As pinturas de Ivano Damião Soares
Reedição de 15 de março de 2012
* Pinturas de Ivano Damião Soares e poesias de Mario Novello
Ivano Soares, o pintor ou Ivano Damião Soares, o físico, nos leva a um mundo que encanta e transborda de magia do cotidiano. Cosmos e Contexto foi capturar no passado recente essas quatro dessas maravilhosas pinturas que Ivano nos concedeu. Mario Novello completou o encantamento com quatro poesias feitas sob o fascínio de cada uma daquelas obras.
I
Anatomia IX
Óleo sobre tela
1,80 x 1,65 m
De que serve penetrar tão fundo nesse universo
se ali vou encontrar sempre o mesmo medo?
De que adianta absorver e modular
os cálculos que a ciência permite
se vou sempre projetar-me sozinho
no seio desse cosmos tão próximo?
Por que devo transfigurar todo o universo consciente
em sangue, músculos e espanto
se ainda não sei por onde devo sair de mim?
II
Anatomia V
Óleo sobre tela
1,75 x 1,50 m
Se é verdade que devo afrouxar o peso dessa realidade
que me querem dar – e diminuir esse universo que me toca
Se é assim que devo reagir
como um animal que não pode ver onde se esconde a imagem e procura a cegueira em outros
Se é com esse banquete de fótons, átomos
e moléculas emaranhadas
que querem alimentar meu corpo expondo indefinidamente os restos
então o que fazer com esse impulso de universo que está sempre aqui?
E mais,
o que responder a essa mensageira de cosmos antigos que esperam por mim há tanto tempo?
III
Anatomia XI
Óleo sobre tela
1,90 x 1,70 m
Como dizer não a esse universo que me cerca?
Como quebrar esse vidro e me lançar enfim além desse aqui?
Como afastar esse cálice e essa mão que sufoca
e sufoca e sufoca e sufoca?
Como deixar que desse corpo
( a partir desse corpo )
se construa com toda a calma e essa tensão desse tempo infinito
essa ponte que nos afasta?
IV
Anatomia VI
Óleo sobre tela
1,90 x 1,70 m
E no entanto
com muita timidez ainda
parece que enfim estou saindo desse corpo.
Não por metáforas
ou por esse suor poroso
mas de outro jeito
como se fosse aquilo que está ali.
Esperando que não apareça o medo de ontem.
Mas se aparecer
(quem sabe?)
que venha de uma só vez
imitando esse fluxo de sangue que me cega.