Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas
Natureza, Universo e Caos
As civilizações antigas olhavam os céus e de lá traziam relatos de fenômenos visíveis e de suas causas invisíveis. Para diminuir a insegurança da imensidão desconhecida do cosmos, cenários míticos de criação do mundo foram construídos.
Diferentes povos produziram diversos recitais dessa criação que resultaram estranhamente semelhantes, como se exercessem uma atração recíproca, como se partissem de uma mesma fórmula e somente a ênfase em um ou outro detalhe específico os distinguissem.
Na história recente, com o método científico, uma nova narrativa apareceu. O mundo transfigurou-se em universo e novos modos de interpretar os fenômenos do céu apareceram, propondo uma descrição completa de tudo que existe, a matéria, a energia e a própria estrutura do espaço e do tempo.
A descrição dessas totalidades sejam elas entendidas como abertas ou fechadas, o cenário onde se apresentam os diversos cosmos, embora distintos, possuem uma inusitada corrente que os liga, uma possível herança de um modo fundamental de propor uma cosmologia.
Nesse simpósio, organizado pela revista eletrônica Cosmos e Contexto juntamente com o Centro de Estudos Avançados de Cosmologia (CEAC), iremos percorrer o caminho desde a ordem mítica à orquestração científica do que existe, aquém e além da ciência, a história que as diferentes civilizações produziram e que tratam do mundo, do universo, do cosmos e do caos. E, como deve ser todo o verdadeiro saber antidogmático, questionar se devemos aceitar que somente a ciência tenha o monopólio de construção do real.
22 de agosto | quarta-feira
9h | Flavia Bruno |
10h | Nelson Pinto-Neto |
11h | Dulce Maria Critelli |
12h | Almoço |
14h | José Helayël |
15h | Maira Fróes |
16h | Nuccio Ordine |
23 de agosto | quinta-feira
9h30 | Auterives Maciel |
10h30 | Intervalo |
11h | Johnni Langer |
12h | Almoço |
14h | Mario Novello |
15h | Nelson Job |
16h | Elizabeth Cotta Mello |
24 de agosto | sexta-feira
9h | Francisco Mourão |
10h | Intervalo |
10h15 | Wilson Roberto Vieira Ferreira |
11h15 | Franklin Chang |
Resumos:
Katia Maria Paim Pozzer
(Professora do Curso de História da Arte e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).)
Ler os céus em busca da compreensão do Universo
Os mesopotâmicos foram responsáveis por uma das invenções mais importantes e permanentes da história – a escrita. Atualmente, admite-se que ela surgiu na região do Golfo Pérsico, por volta de 3400 AEC. Mas esta extraordinária obra foi resultado de um longo processo cultural, onde os habitantes da terra entre rios tiveram que aprender a ler e a decifrar as mensagens divinas, a partir da observação dos céus e das entranhas dos animais. Desse modo, o surgimento da astronomia, da astrologia e da adivinhação está associado à primeiras civilizações no antigo Oriente Próximo.
Observar os céus e interpretar os sinais das estrelas foi a mais antiga prática de leitura da humanidade. Assim, antes de inventar a escrita os homens tiveram que aprenderam a ler!
Na língua acádica šamû, céus, é um substantivo que só existe no plural, assim como mû, as águas. Esse vocabulário nos remete às concepções da civilização mesopotâmica sobre a natureza. Segundo esse entendimento tudo se originou a partir das duas porções primordiais do Universo: os céus e as águas.
Os astrônomos mesopotâmicos elaboraram uma verdadeira geografia celeste, almanaques, presságios astrológicos e calendários combinando observação dos céus e complexos cálculos matemáticos.
Em meados do I milênio AEC, na cidade de Babilônia se produziu um importante avanço científico, pois os astrônomos começaram a cartografar, de maneira bastante precisa, o movimento das estrelas e dos planetas em relação uns aos outros, mas também em relação ao Sol e à Lua, o que permitiu a realização de previsões exatas sobre a lua nova, a lua cheia, os eclipses e a visibilidade periódica dos planetas.
Na antiguidade a ciência não estava apartada da mitologia, ao contrário, esta última era aprimorada para poder explicar os fenômenos naturais que eram observados. Conhecer artefatos da cultura material que refletem estas experiências e, também, examinar trechos de mitos que buscavam explicar a origem do Universo e do próprio Homem serão nosso propósito nesta comunicação.
José Abdalla Helayël-Neto
Pesquisador Titular (CBPF)
Interações Fundamentais e Cosmologias Modernas: uma relação de síncopes e contratempos.
Com o trabalho de Einstein de 1917, “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, a Cosmologia adquire o status de uma nova teoria física. Em seguida, em 1925 e 1926, com os trabalhos de Heisenberg, Dirac e Schrödinger, estabelecem-se as bases para a descrição quântica do microcosmo. A partir de então, a Física de Interações Fundamentais e a Cosmologia, em regime de síncopes e contratempos, passam a dialogar, até que, nos dias de hoje, o micro- e o macrocosmo não podem ser tratados senão em sintonia fina. A proposta desta contribuição ao evento “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas” é assinalar as ideias, os trabalhos e os debates que, definitivamente, constituíram os marcos da união da microfísica – representada pela ideia do vácuo quântico – com a macrofísica, da qual emerge o grande desafio da constante cosmológica.
Márcio Tavares d’Amaral
Professor emérito da UFRJ
O Cosmos, a Natureza, o Mundo: segundo os sistemas, segundo a vida
Os antigos filósofos, os pré-socráticos (século VI a. C.) foram chamados de ‘físicos’ porque se perguntavam sobre o elemento regente da physis. O caos sofístico (século V a. C. ) pôs a physis na dimensão do caos e centrou-se no logos humano individual, na razão e na linguagem persuasiva. O combate socrático-platônico-aristotélico aos sofistas, no afã de aprender a lidar com o caos e reaprender o caminho da verdade, idealizou e substancializou o cosmos, a natureza, o mundo. Fixou padrões imóveis. Daí a concepção do universo de Aristóteles (século IV a. C.), repetida por Ptolomeu (século II E.C.) ter-se tornado canônica. Fez-se sistema. Já não pedia a contemplação, o recurso aos mitos – olhar o céu com espanto. O desafio copernicano ao sistema aristotélico-ptolomaico e à Igreja não alterou substancialmente essa configuração paradigmática: o sol foi para o centro, mas o conhecimento científico moderno nascente continuou a se apresentar como sistema fechado (a matemática ajudou) olhando para universais: as leis da natureza. Não a Natureza ela mesma. Não a Natureza, o Cosmos, o Mundo, na perspectiva da experiência humana singular.
Entre esses dois grandes momentos, escolas ‘menores’ como o estoicismo e o epicurismo (séculos III a. C. /III E.C) infletiram o eixo da filosofia, do conhecimento para o cuidado. O cuidado de si, de qualidade eminentemente ética, alterou a relação do homem com a Natureza. A Physis passou de objeto a princípio, de caos a lei. Dela se fez uma experiência de inflexibilidade e necessidade absolutas, e os filósofos (Lucrécio e seu ‘De rerum natura’ são talvez o melhor exemplo) propuseram modos de comportamento, não propriamente de conhecimento, diante da Natureza, do Cosmos, do Mundo: agnosia, afasia, apraxia, ataraxia. Uma ética aparentemente negativa.
Esse anti-paradigma correu paralelo e subterrâneo ao dos grandes sistemas de conhecimento, em que a ciência veio, modernamente, a se impor como único modelo válido. O nosso momento contemporâneo, que vale a pena chamar de pós-moderno, decretou a falência de um Real objetivo e de uma Verdade absoluta. A filosofia entrou em sofrimento e a ciência agarrou-se à eficácia tecnológica: tecno-ciência.
E se recuperássemos, para lutar com esse chamado ‘fim da história’, o desejo ‘físico’ dos pré-socráticos e a ética ‘naturalista’ dos estoicos e epicuristas? Justamente nesse momento em que a ciência acolhe generosamente o caos e a desordem, e ‘trai’ sua vocação sistêmica, estática e universalista?
Uma proposta histórico-filosófica. Um desejo poético de reencantamento do mundo. Para que o sol não se ponha definitivamente sobre o Ocidente, e não sejamos nós os assassinos do sol.
Auterives Maciel
Atualmente leciona no departamento de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – RIO) e no programa de pós-graduação – mestrado e doutorado – em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA-RIO).
Do caos ao cosmo : o segredo do grande ritornelo.
Ementa: A construção de um ritornelo cósmico exige uma compreensão preliminar das ordenadas desse complexo conceito. Procurando sua elucidação na passagem das forças caóticas para as forças terrestres, e destas para as forças cósmicas, explicaremos as construções territoriais, as paisagens melódicas e os personagens rítmicos que se encontram conjugados na constituição de um ritornelo territorial. Daí, operaremos a passagem de um pequeno ritornelo a um grande ritornelo. Nossa meta e explicar o segredo dessa extraordinária construção.
Johnni Langer
Professor da UFPB.
Cosmologia e Astronomia Nórdica na Era Viking
A Edda de Snorri é uma das fontes mais completas para se entender a cosmologia escandinava. Nela, a parte do mundo habitado pelo homem é chamada de Midgard; os deuses habitam Asgard. A região marginal não habitada por humanos é denominada de Utgard, e é separada de Midgard por rios. Ao norte, localiza-se Jotunheim, onde se situa também o reino dos mortos, Hel. Ao sul localiza-se Muspell, apesentada como perigosa. O centro do sistema cósmico é a árvore conhecida como Yggdrasill (“cavalo de Odin”). Ela é o centro do universo e o divide em três regiões cósmicas distintas em um eixo vertical: o plano celestial dos deuses, o plano intermediário dos humanos e gigantes, o plano inferior dos mortos – o submundo. A existência de um pilar cósmico separando três zonas distintas, a celestial dos deuses, a intermediária dos homens e a inferior dos mortos, ocorre em diversos povos asiáticos, orientais, europeus, polinésicos, africanos e americanos. A base comum a todos eles seriam mitos xamânicos, mas sua difusão não seria necessariamente por contato cultural direto entre eles, mas pela simples observação de fenômenos astronômicos. A ideia de morada celestial dos principais deuses de quase todas as culturas do mundo é resultado da constatação da imensidão da abóbada celeste, do qual o cristianismo apenas referendou, sendo o simbolismo da transcedência (um ser divino morando nos céus), um padrão observado em grande parte das mitologias euroasiáticas. E o simbolismo do centro (manifestado em montanhas, pilares e árvores cósmicas) seria basicamente advindo da observação da estrela polar (alfa da constelação da Ursa Menor) – que no hemisfério norte é quase fixa, pela sua proximidade com o polo celeste boreal – sendo que as constelações parecem se movimentar em seu entorno, criando as figurações de prego, estaca, pilar, buraco no céu, centro do mundo, em grande parte das culturas euroasiáticas e na Escandinávia da Era Viking. As evidências materiais apontam um sofisticado conhecimento náutico dos nórdicos durante a Era Viking, tanto pelas suas descobertas geográficas no Atlântico Norte durante o medievo quanto pelo encontro arqueológico de instrumentos de navegação como bússolas solares (para indicar a latitude e certos horários). Como a maioria dos antigos povos navegadores do hemisfério Norte, os nórdicos devem ter utilizado a estrela Polaris (alfa da Ursa Maior) como referencial indicador do Norte. Em um manuscrito islandês (GKS 1812 4to, De ordine ac positone stellarum in signis), na sua seção datada de 1192 d.C., existe a menção a cinco constelações que seriam conhecidas no mundo escandinavo antes da cristianização, utilizando nomes nativos: Kvennavagn, A carroça da Mulher ou Senhora (identificada a moderna constelação da ursa Menor); Karlvagn, A carroça do Homem ou Senhor (Ursa Maior); Fiskikarlar, Os pescadores (o cinturão de Órion); Ulf’s Keptr, a Boca do lobo (o aglomerado das Híades na constelação de Touro); Asar Bardagi, Campo de batalha dos deuses (Constelação de Cocheiro).
Mario Novello
Professor Emérito do Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas.
O universo inacabado
A grande revolução na física do século XX foi a construção da unidade do micro e do macrocosmo. Essa unificação mostrou que as leis físicas locais dependem das propriedades globais do universo e vice-versa. Isso levou alguns cientistas (Dirac, Lattes, Hoyle, Sakharov e outros) a propor que as leis da física variam com o tempo cósmico. Uma tal situação levou à construção de uma nova ordem na Cosmologia contemporânea capaz de produzir uma alteração substancial na ciência e que transborda para outros saberes.
Essa análise da dependência cósmica das leis físicas induz a inesperada consequência de que as leis do universo estão ainda em formação. Surge então a questão: como construir uma cosmologia que conviva com essa dependência?
Para contornar essa dificuldade, diminuir o abalo em suas estruturas e reinstaurar uma ordem cósmica como nos tempos iniciais da fundação da ciência, os físicos imaginaram uma solução simples e efetiva. Trata-se de aceitar a hipótese de que é a gravitação que determina a variação das leis da física no universo. A sustentar essa proposta invoca-se seu caráter universal e seu papel na estrutura da geometria do espaço-tempo baseada em três princípios que sustentam a nova ordem na ciência:
- A universalidade da interação gravitacional;
- A descrição da força gravitacional como modificação da geometria do espaço-tempo;
- A interferência da geometria na constituição das leis cósmicas.
Essa estratégia, por ser uma solução técnica, operando no interior da tradição científica, produz um resultado positivo, permitindo tratar a variação das leis físicas em um contexto conservador da ciência, limitando o efeito perverso que essa ausência de rigidez provoca no modo convencional de assegurar a consistência das leis. No entanto, embora ela reduza as dificuldades geradas pela dependência cósmica das leis físicas, ela não elimina a inquietude que essa dependência provoca com a consequência perturbadora de que vivemos em um universo inacabado.
Nelson Job
Psicólogo, Doutor em Histórias das Ciências, das Técnicas e Epistemologia
Vertigens na Unidade Dinâmica
Existem várias perspectivas de como o cosmos funciona. As versões de desse funcionamento se dão, muitas vezes tendendo à parcialidade: uma descrição física, um mito de origem, uma conceituação ontológica, uma representação pictórica etc. Nossa apresentação tratará de como várias dessas perspectivas confluem e como se pode habitar o campo conceitual ao longo delas. Nesses transaberes, emerge uma “unidade dinâmica”, em que imanência e devir coabitam no emaranhamento ao longo da filosofia, ciência, arte e espiritualidade, estimulando suas ressonâncias mais intensas. O que chamamos de “unidade dinâmica” norteará essas ressonâncias ao longo desses saberes.
Francisco Alves Mourão Neto
Sacerdote Taoísta
“Do que não tem forma nascem todas as coisas” Três vias Taoístas na direção da criação do Universo
- VIA MITOLÓGICA: O Mito de Pangu, que ao romper o Ovo de 18 mil anos, separa o Yang e o Yin, criando e sustentando o Céu e a Terra.
- VIA SISTÊMICA: O ABSOLUTO gera o UM, o UM gera o Dois, o DOIS gera o TRES ,o TRES gera as DEZ MIL COISAS; UNIVERSOS-BOLHA sequenciais; POVOS-RAÍZ.
- VIA MÍSTICA: Do que não tem forma, nascem todas as coisas. O que não tem sentimentos mantem as coisas em ordem. O que não tem nome, cultiva todos os seres.
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi
Por que o mundo tem que acabar? A “Neo-apocalíptica” e a Escatologia Líquida
Diariamente o mundo acaba diante dos nossos olhos, seja no cinema na atual safra de filmes- catástrofe, em séries de TV sobre Nostradamus, previsões “científicas” de algum tipo de futura catástrofe ambiental ou em algum “hoax” descrevendo cometas, asteroides ou planetas errantes que cairão sobre a Terra. A última, foi sobre um pedaço do Planeta X que supostamente cairia no último dia 16.
Por que o mundo tem que ser destruído? No passado, todas religiões possuíam uma Escatologia: alguma narrativa sobre o fim dos tempos onde os maus seriam punidos e os bons salvos. Mas essas religiões se tornaram “líquidas”: sob os escombros das antigas religiões salvacionistas viraram pastiches que se rendem ao utilitarismo das necessidades do presente – “teologia da prosperidade”, “cabala do dinheiro” ou o islamismo dos homens-bomba. Esqueceram-se do futuro.
Por isso, essa nova religião “líquida” e ecumênica precisa criar uma nova Escatologia, uma narrativa midiática sobre o “fim dos tempos” que junte convicções eco-ambientais, geofísica e astrofísica.
O ano de 1999 foi uma espécie de divisor de águas nas profecias sobre o fim do mundo. Naquele ano a chegada do novo milênio foi marcada pela confluência das profecias de Nostradamus e do “bug do milênio”
Por que um divisor de águas? Se olharmos em perspectiva os diversos apocalipses previstos para a humanidade, antes de 1999 a grande maioria girava em torno de interpretações de textos bíblico como a chegada de Jesus para os adventistas em 1843 ou para os mórmons em 1891.
É precisamente esse componente moral da escatologia que entra em crise com a perda da legitimidade simbólica dessas grandes religiões monoteístas
Desde o pós-guerra, sob os escombros das teogonias e escatologias das grandes religiões monoteístas, há o surgimento do misticismo de massas com a Astrologia e o que se convencionou chamar de New Age
Parafraseando Zygmunt Bauman, as religiões tornaram-se “líquidas”: mescla de fundamentalismo nostálgico com uma colcha de retalhos que vai além do sincretismo religioso – rende-se ao utilitarismo.
Essa liquefação dos grandes sistemas religiosos do passado corresponde à própria liquidez da infraestrutura econômico-financeira da ordem global – a liquidez ou a financeirização das praças financeiras conectadas em tempo real.
A Globalização necessita agora de uma nova religião ecumênica que dê legitimidade às novas bases materiais. Uma nova religião igualmente sem pátria, global, feita a partir do pastiche dos escombros dos grandes sistemas religiosos.
Franklin Chang
Professor de Psicologia Analitica
Cosmovisão e Psicologia Analítica
A visão cosmologica da Psicologia Analítica de C.G.Jung, engloba tanto o mundo exterior material e visível, quanto o mundo interior psíquico e invisível.
Um paralelo à essa visão é o princípio do macro e do microcosmo, que afirma que tudo que existe fora do homem, existe também dentro dele.
Para os.chineses, existe o mundo das formas yang e o mundo dos objetos concretos yin. O papel do homem seria o de unir esses diferentes .mundos, através da atribuição de um significado consciente.
Assim sendo, o ideograma do rei (wang), tres linhas horizontais cortadas por uma vertical, significa que o homem superior estando no meio entre o céu e a terra, une-os através da linha vertical, que significa sua consciencia.
C.G.Jung nomeou esse princípio que une céu e terra, conforme seu comentário do I Ching, como sendo o da sincronicidade, ” uma forma de.pensar acausal” que é complementar ao princípio causal e racional.
Um aspecto importante da sincronicidade é o do arquétipo psicoide, capaz de unir Matéria e Espírito, criando aquilo que os alquimistas medievais chamavam de “unus mundus”.
A consciencia ocupa um papel fundamental na Cosmovisão junguiana, porque ela é o que permite ao homem participar do contínuo processo de criação cósmica. Assim, o papel do homem é dignificado, e adquire um.significado único.
Luiz Carlos Bombassaro
Professor Associado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Universo, uma substância única – As bases metafísicas da cosmologia em Giordano Bruno
Não bastasse o rompimento com as estruturas conceituais e as provas empíricas contrárias à cosmologia medieval, fundada na autoridade do pensamento aristotélico-ptolomaico e na tradição da teologia escolástica, quando ainda nem estava estabelecida a nova visão de mundo produzida no alvorecer da modernidade, já soaram forte os argumentos filosóficos em favor da transformação da cosmologia copernicana apresentados por Giordano Bruno. Se, ao olhar do leigo, já era por demais revolucionária – até mesmo herética – a proposta de substituir reciprocamente a posição do Sol e da Terra no antigo sistema planetário de orientação geocêntrica, recuperando e pondo em movimento as ideias heliocêntricas, encobertas pelo êxito de uma “filosofia vulgar”, o que não poderia representar para a mentalidade da Renascença a introdução da ideia de conceber o Universo como uma substância única e infinita? Essa concepção de um único Universo, “Todo-Uno”, homogêneo e infinito, povoado por inúmeros mundos iria implicar não somente uma mudança cosmológica radical. Ela implicaria também tanto a consideração de uma nova ideia de Deus, agora compreendido como imanência indiferenciada, quanto a proposição de uma nova possibilidade para a compreensão da própria posição do humano no cosmos. Grandioso, portanto, o projeto de renovação conceitual proposto por Giordano Bruno. Mas seria esse projeto bruniano realmente consistente e convincente?