A etnia dos liberais: derrocada do Poder Negro e a construção do novo pluralismo racial
Sobre este artigo[1]
Resumo: O centro liberal do Partido Democrata rachou na segunda metade dos anos 60. Enquanto uma fração do partido buscou cooptar a New Left, a outra, notabilizada como neoconservadora, tentou combatê-la. Em um momento em que a luta por integração racial nos EUA cedia espaço à luta direta pelo Poder Negro, grandes fundações como a Ford forjavam a construção de um novo centro político, alicerçando renovadas noções de pluralismo democrático na aproximação aos segmentos mais afins do Black Power. Quanto aos neoconservadores, estes levantaram-se contra certos riscos insurrecionais de seu tempo, manifestos, para eles, na “crise de autoridade”. Para tanto, demandavam o restabelecimento da força das instituições pátrias, dos projetos de assimilação da diversidade à “americanidade WASP” e dos princípios de justiça encarnados na noção de “meritocracia”. Neste artigo, acompanhamos a mixagem entre essas duas perspectivas, na ampla revisão teórica a que foram submetidas as categorias de raça e etnia em fóruns de debate como o da Academia Americana de Artes e Ciências (1966-1975). Pretendendo estabelecer princípios de combate para as estratégias de oposição racial do Poder Negro, esse debate colocou em discussão uma série de medidas de “defesa democrática” que eles pretendiam interligar: a criação de formas de representação da “diferença humana” que desenfatizassem o “conflito social”; a qualificação de quadros étnico-raciais para o acesso à arena democrática, objetivando circunscrever o peso das massas; e a investigação de como recolocar a etnia e a raça como princípio de governo, norma de política pública e de defesa de direitos humanos. Desse esforço de convergência entre frações liberais, estava sendo moldado o influente liberalismo racial contemporâneo.
(…) é possível, e até provável, que o progresso futuro dos negros dependa, até certo ponto, de uma estratégia pluralista. A afirmação negra obteve vitórias importantes nos anos 60, mas ao custo de enfatizar a dicotomia preto/branco em grande parte da sociedade. Agora, e pelo menos num futuro próximo, a questão é se as minorias terão probabilidade de progredir mais rapidamente em circunstâncias em que o discurso público e intelectual é enquadrado em termos de uma dicotomia preto/branco ou minoria/maioria – ou quando tal discurso é em termos de diversidade e pluralismo, dentro dos quais os aliados para causas que beneficiam as minorias sejam melhor encontrados ou mantidos e a legitimidade das suas reivindicações na consciência nacional continue ou se restabeleça. Este último caminho significa uma estratégia para “bagunçar a dicotomia”, prestando atenção à diversidade cultural dentro (bem como entre) a maioria branca e as minorias raciais. Isto resultará, em parte, numa redução da importância da raça como questão (para consternação de alguns líderes negros – e aplauso de outros).[2]
Basil J. Whiting (consultor chefe da força-tarefa Raça e Etnicidade da Fundação Ford, 1973-1974)
“The House of Mumbi” é brilhante. É precisamente o artigo que eu tinha esperado que alguém escrevesse, e eu deveria ter concluído que apenas você poderia fazê-lo” [3], elogiava Daniel Patrick Moynihan o seu colega do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Harold R. Isaacs, por sistematizar em seu texto de setembro de 1971 para a revista de política e assuntos de governo Washington Monthly, suas opiniões comuns sobre uma categoria de conflito emergente no interior dos países, que, especulativamente, e de forma aproximada, eles começavam a chamar de “étnico”. Moynihan estava naquele início de inverno de 1971 planejando o Ethnicity in Our Time, projeto acadêmico de debate de longa duração para a Academia Americana de Artes e Ciências (AAAS). Colaboravam com ele, além do próprio Isaacs, outros cientistas sociais renomados, a “velha máfia da sociologia americana” segundo a alcunha dada por Alessandro Silj, um representante de programas da Fundação Ford (FF) diretamente envolvido[4]. O pretendido financiamento da FF[5] foi logo conferido em abril de 1972, através de sua seção de European and International Affairs (EIA)[6].
Moynihan retornava à Universidade Harvard depois de três anos, após ser o assessor especial (1969-1970) do presidente Richard Nixon para questões urbanas. Ele estava desde o início de janeiro de 1971 tentando retomar a proposta do Ethnicity in Our Time[7]– estacionada desde que o primeiro pedido de financiamento do projeto, submetido em dezembro de 1969 à Russell Sage Foundation (RSF), de Nova Iorque, foi rapidamente reprovado em janeiro de 1970 com parecer negativo do sociólogo Daniel Bell[8]. O sociólogo, na época da emissão do parecer, estava desde 1969 em residência acadêmica na Russell Sage para a elaboração do que viriam a se tornar dois clássicos seus dos anos setenta: “Contradições culturais do capitalismo (1970)” e “O advento da sociedade pós-industrial (1973)”[9]. Ele teria declarado, na condição de curador temporário de projetos para a RSF, que a proposta Ethnicity in Our Time não se adequava aos seus presentes interesses[10]. Algo, talvez, surpreendente: Bell se tornaria um membro atuante, e, por sua específica contribuição para os debates no projeto sobre etnicidade da AAAS, um dos diletos entre os gestores dessa proposta na Fundação Ford[11].
As premissas de Ethnicity in Our Time haviam sido estabelecidas em 1969 por dois professores de Harvard, Seymour Martin Lipset, importante teórico da sociologia política nos EUA, autor do então influente Political Man: The Social Bases of Politics (1960)[12], e, principalmente, por Nathan Glazer, especialista de sociologia urbana e um recorrente parceiro intelectual de Daniel Patrick Moynihan, como, por exemplo, em Beyond the Melting Pot, livro em coautoria de 1963. Lipset, como articulista, e Glazer, também como editor, eram personalidades de Commentary e de Public Interest, duas revistas influentes no debate público estadunidense, radicadas na cena cultural nova-iorquina e na comunidade intelectual judaica que, àquele momento, retificavam seu liberalismo de orientação para posições conservadoras no combate à New Left e aos simpatizantes dela no Partido Democrata[13]. Na assinatura da proposta de Ethnicity in Our Time, Lipset e Glazer sustentavam que sob estímulo da AAAS o projeto daria continuidade à série de seminários sobre “raça e pobreza” realizados pela Academia, com a curadoria de Moynihan ao longo de 1966 e de 1967, segundo a tradição da instituição, de estímulo à formulação de propostas de ação e de políticas públicas baseadas em pesquisa, cujos antecedentes temáticos imediatos, nesse mesmo sentido de método e de objetivos, eram as célebres conferências Race and Color e The Negro American, de 1965[14]. Afirmavam ainda que a proposta já contava com a promessa de participação do sociólogo Talcott Parsons e, inicialmente, aglutinaria o Joint Center for Urban Studies, das universidades Harvard e MIT – que Moynihan, aliás, dirigira (1966-1969) à época dos seminários sobre “raça e pobreza”[15].
Estes seminários sobre “raça e pobreza” constituíram um verdadeiro tour de force para Moynihan. Ele empregou os encontros mensais desse extenso ciclo de debates, realizados durante o ano acadêmico de 1966-1967, para uma alentada discussão sobre a noção de “cultura da pobreza” que reuniu duas dezenas de cientistas sociais e de economistas estadunidenses especialistas em questões urbanas, raça e renda. O esforço, desdobrado na publicação dos livros On Understanding Poverty: Perspectives from the Social Sciences (1968) e On Fighting Poverty: Perspective from Experience (1969), tinha o objetivo de explicar a persistente condição social dos trabalhadores pobres não qualificados do país, ou seja, implicitamente, da situação das massas negras[16]. Esta orientação tornara o evento um teste à validade das premissas do liberalismo racial dos EUA, oriundas no pós-guerra de An American Dilemma: The Negro Problem and the Modern Democracy (1944), de Gunnar Myrdal. Nestas premissas afirmava-se que a comunidade afro-americana vivia sob uma situação patológica e circular. Suscitada por exclusão, ela gerava tendências culturais de desvio, afastamento e inadaptação negras em face à classe média branca do país, a norma e horizonte de cidadania civil e de americanidade. Moynihan, uma personalidade intelectual e política do Partido Democrata nas administrações de John F. Kennedy e de Lyndon B. Johnson, atuando com políticas sociais do Departamento de Trabalho em questões urbanas, fez do seu trabalho no governo um esforço para tornar política pública o chamamento de Myrdal contra essa induzida condição cultural da pobreza negra[17]. Ele defendia que a situação demandava um regime de reforma familiar. Uma nova e estável classe trabalhadora negra, assimilada e integrada, surgiria do estímulo à geração de empregos que reposicionassem o homem negro como patriarca e provedor. Os seminários sobre “raça e pobreza” da AAAS tornaram-se um espaço de avaliação dessa tese[18], duramente debatida nos EUA desde sua divulgação em 1965[19], bem como um espaço de ofensiva crítica ao War on Poverty. Desenrolava-se um grande acerto de contas entre facções do Partido Democrata, adversárias na avaliação dos programas sociais do governo Johnson e seu atribuído fracasso em transformar a “condição negra” nos anos sessenta[20].
Moynihan apresentava sua preocupação central em On Understanding Poverty parafraseando um célebre suposto diálogo dos escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, que nos anos 1930 teriam se perguntado se os ricos, afinal, eram pessoas diferentes das demais ou apenas pessoas com dinheiro[21]. Os especialistas desse seminário da AAAS foram compelidos a definir, porém, com pretensões inversas, se os pobres eram diferentes do restante da população ou se eram somente pessoas privadas de renda e oportunidades[22]. Com variações e mesclas, essa demanda abriu duas vertentes no debate. A de Moynihan e simpatizantes definia os pobres pela sua diferença, para eles, pressuposta em sua “cultura de classe”. Avaliada a partir de como comandaria, com sua moralidade peculiar, as responsabilidades individuais dos pobres, essa cultura, para essa vertente, seria tendencialmente inapetente e resistente à mobilidade social, mesmo rompidas condições materiais de privação. Consorciada a uma política moderadamente interventora de formação de mão-de-obra e de geração de empregos, propunha-se, contra esse caráter da pobreza, um combate especial na esfera psicossocial: que a transformação de valores e da auto-organização comunitária dos trabalhadores norte-americanos mais pobres, sua mentalidade e interesses, suscitasse transformações materiais e gerasse um rompimento de classe, transmitido moralmente e consolidado na cultura[23]. A segunda vertente era crítica, mas, não de oposição. Ela afirmava a existência de uma “subcultura da pobreza”, cuja principal origem seria reativa; uma resposta defensiva, colocada pelos pobres em face ao fechamento discriminatório da estrutura de status da sociedade estadunidense à sua mudança de condição social. Essa condição de defesa geraria diversas respostas grupais: comportamentos “desviantes” ou criminais, conformismo, alienação e até uma temida “rebeldia” insurrecional. Para tanto, propunha-se tanto as medidas de aculturamento já sugeridas quanto políticas antidiscriminatórias e reparatórias, em uma mixagem de objetivos que sugeriam a construção de “capital humano”: eliminar barreiras para a transformação comportamental e para a acumulação de recursos pessoais, individualmente e entre as gerações[24].
A maioria dos especialistas desse seminário concordava – muito ao estilo de Moynihan lendo Fitzgerald – que os pobres, embora não fossem alteridades, eram pessoas diferentes. Essa maioria também concordava na articulação de três formulações, para eles, necessárias na análise do caráter da pobreza na sociedade estadunidense: a) a renda não deveria ser o parâmetro limiar da pobreza, mas, também, a cultura individual e o status socialmente reconhecido – a ascensão social, considerava-se, implicaria uma mudança de “etos”, alcançada na fusão com o estilo de vida da classe média ou do assalariado da classe trabalhadora[25]; b) a sociedade dos EUA, ainda que pesassem, reconhecidamente, preconceitos e discriminações, era maleável à iniciativa individual, estruturalmente aberta, em suma, à criação de oportunidades[26]; c) os EUA seriam dotados de uma sociedade funcional, portanto, dinamicamente equilibrada, na qual o problema da pobreza, dissociado de questões radicais de exploração ou dominação, pedia, no máximo, soluções adaptativas, reformas[27]. A vertente encabeçada por Moynihan, partindo desses grandes consensos, acusava a desresponsabilização moral e cívica dos pobres pela pobreza e a perda do imperativo da adaptação cultural. A vertente crítica a Moynihan, ponderava quais deveriam ser os contornos de suas propostas de intervenção social: foco na ampliação de políticas de redistribuição de renda, porém, com limites – sem a aplicação de critérios de massa[28].
Moynihan, no seu artigo da Public Interest, edição de outubro de 1969, apresentava observações sobre o estado da sociedade estadunidense logo mais incorporadas às justificativas de Nathan Glazer, na elaboração do Ethnicity in Our Time. Moynihan frisava na revista sua percepção pessoal sobre o desenvolvimento de um colapso social. Ele falava de ameaças de beligerância, de fragmentação da “unidade moral nacional”, no que seria, para o Democrata, um ataque à expectativa de que as massas da população, como sociedade, partilhassem de um horizonte cultural comum. Desde janeiro daquele ano na condição de assessor especial de assuntos urbanos de Nixon, Moynihan anunciava no referido artigo o livro vindouro, Urban America: The Expert Looks at City (1970), projeto do Voice of America, órgão oficial de comunicação e radiodifusão do governo dos EUA. Declarando tendências e desafios para os anos setenta, ele argumentava que a próxima década deveria se abrir com o enfrentamento à “crise de autoridade” das grandes instituições sociais e de Estado suscitada pelo ataque do “autoritarismo revolucionário de esquerda” e por seus análogos, nas oposições de direita. Em razão dessa ação “revolucionária” e do seu enfrentamento inadequado, presumia-se haver tanto risco insurrecional quanto um crescente esvaziamento de vínculos sociais caracteristicamente mais englobantes ou “universais”. Haveria uma busca por conexões comunitárias mais estreitas e particulares, expressa na “crise urbana” das grandes cidades, sintomaticamente, na sua violência, e no seu prospecto de “anomia social” iminente. Em conjunto, essas tendências estariam encontrando expressão organizada na demanda por uma nova geração de direitos e liberdades, para ele, ancorado não nos indivíduos, mas em interesses de populações e grupos que passavam a se organizar, geralmente, enquanto comunidades “étnicas”[29].
Nathan Glazer disse em um esboço de Ethnicity in Our Time[30], ressoando Moynihan, que vinha se verificando na passagem da década uma ampla reorientação ideológica. Ela era impulsionada pela derrocada de uma perspectiva assimilacionista da modernização. Glazer, no livro Urban America, falara do dano à expectativa, até ali bem aceita, de que transformações de mercado com indução governamental gerariam ascensão social de minorias. E, correlativamente, que também houvesse uniformização e mixagem social, moral e cultural. Pretensamente, estes eram os atributos da criação de uma sociedade harmoniosa, politicamente distensionada[31]. Na esteira dessa derrocada, se sobressairiam movimentos e organizações “étnicas”, tendência que, para ele, deveria ser investigada em três dimensões: a das razões para as questões “étnicas” virem se elevando acima de outras tensões ideológicas, como as de classe, ocupacionais e religiosas; a da interação da “etnicidade” com outras expressões de conflito, entre elas, as nacionais, de classe, e as internacionais, na relação de países desenvolvidos e subdesenvolvidos; e a do peso (e ameaça) que esse “recrudescimento” étnico exerceria na estabilidade, e na viabilidade dos regimes democráticos e dos processos de modernização. Glazer demandava, a partir dessas condicionantes, um estudo sobre qual filosofia política estaria emergindo, qual seria a mais adequada para intervenção nessa guinada política e que modelo de política pública deveria ser o mais adequado naquele momento[32].
A definição do significado de “étnico”, que daria sentido e conteúdo às atividades de Ethnicity in Our Time, começou logo o projeto passou a ganhar integrantes, forma administrativa, após retomada em janeiro de 1971. Moynihan agregou imediatamente à equipe o cientista político do MIT e experiente jornalista internacional, Harold R. Isaacs, e o sociólogo com longa carreira na Universidade de Chicago, membro da AAAS, então professor do Boston College, Everett C. Hughes[33]. Juntos com John Voss e Corinne S. Schelling, respectivamente, diretor-executivo e pesquisadora e secretária-executiva da AAAS, eles articularam uma série de jantares de trabalho e de seminários ao longo do ano. O primeiro deles em 23 de julho, na casa do casal Corinne e Thomas C. Schelling[34] em Cambridge, Massachusetts, foi promovido para vários convidados cogitados para participação no projeto. Entre eles, os participantes egressos dos seminários sobre raça e pobreza, Lee Rainwater, Peter Rossi e o sociólogo da Universidade Columbia, Herbert J. Gans, além de Lipset e Glazer[35]. Mesmo na ausência de Glazer e de Moynihan do primeiro encontro, em viagens[36] – Moynihan, em especial, era desde o início daquele ano membro da delegação dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU)[37] –, esse núcleo de trabalho inicial acordou uma dupla curadoria de Moynihan e Glazer para o projeto, que já vinha em negociação[38], e confirmaram a responsabilidade de Glazer em preparar uma nova proposta de trabalho, para a formação da equipe e uma nova solicitação de financiamento, finalmente encaminhada em janeiro de 1972[39], após vários adiamentos e cobranças à Fundação Ford.
A Academia ofereceu 3 mil dólares[40] do seu fundo de pesquisa[41] para que a equipe de planejamento de Ethnicity in Our Time – Moynihan, Isaacs, Hughes e Corinne Schelling, com colaboração de Talcott Parsons[42] – estabelecesse agenda para o ano acadêmico de 1971-1972. Na proposta inicial, duas conferências para a primavera e o outono de 1972, com a participação de vinte a trinta convidados[43]. Enquanto esperava o projeto final de Nathan Glazer, essa equipe de planejamento também examinava e explorava possibilidades de orientação teórica e analítica.
Everett C. Hughes abriu esse esforço sugerindo verificar o artigo da The American Sociologist, de junho de 1971, do sociólogo, professor da University of Washington, Pierre L. Van Den Berghe[44]. O tema do texto: como e porque distinguir “sociedades étnicas” de “raciais”. Para Berghe, sociedades étnicas organizariam internamente sua diversidade segundo regras, estabelecendo relativa e condicional autonomia territorial e cultural para os grupos. Suíça, Canadá e Índia seriam exemplos dessa modalidade de arranjo, que caracterizariam as chamadas “sociedades plurais”. Os países supracitados, beneficiados por serem também democracias, recepcionariam comparativamente bem a aplicação de medidas de “discriminação positiva”, cotas e outras políticas de reparação. Isto, porque, para Berghe, nestes países, os conflitos sobre desigualdades materiais e de acesso ao poder poderiam ser ajustados fortalecendo-se, com estas políticas públicas, as normas societárias que, nestes lugares, davam fundação à própria diferença étnica, um bem humano positivo, digno de preservação, segundo o sociólogo. Essa funcionalidade da política étnica, porém, não seria adaptável às sociedades raciais. Tais sociedades, como a dos EUA, advindas da moderna imigração e escravização em massa, ao contrário, seriam em geral culturalmente homogêneas e de território unificado, e necessitariam, com uma política “universal” de integração, da destituição do uso da noção de raça e, por conseguinte, das desigualdades e conflitos alicerçados sobre ela. A argumentação de Berghe, que se concluía com uma dura reprovação ao “nacionalismo negro” nos EUA, acusado de “retrocesso racista”[45], não ressoouem Ethnicity in Our Time, apesar da afinidade no foco crítico e do interesse na modelagem da política pública. Como veremos, o projeto da AAAS acabou estabelecendo os EUA como ponto de partida e referência para um quadro comparado internacional do tratamento de problemas e soluções para a diversidade étnico-racial[46]. Hughes acabou não tendo participação ativa na concepção teórica do projeto.
Harold R. Isaacs também execrava a atuação do Poder Negro. Porém, não por enfraquecer a bandeira da dessegregação entre negros e seus aliados, como fez Berghe, mas, por considerar o “nacionalismo negro” uma resposta regressiva, tanto para os males da massificação da sociedade quanto para algumas das contingências políticas do pós-guerra, argumento central de seu House of Mumbi, que Corinne Schelling apresentou a Moynihan e Glazer em primeira mão em setembro de 1971[47].
Para Isaacs, os processos de transformação material da modernização vinham perdendo a capacidade de gerar integração social. Sem poder de integração, a modernização deixava em seu lastro apenas as consequências negativas, normalmente associadas à massificação – alienação e atomização. Para ele, então, radicalizadas: por impulsão do agudo avanço tecnológico, e pelo novo tipo de fragmentação humana que estaria reverberando nas novas expressões comunais de vida política e social, chamadas de “étnicas”. Colocada por Isaacs como sintoma de um mal-estar cultural da modernidade, esse “renascimento étnico” seria também uma resposta conexa para um pano de fundo geopolítico marcado por grandes eventos ligeiramente interligados: a descolonização – novos estados-nação esforçavam-se para se estabelecer do zero, contra populações deflagradas e fortemente separatistas, dentro das velhas fronteiras coloniais, e em meio às disputas globais de poder da Guerra Fria; o fim dos impérios europeus – os estados europeus enfrentariam sérios dilemas para o exercício do seu pluralismo democrático, após enfraquecerem o controle sobre suas minorias nacionais e abrirem as fronteiras do continente à imigração de massa do ex-mundo colonial; o nacionalismo russo pós-revolucionário – a URSS, apesar de suas aspirações internacionalistas, nunca teria conseguido efetivamente minimizar as suas questões étnicas, internamente e na política global do Estado soviético; o fim da supremacia branca global – fortemente sentida nos EUA, seu impacto balançou o sentido da identidade nacional, das relações intergrupais e da condição de existência de cada grupo da sociedade, com o questionamento da norma e modelo WASP (White, Anglo-Saxon and Protestant), especialmente, após sua tomada crítica pelo Poder Negro[48].
Para Harold R. Isaacs, esses grandes movimentos geopolíticos provocavam riscos de rompimento e conflito. Eles vinham desestabilizar formas mútuas, estabelecidas, de reconhecimento social, e abriam uma senda para a instalação de profundas crises políticas. Várias das respostas a esse abalo, levantando o restabelecimento de princípios de organização e segurança para a vida social, vinham, segundo ele, na forma de demandas “étnicas”. Para Isaacs, esse movimento de “etnicização” estabelecia-se contra uma percebida noção de fragilidade do “ego” na relação com a sociedade. Individualmente, buscava-se o desenvolvimento de uma sólida unidade identitária individual. O indivíduo associava-se a uma experiência de satisfação da sua estima pessoal, que o religava à vida comunal, em uma renovada condição de pertencimento, de partilhado reconhecimento cultural e moral. Diante dessas transformações, Isaacs se perguntava ser possível assegurar às pessoas essa “identidade básica de grupo”, para ele, fundamental para estabilizar e dar segurança à vida social, mas de outra forma: preservada via instituições do moderno estado-nação, contra a “tribalização” e seu atribuído poder desestabilizador. Ele não deu respostas, e, pessimista, considerava esse movimento de “fragmentação” uma tendência com razoáveis chances de permanecer[49].
O sociólogo, teólogo e padre católico Andrew M. Greeley[50], pesquisador do Center for the Study of American Pluralism, um órgão do National Opinion Research Center da Universidade de Chicago financiado pela Fundação Ford, ofereceu respostas às questões de Isaacs em artigo de outubro de 1971, na tradicional revista de literatura e ensaio, Antioch Review. Sua síntese conceitual e equilibrado otimismo o tornariam uma personalidade fundamental das conferências de Ethnicity in Our Time, na avaliação de curadores e financiadores. Greeley apoiava-se em um baluarte intelectual entre participantes do projeto da AAAS, o sociólogo Edward A. Shils, da Universidade de Chicago, para sustentar que a etnicidade era virtualmente ineliminável, não devendo esse dado amparar a causa de qualquer pessimismo. Na etnicidade estaria consolidado um compromisso nuclear com os laços sociais humanos de maior intimidade, caracterizados por proximidade material, mas, pequena abertura, ou, dito de outra forma, baixa potencialidade de expansão política e social. Para Shils, assim como para seu importante discípulo nesta abordagem, o antropólogo Clifford Geertz[51], a etnia organizava motivações biopsicossociais profundas. Chamados por eles de “primordiais” ou “primitivas”, tais fenômenos, hipoteticamente de forte transmissão “inconsciente”, “espiritual” ou “natural”, presidiriam a própria fundação do laço social, em espécie de marco zero do vínculo social humano e dos processos básicos de aculturação, que sobreviveriam – do contrário, ao custo da própria humanidade – à homogeneização e massificação consequentes da modernização[52].
Para Greeley, de perigo à nação, essa atribuída fragmentação étnica era em verdade uma de suas forças. Mesmo tomando-se a condição dos negros como critério de comparação, se poderia dizer que entre os grandes países do mundo, os Estados Unidos eram a nação com o mais bem desenvolvido “pluralismo cultural”, uma qualidade cujas propriedades seriam remanescentes do pluralismo religioso das origens do país, e aqui, reconhece-se sua forte remissão a An American Dilemma, de Myrdal. Esse viés religioso, com forte sentido ideal pátrio, de justiça e de culpa, ainda perduraria. A reaproximação a essas referências teria sido inadvertidamente facultada pela “militância nacionalista negra”, segundo Greeley. Contra tendências assimilacionistas, ela teria tornado legítimo que os vários grupos da população também se reafirmassem “etnicamente”, inclusive os WASPs. A abertura dessa tendência trouxera em seu arrabalde toda a Middle America: os chamados brancos étnicos, brancos não pobres, e não WASPs, que, bem organizados culturalmente, geralmente, estavam politicamente posicionados à direita. Andrew M. Greeley considerava essa “abertura” ao étnico, frequentemente com recurso a ideias de tradição, bem-vinda, e, em interpretação livre da noção de “grupo primário”, de Edward A. Shils, desejável: conforme o sociólogo do CCF, para o bem ou para o mal, a “tradição” guardaria de forma concentrada um resistente “mínimo humano” social, dotado de funcionalidade superior, no sentido de induzir a estabilidade e segurança, pressupostos da vida em sociedade[53]. Assim, no cardápio de abordagens analíticas para a questão étnica, que incluiria as vertentes política e de classe, Greeley escolheria e incentivaria a cultural como mais pertinente: a vertente de classe equacionaria diversidade étnica com estratificação social e desigualdades de classe; a política, trataria as etnias como populações organizadas, agindo como “gigantes grupos de interesse”, sem necessária sustentação e conteúdo cultural; já a cultural, trataria as etnias como sustentáculos de legados culturais herdados, representativas de fortes conteúdos psicossociais aspiracionais[54].
Nathan Glazer, decisivo na concepção do conteúdo das conferências da AAAS[55] e na seleção de participantesde Ethnicity in Our Time, especialmente de integrantes do seu “núcleo teórico”[56], incorporou ao projeto o estudo dos “laços primordiais” humanos, como sugerida por Greeley. Nisto, Glazer prestava um crédito (parcial) às análises culturais, sinalizando a resistência à assimilação como hipótese de um “retorno espiritual ao étnico”. Porém, mais ao seu gosto, e ao dos financiadores, Glazer estruturou este objeto sob as premissas de análise da chamada vertente política e com especial predileção pela contribuição de sociólogos e de cientistas políticos[57] – profissionais que incorporariam, quando considerassem pertinente, problemáticas etnológicas e de classe. Para Glazer, especial atenção deveria ser dada para interações da etnicidade com outras modalidades de conflito, as respostas civis dadas e, principalmente, as governamentais, quando, e se a etnia assumisse um posicionamento organizador da vida política[58]. Aliás, escolhas que estavam em conformidade com as sugestões de Alessandro Silj, o supervisor inicial do projeto na European and International Affairs, da Fundação Ford[59].
Alessandro Silj foi acompanhado neste trabalho de supervisão por Basil J. Whiting, consultor de projetos da seção Social Development da Divisão Doméstica da Fundação Ford. Basil fora designado para essa função em razão do caráter híbrido e incompleto, atribuído à proposta de Glazer e Moynihan frente os interesses de financiamento da EIA[60]. Tradicionalmente, essa seção europeia abordava, para a Divisão Internacional da Fundação, suas preocupações com a construção de propostas de “desenvolvimento político”. Em particular, quando estas preocupações externas da FF não estavam delimitadas a questões regionais ou nacionais. Por exemplo, eram planetárias as ambições da organização com o crescimento econômico, a modernização civilizatória e a promoção da “paz internacional” – desde os anos 1970, via defesa de direitos humanos[61]. O interesse da FF em problemáticas populacionais, então gerido sob essa tríade de metas, atravessava, porém, um processo de transição. A administração do crescimento e composição demográfica das populações, tópico conduzido pela Divisão Internacional desde os anos 1950 em atividades na periferia do mundo ocidental[62], transportava-se, naquele momento, para o centro de preocupações do mundo estadunidense e europeu. Nos EUA, evoluía-se dos estudos sobre raça para estudos sobre minorias e identidades étnicas (que passavam a incorporar trabalhadores brancos de classe média como área de investigação); na Europa, da preocupação de pós-guerra com a formação e contestação de fronteiras para as migrações internacionais (a FF pretendia redefinir a agenda de trabalho europeia, deslocando a abordagem do preconceito e discriminação da psicologia social e do seu foco sociológico sobre a ação individual)[63]. Glazer e Moynihan eram considerados incapazes de expandir o foco comparado de Ethnicity in Our Time para além da enorme ênfase em Estados Unidos, como desejado pela EIA, mas, a seção manteve um interesse parcial no projeto da AAAS. Em especial, devido à relevância do tópico para a área internacional, demandante de fontes de informação e saber especializado, e pelo crédito aos altos luminares envolvidos que desfrutavam de acesso especial ao presidente da Fundação Ford (1966-1979), McGeorge Bundy. Entre eles, Moynihan[64].
Com essas motivações, a Fundação Ford pagou 25 mil dólares[65] em abril de 1972, à título de suporte, condicionalmente, a uma fase de planejamento deste projeto[66]. O comitê-diretor, formado por Harvey Brooks, presidente da AAAS, junto a Talcott Parsons, Everett Hughes, Harold Isaacs, Seymour Martin Lipset, Peter Rossi, Clifford Geertz e Andrew Greeley, organizariam, sob esse financiamento, duas conferências naquele ano[67]. Na primeira, menor e para fins de planejamento, em maio, os curadores de Ethnicity in Our Time debateram com o comitê-diretor (exceto Geertz, ausente[68]) e com convidados – os sociólogos Milton M. Gordon (Universidade de Massachusetts), e Orlando Patterson e Daniel Bell (Harvard), os cientistas políticos Lucian W. Pye (MIT) e Martin Kilson (Harvard) e o linguista Charles A. Ferguson (Universidade Stanford), mais Alessandro Silj (FF), Corinne Schelling e John Voss (AAAS)[69], a seleção dos participantes da conferência maior, em setembro, e o conteúdo dos memorandos de pesquisa a serem solicitados[70]. Foram levantados cerca de setenta nomes entre prováveis convidados[71]. Glazer selecionou o “núcleo teórico” do debate a ser desenvolvido no evento por Parsons, Bell, Isaacs, Greeley, Rossi e Gordon, e também definiu que demais participantes apresentariam “estudos de caso”[72].
Inicialmente, os supervisores da FF e membros da EIA criticaram a falta de perspectiva internacional, (especialmente europeia), a excessiva concentração de convidados da área de Boston e a baixa participação negra (afora Kilson e Patterson)[73], e foram parcialmente ignorados. Mais bem sucedido foi Basil Whiting, que emplacou Andrew Greeley em um estágio inicial do planejamento[74]. Alessandro Silj ainda conseguiu a indicação do demógrafo, beneficiário da FF, William Petersen, para ajudar a preencher a perspectiva comparada europeia[75]. De Harvard ainda foram selecionados os sociólogos François Bourricaud e Gino Germani, além do historiador Richard E. Pipes, (indicações de Nathan Glazer). Fechando o quadro de participantes, os sociólogos Jacques Brazeau (Universidade de Montreal) e John A. Porter (Universidade Carleton) e o cientista político Michael Oliver (Universidade Carleton), canadenses, indicações de Everett Hughes; o cientista político Walker F. Connor (State University of New York), indicação de Milton Gordon; o cientista político Jyotirindra Das Gupta (University of California, Berkeley), indicação de Harold Isaacs; o cientista político Milton J. Esman (Universidade Cornell), indicação de Daniel Patrick Moynihan; além do cientista político Donald L. Horowitz (Woodrow Wilson International Center for Scholars) e do sociólogo Immanuel Wallerstein (Universidade McGill)[76].
Os curadores insistiram e garantiram, malgrado debates e diferenças de opinião surgidas na conferência preparatória de maio de 1972, que a conferência de setembro daquele ano mantivesse o conteúdo e orientação originais das três principais questões de trabalho pautadas pela coordenação de Moynihan e Glazer: a) definir etnia (e como relacioná-la ou não com noções de raça); b) saber se a “etnicidade” era uma resposta ao universalismo de certas teorias (ou ideologias do social, como o marxismo), ou à noção de direitos individuais do liberalismo; e, c) por relação com esta última, abordar as implicações colocadas pela demanda por “direitos grupais” para as sociedades liberais, sustentadas sobre direitos individuais[77].
Nessa conferência preparatória foram anunciadas diferenças que ganharam duração e densidade no encontro de setembro de 1972 e no futuro livro-coletânea, Ethnicity: Theory and Experience, de 1975. Duas tendências se estabeleceram. Na primeira, se investigava se o “renascimento étnico” do período era uma manifestação passageira, já que não antecipado nas projeções marxista e liberal, que previam uma dissolução ou extinção das particularidades étnicas. Atribuía-se essa não antecipação ao poder ou ao descontrole, pouco compreendido, de forças biopsicossociais, associadas às matrizes imateriais ou naturais da sociabilidade humana. Debatia-se como essas forças poderiam ser empregadas, produzindo-se, ao invés da inferida fragmentação, formas funcionais de integração. Nessa frente de trabalho estavam Daniel Patrick Moynihan, Harold Isaacs, Seymour Martin Lipset, Andrew Greeley e Milton Gordon. Para a segunda tendência, destacada pelo sinologista Lucian W. Pye, a etnicidade não era um fenômeno transitório. O seu “renascimento” era a expressão de mudanças estruturais, relativas ao funcionamento do poder – posição que Daniel Bell e Orlando Patterson corroboravam especialmente. Para Bell, tais mudanças articulavam-se a três grandes movimentos: a busca por estabilidade e segurança nas sociedades industriais; a demanda por igualdade, através de direitos grupais; e o rompimento com procedimentos convencionais, da política centrada em elites. Haveria um limiar sendo rompido, ao menos na história dos EUA, na disputa de prioridades que essa guinada étnica teria colocado entre a ascensão grupal versus a individual. Argumento que Patterson levou um pouco mais longe que Bell. Para Patterson, desenhava-se, com o apelo à etnicidade, a passagem para um outro momento. Enquanto na recente luta por direitos individuais eram contempladas as elites das “minorias” em seu processo de integração, na demanda por “direitos grupais” estavam colocadas lutas pela inclusão de massa[78].
Nesse debate, Nathan Glazer defendeu que a tarefa da conferência de outubro de 1972 era propor o desenvolvimento de uma teoria da etnicidade, partindo-se da pergunta, para ele fundamental: a etnicidade era um fim ou era um meio? A criação de grupos étnicos (conforme regras características de formação e diferenciação a serem investigadas) e mobilização deles na luta pelo poder são uma finalidade em si mesma, ou apenas estratégia? Para os participantes da conferência de planejamento, havia um colapso das instituições nas suas respostas às novas tendências sociais, mas, eles divergiam sobre as motivações, mais uma vez, em duas tendências. A vertente de Moynihan, focada na etnicidade como finalidade, encarava a questão como expressão de uma “nova consciência” das sociedades modernas, suscitada pela “crise de autoridade” que lhes acometia. Para ele, uma tendência “regressiva” a ser combatida em nome da sobrevivência das instituições do moderno estado-nação. Na opinião reverberada por Seymour Martin Lipset, entre estas instituições mais ameaçadas estava a “meritocracia”. Para esta tendência do debate, os “direitos grupais” eram uma ameaça aos direitos individuais e a ideais consolidados nestes, como o do mérito como reconhecimento da excelência individual[79]. Já para a vertente representada por Glazer e por Alessandro Silj, a etnicidade era uma estratégia. Um novo instrumento de mobilização que passara a organizar, diante da incapacidade das instituições, além de novas aspirações grupais e comunitárias, as velhas aspirações individuais à integração e à ascensão social[80]. Eram análises quase opostas a respeito da etnicidade: na primeira, via-se nela uma ameaça antimoderna à democracia ocidental; na segunda, uma alternativa à radicalização das esquerdas, fosse ela colorblind, fosse ela, principalmente, de afirmação racial.
A curadoria definiu que a conferência seria centrada no debate de doze papers – os de Harold Isaacs, Talcott Parsons, Andrew Greeley e William McCready, William Petersen, Richard Pipes, François Bourricaud, John A. Porter, Michael Oliver, Jyotirindra Das Gupta, Daniel Bell, Milton Gordon e Milton J. Esman[81]. Os curadores fizeram solicitações de conteúdo aos autores, com incumbências e instruções mais elaboradas especialmente para Richard Pipes e aos membros do “núcleo teórico”[82]. Atendendo aos pedidos feitos, estes compuseram para o evento, ao gosto de Nathan Glazer, um quadro comparativo teste para a tese dos EUA como melhor solução global para esse problema emergente, uma vez que articularia a integração social de populações com parcial manutenção de identidades étnicas[83].
A conferência de outubro de 1972 foi realizada na mansão histórica de Brandegee State, em Boston, como disse Corinne Schelling na relatoria do evento, em cinco sessões – “sobre a noção de identidade”, “autopercepções étnicas e a psicologia social da etnicidade”, “estudos de casos regionais”, “casos de conflito iminente”, e “definição teórica de etnia”, nesta ordem – com debate dos papers encomendados e a recorrente discussão de dois temas transversais: a conceituação de etnia e a investigação do chamado “renascimento étnico”. Michael Oliver, debatendo na primeira sessão os argumentos de Harold Isaacs, apontou como eram circunscritas aos EUA as premissas da discussão, e, de certa maneira, de toda a conferência – algo, aliás, em conformidade com o planejamento do evento. Segundo Oliver, a grande questão de fundo era como administrar e controlar processos de integração, o tema fundamental de Isaacs, nas três frentes de argumentação abertas por ele: na acusação de que “direitos grupais”, etnicamente vinculados, eram uma regressão na história da modernidade; no alerta para uma era de fragmentação populacional, trazendo dilatadas e sobrecarregadas reivindicações de igualdade; no trabalho de rastreio das origens e causas de existência dos grupos, tendo em vista, ao classificar minorias, a previsão de seus movimentos políticos futuros. Para o cientista político canadense, a conferência abordava o potencial e oportunidades de integração, mas, boa parte do mundo preocupava-se, principalmente, com como construir modos adequados de convivência e, paralelamente, em como dividir o poder. Frente aos novos problemas, a tendência nos EUA seria considerar o “renascimento étnico” (não apenas nos EUA) como sintoma de decadência. Para Daniel Bell era o declínio de antigas formas de associação humana, vínculo e organização política; para Isaacs, de formas sociais mais estáveis, prejudicadas pelo novo momento da transformação capitalista[84].
O cientista político indiano Jyotirindra Das Gupta, em razão da singularidade de seu trabalho sobre a política de línguas na Índia, representava um didático contraponto a essa tendência. Contra ele, reconheciam-se bem as perspectivas analíticas conflitantes na conferência: a que considerava a etnicidade uma força dissoluta e a que, avaliando haver na etnicidade um destino, um determinismo, investigava como realizar ou criar-lhe potencialidades integrativas. Das Gupta, autor do Language Conflict and National Development: Group Politics and National Language Policy in India, lançado em 1970, nos EUA, expunha a avaliação destoante, criticada como otimista e exagerada[85], de que a diversidade linguística e étnica era o grande ponto de estabilidade da Índia contemporânea. Para ele, o federalismo nacional indiano era amparado por múltiplas camadas de autonomia linguística e de vinculação étnica, não paralelas, e não unívocas. Cruzadas de maneira móvel, em vários níveis, essas camadas sustentavam uma oscilante, mas estável trama de cooperação civil e de negociação interpopulacional. A etnia, um dos componentes dessa trama, não era considerada por ele uma característica unidimensional, primordial ou profunda. Era, portanto, considerada apenas uma categoria instrumental, empregada pelos grupos no seu acionamento de identificações e de fidelidades socioculturais, muito conforme às circunstâncias do mercado político. Para Gupta, ela não seria mais ameaçadora às condições de integração nacional que outras questões[86].
Diferente de Gupta, os participantes de Ethnicity in Our Time viam na etnicidade uma fonte de desestabilização. Para eles, o moderno Estado-Nação tornava-se centro de acrimoniosas disputas quando deixava de cumprir uma tradicional ambição: enfraquecer e acomodar vínculos étnicos[87]. Os “estudos de caso” apresentados na conferência sinalizavam a multiplicação, sob demandas por autonomia, poder e liberdade, de projetos sobre o estabelecimento de novos “pactos nacionais”. Propostas que exigiam modificação em acordos, alianças e direitos, para que as populações pudessem vincular-se de maneiras novas às “identidades nacionais” de seus países[88]. Os especialistas que apontavam o caráter dissoluto da etnicidade, como o sociólogo John A. Porter, acusavam essas propostas de “repactuação nacional” de serem um risco à defesa dos direitos humanos, bem como à presunção de “mérito”. Essas propostas contrariariam formulações clássicas sobre igualdade e direitos do liberalismo democrático, porque, para Porter, a intrusão da etnicidade conflitava com a anterioridade e superioridade dos direitos individuais. Para ele, por relação de intrínseca dependência, também eram prejudicadas as normas-guia sobre o sentido da justiça, da representação política e das ambições de excelência individual. Afora isso, para Porter, além da posição, inevitável, da etnia como natural marcador e foco de luta de classes em sociedades de migração e escravização de massa, como as americanas, o lugar tolerável para a etnia era a proteção contra uma forma contemporânea de desintegração social: a estimulada pela tecnologia e pelo domínio da burocracia[89].
Se John A. Porter destacava os males do “renascimento étnico”, Lucien Pye destacava causas e usos. Pye, na sessão sobre “casos de conflito iminente”, dedicada especialmente à questão francófona do Canadá, disse que essa tensão sobre o estado-nação vinha sendo exercida por uma troca de foco: grupos minoritários deixavam a questão da discriminação, ou seja, o debate sobre integração, para se concentrarem na questão do poder (sua partilha, seu exercício), e a etnia se tornara o suporte dessas lutas emergentes[90].
Daniel Bell fez na sessão final da conferência, dedicada à definição teórica de etnia, a síntese dos argumentos do evento. Desse esforço, como veremos, ele tirará também lições de como intervir para redefinir, em desempenho elogiado na Fundação Ford[91], a questão étnico-racial no debate público. Bell, frente às perguntas da conferência sobre definição do fenômeno e as motivações e destino do “renascimento étnico”, disse que na sua forma contemporânea a etnia estava ligada à submersão da classe. Ela se perdia como princípio de ação e organização, ao mesmo tempo em que o florescimento cultural pós-colonial estimulava, entre outras consequências, um certo impulso territorial dessas novas populações. A submersão da classe deslocaria paixões públicas e também fortes afetos privados para a etnia, porque, para o sociólogo, ela por princípio seria uma modalidade de vínculo humano de aguda imbricação entre determinantes psicológicos e sociológicos. Na lógica “étnica”, a formação de grupos demandava que o pertencimento, a filiação, se dessem sob forte identidade psíquica. Se a etnia se tornara um novo lócus do conflito social, essa tendência, para Bell, expressava uma racionalidade. A etnia vinha se apresentando um meio superior de luta coletiva e de expressão dos conflitos sociais, em uma era de escalada no aprofundamento de regras de mérito técnico restringindo o acesso individual à sociedade e ao mundo da cidadania[92]. Além do mais, estes grupos se expressariam com desenvoltura nas lutas da chamada “política de status”. Ou seja, não eram insurrecionais. Politicamente, trabalhavam de maneira profissional com os mecanismos competitivos e institucionais, para disputar acesso a recursos materiais e de poder, tendo em vista reposicionar seu próprio grupo na estratificação social[93].
Daniel Bell formulava essas observações contra as premissas biopsíquicas da teoria étnica de Milton Gordon[94]. Por isso mesmo, Bell esteve mais próximo de uma definição sociológica de etnia como a de Talcott Parsons[95] na sua busca por unir duas expectativas pessoais, finalmente fechada na contribuição para o livro-coletânea do evento, Ethnicity: Theory and Experience, em 1975. Ele desejava fazer uma defesa da noção liberal de mérito individual que, concomitantemente, circunscrevesse a etnicidade para nela basear o refortalecimento das fontes abaladas da autoridade e da estabilidade social. Embora visasse objetivos semelhantes aos de Bell, a perspectiva de disputa da questão étnica do sociólogo não ocupou muito o interesse dos participantes da conferência. A maioria lamentava um cenário fatalista em que, especialmente na periferia do mundo ocidental, haveria progressiva animosidade porque a modernização exacerbaria o conflito étnico, por gerar desagregação ao mesmo tempo em que suscitava também a diversificação social[96].
Daniel Bell recusava essa tese[97], mas, não o temor que houvesse uma captura do problema por respostas que ele execrava como “populistas”, como disse na edição de outono de 1972, de Public Interest. Para Bell, estava em curso uma ofensiva contra a tradição igualitária liberal. Contra as suas duas principais encarnações estadunidenses, a promoção de oportunidades universais e a luta antidiscriminatória, vinha sendo proposta a agenda da “igualdade de realização”, para ele, um anátema do ideal sonhado pelos founding fathers da nação. O principal instrumento dessa agenda seriam as cotas raciais, com as quais se postulava, segundo Bell, algo diferente do proposto por Thomas Jefferson (1743-1826), que imaginara uma sociedade ancorada no mérito. Para Jefferson, sobre o mérito seria erigida uma “sociedade de credenciais”, educacionais, vocacionais, de inteligência, na qual os mais aptos sobressairiam, de forma estritamente individual, sem relação com atributos de origem. As habilitações de status e de poder, conferidas aos mais aptos, ensejariam a formação de uma “aristocracia natural”, não por nascimento. Para Bell, as cotas raciais, enquanto veículo de normas e objetivos de representação social e política novos, visando assegurar níveis ideais de renda, status e poder para os grupos, sacrificavam o princípio de mérito individual, e, ao fazê-lo, alimentavam ressentimentos, instabilidade e polarização nos conflitos distributivos das minorias[98]. A essa reprovação ele acrescentava a previsão de um futuro conflituoso ainda por outro motivo: dizia que a questão central na “luta de classes” do futuro seria a disputa sobre como produzir, cotar e alocar o valor do “capital humano”. Atividades proletárias convencionais se oporiam às gerenciais, de criação e controle, projetando-se principalmente sobre “linhas de cor” existentes, aprofundando racialmente a desigualdade das sociedades, e entre centro e periferia globais[99]. Para o sociólogo, o prospecto pedia a iniciativa urgente de alguma solução de estabilização social (depois, imaginada por ele, parcialmente, através da etnicidade).
Para a Fundação Ford, tais questões interessavam na medida em que inspiravam modos de intervenção no debate racial e no combate às estratégias de oposição racial e política do Poder Negro. Este estava entre os propósitos mais relevantes entre os objetivos da sua “Força-Tarefa Raça e Etnicidade”, iniciada em dezembro de 1972[100], momento em que Daniel Patrick Moynihan, em janeiro de 1973, deixava a Universidade Harvard para assumir a embaixada dos EUA na Índia[101]. Esse período, até janeiro de 1975, quando Moynihan foi embaixador, foi marcado pelo impacto que o desenvolvimento dessa força-tarefa teve no futuro do projeto Ethnicity in Our Time. Sob demorada negociação com supervisores da Fundação Ford, e a aberta oposição da seção de European and International Affairs (EIA), o projeto recuou progressivamente de sua grandiosa programação e orçamento iniciais, de seis conferências e seis livros previstos[102], até culminar, em setembro de 1975, na renúncia de Moynihan e Nathan Glazer como curadores[103]. Então, já estavam definidas, após a publicação de Ethnicity: Theory and Experience em janeiro daquele ano, além de diferenças pessoais, certos distanciamentos da perspectiva em construção na Fundação Ford.
Criada sob um forte viés de mudança, a pretensão da “Força-Tarefa Raça e Etnicidade” era estabelecer critérios de financiamento temático, juntamente com outras nove forças-tarefa simultâneas[104]. Essas forças-tarefa foram coordenadas para fundamentar a construção da nova divisão de “Política Pública e Organização Social”, a ser especializada em trabalho de pesquisa básica, e para oferecer elementos à formulação do orçamento do ano fiscal de 1974-1975[105] em um momento de sensíveis cortes financeiros e de reorganização das políticas de fomento da Fundação Ford[106].
A direção de criação dessa nova divisão caberia a Fred M. Bohen, um assessor especial de McGeorge Bundy, ex-assessor (1966-1969) para políticas domésticas de Lyndon B. Johnson. Ele comandaria um orçamento inaugural de 2,5 milhões de dólares[107] destinado à realização das forças-tarefa[108], ao investimento em recrutamento de talentos e à consolidação de centros especializados em pesquisa básica não aplicada. Bohen, porém, afasta-se para concorrer ao Congresso pelo Partido Democrata. O próprio Bundy e um comitê interdepartamental, com o forte peso de Peter de Janosi, chefe da seção High Education and Research da Divisão de Educação e Pesquisa, assumem as funções de coordenação[109], a partir da qual indicam Basil Whiting para a direção da Força-Tarefa Raça e Etnicidade[110]. Whiting orientou os trabalhos até junho de 1974[111]. Ele empregou consultores para rastrear a produção especializada de pesquisa básica e teórica dos principais organismos internacionais e agências e departamentos do governo federal dos EUA. Além disso, também fez grande consulta, através de entrevistas de mais de 100 lideranças de área, e a realização de 15 grandes conferências temáticas, as opiniões e propostas de mais de 200 acadêmicos especialistas, a maioria cientistas sociais[112]. Nessa consulta, investigavam-se prioridades para a implantação de um programa de financiamento de pesquisa em política pública centrado nos EUA e em suas instituições, orientado à fundação, nesse campo, de uma perspectiva internacional comparada[113].
Shirley Tepper era assistente de programas do gabinete da Divisão Doméstica e desempenhou as principais funções executivas desse enorme trabalho de pesquisa, em particular sua relatoria geral, a pesquisa em organismos internacionais e em instituições do país e exterior e a coordenação das conferências e entrevistas com especialistas[114]. Sua relatoria indicava que o diagnóstico dos abordados nessa consulta sobre as motivações para o “renascimento étnico” era próximo do realizado pela curadoria e maioria dos participantes de Ethnicity in Our Time. Porém, grande parte desses cientistas sociais, estadunidenses e estrangeiros, mostrou distanciamento do grupo da AAAS nas propostas de intervenção.
Os consultados da força-tarefa, assim, apontariam igualmente a importância de dois eventos ligeiramente interagentes entre si, transformadores e, segundo uma opinião difundida, principalmente desestabilizadores: a descolonização, e a revolução tecnológica do capitalismo avançado, com sua nova “sociedade de massas”. O primeiro evento teria motivado uma tendência de questionamento e rejeição à autoridade estatal, à estrutura de estratificação das sociedades e um impulso por autonomia grupal e consolidação identitária. O segundo evento, em particular nos EUA, teria aprofundado a padronização, fragmentação e alienação sociais, com o enfraquecimento de formas de associação antes consideradas bem estabelecidas, como as de classe, ocupacionais e de religião. Esse “declínio da vida social”, segundo essa opinião, apontaria para a criação de um ambiente no qual floresceria um movimento de etnicização da população via forte politização, marcado pela busca por elementos sociopsíquicos de estabilidade. Em suma, por proteção em meio a transformações massivas e aceleradas[115]. Da mesma forma, os consultados da força-tarefa sustentaram igual interesse na investigação de origens e motivações primordiais não estritamente biológicas do laço social, a busca por um denominador lógico universal ou “inconsciente coletivo”, do qual pudessem ser definidos, também em termos das origens humanas, o nascimento da violência e do preconceito e formas de combate mais profundas. Considerava-se poder, assim, verificar o limiar a partir do qual uma forte consciência e organização grupal deixavam de ser salutares, comunitariamente e para a vida política, para se tornarem, por exemplo, “neofascistas”[116].
Por isso, um dos itens da agenda de trabalho sugeridos nesse levantamento de Shirley Tepper era a investigação da natureza, e condicionantes sociobiopsíquicas dos vínculos humanos[117]. Entre as demais sugestões, destacavam-se a renovação dos estudos de estratificação social. Pesquisas sobre a representação dos grupos no mercado de trabalho, segundo suas condições de acesso, bloqueio e liderança profissional, e a promoção de um grande inventário da diversidade estadunidense, especialmente com a abertura de duas frentes: de um lado, a da história étnica da classe trabalhadora dos EUA, com destaque para suas experiências de imigração, composição e formas de integração habitacional e de acesso a emprego; de outro, uma história e etnografia dos grupos WASPs dominantes. Tais sugestões incluíam uma política de recursos humanos: o recrutamento de profissionais de todos grupos sociais, especialmente os minoritários, de modo a obter melhores visões “nativas” ou para minimizar perspectivas etnocêntricas[118].
Shirley Tepper e Basil Whiting mostraram-se bastante próximos das observações do sociólogo Richard Kolm, circuladas, entre os membros da Força-Tarefa Raça e Etnicidade, através de um alentado relatório deste, de revisão da literatura étnico-racial anglo-europeia. Polonês radicado nos EUA, e professor da Catholic University of America, Kolm, em 1971, escreveu sob encomenda do National Institute of Mental Health[119] uma avaliação do chamado “renascimento étnico” e de suas implicações para a sociedade estadunidense[120]. O diagnóstico de Tepper, apoiado na avaliação dos especialistas consultados – Kolm entre eles, dava os EUA como lugar de imensa diversidade, desperdiçada, porém, pela padronização na cultura de massas e pela experiência nacional da transformação permanente de etnias em novas raças[121]. Para Kolm, a solução contra a confrontação “brancos x negros”, longe do melting pot – da assimilação à americanidade WASP, estava no estabelecimento de um pluralismo étnico, capaz de orientar esses conflitos de sua forma padrão, isto é, de movimentos de oposição ou guerra racial, para a busca por uma afirmação grupal, dada no interior de uma sociedade com diversidade étnica branca. Para o sociólogo, tornados legítimos os direitos a toda a diversidade estadunidense, seria possível dissolver os conflitos raciais na defesa do direito à diferença[122], reorientação da qual Whiting vislumbrava o surgimento de um discurso de moderação e conciliação chamado de “novo pluralismo”. Nele, poderia estar o meio para refazer os vínculos pátrios da sociedade em um novo pacto cívico e cultural. Segundo Whiting, fechando a fratura aberta com a emergência do Poder Negro e o domínio temerário, por este impulsionada, de uma política de oposição global, negros versus brancos, minorias versus maiorias[123].
McGeorge Bundy, falando em julho de 1973 do planejamento orçamentário de longo prazo[124], indicava que apesar de cortes previstos seria mantida a escala planetária de atuação e a prioridade para a questão racial no país e exterior. Prioridade conferida em razão do peso dessa velha questão, que a Força-Tarefa Raça e Etnicidade, segundo ele, ajudaria a reavaliar: o dano que questões étnico-raciais domésticas faziam à sustentação do poder internacional dos EUA – tão moldado na credibilidade de sua democracia, e em seus valores de liberdade e igualdade de oportunidades. Ele apontava responsabilidades da Divisão Doméstica, falha na identificação e ação contra “atitudes brancas” com relação à raça nos Estados Unidos, muito embora fosse expressivo o histórico da Fundação Ford, inclusive, comparada às agências do governo federal.
No inventário promovido pela força-tarefa, mensurou-se que apenas de 1959 à 1972 a FF apoiou cerca de mil propostas nas áreas de raça e etnicidade[125]. Conforme levantamento interno da Divisão de Educação e Pesquisa da Fundação, a maioria dessas propostas foi realizada pelo seu Fund for the Advancement of Education, órgão atuante entre 1951 e 1969. Esse fundo teria sido sucedido, principalmente, pelas atividades da seção de High Education and Research, que se especializara no suporte a programas de pós-graduação, na concessão de bolsas nas áreas de ciência política, história, economia e negócios, e na promoção do ensino de “inglês padrão” a negros e imigrantes, através do apoio às áreas de linguística e de ensino de línguas[126]. Comparativamente, o governo dos EUA vinha investindo pouco em pesquisa básica ou de nível acadêmico. Embora houvesse qualidade, avaliavam os consultores da força-tarefa, na programação e julgamento de suas principais políticas, em particular, a aplicação da Lei de Direitos Civis na forma de “ações afirmativas” e de medidas de dessegregação habitacional e escolar[127]. Cada frente, porém, guiada por fortes e discrepantes orientações analíticas. Enquanto caía o interesse público na dessegregação nos anos 1970, e concluíra-se, no governo, que a integração era operacional somente entre grupos sólidos de mesmo nível cultural, de renda e status; sabia-se, no entanto, que negros (e mulheres) eram empregados nas piores ofertas de trabalho, mesmo em áreas em expansão, exceto quando havia legislação ou contratos federais exigindo cotas de emprego e contratação igualitária[128].
Na Fundação Ford, o conselho de curadores decidiu, em junho de 1974, informado pelo trabalho das dez forças-tarefa criadas em 1972, que seria estabelecido um comitê especial de “Política Pública e Organização Social”, e não uma nova divisão. E que não seria criada uma área especial para abrigar a política de fomento a questões étnico-raciais[129]. Entretanto, foram ajustados os objetivos de financiamento. Estes, por exemplo, definiram a interrupção do apoio à Ethnicity in Our Time[130]. Doravante, haveria preferência por “responsáveis pesquisas de intervenção”[131], cujo modelo, na história de fomento, era uma think tank de Londres, o Institute of Race Relations (IRR). Criado em 1950 e de 1960 a 1972 apoiado pela Fundação, o IRR era considerado exemplar: por sua equilibrada articulação de pesquisas de nível acadêmico e consultoria de propostas de intervenção para mercado e governos; e por seus valores – a promoção do desenvolvimento econômico, da modernização social e da paz internacional, amparada em defesa de direitos humanos e na conciliação racial[132]. Além dessas exigências institucionais, reconhecia-se na FF o que vinha sendo sugerido em fóruns especializados – como o estadunidense Social Science Research Council (SSRC). Na expressão do antropólogo da Universidade de Chicago, Robert A. Levine, era preciso avançar rumo a uma “sociologia comparada da mudança étnica”. Tal movimento pediria um esforço transdisciplinar e algumas interações temáticas. Apostava-se que uma atualização conceitual surgiria da combinação do estudo das “estruturas e sistemas de interação”, típico da ciência política, psicologia social, sociologia política e história social, com o estudo dos “sistemas simbólicos e de sentido”, típico especialmente da antropologia. Com essa articulação, pressupunha-se, a definição estrita de etnia, baseada em origem demográfica e tradição comum, seria requalificada[133].
Desde a conferência da AAAS de outubro de 1972 até a lenta reavaliação de dois anos, que influiu na opinião sobre o futuro do patrocínio temático da Força-Tarefa Raça e Etnicidade, Ethnicity in Our Time acumulou avaliações negativas na seção de Social Development e, as mais taxativas, na European and Internacional Affairs, reproduzidas nos pareceres anônimos, contratados pela Fundação Ford no final de 1974. Para o antropólogo Richard G. Fox, da Universidade Duke e os cientistas políticos Ira Katznelson, da Universidade de Chicago e Charles Hamilton (este, coautor com Stokely Carmichael do inaugural Black Power: The Politics of Liberation, de 1967), da Universidade de Columbia[134], o projeto de Moynihan e Glazer, além de caro, propunha perspectiva comparada internacional inconsistente. Ignoraria bibliografia relevante e publicações recentes, além de propor equipe sem “minorias”, sem pesquisadores promissores e emergentes, mas, sim, com velhos conhecidos, unidos por seu compromisso ideológico, centrista ou conservador[135]. Embora a Divisão Doméstica da Fundação Ford, ao contrário da internacional, pudesse se satisfazer com uma perspectiva centrada nos EUA dotada de alguns pontos de comparação externos, o problema, nos julgamentos negativos de pareceristas e de funcionários da FF (em comum, vinham de europeus ou jovens estadunidenses), era tudo parecer “velho”. Nathan Glazer dizia que a bibliografia relevante, étnica ou sobre negros, apesar da novidade colocada pelos black studies de fim dos anos 1960, ainda estava apoiada nos anos 1930 e 1940, enfim, nas sínteses de Gunnar Myrdal, opinião não alterada substantivamente, mesmo sob questionamento dos pareceres[136].
Mesmo com críticas de limitação executiva e de saber internacional incipiente, o Ethnicity in Our Time estava próximo de um tema básico das preocupações da Fundação Ford: o impacto da política doméstica estadunidense nas relações internacionais. Como Nathan Glazer destacou em fevereiro de 1975, em conhecido fórum liberal anglo-americano, a revista londrina de cultura e política Encounter, a “militância negra” dos EUA tornara-se influência global, e europeus e descendentes poderiam se tornar potenciais inimigos, onde quer que estivessem. O Poder Negro era uma fonte de tensão também fora do país. O desafio feito contra a “lealdade à América”, sustentado por este movimento, em suas vertentes, ora em nacionalismo afro-americano, ora em alianças étnico-raciais maiores, vinha sendo replicado como modelo, e, avaliava-se, gerava tensões internacionalmente. Também haveria no horizonte a influência dessa atuação negra na reconfiguração da “luta de classes”; sua dinâmica poderia se tornar mais perigosa se cruzada com o conflito étnico. Para Glazer, a ameaça estaria em faltar à etnicidade, do ponto de vista político, plena “racionalidade” [137]. Moynihan concordava, apontando que esse debate negro dos EUA se internacionalizaria na abordagem aos conflitos distributivos e nas preocupações com redistribuição de riqueza[138]. Entretanto, supõe-se da nova introdução de Beyond the Melting Pot, publicada em 1970 por Glazer e Moynihan, que não temiam a etnicidade. Contra ideais assimilacionistas ou sonhos integracionistas, ambos, aliás, viam nela a base da formação e tradições nacionais. O que temiam verdadeiramente, e buscavam transformar, era o “antagonismo”. Para eles, a raça, na atuação dos “radicais negros”, gerava oposição e expectativas de ruptura. Com a etnicização da população, por efeito da expansão da diversidade demográfica oficialmente reconhecida, haveria especialização de controles e de práticas de governo, segundo o segmento populacional. O que deveria inspirar moderação e estabilidade, especialmente para negros. Seria dissolvida sua condição minoritária única e, apostava-se, o seu apelo de grandes antagonistas da América[139].
Na divulgação de Ethnicity: Theory and Experience, que Nathan Glazer fez na edição de outubro de 1974de Commentary, apresentando uma introdução ao livro depois lançado em janeiro de 1975[140], o sociólogo abordava outro tema decisivo nessa reflexão sobre proteção de valores e de instituições que o “antagonismo”, especialmente o negro, estaria promovendo desde meados dos anos 1960. Glazer recuperava um tema também presente na edição de 1970 de Beyond the Melting Pot: a defesa das virtudes cívicas do trabalho, que, dizia ele, invocando Alexis de Tocqueville[141], era uma obrigação moral superior, anterior à expectativa de quaisquer direitos sociais. Daí, para Glazer, o problema das “cotas raciais”; segundo ele, uma anomalia moral: sua operação dissociaria a avaliação do mérito individual da circunscrita e individualizada mensuração do trabalho. Haveria uma desconsideração por aquilo que deveria ser norma moral na valoração da dignidade pessoal, e essa indiferença, dizia ele, era motivada pela negação do papel desempenhado pelo trabalho no dinamismo das sociedades, neste particular, na construção de seus “conflitos distributivos”. Para Glazer, o trabalho era determinante na formação das desigualdades, uma vez que, para ele, estas eram impactadas por certas disparidades, por desequilíbrios competitivos e adaptativos[142]. Razão porque, assim como Daniel Bell, na contribuição deste para Ethnicity: Theory and Experience, Glazer defendia, na solução dos “antagonismos” das desigualdades sociais, não haver necessidade de “políticas distributivas”, mas, digamos, de plena competitividade. Bell, como Glazer, tinha aversão a políticas redistributivas, execrando a busca, a ambição da “igualdade de resultados”. Para Bell, a busca por essa forma de igualdade, não por oportunidades iguais, era instabilizadora. Gerava um debate agonístico, ou seja, um conflito permanente, centrado no sentido da igualdade, uma vez que lhe faltaria um solo, um seguro patamar moral, um princípio ontológico de justiça, que, para ele, era fornecido pela “meritocracia”[143].
Por isso, Daniel Bell via com bons olhos a “agitação étnica”, que, segundo ele, vinha sendo diferente da “estudantil” e da “racial”. Embora aliadas frente ao poder e tradicionalidade WASP, a agitação racial e a estudantil se pretenderiam subversivas em relação às instituições e fontes de autoridade, enquanto a étnica se posicionaria em seu interior, disputando-a com um objetivo preponderante – reposicionar seu grupo na grade de estratificação social. Normas de mérito individual e expectativas de ascensão social e livre competição seriam relevantes, porém, guiadas não por objetivos de classe, mas de “status”. Espécie de raça colorblind, a etnia e sua mobilização poderiam ser disputadas contra a erosão da autoridade e, esvaziada de antagonismo, subordinadas a metas de estabilidade social[144].
Essa etapa de investimento da Fundação Ford, nas competências da “velha máfia da sociologia americana” para a avaliação da questão étnica, se encerrou com a publicação de Ethnicity: Theory and Experience[145]. A Fundação, para estabelecer nova posição para o que via ser uma frágil e abalada política de centro, buscava elementos intelectuais para equilibrar duas tendências adversárias da sociedade estadunidense: a afirmação étnico-racial da Middle America, decisivo novo objeto de disputa entre Republicanos e Democratas, e a defesa do uso extensivo e legítimo de cotas para “minorias”[146]. Da posição neoconservadora, dominante no grupo da AAAS, vinham diagnósticos bem aceitos sobre problemáticas de origem do “renascimento étnico” e forte sustentação moral para o trabalho antissubverssivo de defesa e reconstrução das instituições colapsadas nos anos 1960. Porém, lhes faltaria o novo saber[147], requisitado para deslocar a política da oposição racial e de classe rumo a uma política de concórdia étnica, na qual a etnicidade seria disputada para a construção de um novo pluralismo democrático. A aprovação do comitê especial de Política Pública e Organização Social, em junho de 1974, já sinalizava: esse saber viria da geração de pesquisa básica e teórica, com renovação de quadros e competências técnicas.
Em 1982, quando a EIA é extinta e o poder de investimentos na área em que Ethnicity in Our Time foi apoiado é transferido para a nova divisão de Human Rights and Governance[148], concluía-se o processo que durou a segunda metade dos anos 1970. A partir de então, a busca seria por dar novo ajustamento aos emergentes problemas étnico-raciais, especialmente frente preocupações da Fundação Ford com seu tripé de metas da modernização capitalista, segurança política e estabilidade social. A arena de disputa, doravante, seria a dos “direitos humanos”[149].
[1] Esta pesquisa contou com o suporte de uma bolsa de pós-doutorado do programa PNPD/Capes. Agradeço a Ozias Paese Neves pela leitura atenta de uma versão prévia deste texto. Revisão final de Maria Cristina Prado Fleury Magalhães.
[2] No original: (…) it’s possible, even probable, that further black progress will depend to some significant extent on a pluralistic strategy. Black assertion won important victories in the Sixties but at a cost of emphasizing the black/white dichotomy within much of the society. Now and in at least the near term future the question is whether minorities are likely to progress faster under circumstances where public and intellectual discourse is framed in terms of a black/white or minority/majority dichotomy – or when such discourse is in terms of diversity and pluralism, within which allies to causes benefitting minorities better be found or maintained and the legitimacy of their claims on the national conscience continued or re-established. This latter course means a strategy of “fuzzing the dichotomy” by paying attention to the cultural diversity within (as well as between) the white majority and racial minorities. This will result in part in a reduction in the salience of race as an issue (to the dismay of some black leaders – and the applause of others). In: Relatório “The New Pluralistic Context”, de Basil J. Whiting Jr, sem data, p. 14-15. In: Rockefeller Archive Center (RAC). Ford Foundation Records. Reports. Report nº. 2329.
[3] Carta de 29 de novembro de 1971 de Daniel P. Moynihan para Harold Isaacs, com cópia para John Voss. In: Archives of the American Academy of Arts & Sciences (AMACAD). RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[4] Memorando interno de 6 de julho de 1972, de Alessandro Silj para membros da EIA e para Shirley Tepper. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[5] Carta convite da AAAS de 12 de julho de 1971, de Nathan Glazer e Daniel Patrick Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[6] Carta da secretaria da Fundação Ford de 13 de abril de 1972, para Harvey Brooks, presidente da AAAS. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[7] Carta de 3 de janeiro de 1972, de Corinne Schelling para Harvey Brooks. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[8] Carta de 16 de janeiro de 1970, de Corinne Schelling para Robert Wood. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[9] Vide: BELL, Daniel. “The Cultural Contradictions of Capitalism”. In: The Journal of Aesthetic Education, v. 6, nº. 1/2, 1972, p. 11.
[10] Carta de 16 de janeiro de 1970, de Corinne Schelling para Robert Wood. Op., cit.
[11] Memorando interno de 6 de julho de 1972, de Alessandro Silj para membros da EIA e para Shirley Tepper. Op., cit. O projeto reprovado por Daniel Bell, em linhas gerais, tinha as mesmas premissas e argumentação do projeto ao qual ele se vinculou na AAAS.
[12] Um sucesso editorial traduzido em dezenas de línguas, publicado no Brasil em 1967 pela editora Zahar. O livro continha sua famosa tese de que havia uma relação direta de causalidade entre a modernização econômica capitalista e o desenvolvimento político da democracia.
[13] Guinada à direita dada por segmentos liberais do Partido Democrata em fins dos anos 1960 que receberia de críticos e opositores o nome de neoconservadorismo. Vide: EHRMAN, John. “Commentary”, the “Public Interest”, and the Problem of Jewish Conservatism. In: American Jewish History, v. 87, nº. 2/3, 1999.
[14] Estes eventos da AAAS foram verdadeiros acontecimentos acadêmicos da década, gerando, além de coletâneas publicadas em livro, três edições especiais da revista Daedalus. A Conference on the Negro American, antecedida por um seminário preparatório em 1964, e suporte da Carnegie Corporation, reuniu, com a exclusão de intelectuais comunistas, a maioria dos principais especialistas em questões raciais e negras dos EUA. A Conference on Race and Color, com suporte da Fundação Ford e do Congress for Cultural Freedom (CCF), uma frente secreta da Agência Central de Inteligência (CIA), faria o mesmo congregando especialistas em temáticas raciais de todo o mundo não comunista em Copenhague, na Dinamarca. Para mais detalhes sobre a Conference on the Negro American: GEARY, Daniel. Racial Liberalism, the Moynihan Report & the “Dædalus” Project on “The Negro American”. In: Daedalus, v. 140, nº. 1, 2011. Para a Conference on Race and Color: CHAVES, Wanderson. A questão Negra: a Fundação Ford e a Guerra Fria (1950-1970). Curitiba: Appris, 2019, p. 173-197.
[15] Carta de 16 de dezembro de 1969 do diretor-executivo da AAAS, John Voos, para Orville Brim, presidente da Russel Sage Foundation. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[16] Informações de: PARSONS, Talcott. Preface. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), with de assistance of Corinne Saposs Schelling. On Understanding Poverty: Perspectives from the Social Sciences. New York / London, Basic Books, 1968.
[17] Avaliação de: GEARY, Daniel. Op., cit., p. 63-4.
[18] Para detalhes do desenvolvimento dessa tese, a chamada Doutrina Moynihan, ver: CHAVES, Wanderson. Op., cit., p. 197-208.
[19] Para os debates de época sobre as ideias de Moynihan quanto à intervenção na família negra, bem como para a fortuna crítica desse debate, ver: GEARY, Daniel. Beyond Civil Rights: The Moynihan Report and Its Legacy. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2015, especialmente cap. 4, “The Death of White Sociology”.
[20] Este era o tema dominante dos seminários sobre raça e pobreza da AAAS, como se pode verificar no volume organizado por James L. Sundquist, da Brookings Institution, e no tom explícito empregado por Moynihan, por exemplo, no seu artigo de divulgação publicado na Commentary de agosto de 1968. Vide: SUNDQUIST, James L.(ed.). On Fighting Poverty: Perspective from Experience. New York / London, Basic Books, 1969. MOYNIHAN, Daniel P. The Professors and the Poor. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.). On Understanding Poverty. Op., cit.
[21] Nunca houve esse diálogo, mas houve mútuas provocações em textos literários, e reclamações confessadas a terceiros, das quais se soube que Hemingway zombava da visão deslumbrada de Fitzgerald sobre a personalidade de pessoas ricas, que, para Hemingway, além do dinheiro, não eram providas de nada específico. Vide: “The rich are different” … The real story behind the famed “exchange” between F. Scott Fitzgerald and Ernest Hemingway. July 12, 2020. In: http://www.quotecounterquote.com/2009/11/rich-are-different-famous-quote.html, acessado em 11/10/2023.
[22] MOYNIHAN, Daniel P. The Professors and the Poor. Op., cit., p. 23.
[23] Uma exposição bastante franca dessa posição é dada pelo antropólogo, músico de jazz, professor de Harvard, à época também membro do Joint Center for Urban Studies, Walter B. Miller: The Elimination of the American Lower Class as National Policy: A Critique of the Ideology of the Poverty Movement of the 1960s. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), On Understanding Poverty. Op., cit.
[24] O economista da Universidade Brandeis, Gerald Rosenthal, e os sociólogos da Universidade Johns Hopkins,Zahava D. Blum e o ex-diretor do National Opinion Research Center da Universidade de Chicago, Peter H. Rossi, apresentaram ótimas sínteses para essa posição. Vide: ROSSI, Peter and BLUM, Zahava D. Class, Status and Poverty. ROSENTHAL, Gerald. Identifying the Poor: Economic Measures of Poverty. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), On Understanding Poverty. Op., cit.
[25] Quem melhor caracterizou essa avaliação comum foi o professor da Universidade de Wisconsin, ex-integrante (1965-1966) da divisão de planejamento e pesquisa do órgão coração do War on Poverty, o Office of Economic Opportunity, o economista Harold Watts. Vide: An Economic Definition of Poverty. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), On Understanding Poverty. Op., cit.
[26] Vide, para esse lugar-comum argumentativo: ROSSI, Peter and BLUM, Zahava D. Class, Status and Poverty. Op., cit.
[27] “Moderadamente restritiva e fundamentalmente segregacionista”: esta era a avaliação da sociedade estadunidense do psicólogo social do Boston College, Marc Fried, que partia de uma abrangente perspectiva da história dos Estados Unidos, através de sua formação sobre grandes movimentos internos e externos de migração de massa. Malgrado fossem formuladas ponderações críticas desse tipo, até o divergente sociólogo Lee Rainwater, da Washington University, que propunha em On Understanding Poverty formas mais agudas de reforma social, tomava por premissa essa visão compartilhada, de uma natureza integrativa e funcional dos EUA. Vide: RAINWATER, Lee. The Problem of Lower-Class Culture and Poverty-War Strategy. FRIED, Marc. Deprivation and Migration: Dilemmas of Causal Interpretations. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), On Understanding Poverty. Op., cit.
[28] Vide, respectivamente, as análises de Walter B. Miller e de Gerald Rosenthal. In: MOYNIHAN, Daniel P (ed.), On Understanding Poverty. Op., cit.
[29] MOYNIHAN, Daniel P. “Prefácio”, “Por uma política urbana nacional” e “A metrópole em chassi”. In: MOYNIHAN, Daniel P (org.). O desafio urbano: as metrópoles analisadas por peritos em assuntos urbanos. Tradução de Edilson Alckmin Cunha. São Paulo: Cultrix, 1972.
[30] Projeto de Nathan Glazer de novembro de 1969. “Proposal for conference and subsequent publication on recrudescence of ethnic identifications – its meanings and potential policy responses”. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[31] GLAZER, Nathan. Dilemas de política habitacional. In: MOYNIHAN, Daniel P (org.). O desafio urbano. Op., cit. O principal tema deste artigo é a segregação habitacional e a qualidade e quantidade de habitações disponíveis nos “guetos” dos EUA.
[32] Projeto de 15 de dezembro de 1969, de [Seymour] Martin Lipset e Nathan Glazer. “Proposal for conferences and subsequent publication on the revival of ethnic identities and conflicts, analysing causes, extent, and significance of current developments and implications for national policies”. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[33] Cf.: carta de 8 de novembro de 1971, de Corinne Schelling para Nathan Glazer. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[34] O economista Thomas Schelling era então professor da Escola John F. Kennedy de Governo, da Universidade Harvard. Foi laureado em 2005 com o prêmio Nobel de Economia.
[35] Para o planejamento do jantar, vide: carta de 4 de maio de 1971, de Corinne Schelling para Daniel P. Moynihan. Para a realização de um desses seminários de curta duração, ver: carta-convite de 12 de julho de 1971, de Nathan Glazer e Daniel P. Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[36] Carta de 11 de agosto de 1971, de Pat M. [Daniel Patrick Moynihan] para Corinne [Schelling]. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[37] Seu chefe imediato era o embaixador dos EUA na ONU, o futuro presidente (1989-1993) George H.W. Bush.
[38] Carta de 23 de julho de 1971, de Corinne Schelling para Daniel P. Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[39] Carta de 21 de janeiro de 1972, de Daniel P. Moynihan para Francis Sutton. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[40] O equivalente a 22.372 dólares em valores de 2023. Cf.: https://www.dollartimes.com/, acesso em 17 de outubro de 2023.
[41] Esboço de memorando, sem data, de John Voss para o Research Funds Committee. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[42] Carta de 3 de janeiro de 1972, de Corinne Schelling para Harvey Brooks. Op., cit.
[43] Carta de 21 de janeiro de 1972, de Daniel P. Moynihan para Francis Sutton. Op., cit.
[44] Carta de 12 de julho de 1971, de Everett C. Hughes para Corinne S. Schelling. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[45] Para Berghe, o fenômeno étnico era “subjetivo” e “residual” nos EUA, e as pretensões do “nacionalismo negro”, extemporâneas frente o anglicismo cultural dominante. Ele também reprovava as cotas raciais. Para ele, um modo de administrar as condições de desigualdade, reforçando-se ressentimentos e racismo. Além disso, ele reprovava o deslocamento negro, da busca por igualdade, para a luta pelo poder. Para Berghe, o foco negro deveria ser a dessegregação do emprego e da habitação. BERGHE, Pierre L. Van Den. The Benign Quota: Panacea or Pandora’s Box. In: The American Sociologist, v. 6, Supplementary Issue, Jun., 1971.
[46] Essa era, de forma aproximada, a perspectiva geral dos curadores do projeto.
[47] Carta de 29 de setembro de 1971, de Corinne Schelling para Nathan Glazer. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[48] “Group Identity and Political Change: The Houses of Mumbi”, de Harold R. Isaacs, versão de 1º de Agosto de 1971. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports. Anexo do Report nº. 6649. Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers.
[49] Idem, ibidem.
[50] Greeley era um prolífico especialista em temas de teologia e de sociologia urbana e das religiões, que, na passagem dos anos 1970, havia se estabelecido como intelectual público, se manifestando sobre os mais variados assuntos. Após 1975, acrescentou aos seus interesses acadêmicos uma produtiva carreira como escritor de bestsellers de ficção.
[51] Shils e Geertz tinham em comum, além da orientação intelectual e do vínculo com a Universidade de Chicago nos anos 1960 (em 1970, Geertz se transferiu para a Universidade Princeton) suas associações com a CIA. Shils foi membro executivo, editor de revista e organizador de eventos internacionais de uma importante frente da CIA no mundo intelectual, o Congresso pela Liberdade da Cultura (CCF). Geertz, através de seus vínculos de trabalho e pesquisa com o Center for International Studies (CENIS), do MIT – onde também trabalhava Harold R. Isaacs –, realizou serviços de consultoria, na condição de especialista em problemas da Indonésia pós-colonial. Vide: FLOUD, Jean and DACRE, Lorde. Edward Shils (1910-1995). In: Minerva, v. 34, nº. 1, 1996. PRICE, David H. How the CIA and Pentagon Harnessed Anthropological Research during the Second World War and Cold War with Little Critical Notice. In: Journal of Anthropological Research, v. 67, nº. 3, 2011.
[52] “The Rediscovery of Diversity”, de Andrew M. Greeley, versão de outubro de 1971. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports. Anexo do Report nº. 6649. Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers. Isaacs, assim como Greeley, partia de Shils e Geertz, e, destes últimos, desenvolveu sua noção de “identidade básica de grupo”. Porém, como vemos, ele e Greeley levaram suas conclusões a lugares diferentes.
[53] FLOUD, Jean and DACRE, Lorde. Edward Shils (1910-1995). Op., cit., p. 90-91.
[54] “The Rediscovery of Diversity”, de Andrew M. Greeley, versão de outubro de 1971. Op., cit.
[55] Vejam-se suas intervenções na conferência preparatória de maio de 1972: Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[56] Carta de 30 de maio de 1972, de Nathan Glazer para Daniel P. Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[57] Quanto à preferência por sociólogos e cientistas políticos em detrimento de outras especialidades, especialmente de antropólogos: carta de 17 de janeiro de 1975, de Nathan Glazer para Peter Ruof. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[58] Projeto de Nathan Glazer de novembro de 1969. Op., cit. Projeto de 15 de dezembro de 1969, de [Seymour] Martin Lipset e Nathan Glazer. Op., cit.
[59] Para uma avaliação retrospectiva dessa supervisão, feita por Silj ao tempo da submissão da proposta à Fundação Ford: carta de 28 de fevereiro de 1973, de Alessandro Silj para Basil Whiting. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[60] Essa observação encontra-se disseminada na correspondência entre funcionários da EIA durante todo o período de realização desse projeto da AAAS. Para exemplos, ver: cartas de 8 e 28 de fevereiro de 1972, de Alessandro Silj para o chefe da EIA, Craufurd D. Goodwin. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[61] Até ser extinta, em 1982, a EIA herdou funções antes atribuídas à seção International Affairs (1958-1965) da Divisão Internacional da FF. A EIA herdou da International Affairs inclusive a base de Paris.
[62] Tópico antes sob a administração dos programas geridos por cada escritório regional da FF, ele se torna, a partir de 1966, dotado de agenda e perspectiva global, o centro da nova seção Population, da Divisão Internacional.
[63] Assim teria resumido Alessandro Silj para os participantes da conferência preparatória de maio de 1972 do Ethnicity in Our Time esse momento de transição temática da FF. Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. Op., cit., p. 2-3.
[64] Vide, especialmente: cartas de 13 de janeiro de 1972, de Francis X. Sutton para Craufurd D. Goodwin; de 6 de março de 1972, de Alessandro Silj para o representante da EIA em Paris, William B. Bader; e de 11 de setembro de 1973, de Alessandro Silj para Craufurd D. Goodwin. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[65] U$180.533 dólares em valores corrigidos de 2023, conforme: https://www.dollartimes.com/inflation, com acesso em 01/11/2023.
[66] Carta de 13 de abril de 1972, do secretário da Fundação Ford, Howard R. Dressner para Harvey Brooks. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. Entre outras despesas, os recursos pagavam 4.000 dólares (28.885 dólares, em valores corrigidos) de remuneração para os curadores do projeto e, dentro de uma reserva de 4.000 dólares, pagava, segundo Nathan Glazer, honorários de até 250 dólares (1.805, corrigidos) para cada paper, cf.: https://www.dollartimes.com/inflation, com acesso em 02/01/2023. Vide: carta de 6 de julho de 1972, de Nathan Glazer e Daniel Patrick Moynihan para Daniel Bell. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[67] Súmula de projeto de 23 de março de 1972, de David E. Bell (diretor da Divisão Internacional da FF) para McGeorge Bundy. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[68] Geertz compôs o comitê-diretor, mas não participou de nenhuma outra atividade do projeto. Carta de 12 de abril de 1972, de Clifford Geertz para Nathan Glazer e Daniel P. Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[69] Lista “Planning Meeting on Ethnic Problems at the House of the Academy May 23 and 24, 1972, sem data. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[70] Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. Op., cit.
[71] Lista com nomes, sem data; e rascunho “Names from Academy Meeting of May 23-24”, sem data. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[72] Carta de 30 de maio de 1972, de Nathan Glazer para Daniel P. Moynihan. Op., cit.
[73] Cartas de 6 de abril de 1972, de Peter E. de Janosi e de Francis X. Sutton para Alessandro Silj. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[74] Carta de 10 de fevereiro de 1972, de Craufurd D. Goodwin para Mitchell Sviridoff (diretor da Divisão Doméstica da FF); e carta de 14 de fevereiro, de Mitchell Sviridoff para Craufurd D. Goodwin. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. Andrew Greeley trouxe para a conferência de setembro de 1972 seu colega do National Opinion Research Center, o sociólogo William C. McCready.
[75] Carta de 15 de maio de 1972, de Alessandro Silj para Corinne Schelling. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[76] Além deles, participaram da conferência como observadores convidados: Irving M. Levine (American Jewish Committee – National Project on Ethnic America), Arnold Leibowitz (U.S. Department of Commerce), Ann Orlow (Harvard University Press), Norman Podhoretz (revista Commentary) Basil Whiting e Shirley Tepper (FF), e Corinne Schelling e John Voss (AAAS). Vide: lista com nomes, sem data. Op., cit. Lista “Ethnic Problems in the Contemporary World”, de 26-28 de outubro de 1972. E carta de 15 de junho de 1972, de Milton J. Esman para Daniel P. Moynihan. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[77] Carta de 9 de maio de 1972, de Daniel P. Moynihan para Harvey Brooks; e carta de 15 de maio de 1972, de Daniel P. Moynihan para Milton M. Gordon. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[78] Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. Op., cit.
[79] Daniel Patrick Moynihan, orientado pela mesma perspectiva, posicionava-se contra as cotas raciais nas universidades dos EUA. Ele considerava sua implantação apressada e juridicamente irresponsável. Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. Op., cit., p. 2 e 18.
[80] Ata “Planning Meeting – Ethnicity”, sem autor, de 23-24 de maio de 1972. Op., cit.
[81] Peter Rossi, incumbido da redação de um dos papers, não o escreveu e não compareceu à conferência de outubro. Ata “Ethnic Problems in the Contemporary World” de Corinne Schelling, de 26-28 de outubro de 1972, session I, page 1. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[82] Carta de 30 de maio de 1972, de Nathan Glazer para Daniel P. Moynihan. Op., cit. Vide também: cartas de 6 e 7 de julho de 1972, de Nathan Glazer e Daniel P. Moynihan para Daniel Bell, Andrew Greeley, Harold Isaacs, Talcott Parsons, Peter Rossi e Richard Pipes. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[83] Expressando essa orientação, centrada disciplinarmente na sociologia e ciência política estadunidenses, foram recusadas na concepção conceitual do evento as sugestões de ampliação da perspectiva comparada para casos que alguns especialistas, Charles Ferguson, Lucian Pye e especialmente o sovietologista e especialista em história russa, Richard Edgar Pipes, consideravam os casos de maior complexidade étnica – Iugoslávia, URSS, China e as novas fronteiras do mundo “subdesenvolvido”. Carta de 10 de maio de 1972, de Richard Pipes para Nathan Glazer e Daniel Moynihan. In: AMACAD. RG XXI: Committee on Ethnic Problems. Box 1. Folder 1.
[84] Ata “Ethnic Problems in the Contemporary World” de Corinne Schelling, de 26-28 de outubro de 1972. Op., cit., session I.
[85] Idem, ibidem, session V. Charles A. Ferguson era o mais vocal entre os críticos. Ferguson era então um ativo sociolinguista, especialista de língua árabe com passagens pelo Departamento de Estado (anos 1940-50), que fundara (1959) e dirigira o Center for Applied Linguistics, de Washington DC. Ele foi o criador, em 1964, do teste TOEFL de proficiência em língua inglesa.
[86] Gupta não compareceu à conferência, mas seu trabalho foi apresentado por Irving M. Levine na quarta sessão, ao lado dos memorandos de pesquisa sobre o separatismo canadense de Michael Oliver e John A. Porter. Vide: paper de Jyotirindra Das Gupta, “Ethnicity, Language Demands and National Development”. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. Orlando Patterson e Immanuel Wallerstein foram os que estiverem mais próximos do argumento de Gupta, de que a etnia é suporte de uma modalidade de relações intergrupais, porém, sendo vazio de atributos primordiais. Vide: ata “Ethnic Problems in the Contemporary World” de Corinne Schelling, de 26-28 de outubro de 1972. Op., cit., session II, p. 2.
[87] Talcott Parsons forneceu uma síntese para esse argumento no seu paper “Second Supplement to Memorandum for the Ethnicity Conference”. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[88] Vide, especialmente, os “estudos de caso” de William Petersen (Ethnic Structure in Western Europe), Richard Pipes (Reflections on the Ethnic Problems in the Soviet Union) e François Bourricaud (Some Considerations on the Concept of Ethnicity and its Relevance to the Latin American Pattern of Race Relationships), em que a tônica era a investigação dos conflitos sobre novos acordos entre a autonomia dos grupos e a relação de identidade desses grupos com as suas próprias sociedades. Vide: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[89] Paper de John Porter, “Some Considerations About Ethnic Pluralism from a Canadian Perspective”. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[90] Ata “Ethnic Problems in the Contemporary World” de Corinne Schelling, de 26-28 de outubro de 1972. Op., cit., session IV, p. 2-3.
[91] Memorando interno de 6 de julho de 1972, de Alessandro Silj para membros da EIA e para Shirley Tepper. Op., cit.
[92] Ver adiante nota 97.
[93] Súmula de Daniel Bell, “Ethnic Problems in the Contemporary World, Saturday, October 28, 1972”. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[94] Milton Gordon dizia que a aculturação, acompanhada de assimilação, era a melhor solução para sociedades cujas relações intergrupais estavam estruturadas sob relações de tipo maioria versus minorias. Argumento de seu livro de 1964, Assimilation in American Life. Comparativamente, aculturação e assimilação seriam melhores alternativas contra a violência e dominação, para ele, inevitáveis, naturais e humanas expressões do exercício do poder. Portanto, aculturação e assimilação eram melhores que a repressão aberta e franca. E melhores que a alternativa “pluralista”, segundo ele, ainda uma utopia, ao menos nos EUA, que não disporia de condições institucionais adequadas, especialmente diante das novas exigências e conflitos, trazidos pelo Poder Negro. Vide: GORDON, Milton. Toward a General Theory of Racial and Ethnic Group Relations. In: MOYNIHAN, Daniel P. and GLAZER, Nathan (eds.), with the assistance of Corinne Saposs Schelling. Ethnicity: Theory and Experience. Cambridge, Massachusetts and London, England: Harvard University Press, 1981 [1975]. Fifth Printing.
[95] Etnia, para Parsons: uma identidade coletiva baseada em tradição intergeracional, porém, firmada por filiação voluntária, e reafirmada, geralmente, vocal, pública e continuamente, como compromisso de pertencimento à uma comunidade moral contínua no tempo, reproduzida pela endogamia tanto quanto pelo trabalho de formação geracional de seus membros. Vide: paper “Second Supplement to Memorandum for the Ethnicity Conference”. Op., cit.
[96] Opinião, com o forte endosso de David Horowitz e Gino Germani, enfatizada especialmente pelo diretor (1969-1983) do Center for International Studies da Universidade Cornell, o cientista político, especialista em sudeste asiático, Milton J. Esman. Ata “Ethnic Problems in the Contemporary World” de Corinne Schelling, de 26-28 de outubro de 1972. Op., cit., session V (continue).
[97] Parsons, Patterson e Wallerstein também se posicionaram contra.
[98] Este artigo foi estruturado como um grande parecer crítico do recentemente publicado (1971) Theory of Justice, do filósofo liberal John Rawls. BELL, Daniel. On Meritocracy and Equality. Public Interest, nº. 29 (Fall), 1972.
[99] Segundo esse exercício de previsão e de planejamento, sociedades desenvolvidas estariam futuramente centradas economicamente em atividades que exigissem uma contínua produção e transformação de conhecimento em bens de capital. Para Bell, essa nova forma de acumulação geraria profunda competição e estratificação ocupacional em torno de credenciais técnicas e de saber, aprofundando desigualdades existentes e podendo assumir, na divisão internacional do trabalho, a forma de uma grande oposição geopolítica. Entre nações de maioria branca, ocupadas em papeis criativos e de liderança, e as de maioria não-branca, em típicas atividades proletárias. Para este argumento: BELL, Daniel. The Coming of Post-Industrial Society: A Venture in Social Forecasting. New York: Penguin Books, 1976 [1973], especialmente p.44 e 486.
[100] Relatório de janeiro de 1974, “Race and Ethnicity: A Research Agenda”, de Shirley Tepper, p. 5. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports. Report nº. 3730.
[101] Carta de 13 de dezembro de 1972, de Daniel Patrick Moynihan para o reitor da Universidade Harvard, Derek C. Bok. In: WEISMAN, Steven R (ed.). Daniel Patrick Moynihan: A Portrait in Letters of an American Visionary. New York: PublicAffairs, 2010, p. 269.
[102] Projeto de Nathan Glazer, “Ethnicity in Our Time: Conflicts and Policies” e orçamento “Ethnicity – Tentative Budget – 3 Years”, anexos da carta de 6 de fevereiro de 1973, de Corinne S. Schelling para Basil Whiting. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. O primeiro orçamento proposto para essa série de atividades era de 363 mil dólares, 2.534.996,00 dólares em valores atualizados, segundo https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 23/11/2023.
[103] Carta de 26 de setembro de 1975, de Harvey Brooks para McGeorge Bundy. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[104] Respectivamente: Learning about Learning, Communications and New Information Technology, Equal Opportunity and Equal Treatment for Women, Future Priorities of Humanities and the Arts, Intersection of Urban Development and Environment, State and Local Government, The Future of the International Economic Order, Employment and Unemployment in the Developing Countries e Managing the Foundation’s Management Costs, com prazos de entrega entre março de 1973 e dezembro de 1974. Vide: projeto “The Foundation’s Planning Agenda for FY 1973 and Beyond”, sem data. Anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[105] Memorando de Basil Whiting, de 4 de dezembro de 1972, anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[106] McGeorge Bundy atribuía essas medidas à expressiva perda de valor do capital permanente e da massa de ações propriedade da Fundação Ford, motivada por picos inflacionários, pela volatilidade do mercado financeiro e pelo impacto da nova taxação das organizações filantrópicas, definida na reforma tributária de 1969. BUNDY, McGeorge. President’s Review. In: https://www.fordfoundation.org/wp-content/uploads/2015/05/1974-annual-report.pdf, acessado em 24/11/2023.
[107] 17.458.647,00 dólares, em valores atualizados pelo https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 23/11/2023. Vide: memorando de McGeorge Bundy, de 20 de julho de 1972, anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[108] O orçamento das forças-tarefa era de 498 mil dólares, cada uma tendo à disposição entre 130 e 50 mil dólares, cifras que corresponderiam, respectivamente, a 3.477.762,00, 907.850,00 e 349.173,00 dólares, em valores atualizados no https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 23/11/2023. Vide: projeto “The Foundation’s Planning Agenda for FY 1973 and Beyond”, sem data. Op., cit., p. 1.
[109] Memorando de McGeorge Bundy, de 20 de julho de 1972. Op., cit.
[110] Projeto “The Foundation’s Planning Agenda for FY 1973 and Beyond”, sem data. Op., cit., p. 2.
[111] Momento em que o conselho curador da Fundação Ford encerrou a força-tarefa e julgou seus resultados. Vide: carta de 14 de novembro de 1974, de Peter Ruof para McGeorge Bundy e Craufurd D. Goodwin. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[112]Relatório de janeiro de 1974, “Race and Ethnicity: A Research Agenda”, de Shirley Tepper. Op., cit., p. 6 e anexo. E memorando de 14 de novembro de 1972, de Shirley Tepper para Basil Whiting, com cópia para Mitchell Sviridoff, anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[113] Memorando de Basil Whiting, de 4 de dezembro de 1972. Op., cit.
[114] Entre os organismos internacionais, destaque para a ONU, a Unesco e a OIT. Nos EUA, destaque para o National Institute for Mental Health, o National Endowment for the Humanities, a National Science Foundation, o Smithsonian Institution e o Council of Foundations. Memorando de 14 de novembro de 1972, de Shirley Tepper para Basil Whiting, com cópia para Mitchell Sviridoff. Op., cit., p. i-iii.
[115] É levantada entre as questões, por exemplo, se a contracultura juvenil do fim dos anos 1960 era apenas um sintoma dessa condição de “anomia” ou oposição a ela.
[116] Memorando de 14 de novembro de 1972, de Shirley Tepper para Basil Whiting, com cópia para Mitchell Sviridoff. Op., cit., Part I.
[117] On Aggresion, livro de 1966 do etologista alemão Konrad Lorenz, sobre paralelos entre comportamentos animais e humanos, é citado como uma referência imediata para essa reflexão. Idem, p. 5-6.
[118] Idem, Part I.
[119] Seção do National Institutes of Health, um órgão do U.S. Department of Health, Education and Welfare.
[120] Relatório “Ethnicity and Society: A Theoretical Analysis and its Implications for the United States”, de Richard Kolm, anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[121] Memorando de 14 de novembro de 1972, de Shirley Tepper para Basil Whiting, com cópia para Mitchell Sviridoff. Op., cit., p. i-iii.
[122] Relatório “Ethnicity and Society: A Theoretical Analysis and its Implications for the United States”, de Richard Kolm. Op., cit., p. 55-68.
[123] Relatório “The New Pluralistic Context”, de Basil J. Whiting Jr, sem data. Op., cit., p. 11-15.
[124] Memorando de 20 de julho de 1973, “Planning the Foundation’s Program and Budget beyond 1973”, de McGeorge Bundy, anexo do “Report nº 6649 – Race and Ethnicity Task Force: Memorandum and First Set of Background Papers”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[125] Memorando de 14 de novembro de 1972, de Shirley Tepper para Basil Whiting, com cópia para Mitchell Sviridoff. Op., cit., Part II, p. 2.
[126] Relatório de John J. Scanlon e Brenda Newman, “Research on Race and Ethnicity Sponsored by the Education and Research Division and its Forebears – 1951-73: A Report to the Ford Foundation Task Force on Race and Ethnicity”, anexo do “Report nº 3701 – Past and Present Foundation Funded Research on Race and Ethnicity”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[127] Os consultores Natalie Spingarn, Bernard Lefkowitz, Felice M. Levin e Elaine Samet fizeram para a Força-Tarefa Raça e Etnicidade a investigação do trabalho de órgãos e agências do governo federal com políticas mais especializadas ou orçamentos com maior impacto na temática, ainda que color blind em atuação. Entre eles: o Department of Health, Education & Welfare, a U.S. Commission on Civil Rights, o Office of Economic Opportunity, a Equal Opportunity Employment Commission, o Department of Labor, o Bureau of Census, o Office of Minority Business Enterprise e o Department of Housing and Urban Development. Relatório de agosto de 1973, “Research on Race and Ethnicity: Reports on Federal (and Some Other) Agencies” – Report nº. 4592. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports.
[128] Vide, em especial, os relatórios sobre a Equal Opportunity Employment Commission e o Department of Housing and Urban Development. Este último, contém lapidar declaração de política do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, sustentando falta de evidências de que a “mistura socioeconômica” fosse socialmente viável, logo, que pudesse ser uma meta para a política pública. Relatório de agosto de 1973, “Research on Race and Ethnicity: Reports on Federal (and Some Other) Agencies” – Report nº. 4592. Op., cit., relatórios de Bernard Lefkowitz, p. 11-13, e de Elaine Samet, p. 2.
[129] Carta de 14 de novembro de 1974, de Peter Ruof para McGeorge Bundy, encaminhada via Craufurd D. Goodwin. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. Vide também: Ford Foundation Annual Report 1975, p. 2-3. In: https://www.fordfoundation.org/wp-content/uploads/2015/05/1975-annual-report.pdf, com acesso em 06/12/2023.
[130] A Força-tarefa Raça e Etnicidade vetou a proposta de orçamento e orientou uma atualização de premissas analíticas para o projeto. Vide: carta de 1º de outubro de 1974, de Peter Ruof para Corinne S. Schelling. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[131] O protótipo desse conceito era o Coleman Report. Desenvolvido para o U.S. Office of Education pelo sociólogo John Coleman, da Universidade Johns Hopkins, visava o cumprimento de determinação da Lei de Direitos Civis de 1964, que obrigava o governo federal a uma avaliação nacional das condições de igualdade de acesso a oportunidades educacionais. Este relatório, de 1966, tornou-se bastante influente, tanto pelas conclusões controversas quanto pelo método de trabalho inovador que desenvolveu. Vide, para citações: relatório de janeiro de 1974, “Race and Ethnicity: A Research Agenda”, de Shirley Tepper. Op., cit., p. 37, 68.
[132] O IRR era extensivamente citado na área internacional da Fundação Ford como a referência do que se esperava patrocinar nessa área, especialmente na seção de European and Internacional Affairs. Vide: memorando de 8 de junho de 1973, de Arthur Cyr para Craufurd D. Goodwin; e memorandos de 2 de agosto de 1973, de Francis X. Sutton, e de Elinor G. Barber, para membros da Força-Tarefa Raça e Etnicidade; anexos do “Report nº 3701 – Past and Present Foundation Funded Research on Race and Ethnicity”. In: RAC. Ford Foundation Records. Reports. A Fundação Ford interrompeu seu patrocínio do IRR quando ele deixou de ser uma think tank global para se tornar um grupo de pressão antirracista com atuação local britânica. Vide: CHAVES, Wanderson. Op., cit., pp. 116-117.
[133] Vejam-se “Ethnicity in Comparative Social Research: A Memorandum”, de Robert A. Levine, e “Ethnicity and Interarea Research: A Conference Report”, do sociólogo da Universidade Yale, Wendell Bell, paper principal e relatoria do encontro de abril de 1974, do grupo interdisciplinar ad hoc do SSRC para o debate conceitual do tema étnico. Vide: anexos da carta de 7 de novembro de 1974, de Craufurd D. Goodwin para Peter Ruof. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[134] Vide cartas para Peter Ruof, de 13 de novembro de 1974, de Charles Hamilton, de 19 de novembro de 1974, de Richard G. Fox e de 10 de dezembro de 1974, de Ira Katznelson. Seriam pagos 75 dólares de honorários aos pareceristas, 481,81 dólares em valores de 2023 (https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 09/01/2024). Para os honorários: cartas de 19 de novembro de 1974, de Peter Ruof para Charles Hamilton e para Richard G. Fox e de 18 de dezembro, de Peter Ruof para Ira Katznelson. Todos os documentos em: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[135] Além dos pareceres, mencionados na nota acima, carta de 10 de dezembro de 1974, de Peter Ruof para McGeorge Bundy, encaminhada via Craufurd D. Goodwin, com a súmula desses pareceres pela avaliação da seção European and International Affairs. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[136] Vide: cartas de 25 de outubro de 1974 e de 17 de janeiro de 1975, de Nathan Glazer para Peter Ruof. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[137] Vide “The Universalization of Ethnicity”. In: GLAZER, Nathan. Ethnic Dilemmas, 1964-1982. Cambridge, Massachusetts and London, England: Harvard University Press, 1983, especialmente p. 241, 246-47, 251-52.
[138] Moynihan considerava menor a potencial influência internacional dos negros dos EUA sobre conflitos interestatais. Vide: Daniel P. Moynihan, “Ethnicity and World Social Policy”, texto de abril de 1975. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[139] Os autores assinalavam os “radicais negros” como “grandes inimigos” da cidade de Nova Iorque em 1970, e apelavam para a urgente formação e empoderamento de uma nova liderança negra moderada. GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. Introduction to the Second Edition. New York City in 1970. In: GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. Beyond the Melting Pot: The Negros, Puerto Ricans, Jews, Italians, and Irish of New York City. Cambridge, Massachusetts and London, England: The M.I.T. Press, 1971.
[140] GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. Introduction. In: GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. (eds.), with the assistance of Corinne Saposs Schelling. Ethnicity: Theory and Experience. Op., cit.
[141] GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. Introduction to the Second Edition. New York City in 1970. Op., cit., p. lxxxvii.
[142] Este era o tema de seu Affirmative Discrimination: Ethnic Inequality and Public Policy, livro publicado em 1975. Vide: Nathan Glazer, “Ethnicity and Social Policy”, texto de abril de 1975. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[143] BELL, Daniel. Ethnicity and Social Change. In: GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. (eds.), with the assistance of Corinne Saposs Schelling. Ethnicity: Theory and Experience. Op., cit.
[144] Idem, ibidem. Opinião que Daniel Bell dividia com Talcott Parsons. Para este, a etnia, ao contrário da raça, teria o atributo de inibir a “polarização”. PARSONS, Talcott. Some Theorethical Considerations on Nature and Trends of Change of Ethnicity. In: GLAZER, Nathan & MOYNIHAN, Daniel P. (eds.), with the assistance of Corinne Saposs Schelling. Ethnicity: Theory and Experience. Op., cit.
[145] Além dos recursos iniciais, a AAAS recebeu adicionais 25 mil dólares (U$142.966 dólares em valores de 2023 no https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 16/01/2024) a título de ressarcimento por custos com a produção e edição do livro e o planejamento já realizado para projetos futuros. O trabalho de dois anos de edição do livro ficou a cargo, sobretudo, de Corinne Schelling, com revisão final de Glazer e Moynihan. Vide: carta de Harvey Brooks para McGeorge Bundy, de 26 de setembro de 1975. Os dezesseis autores convidados a publicar em Ethnicity: Theory and Experience receberiam 500 dólares (3.212 dólares no https://www.dollartimes.com/inflation, acessado em 16/01/2024) de honorários por texto. Todos eles participaram da conferência Ethnicity in Our Time, exceto o cientista político queniano, professor da Universidade Makerere, Ali A. Mazrui, chamado posteriormente. Michael Oliver e Gino Germani nunca entregaram os capítulos encomendados. Vide: carta de Daniel P. Moynihan para Mac (McGeorge Bundy), de 24 de agosto de 1973; e lista “Final Outline: Ethnicity in Our Time”, de agosto de 1973. Após queixas de chateação burocrática, indelicadeza administrativa e rude desprestígio profissional, dirigidas especialmente a Peter Ruof, último supervisor de Ethnicity in Our Time na European and International Affairs, Glazer voltou a trabalhar com a AAAS sob financiamento da Fundação Ford em 1976. Ele foi empregado em um novo projeto sobre etnicidade em perspectiva internacional, este, em colaboração com instituições inglesas, finalmente iniciado apenas em 1979. A relevância deste projeto e a participação de Glazer foram menores. Vide: carta de Nathan Glazer para Peter Ruof, de 10 de junho de 1975; e https://www.amacad.org/rg-xxi-committee-ethnic-problems, acessado em 15/01/2024. Todos documentos físicos citados em: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188. Em 1976, Moynihan elegeu-se senador Democrata pelo Estado de Nova Iorque, ocupando a função até 2001. Nas próximas décadas, ele e Glazer seguiram opinando e publicando regularmente sobre o assunto.
[146] Conforme Basil Whiting no relatório “The New Pluralistic Context”, sem data. Op., cit., especialmente p. 10-11.
[147] Para algumas menções a respeito: carta de 5 de março de 1974, de Basil Whiting para Corinne S. Schelling; e carta de 28 de março de 1974, de Nathan Glazer para Basil Whiting. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[148] Memorando de 20 de abril de 1982, de Roberta Lynch para Susan V. Berresford. In: RAC. Ford Foundation Records. Grant Files: PA 72-188.
[149] Para alguns dos elementos dessa transição temática, simultânea na Fundação Ford e na redefinição de políticas do Departamento de Estado do governo dos EUA, especialmente como vista a partir do debate da ciência política, ver: CANCELLI, Elizabeth. O Brasil na guerra-fria cultural: o pós-guerra em releitura. São Paulo: Intermeios / USP: Programa de Pós-graduação em História Social, 2017, p. 122-129.