abrir para uma entusiasmante discussão sobre o universo. A partir de duas propostas geradas entre os anos 1915 e 1919 por Einstein e Friedman, os cientistas mergulharam pela primeira vez desde a época de Newton, em um modo novo de análise das propriedades globais do universo. Como consequência, e sem controle, instalou-se uma batalha entre diferentes modos acessíveis aos cientistas. O modo associado ao pensamento aberto, esperando por novidades que viriam de observações de regiões longínquas, muito além de nossa galáxia; e, em oposição, um pensamento rígido, moldado na eternidade das leis da natureza a partir de extensão da física terrestre ao universo, impedindo o exame de novidades formais não reconhecidas no programa convencional da ciência.
Ao longo dos últimos 20 anos daquele século e nos primeiros anos desse, as evidências provocadas pelos astrônomos pareciam ter encerrada a questão e dado vitória ao modo conservador de produzir ciência. No entanto, observações inesperadas projetadas para a frente da cena cósmica determinaram o retorno a propostas abandonadas ao final daquele século, provocando uma crise que se instaurou na racionalidade dura que até então controlava a cosmologia.
É desse movimento de liberação, desse renascimento do pensamento cósmico que iremos falar. No entanto, é importante que tenhamos em mente que se trata ainda de um movimento subterrâneo, fora dos holofotes da mídia com que hoje se produz verdades cientificas. Os grandes programas, os projetos ambiciosos para além de uma racionalidade simplista, as fantasias idealizadas, as utopias formais foram colocadas à parte, tornando-se programas vigiados pelo sistema, controlados de inúmeras formas e, em particular, através dos procedimentos de financiamento das pesquisas.
No entanto, dessa nossa análise emerge cristalina a necessidade de um novo compromisso cósmico, requerendo um novo Copérnico, novas utopias espelhadas nas maravilhosas propostas de Godel e Cantor. Devemos enfim examinar as consequências do espanto provocado pela perda do controle da finitude do cosmos e a necessidade de compreender o significado da eternidade do universo que os cosmólogos produziram. Porque, afinal, é isso que estamos aprendendo: não há nenhuma evidência cósmica de que possamos retirar dessa análise a concordância que nos faça entender o diminuto papel do homem no cosmos.