Editorial
Uma das mais estranhas novidades da ciência no século XX foi a esperança de produzir uma história completa do universo, envolvendo principalmente sua etapa mais formidável e atraente, a sua origem, dentro de um programa que deveria estabelecer um cenário completo da criação do universo. Em números anteriores, Cosmos e Contexto publicou vários artigos e comentários sobre o estatuto da cosmologia como ciência.
Tivemos também o texto referente ao diálogo ocorrido entre vários cosmólogos sobre a versão científicado começo do mundo. Nos próximos meses, Cosmos e Contexto irá conduzir o leitor a um passeio sobre outros mitos de criação produzidos por civilizações antigas.
Para simplificar esse objetivo, iremos começar essa caminhada a partir de um evento que ocorreu em 1957. Durante aquele ano, vários antropólogos, historiadores e mitólogos se reuniram em Paris numa reunião de trabalho cujo objetivo consistia em comparar conhecimentos e trocar experiências no exame dos diversos projetos religiosos de vários povos da antiguidade referentes ao que se costumou chamar de ‘criação do mundo’. Grande parte desses estudos se concentrou no oriente, próximo ou longínquo.
Os anais daquela conferência recebeu o nome Lanaissance du monde. Desde então, essas descrições ganharam um grande número de análises e interpretações. A partir dessa edição, Cosmos e Contexto irá apresentar um resumo daqueles trabalhos originais e procurará refletir sobre essas antigas formas de produzir uma cosmogonia. Ao apresentar aqueles trabalhos, os organizadores daquele encontro decidiram não sugerir nenhuma tentativa de identificar ou apontar semelhanças ou estruturas comum daquelas diferentes visões sobre a origem do mundo. Entretanto, depois de mais de meio século, acreditamos que não seria indesejável nem uma má utilização daquele conhecimento procurar entender as causas de grande semelhança presentes nesses mitos em suas diversas versões.
Pensando em criar um ambiente onde essas questões possam ser examinadas e debatidas, Cosmos e Contexto iniciou a organização de um encontro envolvendo diversos modos de saber da ciência, filosofia, mitologia, teologia, antropologia e outras áreas do saber, que ocorrerá no Rio de Janeiro nos dias 29 e 30 de agosto de 2013, na sede do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofísica (ICRA), no Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas (CBPF), situado na rua Dr. Xavier Sigaud, 150, no bairro da Urca, na cidade do Rio de Janeiro. Essa sequência de resumos que Cosmos e Contexto apresentará nos próximos meses servirá como uma preparação para esse futuro encontro.
No número atual da C&C, Marcus Pinheiro, no artigo “Cosmologia e transformação de si: o caso de Platão e Plotino”, nos apresenta a contemplação do cosmos como um exercício de reconstrução de valores morais e éticos. A seguir, temos a “Desconstrução e recriação em A Igreja do Diabo, Fausto e São Bernardo” no qual os opostos, os contrários, em sua relação de dependência e coexistência, criam uma renovação inesgotável da narrativa literaria ao construir-se sobre as infinitas contradições da alma humana.
Encerramos essa edição como uma reflexão sociológica sobre o uso de psicotrópicos em “O veneno de hoje é o remédio de amanhã: reflexões sobre drogas e psicotrópicos na sociedade da performance”, por Luis Granato.
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2013.
os editores