Cosmologia e Mesologia – Alfred North Whitehead e a Pluralidade dos Mundos
- Introdução
A cosmologia se encontra no âmago da obra de Alfred North Whitehead. Poder-se-ia dizer que a sua investigação sobre cosmologia fornece as chaves de acesso a toda sua filosofia. Embora a cosmologia seja abordada de modo paulatino ao longo das décadas de 1910 e de 1920, sobretudo em The Concept of Nature [1920], sua formalização mais acabada se encontra em Process and Reality: An Essay in Cosmology [1929], obra que pode ser vista como uma inflexão decisiva no percurso dessa investigação. Também é considerada por muitos especialistas o opus magnum do eminente pensador de Ramsgate. Há anos a obra de Whitehead tem dado diversos subsídios a uma teoria que tenho desenvolvido e que se intitula mesologia, do grego mesons, que significa meio.
A mesologia é uma ontologia corpuscular e uma cosmologia relacional que tem na filosofia do organismo de Whitehead um de seus principais pontos de partida. Como unidade formal dos intervalos e como formas relacionais, os mesons não são substâncias nem qualidades, e, portanto, como os organismos, não podem ser descritos a partir dos esquemas categoriais sujeito-predicado. A mesologia tampouco se ocupa de substâncias simples, pois o cosmos é um emaranhado de composições e de vastos continentes de complexidade distribuída. Os mesons são as unidades relacionais que articulam um meio-circundante comum. As infinidades de meios-circundantes se participam mutuamente entre si, constituindo meios-mundos. Os meios-mundos são emaranhados de séries infinitas orientadas de modo não-linear.
A pluralidade de mundos é a pluralidade das atualizações. A multiplicidade das atualizações é o conjunto virtualmente infinito de unidades relacionais e interativas promovidas pelos mesons. A teoria dos mesons se ocupa de descrever a topologia e o devir desses meios, tanto em sua perspectiva extensiva quanto em sua organização celular. Os mesons são tanto agentes propiciadores da irredutibilidade dissipativa dos meios-circundantes quanto unidades relacionais coeternas que o universo estabelece com essa multiplicidade de meios-mundos atuais. Em outras palavras, os mesons seriam os agentes performativos das interações entre objetos eternos [eternal objects] e entidades atuais [actual entity], para me apoiar nos termos de Whitehead. Nesse sentido, uma das tarefas da mesologia é compreender e amplificar alguns postulados e proposições centrais da filosofia do organismo, articulando-os a outros autores afins a essa natureza de investigação. A partir disso, a mesologia pretende fornecer algumas pequenas contribuições ao debate mais amplo da cosmologia.
Exponho aqui em primeiro lugar alguns aspectos do problema da pluralidade dos mundos no debate da filosofia contemporâneo. Sustento que Whitehead seja o autor-chave para superar as aporias em que esse debate se encontra. Em seguida, analiso os principais pontos da cosmologia de Whitehead a partir da estrutura argumentativa de Processo e Realidade. Por fim, tentarei demarcar as continuidades e descontinuidades da mesologia em relação à filosofia processual. Mostrar em que medida a mesologia é um desdobramento literal da filosofia do organismo. E em que medida a mesologia se afasta de Whitehead e arrisca tomar as trilhas abertas ao acaso na floresta pela queda das árvores [Holzwege].
- Situação
Qual seria o principal ponto de disputa e de convergência da filosofia do organismo em relação às ontologias e cosmologias dos séculos XX e XXI? Para responder a essa pergunta, seria preciso analisarmos todas as nuances e definições, continuidades e descontinuidades entre diferentes tradições contemporâneas ou ulteriores à filosofia do organismo. Seria muito interessante um estudo comparativo entre o organicismo processual das entidades atuais de Whitehead e os meios circundantes [Umwelten] da biologia existencial de Jacob von Uexküll. Esse cotejo também pode ser feito com a ontologia diferencial do ser-aí [Dasein] de Heidegger. Ademais, podemos traçar paralelos produtivos entre essa filosofia processual e a monadologia diferencial de Gabriel Tarde, bem como entre o conceito de atualização de Whitehead e a os conceitos de individuação de Gilbert Simondon e de esferas de Peter Sloterdijk. As eventuais analogias se multiplicariam.
Em linhas gerais, acredito que o principal conceito em disputa na filosofia do organismo seja o conceito de mundo. Por sua vez, o conceito de mundo ocupa o cerne de disputa das ontologias do século XX e XXI. A alteração nuclear dos paradigmas da filosofia deve advir de uma alteração do estatuto da cosmologia. Minha tese é que uma alteração radical da filosofia contemporânea depende da consolidação de uma cosmologia pluralista. Acredito que uma das maiores potências latentes na obra de Whitehead, e na filosofia processual como um todo, seja a possibilidade de fundamentar uma ontologia e uma cosmologia pluralistas. Essa revolução apenas pode se consumar mediante a criação de uma metafísica robusta.
Como se sabe, desde o século XVIII a metafísica encontrou dois grandes obstáculos. O primeiro foi Kant. O segundo foi Wittgenstein. Enquanto para Kant as condições de possibilidade dos enunciados se restringem a um campo fenomênico, para Wittgenstein as condições globais de possibilidade dos conceitos se restringe ainda mais. Não se situa mais na fronteira entre ser e fenômeno, mas na constituição imanente das proposições que nunca descrevem nem o mundo nem os fenômenos, mas estados de coisas. Kant demarcou o que pode ser pensado. Wittgenstein definiu como pensar o que pode ser pensado. A metafísica passou a ser relegada às patologias da linguagem, para lembrar aqui a antiga definição de religião que Max Müller deduziu dos textos sagrados.
Desde o debate entre Carnap e Quine, essa discussão assumiu modulações cada vez mais sutis e contrastantes. Enquanto a abordagem semântica de Carnap continua a relegar a metafísica e a ontologia ao porão de quinquilharias do pensamento, a epistemologia naturalizada de Quine reativa o problema em seu ponto mais sensível. Como designar eventos contingentes que necessitam de uma constituição imanente de universalidade para cumprirem a contento as demandas internas de seu significado performativo? A partir da inflexão de Quine, o problema da ontologia deixa de ser um debate em torno da realidade desses eventos. Passa a ser um problema relativo aos graus de realidade pressupostos nos compromissos [commitments] que os enunciados e as proposições estabelecem pragmaticamente com a experiência contingente imediata. Origina-se aqui a fascinante e conhecido interação entre pragmatismo e a filosofia analítica, fartamente presente nas obras de Rorty, Davidson, Kripke, Strawson, entre outros. O principal impacto dessa nova abordagem do ser é a criação de novos estatutos da mundanidade e novas produções de postulados sobre o que o mundo venha a ser.
Não se trata de um problema novo. Essa questão está presente in nuce nas teorias modalistas da Antiguidade. Contudo o modalismo sempre esteve atrelado aos princípios de univocidade ou de equivocidade do ser. Mesmo em Espinosa, um de seus expoentes mais radicais, o modalismo concebe a pluralidade das atualização em formas diferenciais imanentes à manifestação unívoca de uma substância una. O mesmo ocorre com todas as correntes do modalismo medieval. Apoiam-se na doutrina dos modos como uma maneira de matizar as passagens escalonares ascendentes e descendentes da grande cadeia do ser. Ou seja: a teoria dos modos não transgride em nada a doutrina da equivocidade de Platão e Aristóteles. Pelo contrário, funciona como uma engrenagem-chave que corrobora a maravilha da diversidade e da multiplicidade do universo. Confirma o prodígio das emanações divinas de uma substância una e a prodesse divina das ideias. A unidade é assegurada por meio de uma condução do infinito ao finito.
A revolução das cosmologias e ontologias pluralistas e organicistas advêm de uma linhagem de autores silenciosos, muitos deles proscritos do cânone do pensamento ocidental: Nicolau De Cusa, Giordano Bruno, Leibniz, John Locke, David Hume, Malfatti von Monteregio, Jean-Marie Guyau, Gabriel Tarde, Jacob von Uexküll, Gilbert Simondon, Gilles Deleuze, Peter Sloterdijk. Ou seja: autores de correntes marginalizadas pelos grandes sistemas rivais: o monismo-univocidade e o modalismo-equivocidade. A metafísica da subjetividade de Descartes e o empiriocriticismo de Kant dominaram de modo indelével a filosofia e as ciências. Nem o gigantismo de Hegel escapa ao monismo mais cristalino. O universo de Newton e Einstein não é nada mais do que as engrenagens externas e os mecanismos monistas de Deus.
Nesse sentido, as ontologias do século XX relacionadas ao linguistic turn e ao pragmatismo abriram novos horizontes decisivos para a cosmologia. A noção de pluralidade de mundos é enfatizada e encontra um de seus pontos altos em On the Plurality of Worlds, obra clássica de David Lewis. O conceito de pluriverso e o empirismo radical de William James também passam a ser centrais para compreender as categorias emergentes da experiência. Essa longa tradição do organismo passa a ser revista, a começar pelo próprio Whitehead. Atualmente, o debate sobre as ontologias múltiplas tem se concentrado sobretudo na antropologia e protagonizado por uma grande lista de pensadores: Tim Ingold, Bruno Latour, Eduardo Viveiros de Castro, Annemarie Mol, Isabelle Stengers, Philippe Descola, Patrice Maniglier, Marylin Strathern, entre outros. A tese de fundo que unifica os diferentes propostas, autores e obras do realismo especulativo nada mais é do que a proposição de um pluralismo do ser e do universo.
Entretanto, dois problemas subjazem a uma grande parte dessas novas perspectivas pluralistas. O primeiro é de ordem epistemológica e pragmática. Diz respeito ao problema das relações estabelecidas entre comensurabilidade e ontologia. Esse problema emerge sobretudo nas vertentes alinhadas ao pragmatismo e às tradições analíticas. Ambas não conseguem resolver a aporia entre determinações contingentes e universalidade formal. Se os compromissos estabelecidos entre a linguagem e os eventos instauram graus de ser imanente à performance, o salto em direção à definição de mundos pragmaticamente situados precisaria de uma conceituação e de uma confirmação transversais à multiplicidade dos mundos que se autodeterminam a si. Sem essa transversalidade, como esses mesmos mundos poderiam fornecer a alteridade à confirmação e à legitimação de outros mundos como mundos? Como determinar os diversos mundos como mundos, sem incorrer em contradição performativa? Trata-se de uma variante do problema das outras mentes, lançado por Turing. Esse problema que surge no âmbito da ontologia e da teoria cognitiva, mas a partir da noção de infinito atual de Cantor e do teorema da incompletude de Gödel adquirem implicações cosmológicas.
Por outro lado, o problema interno ao debate das ontologias múltiplas é de outra natureza. Para o debate antropológico os termos ontologia e cosmologia são sinônimos. As etnias tradicionais desconhecem a distinção positiva entre universo físico e metafísico. E o Ocidente e a modernidade apenas se distinguem das etnias tradicionais e não-ocidentais por meio de um processo de purificação que falseia os processos de obtenção do conhecimento. Essa purificação oculta a natureza híbrida e fetichista da produção desse mesmo conhecimento moderno e ocidental, como bem demonstrou Latour. Nesse sentido, todas as dotações de mundo, empíricas ou metaempíricas, científicas ou míticas, seriam cosmologias equipolentes, em constante guerrilha ontológica. A questão central que emerge dessas premissas diz respeito à fundamentação de cosmos e de mundo. Se cada agregado de sentido produz um mundo irredutível a outros mundos, como demarcar os limites e nexos entre esses emaranhados de diferenças ontológicas radicais? Ou seja: os defensores das ontologias múltiplas parecem menosprezar os dilemas subjacentes a dois mil anos de reflexão sobre as demandas necessárias e formais da unidade, demandas internas à razão. Acredito que o grande salto para a solução dessas contradições do debate contemporâneo se encontre latente e patente na obra de Whitehead.
- Processo e Realidade
O sistema de Whitehead se baseia em uma releitura crítica de duas tradições. A primeira é a filosofia antiga, em especial Platão e Aristóteles. A segunda, uma das mais importantes, consiste nos pensadores dos séculos XVII e XVIII, sobretudo Locke, Descartes, Hume, Kant. E, em menor grau, Berkeley, Leibniz e Espinosa. Quase nenhuma menção à sublime escolástica. Por outro lado, a presença elusiva e os instigantes paralelos com Hegel são um caso à parte, ao qual pretendo retornar. Em diversos momentos, Whitehead reporta a gênese das entidades atuais ao pensamento de Locke. Mais especificamente se refere à teoria segundo a qual as ideias são constituições internas à realidade de cada entidade existente.
Como se sabe, Whitehead lança os fundamentos de uma filosofia do organismo. A filosofia do organismo é uma filosofia celular e corpuscular. Uma teoria atomista das atualizações. Para a filosofia do organismo, o atomismo é o princípio metafísico último [ultimate]. Um dos objetivos precípuos da filosofia do organismo é identificar e dirimir todos os problemas internos aos esquemas e resultantes da estrutura substância-predicado, problemas esses que atravessam a filosofia ocidental e ainda se preservam nos diversos ramos das ciências modernas. A causa desse erro é que as substâncias são designações inapropriadas para essas formas relacionais e processuais que são as entidades atuais [actual entities]. Todo gigantesco conceito de matéria da física moderna, por exemplo, usado hoje cotidianamente pelos cientistas, seria uma mera variante dessa antiga acepção grega de substância.
Qual a distinção estabelecida por Whitehead entre a filosofia processual e essas categorias fundacionais de toda metafísica? Primeiro, em The Concept of Nature, os conceitos alternativos a substância são eventos, fatos e entidades [events, facts, entities]. Esses conceitos se desenvolvem e são assimilados em Process and Reality a uma nova nomenclatura em cujo centro se encontram duas categorias: entidades atuais [actual entities] e objetos eternos [eternal objects]. Os elementos últimos do universo são as entidades atuais e os objetos eternos. Todos os fatos emergem da experiência e a experiência é o fundamento de toda filosofia. As entidades atuais são fatos finais. Há uma indefinida pluralidade de entidades atuais. Estas são granulações de experiência, complexas e interdependentes, compostas e inseparáveis [inseparably conjoined]. Um horizonte último que circunda o mundo. A filosofia do organismo é uma teoria celular das atualizações. As entidades atuais se relacionam com os objetos eternos por inserção. Não é possível estabelecer uma relação simples entre entidades atuais e objetos eternos, pois ambos não podem ser assimilados pelos pares de categorias qualidade-substância, particular-universal.
A relação entre objetos eternos e entidades atuais ocorrem mediante a concrescência [concrescence]. Essa inserção [insersion] dos objetos eternos nas condições atuais é de natureza concrescente [concrescent]. O processo concrescente [concrescent process] consiste em cinco instâncias: a multiplicidade dos dados [multiplicity of data] do universo, as entidades atuais, os objetos eternos, as proposições e os nexos. A pluralidade de relações possíveis entre os existentes que compõem o universo são séries infinitas convergentes de eventos e fatos. Esse conjunto se objetiva como entidades e, no devir [becoming] das atualizações [actualy], os objetos eternos se inserem nessas entidades atuais. A concrescência [concrescense] é sinônimo de processo. O princípio de coerência [principle of coherence] fornece a unidade proposicional [propositional unity] entre os sentires [feelings] e o devir das entidades atuais, bem como a solidariedade atual [actual solidarity] e perceptual dessas diversas entidades atuais e percipientes entre si. Por sua vez, a conexão extensiva [extensive conection] é o modo pelo qual essa pluralidade de condições atuais [actual condition] se unificam em objetos duradouros [enduring objects] do ponto de vista da objetividade da concrescência.
A filosofia do organismo também propõe uma descontinuidade em relação ao pensamento anterior por meio da revisão de quatro conceitos: princípio ontológico [ontological principle], entidades atuais, nexos, preensões [prehensions]. O princípio otológico define toda união [togetherness] real como uma constituição formal de entidades atuais. O mundo atual é processo. E o processo é o devir de entidades atuais. Ao passo que entidades atuais, preensões e nexos são fatos últimos da experiência imediata [immediacy experience]. Todo o resto é abstração derivada. Todas as decisões [decisions] ocorrem no âmbito de entidades atuais. Há uma infinidade de entidades atuais relacionadas entre si. Fora do horizonte circundante das entidades atuais nada existe. As entidades atuais são o limiar último e os fatos primitivos da preensibilidade [primitive facts of preensibility]. Os nexos são o tecido composto de entidades atuais em um continuum ininterrupto de concrescência. São a unidade de relação das entidades atuais, em uma concrescência progressiva de preensões.
A célula se apresenta como uma instância que, para fundar sua própria existência, apropria-se dos diversos elementos do universo do qual emerge. Cada processo de apropriação de um desses elementos particulares é denominado preensão. A preensão é o modo pelo qual os dados dos sentires [data for feelings] unificam os diversos mundos e a pluralidade das ocasiões atuais em devir. Cada unidade factual última é um complexo celular. As preensões facultam a unidade e o fim subjetivo [subjective aim] inerente a todo percipiente [percipient] à medida que todo percipiente integra as preensões dissipativas e dispersas de sua experiência em um mundo circundante. As preensões são sentires dos percipientes e são sempre composições e conexões [connectedness]. Esses nexos celulares e corpusculares compõem em escala macrocósmica as sociedades corpusculares [corpuscular societies], ou seja, nexos celulares de entidades atuais ordenadas e mutuamente preendidas entre si. A congruência [congruence] é o conjunto das analogias de função de determinadas sociedades corpusculares.
A racionalidade nos obriga a aplicar o princípio da abstração extensiva a esse horizonte de preensibilidade e indiscernibilidade orgânicas que constitui o processo. Para satisfazer essas obrigações, existem os esquemas categoriais. Os esquemas categoriais são essas preensões conceituas, ou seja, esses modos abstrativos da extensão. São conjuntos de preensões mentais capazes de unificar as entidades atuais, realidades últimas de que é feito o mundo. Por seu turno, o mundo é o processo que engloba o devir das entidades atuais. As entidades tampouco são simples, pois a noção de simplicidade não tem espaço na filosofia do organismo. As entidades se compõem por meio de nexos e contrastes. Os contrastes são inerentes às entidades atuais. São padrões de diferenciações que produzem novos tipos de existência. Todas as entidades atuais agem por satisfação. A satisfação é a apetência [appetition] das entidades e a tendência à relacionalidade [relatedness] universal de todas as entidades que se comunicam entre si por meio de nexos. Os nexos são ordens emergentes. Constituem o processo genético plural de cada entidade. Por isso cada entidade atual tem uma ligação definida com cada elemento do universo, como a mônada. Diferente da mônada, a entidade atual não é uma substância, mas um processo e uma relação. A filosofia do organismo é uma ontologia do processo e da relacionalidade.
A filosofia do organismo não concebe substâncias imutáveis. Tudo está submetido ao processo e ao devir. Por isso, tampouco o sujeito é uma substância. A concrescência é determinada por um fim subjetivo [subjective aim]. Esse fim subjetivo que determina a concrescência diz respeito à constituição do superjecto [superject]. Trata-se da capacidade de um percipiente captar a indefinida e imprecisa [vagueness] divisibilidade preênsil do mundo como uma unidade, como um mundo, como um universo. Para a subjetividade processual, o superjecto é a instância que unifica as diversas preensões como sujeito de sentires. O fim subjetivo extrapola o escopo de uma subjetividade entendida como substância pensante ou como apriorismo transcendental. Por isso, a unidade do superjecto é uma unidade emergente. A forma confere unidade à duração [endurance]. Esta, por sua vez, é um corte transversal no espaço-tempo. A duração também pode ser definida como uma região completa que satisfaz o princípio do uníssono concrescente.
Se tudo é processo, como ocorre a perenidade e a duração das entidades atuais? Por meio dos objetos eternos. Os objetos eternos existem em uma multiplicidade indeterminada. Conferem unidade não apenas aos nexos, mas também às sociedades corpusculares e a determinadas épocas cósmicas, que se estabelecem a partir de seriações infinitas, relações genéticas [genetic relation] e percursos históricos [historic routes]. Objeto eterno é qualquer objeto cujo reconhecimento não demande um recurso à experiência temporal. Os objetos eternos possuem uma natureza relacional recíproca para com as entidades atuais e constituem a objetividade e a composição dessas mesmas entidades.
Segundo o princípio de relatividade, toda atualização é constituída em sua realidade interna por meio da coexistência de entidades atuais. As entidades atuais, por serem absolutamente desprovidas indeterminação [undeterminatness] e por repudiarem o vazio, estão perpetuamente perecendo. A constituição interna real de uma entidade atual é concebida a partir de sua imediação presentânea, assim como sua constituição objetiva ocorre pelo ingresso dos objetos eternos. As entidades atuais podem ser duradouras e apresentar graus de perenidade. Trata-se dos objetos duradouros [enduring objects], que são objetos formais e não substanciais. As formas duradouras são os modos dos objetos eternos ingressarem [ingression] nas relações causais em distintas ocasiões concrescentes e estabelecerem relações perenes [everlasting] entre as entidades atuais.
Diante dessas afirmações [assertions], o que seria o universo? O universo é a solidariedade de muitas entidades atuais e uma unidade autocriadora [self-creative] em constante evolução criadora [creative advance] rumo à novidade [novelty]. A criatividade é a produção incessante de novidade que caracteriza a vida e, por isso, o universo precisa ser pensado como organismo. Essa preeminência da novidade e da criatividade transforma a entidade atual em um processo incapaz de ser esgotado a partir de uma morfologia material. Os dados primários [primary data] são sempre entidades atuais absorvidos pelos sentires e objetivados pelo percipiente. Enquanto os objetos eternos se inserem nos processos concrescentes para promover a imortalidade objetiva das atualizações, ao mesmo tempo a criatividade conduz todas essas atualizações em direção à novidade, ou seja, à perecibilidade. Paradoxalmente, as entidades atuais apenas adquirem imortalidade objetiva a partir da ação criadora porque a eternidade do universo depende dessa ação autocriadora [self-creative] para adquirir unidade e consumar a experiência de si.
O contínuo extensivo [extensive continuum] é o conjunto de relações extensivas por meio das quais as entidades atuais contemporâneas entre si se tornam elementos constitutivos de uma entidade atual. Trata-se de um complexo relacional em cujo âmago se encontram todas as objetivações [objetifications]. O mundo contemporâneo das imediações presentâneas é divisível, o que não significa que seja dividido. Embora a extensão exista, devido aos princípios de relatividade e de subjetividade não existe universo sem preensão. Apenas mediante a preensibilidade a pluralidade indefinida de entidades atuais que compõem a extensão do universo físico em processo pode se converter em universo. Mesmo os objetos eternos inseridos nas atualizações necessitam ser preendidos pelo superjecto e seus sentires em imediações presentâneas. As imediações presentâneas [presentational immediacy] são os dados da preensão e não guardam nenhuma relação com termos oriundos da filosofia representacional, tais como consciência, pensamento, sensibilidade e afins.
A filosofia do organismo recusa tanto as categorias representacionais e quanto as substanciais. Nesse sentido, um mundo atual consiste em uma ordem de imediações presentâneas preendidas [preented] por um percipiente. Um conjunto de sensa e de percepta prendidos nos sentires. O sensum é a unidade dos sentires. A experiência tem uma natureza vetorial e uma medida comum das condições. A percepção está diretamente ligada à eficácia causal. A noção de causalidade deriva da experiência e se baseia na repetição de impressões e não em uma conexão necessária entre entidades. Contudo, a independência individual das sucessivas percepções colocar-nos-ia o problema do solipsismo temporal e da tautologia. Por isso, a referência simbólica promove a interação entre os modos de percepção, a eficácia causal e a imediação presentânea. Quando simbolizado, esse percurso de sentires e preensões chamadas preensões mentais ou categoriais. A vida consiste na originalidade, não na tradição. É um avanço criativo em direção ao novo. A vida é um continuum de preensibilidade que promove a passagem da ordem física à originalidade metal e da originalidade mental à originalidade mental canalizada. Esse percurso constitui o devir das entidades atuais e sua satisfação. A satisfação constitui o processo das entidades.
O processo de concrescência é o modo pelo qual as categorias da experiência preênsil se realizam a partir de seus objetivos últimos [ultimate] e efetivam a eternidade do ponto de vista da totalidade das entidades atuais, incluindo Deus. Deus não é o absoluto ou o ato puro que doa existência ao conjunto das atualizações mundanas. Deus é uma entidade atual primitiva e coetânea às demais entidades atuais. Diferente dos escolásticos e dos racionalistas, Deus aqui não é uma substância absolutamente simples, transcendente ao conjunto das atualizações e necessária à unificação dos regimes contingentes. Embora haja distinção entre as entidades atuais, Deus é uma entidade atual entre entidades atuais. Encontra-se no mesmo plano quando pensado a partir das atualizações. Em virtude dessa doutrina, todas as entidades atuais se transcendem mutuamente entre si e incluem Deus, entidade atual inserida no horizonte dessa transcendência horizontal por meio do princípio de relatividade [principle of relativity]. As entidades atuais satisfazem as necessidades da causa sui. Isso quer dizer que todas as entidades atuais compartilham com Deus a característica de serem suas próprias causas. Por isso, todas as entidades atuais compartilham também com Deus a característica de transcenderem as demais entidades atuais, incluindo Deus.
- Mundos e Mesons
Em diversos momentos, Whitehead se refere ao estatuto das entidades atuais e a seu pluralismo constitutivo. Contudo, em geral o termo mundo se associa a um horizonte de preensibilidade que engloba todo processo e o devir. Os percipientes preendem as entidades atuais e que os conjuntos de atualizações compõem o horizonte processual a que denominamos realidade. Hume produz a invectiva mais poderosa da modernidade contra a metafísica e a causalidade. Demonstra que toda ideia é uma impressão e que toda estrutura causal e uma impressão de repetições, não princípios ou leis internas à constituições dos seres. Contudo não consegue se livrar do problema da tautologia e do solipsismo. Se as ideias são impressões de ideias, em que medida as impressões de ideias não seriam impressões de impressões de ideias? Kant trouxe a contribuição transcendental como resposta às necessidades da causalidade inerente ao sucessivo não-discreto da experiência. Pretendeu com isso salvar a racionalidade por meio de uma fenomenologia transcendental.
Tanto o fenomenismo de Hume quanto a fenomenologia de Kant são incapazes de distinguir as condições emergentes da preensibilidade e das atualizações. O primeiro recorre à suspensão cética das premissas metafísicas, e a metafísica em seguida lhe cobra o preço da incoerência. O segundo transfere a metafísica para o apriorismo transcendental das categorias, mas continua preso aos fenômenos. Descartes formula as bases de uma teoria pluralistas extensiva dos corpos. Trata-se de uma das maiores contribuições cartesianas: conferir dignidade ao pluralismo corpuscular extensivo. Entretanto, mutila essa sua descoberta primeira submetendo[a ao primado do dualismo de substância, segundo Whitehead um verdadeiro desastre para o pensamento.
Como um leitmotiv recorrente, uma definição de Locke atravessa toda a obra: as ideias são a constituição interna real de existentes particulares. O jogo de pesos e contrapesos, Locke é o autor que apresenta a maior contribuição para a filosofia do organismo. Para a filosofia do organismo, os existentes particulares são as entidades atuais e os seus modos de interação e mutualidade são as preensões e a objetivação de uns para os outros e para todos os demais. Contudo, Locke propõe uma disjunção entre percepção e metafísica. Atém-se à análise das proposições analíticas, ou seja, à morfologia do mundo constituído e não às condições constituintes. Como sabemos, para Whitehead a metafísica é inescapável. E a morfologia é apenas um dos primeiros passos de reconhecimento da dinâmica processual.
Em uma passagem de Processo e Realidade, lemos que o meio envolvente são as condições de determinação das leis da natureza como um todo. Cada condição atual e a condição da emergência de um mundo que lhe é próprio. Em virtude do processo, nunca existem nem podem existir duas condições atuais idênticas entre si e, desse modo, não podem existir dois mundos atuais idênticos. Do ponto de vista subjetivo do superjecto, o unidade do universo decorre de sempre ser preciso uma entidade atual que o preenda. Do ponto de vista objetivo, a concrescência e a inserção de objetos eternos faculta ao universo sua duração e também a sua unidade processual. A eternidade do universo e sua unidade dependem da agência autocriadora. A criatividade simultaneamente gera a novidade e perpetua as formas por meio da objetivação.
Qual a releitura que a mesologia propõe do sistema de Whitehead? Acredito que o princípio de relatividade esteja no coração da filosofia processual e de sua coerência interna. A relatividade produz as condições formais para termos o devir e a novidade constante das atualizações sejam ao mesmo tempo eternas do ponto de vista dos processos globais da criatividade desse mesmo universo. Também possibilita que a emergência e as preensões dos sentires subjetivos, em localizações e posições relativas, sejam efetivamente as bases de fundamentação do universo como um todo, à medida que não existe universo fora do regime das preensões. Essa dissociação entre universo e preensibilidade nos conduz a uma fascinante e aliança entre teoria da percepção e cosmologia. E não por acaso, desde o estudo pioneiro de Paul Schmidt os estudos de cosmologia processual geralmente se encontram em consonância com os estudos de teoria da percepção. O princípio da relatividade foi extraído por Whitehead diretamente da teoria de Einstein, mais especificamente tomado a partir da topologia de Minkowski. Acredito que a relatividade é pouco explorada em sua obra-prima. E a partir da pesquisa cosmológica que temos hoje em dia, poderíamos avançar em alguns pontos nucleares da metafísica processual.
Se os mesons são por analogia as entidades atuais e as multiplicidades das atualizações mundanas, eles o são a partir de topologias diferencias não-discretas e multidimensionais. Não se baseiam em uma simultaneidade espaciotemporal estabelecida entre objetos eternos e entidades atuais, por meio da teoria da relatividade. Baseiam-se em emaranhados de mundos em regimes de ubiquidade e suspensão da posicionalidade, como no campo quântico. O conceito de processo de Whitehead se encontra atrelado às demandas de unidade racional, internas à filosofia e à ciência modernas. Talvez hoje em dia essa unidade precise ser escavada em camadas mais vastas e mais longínquas, em abismos cujo fundo comum parece sumir sob nossos pés. Uma das principais distinções que a mesologia estabelece em relação à filosofia processual é a inclusão de mais uma categoria às duas matrizes entidades atuais e objetos eternos: as entidades virtuais. As entidades virtuais são imanentes às entidades atuais, mas constituem continentes com linhas, planos e intensidades imanentes a essas entidades não-discretas. A virtualidade é o infinito imanente às atualizações. Coloca em aporia a eternidade dos objetos que procuram salvar as entidades atuais de sua contingência e fatalidade.
Os mesons são campos de intensidades e atualizações atravessados por linhas infinitas e convergentes de virtualidade. O par potencialidade-atualidade pode descrever apenas uma parte da cosmologia. Por seu turno, a categoria do processo é presumida como devir. e o devir é a lei da vida e do universo. Por isso, na mesologia, agregada ao processo, a relacionalidade precisa mais explorada e enfatizada. O universo emaranhado [entangled universe] de John Polkinghorne e algumas ontologias e cosmologias relacionais contemporâneas, reverberam as bases e os fundamentos primeiros da mesologia. Por outro lado, a partir dos princípios de ubiquidade e de posicionalidade quântica, não contemplados por Whitehead, cada meson é efetiva e realmente um mundo. Um mundo irrepetível, completo em sua efetividade [Wirklichkeit], na acepção de Hegel. Um mundo emergente de suas preensões e das imediações presentâneas que se lhe oferecem aos sentires. Entretanto um mundo que goza de um estatuto e de uma independência mais rigorosos do que as entidades, pois vastos continentes virtuais se desdobram de cada meson e de cada condição. A multiplicidade dos mesons-mundos demanda uma cosmologia particular, capaz de descrever a constituição interna desses mundos, simultaneamente atuais, potenciais e virtuais.
Em Solaris de Andrei Tarkovski, o Oceano é a esfera sideral onde os tripulantes se perderam, mas também é a concrescência de um universo que é ao mesmo tempo matéria, processo e pensamento. O universo assume um novo estatuto ontológico por meio dos percepta do Dr. Kelvin, pois visibilidade, desejo e realidade passam a ser o mesmo. Da mesma forma, a obra Contato de Carl Sagan nos mostra como uma máquina concebida pela vida inteligente extraterreste abriu um portal para outras dimensões. Ao atravessá-lo, a Dra. Eleanor pôde captar as imediações preênseis da condição atual que lhe era dada nos sentires e acessar as objetivações e objetos eternos do universo que subsistem na percepção. O universo então deixou de ser a forma tangencial da experiência e lhe mostrou vastos continentes metaempíricos, com indefinidas camadas virtuais a serem atravessadas. Depois dessa experiência, a totalidade do universo físico não pode mais ser pensada sem as bordas e margens virtuais que desvelam outras camadas das entidades atualizadas.
Contudo, ambas as viagens, tanto a da Dr. Eleanor quanto a do Dr. Kelvin, não teriam sentido se nesse trânsito entre mesons não houvesse o encontro com a amada e com pai. A relacionalidade sem processo é inerte. O processo sem relacionalidade é indiferente. A diferenciação infinita dos organismos e do universo também se encontra nas possibilidades de relação e na estrutural relacional e passional que possibilita infinitos graus de preensão e de contato. Talvez essa seja uma forma de pensar o devir e os processos como forças emaranhadas, aliadas ao fundamento dramático, passional e finito da vida, seja ela humana ou transumana.
Referências
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