Da necessidade de justiça humana à liberdade precisa
Quando se evoca a existência, é preciso apreender que esse termo é limitado.
Existência é uma faixa vibratória inscrita em inúmeras outras, que estão além do existir. O vocabulário é escasso: apenas nos limitaremos a apreender que a existência é uma determinada faixa vibratória e que as demais faixas vibratórias estão para além da “existência”.
O próprio “estar” também é uma expressão limitada, pois evoca a noção de “espaço”.
“Tempo e espaço” são categorias do pensamento que limitam a expressão pura das vibrações. Apreendemos enquanto “vibrações” o dinamismo cósmico em sua inexistência mais ampla: o inominável e inapreensível. Até mesmo o que chamamos “cosmos” é insuficiente. Esse cosmos pensado pelo pensamento envolve uma ideia de “tudo o que existe”.
É preciso apreender que “tudo” é uma delimitação do pensamento e “existência” é uma faixa vibratória. O que está para além da “existência” difere de uma ideia de “não-existência”.
O vocábulo “não” gera vibrações muito imprecisas, em que a negação é uma criação. Se é uma criação, existe. Se existe, o “não” é insuficiente para expressá-lo.
Nesse sentido, a negação é uma expressão, uma existência. Sendo assim, se o que expressamos aqui difere de uma “existência” e de uma “não-existência”, o que expressamos? Mais uma vez: o impensável e o inominável.
Paradoxalmente, ao pensar o impensável, fornecemos ao impensável uma espécie de “portal”, vórtex, que exerce uma espécie de diplomacia entre a existência e o para além da existência. Um trampolim para o além da existência. Um trampolim para as vibrações incomensuráveis à apreensão. É nesse trampolim que habitamos. Este trampolim ressoando ao longo da existência e além dela mesma é a instabilidade para além de tempo, espaço. O termo “vibração” é uma concessão que fazemos.
Apreendido o trampolim, é preciso expressar acerca da “humanidade”.
“Humanidade” é um termo ineficaz e que conduz a modulações restritas. Almejamos aumentar o espectro de modulações. Para isso, é preciso abandonar o conceito de “humano”. As vibrações que compõem aquilo que é apreendido enquanto “seres orgânicos complexos e com autoconsciência” são muito mais amplas. O dito “ser humano” é um recorte impreciso de uma tessitura das vibrações. O conceito de “ser humano” isola determinadas vibrações de um pertencimento muito maior, que envolve o seu entorno, suas ressonâncias e sua univocidade com o cosmos e com as vibrações mais sutis. Além disso, gera um conjunto de regras morais que retiram dos atratores seu pertencimento cósmico e além, reduzindo sua faixa vibratória para apenas a de “ser humano” para outros “seres humanos”, o que gera inúmeros equívocos. Um dos equívocos é, a partir da ideia de “ser humano”, valorizar apenas aquilo que esse mesmo “ser humano” apreende enquanto relevante para ele: determinados animais, ecossistemas etc.
Se “humano” é um termo ineficaz, seus subitens o serão ainda mais: raça, gênero, sexualidade etc. A reificação desses subitens vai relegar as ressonâncias a legitimar questões ineficazes de poder, ou seja, dar poder ao subitem. A ética se realizará quando os subitens deixarem de ser relevantes, e isso demandará uma consciência mais ampla, uma consciência rumo à Consciência. A necessidade de se fazer “justiça” a um determinado subitem pode trazer questões que impedem a modulação. Se o poder restringe a modulação e “fazer justiça” se refere a realizar poder sobre um atrator que estava exercendo poder anteriormente, então a justiça é ineficaz à luz da ética modulacional. Esse processo se torna apenas uma alternância de poder e vingança, e é ineficaz para a ampliação de modulação.
É compreensível que um atrator que tenha sofrido uma restrição modulacional recorra à justiça humana caso essa possua elementos para minimizar essa restrição. No entanto, o foco da atenção deve estar na ampliação da modulação, o que difere de vingança ou de qualquer tipo de poder exercido.
É preciso apreender uma concepção de ética modulacional. Apreendemos aqui que ética é a capacidade de ampliar a modulação ao infinito; isso significa percorrer infinitas vibrações da existência e além. Uma ética consistente é incapaz de excluir alguma coisa. Uma ética se estende até mesmo para além de ecologia cósmica. Uma ética é uma ecologia vibracional infinita, para além dos limites da existência. Sendo assim, é preciso apreender que o que está entrando em ressonância com as vibrações que compõem este texto é muito além de “humano”, é uma auto-organização vibracional que se estende muito além do corpo biológico, da consciência individual e mesmo da Consciência cósmica que o contém. Convidamos aqui e agora a habitar o trampolim para além das restrições do humano.
O próximo passo é apreender a assim chamada “pandemia”. É preciso apreender a questão a partir das modulações: “poder” é tudo aquilo que restringe as modulações. O dualismo de alocar o poder em determinadas faixas vibratórias no tempo-espaço é ineficaz – por exemplo, investir no dualismo China X EUA. Esses dois atratores exercem o poder, ou seja, estão “a serviço” do poder. O poder é diferente de uma entidade auto-organizada. O poder é restrição de vibrações. A existência do poder é um desdobramento natural do amor incondicional. O amor incondicional, oriundo de vibrações muito sutis, permite a existência. Existência de “tudo o que existe”, levando em conta, paradoxalmente, o para além da existência. Se o amor incondicional permite que a existência exista, então tudo o que existe e que pode se expressar se expressa, incluindo o que o “humano” categoriza enquanto “Mal”, “mau”, “sofrimento” etc. Assim como há a possibilidade de ética em ampliar a modulação, há a possibilidade do poder em restringir as modulações. Isso existe porque o amor incondicional permite que tudo exista, é incondicional justamente porque lhe é impossível a escolha, a determinação, a preferência. Logo, as chamadas “ações” de determinados países são apenas uma dança nas possibilidades de modulações. O que estamos enfatizando é a necessidade de se engajar na ampliação das nossas modulações, mais que de ir contra às restrições de modulações que determinados atratores tentem impor. É da natureza do poder exercer poder. “Ir contra” o poder é entrar em ressonância com ele, o que necessariamente envolve exercer o poder contra o poder; é ineficaz, porque cultiva o poder. Nosso convite é que os atratores se concentrem em aumentar o espectro de suas modulações, sem restrição alguma, indo do mais ao menos sutil, sem apologia à exclusividade do mais sutil – o que seria uma moral; mais uma restrição ou um poder exercido com um discurso “espiritual”.
A pandemia é uma emergência de várias ressonâncias de vibrações, que envolvem questões ecológicas, de poder etc. Mais uma vez, o que se faz é ampliar as modulações e, no que tange a faixa vibracional (para além de “campo semântico”) da pandemia, isso envolve cuidar do sistema imunológico e da qualidade dos encontros, bem como investigar o medo. O poder se interessa em ampliar a raiva e o medo. O medo é ético enquanto prudência e jamais como restrição de modulação. A prudência conduz o atrator a realizar de forma mais adequada suas modulações.
O poder ou a restrição de modulações, sistema inerente aos cosmos, ampliará sua eficácia e controle no planeta Terra nos próximos anos. Nosso convite é a focar a atenção na ampliação das modulações, habitando ressonâncias livres, inclusive livres das ressonâncias com o poder. Isso envolve tecer um socius livre no mundo, desviando do poder, ainda que, paradoxalmente, se conviva com seus desdobramentos. Quanto mais aumentarem as modulações, mais a ressonância com o poder diminui. Mais nos tornamos, de fato, livres. Liberdade, então, é uma cada vez maior capacidade de modulação.
Como se modula mais? Primeiro, evitando as ressonâncias com o poder. Segundo, fazendo o exercício em vórtex e suas ressonâncias. Terceiro, apreendendo informações, sendo elas em livros, filmes, músicas ou encontros que ajudem a ampliar a modulação. E quarto, sendo radicalmente sincero, sobretudo consigo mesmo. Em “consigo mesmo”, evita-se uma noção de “interioridade”, assumindo uma determinada permeabilidade do atrator, um “ego” flexível e aberto ao cosmos, com prudência.
O socius livre que aumentará sua ressonância a partir de agora será composto de atratores com ampla modulação. Vale lembrar que, a princípio, estamos despreocupados com a questão do “espaço”. Habitar a ressonância de um socius livre aqui e agora envolve promover a ressonância, local e não-local, de atratores que modulem amplamente. Esse socius livre permitirá, entre outras coisas, a emergência de Vortexa.
Para adquirir a consistência de um socius livre, é relevante levar em conta o abandono da categoria de humano, bem como do hábito de “ir contra”; investigar as passagens do poder em nós difere de ir contra o poder. Também é relevante abandonar subcategorias da humanidade como “justiça”, “merecimento” etc. e apreender mais precisamente a dinâmica das modulações e suas ressonâncias.
Em relação ao poder enquanto “espiritual”, é relevante dar precisão ao fato de que milênios de um longo processo de racionalização e impermeabilização dos atratores transformaram a espiritualidade em uma disciplina. Isso quer dizer que a espiritualidade é apreendida, muitas vezes, como à parte de outros saberes, como ciência, filosofia e arte. Diversamente, apreendemos o espiritual enquanto unívoco aos demais saberes, sendo assim a experiência espiritual, mística, que, em seu esplendor, envolve sentir-se unívoco com tudo, ou melhor, com a Unidade Dinâmica. Essa univocidade apreende os demais saberes. A experiência de univocidade, ou imanência, é comum à relação dos saberes; a experiência espiritual é necessariamente inclusiva. Quando a espiritualidade se torna uma disciplina, seja ela uma religião dogmática ou uma prática espiritual pueril, ela tende a legitimar equívocos, como as questões do “propósito”, da “abundância” e da “felicidade”. O nosso único propósito é deixar de ter propósito, no sentido de que a ampliação da modulação problematiza os desejos meramente egoicos, levando o atrator a cocriar com a Unidade Dinâmica. Por sua vez, “trazer abundância” é uma contradição, pois uma vez que se é unívoco com a Unidade Dinâmica, a “falta” é ilusão. Por exemplo, no caso da fome: esta é circunscrita a um atrator, cujas ressonâncias foram ineficazes para modular adequadamente suas vibrações. Combater a fome sem dar precisão às modulações é ineficaz. Nesse sentido, a afirmação de existir abundância para uns e inexistir para outros é apenas uma questão de Consciência. No discurso espiritual enquanto disciplina, torna-se uma afirmação excludente e meritocrática. Finalmente, a felicidade é um ideal inalcançável, pois postula-se um ego impermeável a ela, inerente a uma perspectiva de fim de sofrimento. A questão da modulação vibracional mostra que o sofrimento é inerente ao processo, mas transmuta-se sua apreensão: uma maior modulação nos traz alegrias. Focar a atenção em ideais (necessariamente imprecisos) de justiça vai reduzir a capacidade de modulação.
Sendo assim, a liberdade deixa de ser uma instância jurídica ou relativa à justiça para ser uma experiência da modulação, de sua maior amplitude. A liberdade liberta, antes de mais nada, de vícios conceituais ineficazes. Ser livre e habitar um socius livre envolve, então, a superação de milênios de impregnação de conceitos taxonômicos, inflexíveis e excessivamente circunscritos, para adquirir uma ampla modulação de âmbito cósmico e além. Para tanto, é relevante ter coragem, sinceridade, disposição e precisão.