Conferências de Cosmos e Contexto 2024
O Centro de Estudos Avançados de Cosmologia (CEAC) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e a revista Cosmos e Contexto irão realizar em 2024 uma série de conferências dedicadas à continuidade do diálogo, que temos organizado nos últimos anos, entre pensadores de diferentes áreas do saber:
1. VIRTUAL E REAL – 17 e 18 de abril de 2024
2. O SÉCULO 21: QUESTÕES ATUAIS DO PENSAMENTO – 9 e 10 de maio de 2024
3. HORROR DO VAZIO – 7 e 8 de agosto de 2024
Virtual e Real
17/18 abril 2024
O virtual, usado no contexto da física existe, assim como qualquer objeto considerado real. Ou seja, o virtual, para um físico, não é entendido como se fosse um ente matemático[1].
O melhor exemplo para entendermos isso é examinando o mundo quântico e processos de interação entre partículas. Por exemplo, a interação entre um próton e um nêutron. Na linguagem moderna, eles não exercem entre si nenhuma força, mas tudo se passa como se eles trocassem uma outra partícula, no caso em questão, um méson Pi (píon) carregado positivamente.
Esse méson é tratado como virtual, pois ele não se deixa observar enquanto tal, mas somente indiretamente.
Os físicos costumam usar a expressão …”o píon está fora da camada de massa”. Isso significa que há uma violação da relação entre sua massa e sua energia, devido ao Princípio de Incerteza (Heisenberg).
Esse Princípio também nos faz entender por que no vácuo quântico aparecem flutuações de partículas e antipartículas.
Uma situação semelhante acontece quando em sua trajetória, um fóton oscila entre ser ele mesmo ou um par elétron-pósitron. Esse par é entendido como virtual, isto é, eles não se deixam observar diretamente pois possuem um tempo de existência bastante pequeno. E, no entanto, as leis de conservação garantem que eles existem.
Essa é uma das diversas interpretações do que é virtual que os físicos propõem. Outras formas de virtualidade, no contexto da física, serão apresentadas.
Além dessa visão sobre o que é virtual, segundo os fisicos, outros modos de entender a virtualidade – descritos em outros saberes, como o virtual na filosofia de H. Bergson – serão analisados nessa Conferência.
O século 21: questões atuais do pensamento
Cosmologias, multipolaridade, novos modos de vida, clamores do agora
9/10 Maio 2024
No agora distante ano de 2019, a Cosmos & Contexto convidou pensadores de diversas áreas para pensar sobre o “momento 1900” e seus desdobramentos, sendo discutidos a física moderna, as vanguardas artísticas, a vida na metrópole, o advento do cinema, da psicanálise etc. Terminamos a introdução daquela Conferência com o comentário abaixo.
Percebemos, então, que todas essas novidades do momento 1900 possuíam uma forte correlação: desestabilizar, para além do Bem e do Mal, o que estava arrogantemente estabelecido como verdade. Podemos igualmente aprender, com o pulso da virada do século, a existência de uma grande ressonância entrelaçando saberes e eventos históricos.
Agora, nos deparamos com um mundo turbulento, que persegue um norte, uma direção para o pensamento. Assim, aquela relação de saberes será novamente acionada para pensar o contemporâneo, convidando físicos, filósofos, antropólogos, psicólogos, artistas, pensadores de outros saberes.
São muitas as questões que devemos tratar, como por exemplo:
Estamos caminhando de fato para um mundo multipolar? Quais as implicações socioeconômicas disso?
Como será a relação mais intensa com outros modos de vida, como os povos originários, os orientais e até as inteligências artificiais? Tais relações mudam as categorias de pensamento?
Como se dá a guerra total, que envolve não só o belicismo, mas também a guerrilha digital?
Agora que o modelo do Big Bang está em xeque, quais novas perspectivas cósmicas podemos apreender?
Qual o estatuto do humano hoje, perante as questões ecológicas e tecnológicas?
Quais são as possibilidades econômicas para um mundo com crescente desigualdade?
Onde estão as vanguardas? Como a arte se expressa diante de tais turbulências?
Quais são os caminhos possíveis para uma clínica efetiva?
Essas serão algumas das questões que direcionarão nosso debate.
Horror do vazio
7/8 Agosto 2024
Um passo fundamental para a ciência contemporânea foi o abandono da noção de que o único critério de verdade está ligado ao que é imediatamente visível. Já no início da atividade cientifica, G. P. de Roberval anunciava em 1647 na sua “Première Narration sur le Vide” o abandono dessa ilusão. Com a chegada da física do século 20, essa situação adquiriu um caráter absoluto e fez aparecer, no mundo quântico, a função do vazio como princípio fundamental à descrição do que é observado a partir de inobserváveis.
Nas últimas décadas do século 20 vimos aparecer uma ideia maravilhosa segundo a qual o Universo não poderia não-existir. Uma tal afirmação é consequência de uma união entre a Cosmologia e ideias associadas ao mundo quântico. Essa afirmação leva a aceitar que os antigos tinham razão ao proclamar que a Natureza tem horror do vazio.
Mas como outras áreas do saber – Filosofia, Antropologia, Artes, Psicologia ,…- interpretam essa afirmação? O horror vacui, termo de Aristóteles, se apresenta na arte vitoriana e barroca, mas o vazio foi-se introduzindo de outros modos nas artes visuais. A antropologia sempre investigou os “invisíveis” de cada povo, mas como isso se relaciona com a noção de vazio?
É o que iremos explorar nesse encontro.
Mario Novello
[1] Segundo Gilles Châtelet, seres matemáticos não tem existência própria, mas são eternos. Seres físicos tem existência própria, mas não são eternos.