A Desconstrução do Absoluto na Física
Resumo
No final do século XIX ocorreu uma série de transgressões na física que produziram a um só tempo o alargamento incomensurável do Cosmos, a relatividade dos modos de observação e a substancialização do espaço-tempo.
A impossibilidade de existirem movimentos com velocidades maiores do que a da luz foi posta em evidência por Poincaré, Lorentz, Fitzgerald e outros. Isso permitiu a síntese de uma nova descrição do espaço e do tempo, realizada em 1905, pela teoria da Relatividade Especial de Einstein.
Essa teoria inviabilizou a física newtoniana da gravitação a qual não se adaptava. Foi necessário, portanto, uma nova teoria para descrever os processos gravitacionais, possibilitada pelo surgimento da teoria da Relatividade Geral.
Nessa teoria o espaço-tempo imaterial se transfigura em uma forma maleável relacionando a geometria do mundo à matéria e energia existente, consubstanciando a imagem de que a estrutura métrica do espaço-tempo não é um absoluto a priori, mas sim uma variável dinâmica.
Surge então um novo modo de entender a grandiosidade do Cosmos. Num primeiro momento, timidamente, no cenário cosmológico estático proposto por Albert Einstein e, mais adiante, de modo mais realista, no modelo dinâmico concebido por Alexandre Friedmann. Foi aberto, assim, o caminho para uma tentativa audaciosa capaz de permitir à razão científica elaborar uma história global do universo.
- As grandes alterações na física nos primórdios do século 20 são bem conhecidas em suas grandes linhas. É importante não somente relembrar algumas delas, como também, examinar como elas evoluíram e, afinal, que consequências trouxeram para nosso conhecimento da natureza e mesmo alguns de seus impactantes efeitos na sociedade. Eu me limitarei, no entanto, aos aspectos técnicos propriamente ditos, deixando essas outras importantes questões para meus colegas. Eu só chamaria a atenção para uma mudança ocorrida na comunidade científica que eu descreveria como o desencanto romântico. Com este termo quero caracterizar a transformação da ciência pensada como acima do bem e do mal, completamente neutra e separada de suas consequências e efeitos na sociedade. Em algum momento, na virada do século, os cientistas explicitaram a dependência de suas atividades com sua inserção na sociedade e a intima relação da produção científica com os modos de organização dessa sociedade. O formidável desenvolvimento da tecnologia alterou profundamente a sociedade, mas eu não me sinto à vontade para tratar deste assunto. Se o cito aqui é somente para que não esqueçamos que alguns aspectos da tradicional e encantadora “busca da verdade” apregoada como a função da ciência estão contaminados com requisitos da sociedade e os caminhos que lhe foram abertos para sua transformação graças às tecnologias inovadoras. Nesse ponto seria talvez necessário e útil lembrar como se transfigurou completamente a atividade cientifica e o avassalador sucesso e poder dos grandes laboratórios e dos sistemas de concessão de financiamentos das pesquisas. Seu controle tem grande impacto nos caminhos oferecidos à sociedade. No cenário atual, de começo do século 21 salta aos olhos essa transformação e consequências. No entanto, não me dedicarei a desenvolver essas questões, citando-as somente para que não as esqueçamos e retornemos a ela em outros momentos. Isso dito, passo a questões essencialmente técnicas.
- O começo do século 20 viu o afastamento gradual da física newtoniana. As principais consequências disso não foram imediatamente percebidas pela sociedade, pois elas tratavam de configurações fora de nosso cotidiano. Os dois principais movimentos se deram em duas direções complementares: no microcosmo e no universo global e se concentraram nos dois únicos campos clássicos de longo alcance conhecidos, o campo eletromagnético e a gravitação. Nós iremos tratar somente deles. A descoberta de que havia uma velocidade máxima de propagação de informação ao final do século 19, graças aos trabalhos de Poincaré, Lorentz, Minkowski e outros permitiram a síntese realizada por Albert Einstein em sua teoria da relatividade especial. Projetou-se assim a ideia de que as estruturas clássicas, newtonianas, do que se chamava tempo absoluto e espaço absoluto deveriam ser substituídas por uma única estrutura absoluta o espaço-tempo quadri-dimensional. Essa estrutura possuía uma geometria absoluta, distinta da geometria euclidiana e que permitia a noção curiosa de que uma distância entre dois pontos pode ser nula sem que os pontos sejam coincidentes. Esses caminhos de distância nula delimitavam uma barreira intransponível entre observadores reais, que tinham a velocidade de seus movimentos limitada pela velocidade da luz e processos puramente espaciais.
- Dito de outro modo, cada observador delimita um seu horizonte de observação de modo absoluto. Uma tal noção tornava a teoria da gravitação de Newton incompatível com a nova configuração do modo de representar os eventos no mundo. Essa situação foi resolvida ao final da primeira década do século 20 com a proposta de Einstein de uma extensão inesperada de sua teoria a que deu o nome de teoria da relatividade geral. Nesta teoria a desconstrução do caráter absoluto do espaço-tempo se realiza de modo inesperado e completo: este espaço-tempo, que era pensado como uma ideia, se transfigura em uma estrutura mais próxima de uma verdadeira substância, posto que sua geometria não é dada a priori, mas sim determinada pela quantidade de matéria e energia presentes.
- Talvez a mais formidável consequência da relatividade geral foi permitir tratar o universo em suas características globais como uma unidade controlada totalmente pela interação gravitacional. Assim, Einstein elaborou um primeiro cenário cosmológico como uma solução de suas equações da gravitação. Infelizmente, suas ideias neste aspecto mostraram-se conservadoras e o modelo de universo estático e absoluto que ele produziu foi um momento bastante tímido de sua inventividade. Esse cenário, embora dentro da nova teoria, parecia se identificar em seus fundamentos com o cenário absoluto newtoniano, no qual o universo era uma estrutura fechada, acabada, estática, absoluta. Poucos anos depois, um cientista russo, Alexander Friedmann mudou radicalmente esta situação, exibindo toda a grandiosidade presente na nova teoria da relatividade, apresentando um modelo de universo dinâmico, possuindo um processo de evolução. A grande novidade do universo em expansão foi a ideia inesperada de associar uma idade ao universo, ou seja, ele teria tido um começo singular a uns poucos bilhões de anos. Consequência inesperada: a matéria e a energia estariam concentradas de tal modo a assumirem ali valores ilimitados. Isso criava uma dificuldade para os físicos e seu conhecido horror ao infinito. Foi somente ao final dos anos 1970 que uma solução conveniente foi apresentada exibindo o processo dito de bouncing segundo o qual o universo teria tido uma fase anterior à atual, exibindo um colapso gravitacional no qual todo o universo estaria envolvido em um processo de diminuição de seu volume espacial total, atingido um valor mínimo diferente de zero e passado posteriormente à atual fase de expansão. A tentativa de escrever uma história completa do universo acabou por conduzir os cientistas a uma reflexão sobre suas atividades a partir de uma autocritica dos fundamentos da cosmologia. Infelizmente, a maioria deles não estava preparada para isso, nem possuíam as ferramentas metodológicas, consequência do longo tempo de abandono de interação com seus companheiros das ciências humanas, não somente da filosofia, mas também da sociologia e, em sentido mais amplo, da politica.
- Aparece assim uma ideia inusitada: a de que as leis físicas podem variar com a evolução do universo. Neste ponto, eu tomo a liberdade de me reportar ao Manifesto Cósmico que escrevi recentemente e que transcrevo em boa parte a seguir pois ele caracteriza bem o espirito que norteou a evolução da física no século 20 e os movimentos transgressores que se esboçam no horizonte do século 21.
Manifesto Cósmico
- Quando um movimento de crítica em uma área do conhecimento produz uma transformação com consequências amplas e profundas, aqueles que estão longe do centro dessa ação dificilmente são informados imediatamente. Há um movimento viscoso de relaxação da informação que pode demorar um longo tempo até atingir a sociedade, e que descreva de modo fiel o abalo que a crítica tenha efetivamente produzido.
- Todo manifesto pretende a um só tempo desconstruir uma narrativa e construir uma versão que venha ocupar seu lugar. Assim, em um primeiro momento deveríamos esclarecer: qual narrativa se está criticando? Qual a nova proposta para substitui-la? A primeira questão admite uma resposta simples: trata-se de reduzir a importância do pensamento único associado desde sempre ao conhecimento cientifico. Assim fazendo, estaremos levando essa crítica para outros modos de produção de conhecimento e mesmo para além do território do saber científico, limitando uma das suas consequências mais nefastas: a uniformização do pensamento—um mal-estar que permeia de modo quase incontrolável a sociedade capitalista nos dias atuais. Quanto à segunda, a resposta é mais complexa e deixaremos para apresentá-la em outro lugar, limitando-me aqui a um pequeno esboço. Antes de começarmos um comentário para esclarecer a ação nefasta do pensamento único em um território onde não se esperaria nenhuma crítica à sua determinação. Existe uma crença generalizada de que quando uma ideia hegemônica aparece no interior de uma dada ciência ela deve ser entendida como uma verdade, provisória certamente, mas como uma certeza que transcende a simples opinião e que é típica dessa atividade de investigação da natureza exercida pelos cientistas. No entanto, nem sempre é assim. Podemos apontar exemplos em várias áreas. Um caso bem típico encontramos na análise da origem explosiva do universo como descrito na Cosmologia da segunda metade do século XX. A comunidade cientifica aderiu de modo quase leviano ao pensamento único segundo o qual teria havido um momento de criação do universo. Esse cataclisma cósmico único o bigbang midiático teria ocorrido há uns poucos bilhões de anos. O termo “aderiu” é usado propositadamente para chamar a atenção de que se tratava de uma ideologia e não de uma verdade cientifica. Os detalhes dessa adesão e as razões pelas quais a comunidade cientifica internacional se deixou seduzir por essa ideia podem ser encontrados nos livros citados ao final. É preciso, no entanto, esclarecer uma confusão que foi sistemática e ostensivamente propagada pela mídia referente ao termo big-bang pois ele possui duas conotações bem distintas. Em sua utilização técnica, entre os cosmólogos, essa expressão significa que houve um período na história do universo onde seu volume total estava extraordinariamente reduzido. Consequentemente, sua temperatura ambiente era extremamente elevada. Isto é um dado da observação apoiado em uma teoria bem aceita. Praticamente todo cientista da área considera correta essa explicação pois ela permite entender um número grande de observações astronômicas. Um segundo uso, ideológico esse, para o mesmo termo big-bang, requer sua identificação à existência de um momento de criação, singular, para o universo. A ideologia sustentou durante as últimas décadas essa segunda interpretação que se espalhou pela sociedade exercendo uma função que ocupou o espaço imaginário da criação do mundo, até então controlado pela religião. Finalmente, podemos sintetizar nossa tarefa esclarecendo de antemão que a nova face da ciência se refere à dependência cósmica das leis físicas. Os exemplos que iremos descrever, referentes a processos globais controlados pela interação gravitacional, mostram o caminho a percorrer para entender a razão pela qual se pode afirmar que as leis da física estão em formação. Uma tal dependência impõe limites na prática bastante difundida do processo convencional de generalização das leis físicas e constitui uma forma de entender o alcance dessas leis afirmando sua dependência cósmica, em substituição a uma configuração fixa, universal e atemporal que sempre foi considerada como uma hipótese natural. Essa mudança de atitude que a nova descrição do cosmos faz surgir da Cosmologia moderna, conduz ao abandono do antropocentrismo que dominou desde suas origens o pensamento cientifico. A Cosmologia, exibindo essa dependência das leis da física com o tempo cósmico global leva a afirmar, de modo semelhante às teses de Marx e Engels, que toda ciência deve ser histórica.
Parte I: A questão
- Até aqui a ciência tem tido sucesso na construção de uma estrutura formal capaz de produzir consequências visíveis viabilizando modos de transformação do cotidiano da sociedade. Levando esse projeto às suas consequências mais ousadas ela permitiu pensar a construção de estruturas globais como consequências formais de processos locais. Numa versão sofisticada, mas igualmente idealista, assegurou na prática a convicção de que o todo se produz a partir de suas partes e de algumas circunstâncias especificas. Foi graças a essa ilusão que a ideia de unificação dos processos físicos instalou-se na sociedade dos físicos como um eldorado a ser conquistado. Não como um simples fator simplificador, mas como uma etapa indispensável para a compreensão dos fenômenos observáveis.
- Quando no exercício prático de suas atividades o cientista se restringe a uma conversa com seus pares, a ciência progride como esquema conservador. Somente quando ela é levada a dialogar com a natureza seu espirito revolucionário aparece. (Para aqueles que não convivem com a prática cotidiana do fazer ciência, essa sentença parece incoerente, pois não deveria ser sempre assim a prática cientifica? O sistema de organização científica no entanto exige um afastamento de fato daquela prática.)
- Nós só reconhecemos uma só ciência: a ciência da história, afirmam Marx e Engels em A ideologia alemã. Como entender essa sentença no interior da atividade científica, na física, por exemplo? Somente aprofundando uma autocrítica que permita exibir as origens de sua refundação na Cosmologia – a ciência histórica por excelência. Não exclusivamente baseada na aceitação da variação temporal do volume total do universo, mas por outros indícios esclarecedores, como a existência de processos de bifurcação.
- É verdade que essa historicidade foi alardeada aqui e ali, por diversas vezes. A proposta recente mais atraente se deveu a Prigogine, que deu um passo nessa direção propondo uma aliança formal entre as diversas ciências e as humanidades. No entanto, sua extensão foi tímida por não ter incluído em sua análise a Cosmologia mas sim apoiando-se exclusivamente em processos descritos na física e na química, ciências locais. Somente ao consideramos a Cosmologia e sua função desestabilizadora é possível enxergar com clareza a amplitude do conceito de que a ciência fundamental é histórica.
- Imaginar que as Leis da física são eternas e imutáveis, dadas por um decálogo cósmico é ter uma visão a-histórica dos processos no universo. Somente introduzindo a dependência cósmica das interações é possível retirar qualquer resquício de irracionalidade na descrição dos fenômenos na natureza e afirmar a força do modo cientifico de pensar o mundo. É ingênuo pensar que no século XX se tenha introduzido a função histórica na Cosmologia somente porque se conseguiu (a partir de interpretações especiais de dados astronômicos) caracterizar a dinâmica gravitacional como processo de expansão do universo, negando o imobilismo cósmico do primeiro cenário cosmológico proposto por Einstein. A dependência das leis da física ao processo de evolução dinâmica do universo retira o conteúdo principal que orientava os cientistas na busca da unificação das leis físicas entendidas então como fixas e imutáveis. A cosmologia enfraqueceu essa paz racional aceita até então como natural e definitiva.
- Os físicos não consideraram aquela afirmação de Marx e Engels seriamente porque a quase totalidade dos cientistas acreditavam que aqueles filósofos estavam se referindo às questões humanas, o território natural da historicidade. A física, a ciência da natureza por excelência, sempre foi associada a uma prática que lida com processos que não se submetem à evolução e transformação que aquela asserção sub-repticiamente remete. No entanto, há argumentos sólidos segundo os quais aquela sentença pode efetivamente ser aplicada igualmente à física. Como é isso possível?
- As leis da física são ”para sempre”? Talvez fosse importante esclarecer ao leitor que ao tratar das mudanças das leis da física não estou me referindo àquelas alterações que fazem parte natural de seu procedimento de conhecimento. Sabemos que as leis de Newton — por exemplo, o seu cenário espaço absoluto e tempo absoluto — foram alteradas por Poincaré e Einstein. Esses não mostraram que Newton estava errado, mas sim limitaram o alcance de sua descrição da natureza. Esse procedimento, essa correção de rumo, é corriqueiro em todas as atividades sociais, e diz respeito, não ao objeto de exame, a natureza, mas sim à condição humana. Não é dessa historicidade de representação do real, que me estou referindo, mas sim da alteração das leis da natureza como intrínseca ao cosmos.
- As necessidades do sistema econômico moderno não requerem essa historicidade, mas não lhe tem hostilidade, pelo menos enquanto ela não inibir o modo de produção da ciência. Pois, na visão utilitarista dominante, o que se quer da ciência é o fundamento que permite o desdobramento de novas técnicas capaz de gerar tecnologias, produtos. É assim que a prática dos cientistas é conduzida sub-repticiamente à sujeição aos modos de dominação capitalista.
- A alienação não se encontra na atuação formal no interior da prática cientifica, nem nos modos sociais dessa atividade, mas sim no próprio fazer ciência, na elaboração das prioridades de novas questões e dos caminhos para sua solução e principalmente no abandono da prioridade maior dos cientistas: a pura curiosidade.
- Enquanto essa roda de produção da ciência gerar fundamentos de tecnologias, o sistema do poder estará apoiando e incentivando a pesquisa, concedendo honrarias, prêmios, verbas públicas e privadas para essas atividades.
- Quando os cientistas começarem, não individualmente (pois isso acontece em alguns poucos casos) mas coletivamente, a aceitarem na sua expressão cotidiana a historicidade de sua atividade; quando o diálogo com a natureza não for escamoteado, escondido; quando esse diálogo deixar de ser pensado como ideologia, fantasia romântica, mas chegar à frente do palco e exibir sua verdadeira ação, mergulhando fundo no coração onde se concentra a ordenação dos fenômenos, aí então seu caráter revolucionário produzirá efeitos, agradáveis ou não, mas prestes a causar estragos verdadeiros na ideologia adormecida pelo capitalismo. A partir desse momento, aqueles cientistas constituirão uma classe desprezível aos olhos dos que têm o controle do sistema de poder. As verbas desaparecerão para estes e serão alocadas exclusivamente aos fiéis, aqueles que não aceitam essa visão demoníaca e corruptora da “nobre atividade cientifica”. As organizações cientificas, longe de serem somente instrumentos de troca de informações e parceiros legítimos da sustentação da evolução do conhecimento, são em verdade órgãos controladores da atividade cientifica apontando a todo momento o que deve ser entendido como sendo a boa e útil ciência, freando a liberdade de pensamento e investigação. Isso não se dá, o mais das vezes, de modo ostensivo, mas sim desqualificando propostas que escapam ao satus quo através de um sistema de organização hierárquica aceita universalmente como útil ao desenvolvimento da ciência.
- Se esse processo de conversão à historicidade das leis da natureza acontecer de fato, os cientistas deixarão de ser tratados como grandes benfeitores da humanidade, e passarão a ser identificados como rebeldes, em uma versão atualizada dos pensadores malditos, mais próximos de personagens semi-religiosos como Giordano Bruno.
- Até muito pouco tempo a microfísica e, de modo mais amplo, a física terrestre eram pensadas fora do contexto cósmico. Elas pareciam não necessitar de explicação ulterior, eram tratadas como sistemas auto-referentes, sem admitir qualquer forma de análise extrínseca para constituir uma razão auto-consistente. No entanto, nas últimas décadas a Cosmologia invadiu abruptamente esse domínio tranquilo do pensamento positivista dominante e destruiu a paz racional daqueles que acreditam que a Terra, os homens, possuem um papel especial no Universo.
- Essa interferência cósmica sobre a física local não deve ser entendida como a substituição de uma razão absoluta por outra razão absoluta. Não se trata de trocar o absolutismo associado ao caráter universal da física local pelo absolutismo de uma física global. A questão é um pouco mais complexa. O matemático A. Lautman faz uma bela síntese do que está em jogo em seu livro Essai sur les notions de structure et d´existence en mathématiques. Ao examinar a dicotomia local-global ele propõe uma alternativa extremamente interessante com consequências tentaculares, referindo à possibilidade de produzir uma síntese orgânica entre diferentes teorias matemáticas que tratam das conexões local-global e que escolhem o predomínio de uma sobre a outra. Lautman argumenta que é preciso estabelecer uma ligação poderosa entre a estrutura do todo e as propriedades das partes de modo a que se manifeste de modo claro e preciso nessas partes a influência organizadora do todo ao qual elas pertencem. Esse ponto de vista, que parece adotar ideias e programas retirados seja da biologia seja da sociologia, pode aparecer na matemática como um procedimento de síntese. Para isso deve-se abandonar o programa de Russel-Whitehead de reduzir a matemática a estruturas lógicas atomísticas; como também a visão de Wittgenstein e Carnap segundo a qual as matemáticas nada mais são do que uma linguagem indiferente ao conteúdo que elas exprimem. De modo semelhante ao que ocorreu na Cosmologia relativista na última década, com o abandono da axiomatização Penrose-Hawking que foi estruturada para dar apoio à identificação da existência de um momento único de criação do universo separado de nós por um tempo finito.
- Em artigos posteriores iremos nos estender sobre esse caminho que Lautman propôs. Aqui, serve somente como citação, como um exemplo de análise ao que está acontecendo no território da cosmologia, para apontar que essa questão transcende nosso plano de exame das questões da física e constitui, em verdade, uma área de reflexão em diversos territórios do conhecimento. Ou seja, uma vez mais, nos deparamos com limites incertos de uma questão bem definida em um território que permite uma análise especial em outro território. Embora distintas, essas questões tratam de algo que aproxima os diferentes modos de compreensão da realidade e que constituem o conjunto das ciências, da natureza e humanas. Exemplos concretos dessas ideias têm sido examinados nos últimos anos. Nós trataremos deles ulteriormente.
- Como disse recentemente, isso coloca físicos e cosmólogos como grandes companheiros em uma caminhada maravilhosa rumo à compreensão do universo, tendo por base a ideia de que a natureza possivelmente está ainda em formação. Não somente em processos e fenômenos, mas na constituição de suas próprias leis.
- E surge então a questão: como mudam as leis? Nós examinaremos essa questão em outro lugar. Mas um comentário aqui se faz necessário. A estabilidade das leis da física observadas em laboratório terrestre decorre do fato que sua dependência temporal envolve tempos cósmicos. Isso significa que somente olhando o universo em grande escala podemos observar esse processo de modificação. Exemplos importantes para detectar essa evolução seriam a análise da nucleossíntese bem como o exame dos processos que deram origem ao excesso de matéria sobre anti-matéria, fenômenos que ocorreram em um estágio extremamente denso do universo, nos primórdios da atual fase de expansão.
Parte II: Aparências, o universo solidário
- A questão inicial envolve o status do princípio reducionista, tão importante para os físicos. Esse princípio, que ao longo do século XX teve um sucesso extraordinário, pretende que qualquer processo na natureza, qualquer sistema, independentemente do grau de sua complexidade, pode ser explicado a partir da redução a seus elementos fundamentais, conforme, por exemplo, aqueles descritos pela física microscópica. Aplicado esse princípio ao Universo, concluiu-se, de modo simplista, que não poderia haver nenhum efeito novo capaz de modificar as leis da física a partir da análise global do universo. A única alteração, se houvesse, poderia ser quantitativa, mas não seria qualitativa. Esse princípio dito “do microcosmos para o macrocosmos” foi usado como um guia para o tratamento das questões cósmicas.
- Por outro lado, sabemos do sucesso que teve o alcance da compreensão das propriedades das diferentes substâncias a partir do reconhecimento e da exploração de seus constituintes, de seus átomos fundamentais. A tabela de Mendeleiev trouxe notáveis avanços na compreensão de propriedades comuns a diferentes substâncias. Sem a noção de átomos, de elementos fundamentais a todos os corpos, as dificuldades de dar sentido e de compreensão para um grande número de processos com que nos deparamos no cotidiano ou em experiências programadas seriam certamente menos eficientes. Esse sucesso, no entanto, foi levado a um extremo que passou a ser não mais um instrumento útil de análise da realidade, mas, ao contrário, um conceito inibidor do pensamento. Passou-se das moléculas aos átomos, e desses aos componentes mais elementares, prótons e elétrons. E, continuando esse procedimento, aos quarks e possivelmente outros constituintes fundamentais. O reducionismo a componentes elementares foi entendido não como uma tentativa de compreensão baseada em observações, mas sim como uma prática de pensamento que deveria desempenhar o papel de uma super-lei, à qual toda e qualquer proposta científica deveria se submeter: como se fosse uma verdade isenta de crítica ulterior.
- Descartar a importância da ação de processos de natureza global que não podem ser compreendidos pela justaposição de processos elementares foi certamente um retrocesso no caminho desbravador dos astrônomos que desde o século XVI iniciaram a revolução científica e estabeleceram a ciência moderna. No século XXI, graças ao aperfeiçoamento de poderosos instrumentos capazes de aprofundar um novo olhar para os céus, pode-se produzir modos inesperados de compreender e reestruturar as leis da natureza. Assim, astrônomos e cosmólogos estão uma vez mais criando condições para o surgimento de uma profunda mudança no modo científico de descrever a natureza.
Parte III: Práticas
- Podemos aprender com a história das ideias as enormes dificuldades que o programa de auto-critica da ciência que estamos descrevendo inevitavelmente se defronta.
- Essa proposta desqualifica a ideia de que o conhecimento cientifico se identifica como a perseguição à descoberta da pedra de Roseta dos processos físicos – um tradutor automático das leis da natureza e suas representações — uma ilusão que sustenta ideologicamente muitos procedimentos científicos. Curiosamente, a eficácia desses procedimentos independe dessa ideologia.
- Por exemplo, o projeto de Giordano Bruno não se restringia a propostas de mudanças, pequenas ou grandes, que poderiam ser produzidas na sociedade, provocando o aparecimento de um novo homem. Invertendo o procedimento convencional, a ambição de Giordano Bruno vai muito além: ele propõe, ao reformar o céu, gerar uma nova visão do mundo e a partir daí adaptar o destino humano à cosmologia. E somente então, a partir dessa grandiosa reforma, tomando como ponto de partida uma visão da multiplicidade do que existe, apoiando-se na certeza apriorística e para ele evidente, de uma profunda conexão entre a finitude do mundo terrestre e o Cosmos infinito, só então seguiria daí uma natural, consequente e profunda reforma da sociedade. É a abertura e o conhecimento dos mundos infinitos que permitirá que compreendamos a nós mesmos. Levergeois, comentador de Bruno, conclui afirmando que o caminho escolhido permite imaginar que para ele é a lógica do infinito que determina, em última análise, toda a história social. Ao invés de construir um cosmos a partir da racionalidade da ordem social oferecida por seus pares, inverte os fundamentos desse modo, e prefere atribuir ao universo a imagem a ser perseguida na estruturação da sociedade humana. Ou seja, uma vez mais a dicotomia local/global aparece e se impõe.
Como consequência desse comportamento independente, no inicio do século XVII, Giordano Bruno foi queimado no Campo dei Fiori no centro de Roma.
- Entramos então no território da Cosmologia. Mas do que vimos acima, não devemos nos satisfazer com a extensão automática da física aos confins das galáxias, mas sim empreender o caminho percorrido pelo universo para que nele pudéssemos estar. O homem não pode deixar de considerar seu ponto de vista como extremamente relevante, produzindo sua história. Ao mesmo tempo deve colocar sua presença no cosmos como acidental, não como essencial, pois caso contrário estaria cedendo a um processo de auto-adulação da espécie, uma extensão do conceito individual introduzido por Flavia Bruno.
Parte IV: Antecedentes
- Uma ciência como a Cosmologia, não vem à cena social como no estabelecimento de uma ordem política, mas sim como um saber. É desse território que ela envia mensagens interpretadas como ordens e de onde se extrairá consequências para atuar sobre a ordenação social. De braços dados com outros saberes científicos, oferece, gratuitamente, verdades.
- Devemos refletir sobre essa gratuidade e sobre essas verdades. Precisamente porque elas constituem o substrato que permite a condução do pensamento formal e, nos tempos atuais, a geração de uma forma definitiva (e, no entanto, paradoxalmente, mutável) da quase totalidade das certezas que compõem essa rede invisível, mole, liquida, que permeia os compromissos sociais e que controlam sub-repticiamente nosso ser-político.
- É com base nessas premissas que esse manifesto foi elaborado e que decidiu-se torná-lo público, concluindo sua redação ao longo dos próximos tempos, desenvolvendo as propostas e demonstrações que ele exige.
- Precisamos, entretanto, esclarecer algumas premissas e hipóteses que constituem o pano de fundo onde se desenvolve essa crítica, ou melhor, onde decidimos empreender esse diálogo que permite entender o modo real de fazer ciência. Sendo nós mesmos cientistas, a primeira questão que deve ser esclarecida é essa: devemos considerar esse movimento como uma autocrítica ou podemos permitir àqueles outros, os não-cientistas, julgamentos ao nosso funcionamento? Podemos deixar penetrar em nosso território críticas que não foram estabelecidas em nosso campo de ação? Que talvez nem aceitem nosso modo de escolher aquilo que é importante e merece ser tema de nosso diálogo? Ou devemos aceitar somente dissensões internas, que o mais das vezes são vistas pelos do lado de lá, por aqueles que acreditam na ciência e não a questionam (talvez por se sentirem incompetentes para isso) como teimosias de quem (ainda) não possui “o verdadeiro conhecimento”? Como podemos exibir críticas internas que tendem a diminuir o poder acumulado ao longo dos séculos pela atividade científica?
- A história da ciência tem repertoriado um grande número dessas batalhas internas. Mas elas, quase sempre, são vistas como um momento necessário, uma passagem inevitável rumo ao conhecimento. Esse processo é corriqueiro, quase trivial, mesmo que seja associado a uma formidável batalha formal. Mas não é disso que queremos tratar aqui, e como veremos, a razão principal se deve à especificidade da Cosmologia.
- A Cosmologia está se tornando (ou melhor, voltando a ser, depois de um longo período mecanicista, ideologicamente voltado para a formalização determinista do mundo) um território de reflexão e refundação do pensamento. É ali que se encontra hoje — como em seu primeiro movimento quando os astrônomos há mais de trezentos anos, fundaram a ciência moderna – novos modos de pensar a natureza. É talvez por isso que no encontro Humanidades, realizado no Forte de Copacabana, durante a conferência Rio + 20, o pensamento ecológico foi procurar no Cosmos sua fonte de inspiração, querendo entender quem somos, que mundo é esse, como esse universo se estruturou, em qual direção e suas alternativas.
- Vimos a extensão desse movimento no reconhecimento de que devemos ultrapassar a ideia antropocêntrica e simplista de que para entender o universo devemos antes interrogar a nós mesmos. O pensamento cósmico está na base dessa reflexão sobre a humanidade. Não devemos restringir nosso olhar para a Terra e nossa vizinhança. Mas também é importante não esquecer que existe somente essa Terra como nosso habitat, não é fechando o olhar para o mundo sublunar que podemos produzir alguma sentença significante sobre a existência do universo.
- No passado, as religiões olhavam para os céus e de lá traziam verdades e leis rígidas a serem seguidas. Seus sacerdotes possuíam o poder como consequência de sua detenção de saber como intermediar o homem e o universo. Agora, que a ciência se apoderou do saber sobre o universo foi possível dispensar os antigos intermediários. No entanto não deveríamos substituir antigos sacerdotes por novos. Não deveríamos trocar sacerdotes por cientistas para exercer essa função.
- Ao lançar uma ponte com duas direções entre a Cosmologia e outros saberes estamos tentando evitar essa atração, esse terrível desejo humano de ser, ao mesmo tempo, escravo e senhor.
- Os caminhos que antecederam o Manifesto deverão ser esclarecidos na preparação de sua compreensão. O que esperamos dele? Quais suas motivações que levaram à necessidade de redigir o Manifesto? Por fim, não devemos esquecer de pôr em evidência a questão da técnica e o modo pelo qual filósofos, como Heidegger e outros, estabeleceram a conexão que provoca a dependência de nossa visão do mundo dessa técnica.
- Não nos interessa as razões que são chamadas para intermediar o modo pelo qual os físicos tentam desqualificar o papel fundamental da cosmologia enquanto refundação da física. Importa sim seu papel como um modo de ser da desqualificação da refundação como um procedimento técnico, formal.
- Não podemos aceitar a redução imposta pela sociedade dos físicos de caracterizar a Cosmologia como nada mais do que uma física extra-galática (com possíveis alterações, convencionais ou não) ou seja, a aplicação das leis da física construídas nos laboratórios terrestres e em sua vizinhança, ao universo. Consequentemente, atribuindo àqueles que pretendem associar a análise do universo além da simples aplicação formal das leis da física como possuindo uma orientação externa, além da ciência, metafisica — como se isso servisse para uma acusação desqualificante. Em verdade esse procedimento tem por função disfarçar aquilo que nos anos de fundação, na década de 1920, era entendido como a questão cosmológica, querendo com esse termo enfatizar o aspecto problemático da aplicação da física ao universo.
- A Cosmologia teve um sucesso enorme nos últimos anos e a mídia não cansa de exibir seus efeitos exuberantes, um show de pirotecnia a partir da seleção de catástrofes cósmicas.
- Nuccio Ordine em seu Manifesto, parte literata desse nosso, fala da utilidade daquilo que é inútil. Seria esse o destino maior da Cosmologia? Procurar as origens do universo é um trabalho de Sisifo? Cuidadosamente preparado para não ser acabado?
- Quando, em setembro 2015 nos aproximamos, cosmólogos, literatos, filósofos, físicos, antropólogos, mitólogos, em um encontro que chamamos Renascimentos, nos deparamos com a questão da ética que pareceu ser por onde deveríamos começar nossa caminhada comum. Como um recomeçar. E ali ouvimos os detalhes de porque deveríamos sempre apresentar essa atividade como um recomeço. Só assim, entendemos então, porque o cosmos deve ser pensado como um compromisso ético, que Galileu, Newton, Giordano Bruno e outros, no começo histórico dessa caminhada, conscientemente ou não, nos legaram.
Parte V: Processo e historicidade
- A totalidade do volume espacial do universo varia com o tempo cósmico. Há uma dinâmica que carrega as origens do cosmos para um tempo longínquo, possivelmente no passado infinito. Entendemos isso como um processo, com diferentes atores dominando a cena cósmica em períodos de condensação distintos;
- Essa dinâmica é uma evolução. Mas não pode ser identificada com o surgimento da historicidade na física porquanto o cenário convencional, padrão, impõe sua descrição a partir de leis físicas dadas a priori, constantes, imutáveis;
- Processos elementares, como a desintegração da matéria, nesse cenário, são configurações congeladas, fixas, ocorrendo de modo idêntico em qualquer momento da evolução do universo, mesmo quando o universo estava extraordinariamente concentrado, isto é, são fenômenos descritos da mesma forma, tenha esse processo ocorrido há alguns bilhões de anos ou no laboratório terrestre, no CERN ou no FERMILAB. Essa univocidade é entendida sob o rótulo de coerência;
- A dependência cósmica dessas interações elementares, como por exemplo, processos de desintegração da matéria, geridos pela interação de Fermi, provoca uma mudança nessa interpretação. Fazer esse processo depender do tempo cósmico é introduzir, ainda que limitadamente, a história no processo de sua análise. É aceitar que o universo deve ser entendido a partir da evolução de suas leis físicas;
- Esse processo de historicidade é brando, ou seja, admite uma descrição em termos formais simples, associados a formalismos conhecidos e que podem ser compreendidos a partir de configurações observadas nos laboratórios terrestres;
- Um exemplo de historicidade dura aparece ao entendermos que os fenômenos a serem descritos, associados à evolução da estrutura métrica do espaço-tempo, possui bifurcações;
- A origem formal para isso se encontra no caráter não-linear das equações da interação gravitacional que descrevem esses processos;
- Ao mesmo tempo, esse caráter não-linear permite entender a auto-criação do universo;
- Dito de outro modo: não é necessário sair da análise do universo físico para entender sua origem, pois processos não-lineares não requerem necessariamente uma fonte externa que lhes dê origem;
- Ou seja, esse universo auto-criado, não requer um agente externo para provocar sua existência.
- É a partir dessas considerações, baseados nessas análises de evolução do universo e de suas leis básicas que iremos desenvolver a auto-crítica aqui iniciada.
Parte VI: As questões
Tratava-se, ao começo, de verbalizar o que pode e o que não pode ser dito e tratar, a partir do discurso cientifico, de enumerar aquelas questões que parecem fantasiosas ou são entendidas como associadas a processos irrealizáveis, isto é, como utopias controladas. Ideias que, mesmo pertinentes a um sistema formal correto, decorrente de uma teoria em vigência, são abandonadas por sua aparência fantasiosa, estranha, entendidas até mesmo como incoerentes, graças a uma leitura antropocêntrica baseada na identificação completa da natureza física com a natureza humana, ignorando os diversos níveis de complexidade e de organização que constituem obstáculos reais para isso. A origem das dificuldades dessa identificação, bem como a impossibilidade de tratar todos os processos – da microfísica ao universo – a partir da utilização do dialeto newtoniano, o modo de descrever a realidade pela linguagem da física clássica, gerada nos tempos de Newton e seus companheiros, a linguagem cotidiana, pode ser compreendida ao reconhecermos o erro em sua extrapolação que lhe atribuiu um caráter universal e absoluto. Aparecem então as linhas de investigação que criam dificuldades, reconhecidas em algumas sentenças e que consistem em uma lista de propostas que são deixadas no limbo.
Parte VII: O que não pode ser dito
- É possível que tenha havido (o uso temporal aqui é indevido) outros mundos;
- É possível que o universo esteja ainda em formação ou seja inacabado;
- As leis da física não são imutáveis. A dependência cósmica das interações exige uma nova forma de entender a evolução do universo;
- Essas variações permitem mapear diferentes domínios espaço-temporais do cosmos;
- Limitar nossas considerações sobre o universo a regiões causais constitui uma limitação formal que fora de um dogmatismo absolutista nenhum cientista pode justificar;
- As fantasias acausais de Godel e como entender a frase segundo a qual, no cenário cosmológico proposto por Gödel podemos afirmar que ..”le temps s´habille de mystère.”;
- Os comentários sobre as origens no infinito passado do universo;
- A análise de bifurcações no cosmos;
- Alterações na causação ao longo da evolução do universo;
- O vazio cósmico e buracos brancos injetando matéria nova no universo;
- O cosmos como um processo aberto, território de encontro das diversas formas criadas para refletir, entender, produzir a realidade.
Ao tratar algumas dessas questões os cientistas estão realizando uma revolução que não tem o mesmo caráter da que ocorreu na virada do século 19 para o 20, mas certamente retoma uma concepção maior da atividade do físico em comunhão com seus companheiros de viagem de outros saberes.
Parte VII : Documentos de apoio
Os textos de natureza técnica bem como uma lista de referências importantes como o livro Facts and Speculations in Cosmology (2008) dos cientistas Jayant Narlikar e Geoffrey Burbidge; “Connecting quarks with the cosmos: relatório da National Research Council publicado pela National Academic Press, EUA, 2002 e outros, associados a este texto podem ser encontrados no site www.marionovello.com.br