Editorial
Como diz Badiou, apoiando-se em Deleuze, os filósofos hoje estão procurando estabelecer para a ciência uma função mais vasta e mais profunda do que a simples questão do conhecimento, para que ela passe a ser considerada como uma atividade produtiva, como uma criação e não somente como uma reflexão ou um conhecimento. Trata-se de encontrar na ciência modelos de invenção, de transformação para inserir a ciência não somente na revelação dos fenômenos, em sua organização, mas sim como exemplo de atividade do pensamento e atividade criativa comparável à atividade artística.
Essa função pode horrorizar os cientistas pois estes consideram que seu saber deve ser entendido em seu contexto particular e qualquer proposta que contenha outra forma de interpretação só produz confusão e non-sense.
E no entanto, nós de Cosmos e Contexto, acreditamos não somente na importância formal daquele sequestro da filosofia como em sua inversa. Essa interação filosofia-ciência ao permitir o trânsito nas duas direções pode produzir o antídoto contra a visão limitada e fechada exibida na atitude de grande parte dos cientistas e que permite o controle insinuante de uma visão tecnológica, apta e dócil ao capitalismo global que caracteriza os tempos atuais.
Nesta edição, dando continuidade ao Ciclo 21: AConstrução do Tempo, apresentamos O tempo do centro e o tempo da periferia, um diálogo entre o historiador Antônio Edmilson Martins Rodrigues e o economista Carlos Lessa.
E Thaís Seabra Leite expõe uma análise literária sobre o conto O Retrato Oval de Edgar Alan Poe a partir das ideias de Gaston Bachelard.
Os Editores
Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 2012