Diálogos sobre filosofia e a cosmologia moderna – I
Introdução
Heráclito
Platão
Einstein
Os gregos abrem o caminho do Cosmos
A palavra elementar
Leis da natureza
Ética e moral na ciência
Einstein abre o caminho da cosmologia moderna
A constante cosmológica e o éter
Bigbang e o idealismo platônico
Como estudantes de graduação em física, vemos a necessidade de tratar dessas questões como inerentes ao processo de construção do conhecimento científico, recorrendo à multiplicidade de saberes para além da disciplinaridade acadêmica. Reconhecemos, como o Professor Novello e como Marx, que a ciência é fundamentalmente histórica e as implicações dessa historicidade devem ser avaliadas de modo a reconhecer a necessidade de produção de diferenças nos espaços ditos como próprios do conhecimento da humanidade – tal qual as Universidades. Inclusive reivindicamos a necessidade da produção de críticas diante dos modelos propostos já bem estruturados e estabelecidos como dominantes. Este texto é também uma forma de olhar para os ditos fundamentos da física e questioná-los desde a ideia dos elementares. Afinal, a própria ideia de que algo tem uma origem parece fundamentalmente humana, por que haveria o cosmos de ter um princípio?
Vamos começar por elencar as principais características dos modelos cosmológicos das personagens citadas e, em seguida, apresentaremos algumas questões que nos movimentam, tais como: De onde vêm as leis na natureza? Estão no mundo? Estão fora do mundo? Quando o pensamento científico se separou da ética? O que pode a física quando atravessada pelo mundo das ideias?
O Universo de Heráclito
- O cosmos de Heráclito é eterno;
- Tudo se transforma constantemente (Contrariamente ao modelo de Einstein);
- Somos levados a acreditar que para Heráclito existe um tempo único global;
- A unidade fundamental da composição de tudo é o fogo. Podemos entender então que há uma matéria única e primordial que constrói a totalidade material do cosmos;
- Para Heráclito as causas do mundo estão no mundo.
O Universo de Platão
- O cosmos de Platão surgiu por ação de um criador;
- O cosmos é estático;
- Não podemos considerar um só tempo global. O deus de Platão tem um outro tempo (as leis terrenas são diferentes das leis cósmicas);
- Existem diferentes tipos de matérias geradoras que podem sofrer mutações e transformações entre elas. A unidade fundamental para Platão não é um elemento como fogo ou ar e sim a geometria;
- O Universo possui uma fonte extra cuja origem é totalmente desconhecida. No cosmos de Platão essa origem é atribuída ao Demiurgo;
- Existem duas realidades, sendo que uma age sobre a outra mas o inverso não ocorre. Assim como o papel de Lambda no universo de Einstein, a mesma assimetria ocorre junto ao Demiurgo de Platão.
O Universo de Einstein
- É eterno (não tem começo, nem fim);
- É estático (não varia com o tempo da mesma forma para Platão, diferentemente do cosmos de Heráclito);
- Define um tempo único global (existe um espaço 3d e um tempo), semelhante à visão de Heráclito;
- Tem como fonte um só tipo de matéria;
- As equações da teoria da gravitação são alteradas com a presença adicional de um termo extra cuja origem é totalmente desconhecida (a constante cosmológica Lambda) ;
- Lambda age sobre tudo que existe, mas nada age sobre ela (semelhante ao Demiurgo platônico);
- É espacialmente homogêneo e isotrópico, isto é, não há região preferencial.
Os gregos abrem o caminho do Cosmos
Consta que Tales de Mileto (séc. VII AEC) e seus discípulos Anaximandro e Anaxímenes, considerados fisiólogos por Aristóteles, “aqueles que discursavam sobre a natureza”, ou cosmologistas junto a outros filósofos pré-socráticos, já se perguntavam: Qual a fonte e origem do mundo? Como começou e como acabará? A resposta de Heráclito é clara: o cosmos é eterno, não teve início, não terá fim. Diz ele: Este cosmos, o mesmo para todos, nenhum deus ou homem o fez, mas foi, é e será para sempre: um fogo constantemente ardendo, acendendo-se de acordo com as medidas e sendo extinto de acordo com as medidas. (Vlastos, 1987)
É interessante observar como o sentido de ordem está relacionado à beleza e harmonia que por sua vez tem uma conotação moral, isto é, COSMOS é bom e justo. Da mesma forma, o CAOS está relacionado ao feio e seria visto como “moralmente repugnante”. Quando Heráclito relaciona a ordem do mundo com Justiça e Harmonia, parte-se de um princípio moral para representar uma compreensão da natureza. É importante ter em mente que entre os physiologoi, filósofos pré-socráticos, existiam discordâncias de pensamentos, mas podemos atribuir-lhes a unicidade em um ponto: a “physis” (natureza) estabelece os limites do possível, onde o sobrenatural não tem espaço, isto é, não invocariam uma inteligência transcendente para explicar o cosmos.
De modo distinto, Platão, influenciado pelas escolas antecedentes, considerava essencial para o pensamento a existência de uma realidade superior. Platão perseguia os physiologoi, pois estes entendiam que a ordem do cosmos é natural, imanente à natureza, ou seja, não é criada por uma inteligência superior. A cosmogonia de Platão é teológica. É muito fácil perceber semelhanças entre Platão e a teologia Cristã como nas afirmações seguintes.
Para Platão, a origem do cosmos é obra de um deus que toma a matéria em um estado caótico e a molda à semelhança de um modelo ideal (Ideia Platônica de Criatura Viva). Deus é sobrenatural: fora da natureza, acima dela. Age sobre o sistema, mas o sistema não age sobre ele. Essa divindade é chamada de Artífice. Esse deus supremo usa a máscara de trabalhador braçal. O Artífice de Platão tem natureza não invejosa: deseja partilhar.
A dissolução do cosmos grego a partir do século XVI, que se identifica com a “Revolução Científica” iniciada com Copérnico, Giordano Bruno, Galileu e outros, levou a uma contestação do Universo platônico ao romper com a concepção de um universo finito e ordenado. Heráclito criou a imagem de um universo sem origem, eterno, infinito. Platão trouxe para o pensamento grego essa imagem de um outro mundo. Mundo este que governaria o mundo terreno, natural. Podemos estabelecer um paralelo desta discussão com crenças científicas contemporâneas, tal como o bigbang. Em uma interpretação simplista, ele se associa ao imaginário de um outro mundo, que teria originado a este próprio. Um Universo inatingível em certo sentido, irracional.
A crença que Platão sugere para o pensamento se dá através do chamado mundo das ideias. Uma espécie de reconhecimento do poder sobrenatural no Universo com a garantia de que este poder jamais viria a perturbar a normalidade do mundo físico (inferior). Esse lugar sobrenatural seria o espaço do ideal. Uma espécie de ideal superior, estático, imutável. Aqui, não há margens para que o universo possa se diferenciar essencialmente: a essência, a identidade, está num lugar inatingível e superior.
A palavra elementar
Encontramos padrões na organização dos animais, nas galáxias, nas sinapses. O que é comum a tudo isso? Talvez a pergunta para entender o elementar seja diferente de se pensar “um átomo indivisível”, a menor porção de matéria.
O que se percebe nos pensamentos dos filósofos da natureza, que criaram uma cosmologia sem cosmogonia, é a necessidade de identificar um elemento universal, o substrato com o qual se constrói tudo, como segue da expressão …“qual a substância primordial da qual nosso mundo e quaisquer outros, se os houver, surgem, e à qual eventualmente retornam?” (Vlastos, p. ). Os fisiólogos ou physiologoi estabeleceram teorias sobre as mudanças e também sobre as constâncias, produzindo o sustentáculo do que viria a ser a busca pelo elementar que atravessou a história do chamado pensamento ocidental até os dias atuais.
Platão utilizou a palavra “stoicheia” (‘letras’) para se referir às figuras elementares, as quais constroem os corpúsculos de seu sistema. Esse termo foi primeiramente utilizado pelos atomistas, Leucipo e Demócrito, que definiram o átomo (aquilo que não pode ser dividido) como princípio de tudo (arche) em sua cosmologia. Ambos, podemos reconhecer, associam certa “porção de matéria” a ideia de elementar.
Um breve paralelo com a física moderna: sabemos que as cargas são sempre quantizadas, são números reais, múltiplos de uma carga elementar. Ao descobrirmos os quarks, foi necessário fragmentar isso, as cargas poderiam ser fracionárias. Criou-se uma nova estrutura de leis que não são observáveis. Supostamente não existem quarks livres na natureza. São críveis suas existências a partir das consequências de suas interações.
Leis da natureza
Nos fragmentos de Heráclito é possível observar a lógica das transformações das entidades sempre de acordo com “as medidas”. Quando exemplifica as mudanças de estados da matéria – do sólido para líquido, do líquido para o gasoso – fica explícita a ideia de conservação da matéria e que as medidas se referem à ordem cósmica, ao que hoje identificamos como “leis naturais”.
Que leis são essas? De onde vêm essas leis? Estão no mundo? Ou estão fora do mundo? São modos de representação? A respeito do termo ‘lei’ podemos pensar na conotação jurídica: aquilo que não muda. Podemos pensar na repetição de um padrão que se conserva. Será que Heráclito tinha algum pensamento assim? Ao que parece, falar ‘medida’ seria apenas uma referência. Vimos que a dependência cósmica das leis físicas é possível segundo modelos cosmológicos atuais. Neste contexto, o termo lei é entendido como a repetição de um padrão que se altera com o tempo cósmico.
Platão argumenta que as leis físicas são eternas e invariantes (no tempo), mas não no espaço (pois há distinção entre as leis terrestres e as leis cósmicas). Nega que houvesse uma dinâmica (com causas efetivas) que pudesse explicar a origem dos movimentos celestes. Podemos entender a cinemática (os movimentos dos corpos celestes) mas não sua dinâmica (suas causas). Essa é a função dos deuses: colocar o mundo em movimento. Para Platão existe um ente sobrenatural que age sobre a natureza, mas a natureza não age sobre ele (Isso se parece um pouco com a ideia da constante cosmológica de Einstein).
Nos fragmentos que lemos, Heráclito não falava em lei da natureza dessa forma. Apesar de Platão escrever em seu diálogo “Leis”, a etimologia da palavra é complexa, vem de “nómoi” do verbo “némo” (repartir, distribuir) em grego, vem do sânscrito “lagh”, do latim “lex” mas parece que a aplicação do sentido jurídico da palavra lei à natureza tem origem nas escrituras hebraicas, o que nos faz saltar no tempo a fim de evitar uma interpretação equivocada dos gregos cuja conotação difere do que entendemos hoje. O percurso da palavra é complexo. Até recentemente, por exemplo, as “leis de Maxwell” não eram expressas nesses termos e sim a partir de princípios e equações, apesar de que nos “Principia” de Newton encontramos a expressão “leis do movimento”. O que é muito interessante perceber são as semelhanças entre as ideias de medidas, regras e leis que surgiram há mais de 2.000 anos. Amplia-se as possibilidades de compreender fenômenos (o cosmos?) através de diferentes modos de representação.
A título de curiosidade, esse artigo trata da origem da expressão “leis da natureza”: https://www.jstor.org/stable/23999301
Ética e moral na ciência
É interessante pensar que o conceito “lei” traz consigo uma conotação moral, enquanto que no Universo da física temos supostamente conceitos não-morais, mas estéticos, geométricos, matemáticos, que estabelecem inter-relações, aparentemente num lugar outro que não é o lugar da moral. Mas não encontramos, dominantemente, reflexões acerca da ética científica – o que pode a ciência em diálogo com a vida? Seria diferente de pensar em suas implicações morais, como “o que a ciência deve à vida”?”. Quando o pensamento científico se separou da ética ? Quando a grandiosidade da ciência em descrever a realidade se perdeu e seus aspectos práticos em função da produção de tecnologia se tornaram mais importantes?
Quais os interesses por trás de uma ciência que não se preocupa com a ética? Sabemos as consequências dessa separação. De modo utilitário, influenciada pela lógica positivista, a ciência se torna um imperativo, moral, dominante, que trata de uma perspectiva de progresso – em muito associada à mentalidade consumista de nossa sociedade. Em larga escala fica evidente seu uso : construímos bombas, destruímos vidas. Trata-se , sobretudo, de um sistema de dominação.
É curioso que no século passado, enquanto se construía uma imagem da ciência, fruto da perspectiva iluminista, que visava a independência de qualquer valor humano – como a moral -, vestia-se a máscara de neutralidade e ao mesmo tempo se resgatava o uso do termo “Lei” aplicado oficialmente nos escritos da física. O que trouxe esse século foi a homologação de que as ciências, a física, produzia um discurso igualmente ideológico em relação a seus próprios fundamentos, supostamente neutros (não se limita a neutralidade, não se refere apenas a uma questão de opinião, entendida como absoluta). Dizemos que a verdade está sempre dentro de um contexto. Em outro momento podemos retomar esta questão.
É possível um desenvolvimento científico que não seja ideológico ou dependente de uma representação? A linguagem parece ser este espaço da representação e esta é, também, a maneira que estabelecemos comunicação e, então, desenvolvemos as nossas comunidades, os nossos comuns. Nesse outro sentido, o da representação, este problema da definição das coisas pode associar-se a essa ausência de neutralidade: É possível estabelecer qualquer definição que não seja cultural? Como é possível definir alguma verdade sem que esta se ampare numa moral? Isso seria o universal. Deparamos-nos com um problema típico do cenário desta globalização, de unificação de direitos, de homogeneidade das técnicas, de disputas de poder. É evidente que o que compreendemos por ciência, inevitavelmente, deverá também participar desta discussão.
O caráter social das ciências é abandonado (conscientemente ou não), negando as consequências de um conhecimento fruto da construção humana, logo, historicamente situado. Que consequências? Ou seja, tudo o que envolve as questões dos sapiens, suas organizações sociais, suas estruturas econômicas, suas operações políticas, suas necessidades e desejos coletivos e individuais… Sua não neutralidade.
Então nos questionamos: como o pensamento platônico[1] influencia a construção das ciências e da nossa imagem de pensamento? Quais as implicações do pensamento platônico na construção do que conhecemos hoje por cosmologia? A física como disciplina, como construção social, não poderia fugir dessa influência. Podemos aqui adicionar outra pergunta: o que pode a física quando atravessada pelo mundo das ideias?
Alguns supostos das realizações do Demiurgo são difíceis de compreendermos hoje. Diz ele: O cosmos deve ser esférico… Uma vez mais, parte-se de um princípio moral sobre o que é belo e, portanto, correto, para justificar as “verdades naturais”. Utiliza-se menos da observação e experimentação como os physiologoi faziam.
Ao pensarmos na física enquanto disciplina, imaginamos, genericamente falando – talvez o que se “costuma imaginar” – que exista alguma coesão unificadora, como se física dissesse respeito a uma área pronta, a um saber bem definido e delimitado que nós pretendemos simplesmente assimilar ou seguir por uma mesma linha de pensamento. Ao adentrarmos nestes estudos a respeito da natureza da matéria, das dimensões micro, quânticas, macro, relativísticas, percebemos que não há coerência absoluta. Pelo contrário.
As maneiras de representação dos fenômenos podem não dialogar entre si, como a chamada linguagem newtoniana que descreve interações “clássicas” – o mundo macro não-relativístico – e a polissêmica linguagem quântica que pretende representar fenômenos do universo micro. A multiplicidade de representações no interior de um único campo não impediu que se produzisse conhecimentos e tecnologias identificados como verdades científicas sobre a natureza, um reflexo do processo de construção do conhecimento científico não linear e entremeado pelas influências socioculturais. É interessante pensar nessa imagem da física como idealização de uma natureza inatingível, que só se pode conhecer por meio da definição de “leis”.
Einstein abre o caminho da cosmologia moderna
Passando de Platão (séc. IV AEC) para Einstein (séc. XX).
A constante cosmológica age (via gravitação) sobre tudo que existe mas nada age sobre ela. A physis estabelece os limites do possível para tudo, exceto para o sobrenatural. Ou seja, há leis físicas que determinam o comportamento possível de tudo que é material (disto trata a física). Mas não há limites para o que não é observável, que pode vir a ser real ou não (disto trata a metacosmologia). Essa exceção (da existência de leis rígidas e definitivas) que a cosmologia pretendeu são ignoradas pelos físicos. A variação das leis físicas e a possibilidade de vários ciclos do universo são exemplos de processos que aos físicos (que criaram o termo física extra-galáctica para limitar o alcance da cosmologia) não é permitido examinar. Quando alguns físicos (Dirac, Sambursky, Sakharov) investem nessa direção, eles só não são amaldiçoados –isto é, expulsos da academia– porque já conquistaram no passado seu lugar como cientistas, graças a suas obras.
Essa questão da constante cosmológica nos fez lembrar da ideia do éter. Uma substância que não age nem sofre interferência… O termo éter aparece muitas vezes ao longo da história da ciência com significados diferentes. À guisa de exemplo lembramos que na Antiga Grécia Aristóteles usou o termo éter como o quinto elemento ou quintessência, isto é, a substância da qual eram constituídos os corpos celestes pois os corpos terrenos eram compostos por outros quatro elementos: fogo, ar, água e terra.
Bigbang e o idealismo platônico
A afirmação de Platão de que a reflexão a respeito da “realidade nua e crua das coisas” se tratava, principalmente, de “crenças naturais”, pode produzir a interpretação de que a realidade em si mesma é impossível e intangível. Através de um idealismo de formas perfeitas, faz parecer que os conceitos se tornam representações de ideais – não necessariamente criações, mas representações imperfeitas de um plano superior e estático.
A imagem de uma singularidade identificada como o começo de tudo-o-que-existe implica que as causas do mundo são desconhecidas, isto é, não podem ser analisadas racionalmente. Nesta perspectiva existiria uma fonte externa como sua origem. Um universo sem singularidade permite a descrição racional do cosmos que identifica suas origens em si mesmo, neste mundo, “o mesmo para todos”. Os modelos de bouncing parecem resgatar o Universo de Heráclito em contrapartida com o fantasioso mundo das ideias de Platão, sugerido pelo modelo do Big Bang o qual esconde (um tanto explicitamente) a ideia de princípio e fim. Questionar esses fundamentos ditos racionais, que sustentam os mitos modernos, conduz nossos movimentos à ampliação de nossa imagem de mundo.
O que temos estudado é a necessidade de construir uma cosmologia que questiona os fundamentos, os conceitos, as interpretações, os fenômenos através dos múltiplos sistemas de pensamentos que nos estão disponíveis na tentativa de compreender o mundo para além de suas representações idealizadas. O resgate das preocupações com as origens e causas vem com a cosmologia impulsionada por Einstein, embora pareça um movimento tímido, discreto, pois dialoga pouco com a filosofia – o que é fundamental nessa questão.
Concluímos nossa reflexão dialógica a respeito da natureza, junto de reflexões sobre alguns pensadores que visavam mapeá-la de algum modo, frisando que por “conhecimento” identificamos uma série de recursos sócio-culturais acumulados ao longo das histórias das sociedades que não dizem respeito a uma verdade única sobre este cosmos. Entendemos a importância da diversidade dos esforços em pensar o universo e suas possibilidades, para dar palavra aos nossos desejos de criar novos mundos. Questionamos, sobretudo, as apropriações capitalistas desses diversos saberes, que visam a acumulação de poder e, consequentemente, são coniventes às lógicas de apagamento histórico com múltiplas comunidades e diversos sistemas de pensamentos. Acreditamos, inclusive, que dentro desse campo que chamamos por física ou, ainda, ciência, o imperativo de produção tecnológica é o que tem mobilizado a própria noção de saber, mas que, entretanto, a própria ideia de tecnologia ainda sofre com os desejos antropocêntricos de nossas sociedades. Esperamos que os esforços, milenares, em ampliar os diversos campos do conhecimento humano sigam sendo constantemente recriados, de forma que possamos perceber que as ideias que correspondem ao desejo de definição universal de uma natureza única e estática dizem mais respeito à lógica do controle e dominação do que sobre este infinito universo que nos compõe.
Agradecimentos
As autoras agradecem ao professor Mario Novello por sua orientação e supervisão deste trabalho e tantos outros ensinamentos que não caberiam em um único texto.
Referências
NOVELLO, Mario. O que é cosmologia? A revolução do pensamento cosmológico. 2006.
VLASTOS, Gregory. O Universo de Platão. 1987.
Mariana Milani e Camila Hardt são estudantes do curso de Física da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro (São Paulo).
[1] O que estamos a chamar de “pensamento platônico” refere-se especialmente ao princípio dicotômico das duas realidades distintas, a separabilidade entre um mundo sensível e um mundo ideal. Não é nossa intenção querer reduzir Platão ao entendimento integral. Ainda assim reconhecemos que o chamado mundo das ideias, o ideal transcendental, povoa nosso imaginário de diversas maneiras na contemporaneidade.