A miséria da ciência sem a filosofia
É uma alegria, para mim, estar no CBPF em companhia de profissionais da ciência, reverenciando o lugar e a importância da Filosofia para a ciência, para o pensamento e para a vida.
Nós, homens e mulheres do século XXI, herdeiros e propagadores da mentalidade cientificista destacamos sempre a importância e a necessidade da ciência, desprezando na sequência, o discurso filosófico. Assim, o título desse seminário, dado pelo professor Mario Novello de forma extremamente feliz, é a proposta de um caminho inverso ao caminho habitual de pensar: ao invés de apenas festejarmos a importância da ciência, fechando os olhos para o quão implicada a ciência está com a filosofia, vamos falar do quão miserável a ciência é sem a filosofia.
E já que esse seminário é de celebração da filosofia, vou começar lendo um trecho do poema de Lucrécio, filósofo romano do século I a.C, que em De rerum natura (Da natureza das coisas) diz: “A filosofia não é uma arte popular ou feita para ser ostentada. Não a usamos para transcorrer agradavelmente o dia ou para expulsar a náusea que vem do ócio. Ela forma e plasma a alma, regula a vida, governa as ações, segura o timão e dirige o curso em meio aos perigos do mar e da tempestade. Sem ela ninguém pode viver tranquilo, nenhum (pode viver) seguro” [1].
Ocorre que embora tenhamos criado esse seminário e estejamos aqui dispostos a reverenciar a filosofia, essa atitude não é a atitude convencional frente à filosofia. Ou seja, as palavras de Lucrécio não são as que usualmente as pessoas dirigem à filosofia, mas antes constituem propriamente o seu inverso. Vale dizer que habitualmente não é este o lugar que se dá à filosofia, mas ao contrário, há um desconhecimento do que seja a filosofia, mas pior do que isso, há uma permanente depreciação do seu valor e da sua relevância. Essa depreciação pode ser vista em uma anedota contada Por Platão no diálogo Teeteto sobre Tales de Mileto. Conta Platão que Tales caminhava distraidamente pela rua, olhando para o céu e não viu que diante dele havia uma poça d’água. Uma escrava que observava a cena, pôs-se a rir quando Tales caiu na poça d’água. Essa imagem pejorativa da filosofia exposta nessa anedota é bastante comum, bastante disseminada: o filósofo é um nefelibata, aquele que só se ocupa com coisas abstratas ou desimportantes. Logo, a filosofia não tem nenhuma serventia, nenhuma razão para estar nos currículos escolares, não deve-se perder tempo com ela.
Há uma segunda e uma terceira atitude existentes ainda frente à filosofia: a segunda é a que provém daqueles que não chegam a desprezar a filosofia, ao contrário, a valorizam, reconhecem sua importância e os frutos que esse conhecimento pode trazer. E há uma segunda anetoda, desta vez contada por Aristóteles na Política, que relata essa segunda atitude. Diz Aristóteles que por ter conhecimento sobre astronomia, Tales sabia prever períodos de grande colheita. Certa vez, prevendo uma colheita fora da época, com pouco dinheiro arrendou armazéns de azeitona e quando chegou a época da colheita e todos precisavam dos espaços de armazenamento, os alugou pelo preço que quis e ganhou muito dinheiro. Diz Aristóteles: isso mostra que os filósofos poderiam enriquecer facilmente, mas sua ambição é de outra natureza.
A terceira atitude diante da filosofia depende da compreensão do que ela seja, depende da abolição da visão esteriotipada ou reducionista do que seja a filosofia, o que é muito difícil, sobretudo em momentos em que há uma disseminação orgulhosa da ignorância. Quando assiste-se ao negaciinismo da história, ao negacionismo das evidências científicas, à defesa do fundamentalismo religioso e a intensa valorização de opiniões trocadas e vulgarizadas em redes sociais, todo o pensamento está em risco.
Por isso a ideia deste seminário, que surgiu a partir das últimas acusações, do menosprezo e de todo tipo de ataque que a Filosofia recebeu no nosso país, e em especial deste governo eleito em 2018.
Entretanto, para dizer com mais rigor, esse seminário não é apenas fruto dos dias de hoje, porque em verdade, esse ataque, esse menosprezo, esse ódio mesmo que a Filosofia sofre existe desde sempre, desde o seu nascimento na Grécia antiga. Talvez o ataque à ciência seja algo surpreendente, mas o ataque à filososfia nao.
A filosofia, todos sabem, surge entre os séculos V e IV a.C. e é já nesse período que a incompreensão do seu sentido e da sua importância se revelam. Sócrates, o primeiro filósofo após as escolas dos físicos, é condenado à morte após uma tripla acusação: cultivar novos deuses, não crer nos deuses da cidade e corromper a juventude. Isso ocorre em 399 a.C. e é preciso contextualizar o que acontecia em Atenas nesse período. A guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta havia durado de 431 a 404 a.C, quando ocorre a rendição de Atenas, a derrubada dos grandes muros da cidade, restaurando-se a oligarquia, subordinada ao comando espartano de Crítias, que formou o governo dos 30. Um anos depois, as divergências entre os oligarcas levaram a uma guerra civil com os democratas, liderados por Trasíbulo que terminou com a vitória da democracia e a consequente restauração dessa forma de governo em 403 a.C..
Portanto, a cidade de Atenas acabara de passar por um intenso período de guerras e destruição de seu exército, de suas instituições. Era necessário, pois, reconstruir a cidade: formar o exército, replantar seus campos, refazer seus muros, etc. Era preciso recuperar a grandeza da cidade, sua prosperidade econômica e cultural e para isso era necessária toda a mão de obra técnica possível, de toda a atividade laboral que visivelmente e objetivamente produzisse resultados nesse processo de reconstrução.
Então, já nessa época, aparece uma distinção que se sustenta até hoje e que Aristóteles estabelece com clareza, entre atividades de natureza prática e atividades de natureza especulativa. Construir casas, pontes, treinar homens para fins militares, julgar os conflitos, governar, tudo isso eram atividades práticas, claramente necessárias para a vida cotidiana e, mais do que isso, urgente naquele período pós-guerras.
Sócrates, um filósofo, que nem sequer fazia da sua atividade um trabalho ou um meio de sustento, personificava a dedicação à vida especulativa e mais do que isso, era aquele que levava aos jovens ideias divergentes do senso comum, ideias que aparentemente não tinham a menor importância para a cidade e suas ambições. Portanto, mais do que ser objeto de desprezo, ele se revela um perigo para a polis e por isso, precisa morrer.
É assim que a Filosofia já nasce. Ela já nasce em uma condenação pelo homem comum. Nesse sentido, esse seminário não é um seminário do nosso tempo, porque essa condenação não é tão somente a condenação do Brasil do XXI (é bem verdade que agora acentuada, agora às claras). A verdade é que a filosofia desde sempre é incompreensível para o homem médio. O que é a filosofia? Qual a sua importância? Qual o seu alcance? São questões quase que incompreensíveis para o homem comum.
Então são dois aspectos que se juntam: por um lado, a sua aparente distância da vida prática e cotidiana e, por outro lado, sua enorme distância com o senso comum e com as ideias mais vulgares e costumeira aos homens.
Nesse sentido, não apenas a importância, mas também a presença da filosofia em todas as coisas, em todos os saberes, em todo desdobramento civilizatório é incompreensível, é imperceptível ao homem comum. Este, ao olhar os demais campos do saber, e sobretudo os campos de saber que ele facilmente reconhece como relevantes para as ambições e urgências humanas, para sua proteção e desenvolvimento, não consegue enxergar o quanto de filosofia existe em cada um deles.
Desde o seu nascimento, portanto, a atividade especulativa parecia como hoje também parece aos homens comuns: algo extremamente distinto, apartado da vida prática e porque não dizer, prejudicial à vida cotidiana. Ou seja, o mesmo discurso que nós sustentamos hoje 26 séculos depois, da filosofia como uma atividade abstrata, especulativa, vazia, distante da vida, como um mero meio de erudição, de formação cultural, é o discurso que, em certa medida, levou Sócrates à morte. Hoje, diante de urgências de Estado, novamente mataríamos Sócrates e pelas mesmas razões.
Mesmo aqueles que admiram a filosofia, que, de certo modo, reconhecem a sua importância, o fazem ou por erudição ou por seus apelos práticos. É preciso superar tanto o olhar que não reconhece a importância da filosofia quanto o olhar que só reconhece o seu apelo prático, mostrando como não há campo do saber, não há atividade de pensar que não seja formado a partir do solo filosófico. A presença da filosofia existe em cada uma das ciências e isso não porque os cientistas gostem de filosofia, não porque tenham um gosto particular ou porque tenham tido uma formação mais erudita ou ainda acesso a uma cultura mais sofisticada que os demais, mas porque a presença da filosofia é real e é impossível de ser subtraída. A filosofia permeia todas as coisas, permeia a vida, permeia o pensamento.
Aristóteles faz uma importante distinção entre os diferentes campos do saber e afirma que a filosofia contempla as ciências especulativas ou teoréticas, as ciências práticas e as ciências poiéticas. As últimas visam a produção de algo diferente do agente que o produziu, que se realiza por meio das artes (a arte retórica produz um discurso, por exemplo) ou das técnicas (como a arquitetura, a medicina, a guerra, a navegação, a pintura, a escultura); as segundas visam o saber para uma finalidade moral, para um aperfeiçoamento moral, como a ética e a política. O homem é o seu agente e ele próprio sofre a reação de sua ação. Portanto, estão voltadas para a conduta do homem frente a si mesmo e frente aos demais; e as primeiras visam o saber pelo saber, independentemente do fim ou da utilidade. Dentre as ciências teoréticas existentes (a física, a psicologia, a matemática e metafísica), a mais elevada, diz Aristóteles, é a metafísica. E por que a mais elevada? Exatamente porque não serve para nada. Sua importância reside no próprio ato de pensar, que é a atividade maior possibilitada ao homem, mas essa atividade não está limitada à vida prática, às coisas do homem, mas como diria Bergson, está justamente em ultrapassar a condição humana.
Essa atividade maior possibilitada ao homem é maior mesmo, no sentido que não é a reprodução de nossa pequena humanidade, nossa forma de experenciar o que chamamos realidade, mas pensar para além dos nossos parâmetros, das nossas coordenadas, das propriedades do que está à nossa volta. Portanto, a beleza, a grandeza da metafísica está em que ela permite ao homem um exercício de pensamento para além dos seus interesses, para além das suas medidas e para além do seu mundo próprio. As leis físicas ou intelectuais, as condições do homem, suas regras são, ao contrário, uma limitação ao pensamento. E por isso a metafísica não é uma atividade prática, porque ela não está nos limites da humanidade. Na verdade, se colocarmos um propósito prático, um propósito humano, falsificamos a sua natureza e diminuimos o que é própria atividade de pensar.
A pergunta pela serventia da filosofia geralmente recebe duas respostas: ou mostra-se a importância da filosofia prática (para aqueles que reconhecem a sua importância) ou a própria pergunta contém em si, como diz o Deleuze, a ironia e a agressão. Podemos completar: e, sobretudo, a ignorância. Então, de um lado temos os ignorantes que desconhecem a natureza da filosofia e querem agressivamente desqualificá-la e negá-la ao mundo e de outro lado temos aqueles que concedem, no máximo, lugar à filosofia prática. De todo modo, trata-se sempre de ignorância: a venda que torna a filosofia imperceptível.
Do ponto de vista prático, as coisas são bem fáceis: a filosofia é o saber ou o conjunto de saberes que nos ensina o nosso ethos, nossas regras no agir; nos faz refletir sobre as relações humanas, seus modelos políticos desde a antiga polis até os estados totalitários e as grandes revoluções, por exemplo; nos leva a construir uma idéia de justiça, seja ela natural ou positiva, distributiva ou corretiva. Em suma, tudo o que convém ao homem e que se pode denominar uma antropologia, é objeto da filosofia prática. Logo, é bastante evidente sua importância para o homem e para a vida. Os pensamentos comuns, as convicções, os valores defendidos pelos sujeitos estão inseridos em grandes sistemas filosóficos, sistemas estes elaborados e reelaborados ao longo de toda a história das idéias – é indispensável compreendê-los para descobrir sua lógica, seu alcance e suas implicações.
Já com a metafísica as coisas se complicam um pouco mais. Se a filosofia prática é necessária para os homens encontrarem sua melhor forma de governar, seus princípios morais, construir sua idéia de justiça, como já dissemos, a filosofia especulativa terá outros segredos.
Na realidade, diferentemente do que possa parecer, esses campos do saber não são incomunicáveis, não guardam distância um do outro, porque se a metafísica é a mais elevada das ciências, como diz Aristóteles, é também em razão de constituir a própria base de toda e qualquer filosofia prática, de oferecer os princípios primeiros de sua construção. Por exemplo, o Direito é uma disciplina prática, que trata das questões dos conflitos entre os homens, e portanto, visivelmente importante e necessária. Mas toda e qualquer doutrina jurídica não pode se constituir fora da metafísica – ela não nasce em outras terras. Subjaz a toda teoria jurídica conceitos metafísicos fundamentais como a ideia de vida, a ideia de causa, a ideia de liberdade, a ideia de sujeito; ou ainda, o exemplo bastante conhecido por todos aqui que é Einstein. Einstein, que revoluciona a física no século XX, viu que as equações da relatividade geral não eram compatíveis com as propriedades que ele atribuía ao universo. Einstein partia de uma visão metafísica clássica, de um universo estático e mesmo diante da evidência de suas equações, ele não foi capaz de ultrapassar a visão metafísica que sustentava seu pensamento, de modo que cria a uma constante para que finalmente seus cálculos pudessem de adequar à visão metafísica de um universo fechado, eterno e sem evolução.
Ou seja, a metafísica plasma o pensamento em todas as suas expressões e todo e qualquer discurso que se pretenda científico nasce a partir de princípios e ideias metafísicas, mesmo aqueles que se arrogam puro. A filosofia é mais do que indissociável à ciência: é a sua própria natureza! A filosofia não a influencia, ela a constitui; ela não a critica, ela fornece sua base conceitual.
As ideias de natureza, ser, substância, essência, função, eu, tempo, Deus, movimento, causalidade, átomo, consciência, inconsciente, liberdade, justiça, felicidade, amizade, natureza que se tornam tão comuns e reproduzidas nos mais diversos campos do conhecimento são fruto da elaboração filosófica por todos os séculos da história ocidental. Toda ciência já nasce a partir desse horizonte muitas vezes invisível, pois não é próprio de sua atividade de investigação a sua compreensão, mas esse horizonte é construído pela filosofia e sem ele não se pode nada edificar.
Tudo isso é verdade, mas dizer assim é ainda dar à filosofia um tratamento de submissão, é subordina-la a outro interesse, ou seja, é ainda diminui-la. A metafísica, a atividade superior do pensamento, não é importante porque está na base do pensamento científico. E aqui eu chego ao que é mais fundamental, mas também ao que é de mais difícil compreensão na minha fala hoje.
A Metafísica ao invés de ser pensada como uma especulação vazia ou abstrata, deve ser pensada como o caminho que nos possibilita pensar além do mundo atualizado que nos encontramos, reconhecendo as condições de possibilidade de cada verdade construída pela ciência.
A miséria da ciência sem a filosofia está em que a filosofia permite ao homem uma mudança de lugar – não é possível que na tarefa do pensar os que a exercitam permaneçam sempre os mesmos, se mantenham imutáveis. Kant, em seu texto “O que é o iluminismo?” diz que os homens por meio de uma revolução podem sair do despotismo e da opressão dominadora, mas mesmo uma revolução não é suficiente para fazer uma verdadeira reforma do modo habitual de pensar. Esse texto, que pretende esclarecer o que é o iluminismo, é o texto do chamamento primeiro da filosofia: sair da condição de homem comum e experimentar o que é pensar.
A filosofia e somente a filosofia é capaz de desarmar as ficções teóricas que estão enraizadas no nosso cotidiano (e que nem nos damos conta de que se tratam de ficções). São essas ficções que vão nos condenando em vida, que vão obscurecendo o caminho da criação e do conhecimento, que naturalizam ignorâncias, tristezas e dominações, servidões e angústia.
Filosofar ou pensar não é, pois, uma tarefa natural ao homem, uma prática corriqueira da sua existência, mas antes um movimento que exige coragem, que exige uma força transformadora que o tira do obscurantismo e da tolice. Pensar exige a audácia e a libertação de um modo de ser que se naturaliza ao homem – a ciência produz doutrinas e verdades que se naturalizam ao homem. Construir novas possibilidades, edificar novos caminhos, eis a tarefa do pensador. Não por outra razão, Platão, no Crátillo, nos ensina que os gregos denominavam noesis o pensamento, que equivale a neou hesis, desejo de novidade.
Quando o pensamento se põe, em realidade não faz mais sentido falar em ciência ou em filosofia – são formas que o pensamento encontra para se expressar, para ganhar consistência. Na atividade de pensar, filosofia e ciência se cruzam, se entrelaçam sem constituir propriamente uma síntese ou uma identificação. A filosofia e a ciência podem entrar em relações de ressonância múltipla, em relações de troca, como linhas de interseção, como ecos. De todo modo, é uma saída das práticas da opinião e uma forma de constituir novas maneiras de viver e de sentir. Como diz Deleuze, cada disciplina é, ao seu modo, criadora. O pensador é aquele capaz de fazer transformações no mundo, de desfazer as imagens dadas, de sair do seu mundo próprio, de seus limites, das superstições que o cercam, dos medos que lhe paralizam e das ideias que lhe escravizam.
Então, gostaria de dizer que esse seminário começa a partir das considerações equivocadas que o homem faz da própria vida e daquilo que o cerca e deve nos levar a uma compreensão mais próxima do que seja a filosofia. A filosofia torna possível um homem futuro, que não é uma nova raça, distinta do homem, mas sim o homem mesmo, como uma resistência ao presente, uma resistência a si mesmo em suas velhas formas já solidificadas. E mais: uma resistência não apenas frente ao grandioso e o visível, mas nas condições mais insignificantes, ante toda e qualquer baixeza e vulgaridade da existência, para que se possa escapar da própria agonia, para resistir à morte, ao intolerável, à vergonha, à tolice e à ignorância.
Assim, é preciso ter a coragem para pensar e liberar a vida lá onde ela é prisioneira, como diz Deleuze. Porque só assim o homem pode se libertar de sua própria miséria.
Para concluir, gostaria de dizer que ao invés de desprezar a filosofia, de diminui-la, de atacá-la ou mesmo ao invés de apenas reconhecer o seu valor prático, é preciso clamar por filosofia, clamar pela atividade de pensar.
O homem não tem apenas a possibilidade, não tem apenas o direito, mas tem a necessidade de uma liberdade absoluta e irrestrita em todo o exercício de pensar. Todo projeto político que queira conjurar a ampliação do conhecimento e o progresso da ilustração, para usar o termo kantiano, é um crime contra a natureza humana e, por isso, deve-se recusar tais resoluções.
Termino com uma citação de um escritor português, que não era filósofo, mas sabia a importância da filosofia. José Saramago em uma entrevista de 2008 disse: “acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objeto determinado como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar; precisamos do trabalho de pensar e, parece-me que sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.
[1] Lucrécio. Carta a Lucílio.