Habitar Vortexa
um aconchego para intimidades cósmicas 1
Cada mudança implica em uma cadeia de outras mudanças,
tanto em Ândria como nas estrelas:
a cidade e o céu nunca permanecem iguais.
Do caráter dos habitantes de Ândria,
duas virtudes merecem ser recordadas:
a confiança em si mesmos e a prudência.
Italo Calvino
Vortexa é uma vila intensiva: isso quer dizer que ela existe em níveis contínuos de densidade, sendo, antes de qualquer coagulação, um exercício de sociabilidade a partir dos transaberes. Estamos, por enquanto, em um nível mais etéreo, oriundo de conceitos e projetos. A cada investida em Vortexa, quando cada um suscita uma nova compreensão, técnicas, outras conceituações, cultiva-se na intensidade de Vortexa uma nova densidade, tornando-a mais real, densificando-a. No exato momento em que você lê este artigo e sonha conosco, Vortexa densifica-se um pouco mais. Estamos convidando você a habitar neste momento Vortexa, e dar a sua contribuição no que lhe for mais ético e aprazível.
Vortexa tem essa alcunha devido ao conceito de vortex, oriundo dos transaberes (JOB, 2013). Os transaberes são o transdisciplinar aplicado à vida: do atravessamento de vários saberes – como a filosofia, a cosmologia, a antropologia, as artes, a espiritualidade, a biologia etc. – emerge um emaranhado conceitual que se estende às ações na vida prática. Nos transaberes, há uma imanência entre ontologia e epistemologia, o que chamamos de epistemontologia. Em outras palavras: o estudo do ser e do conhecimento devem ser apreendidos enquanto um só estudo, ou melhor, uma só intuição. Dinamizando, vortexeando a afirmação pré-socrática “ser é pensar”, apreendemos devires que constituem e passam pelos processos de intuição.
No conceito de vortex vários saberes coexistem de forma dinâmica. Ele é autossimilar como um fractal (GLEICK, 1989): os níveis macro e micro, local e não-local correspondem-se. É intensivo, no sentido que se estende ao atual (mais denso, na extensão) e ao virtual (menos denso, tempo e Consciência), sem se tornar um virtual ou atual “puro”. É instável, no sentido que pode deixar de ser vortex e tornar-se um inesperado e imponderável inominável. O vortex compõe outros vortexes e é composto por vortexes. O vortex é um atrator/repulsor, ou melhor, dinamizador de forças. É imanente, mas podendo tornar-se transcendente, no sentido em que transcende a tudo e não poderia mais ser apreendido de forma nenhuma, assim, difere-se de todas as outras transcendências da história do pensamento. É animista, no sentido em que todo o vortex é vivo, posto que todos são dinâmicos – e aqui entendemos dinamismo = vida – em ritmos variáveis, mas em diferentes níveis de complexidade. Apreendamos o que seria uma complexidade, por exemplo, de uma pedra: “pedra” é um nome dado para certa apreensão de um vortex com determinadas características e aspectos, mas nunca é destacada de outros vortexes que se estendem, por exemplo, o chão, os ventos, o mato etc. que compõem uma complexidade mais intensa.
Para se ter uma noção de como o vortex é apreendido diante dos saberes: a filosofia explica o vortex, a ciência explora o vortex, a arte evidencia o vortex, a espiritualidade modula o vortex, a ética cultiva o vortex, o amor multiplica o vortex e em Vortexa habita-se o vortex, no sentido em que se vive o vortex. Nos transaberes, os conceitos principais de disciplinas chaves seriam tentativas de se chegar ao vortex, mas com os limites disciplinares. São parcialmente funcionais e vêm se sustentando ao longo dos tempos por uma convenção entre pares. A saber: quando a física conceitua a energia, a biologia, a vida, a psicologia, a consciência/mente e a teologia, deus, estariam todas tangenciando o vortex. O vortex é apenas um conceito. O vortex na vida é vortexear, uma ação, um processo: compõe devires.
Em Vortexa há cerca de mil habitantes. Acima disso, a vila tende a se multiplicar, assegurando-se as singularidades dessa nova vila a partir do local que ela se instala e das idiossincrasias de seus habitantes. Vortexa, então, multiplica-se por contágio. Nossa Vortexa fica muito próxima à vegetação, em cujo entorno se criam animais. A pecuária é de subsistência, cujo abate é feito de maneira menos sofrida possível para o animal. Cada residência em Vortexa possui uma horta, cujos produtos são intercambiáveis entre os moradores, além de agricultura em seu entorno. A água do rio e cachoeiras próximos serve para ser bebida com mínimo tratamento necessário, irriga as plantações e serve para o abastecimento hidráulico da vila, além de fornecimento de peixes. O cardápio de Vortexa tende a envolver sobretudo vegetais orgânicos como verduras, legumes, frutas, grãos etc. Os peixes geralmente são pescados nas redondezas, consumidos frescos, e os derivados de leite geralmente são de cabra ou ovelhas.
Vortexa não almeja se tornar uma ubiquidade ou uma universalização. Vortexa coexiste com outras vilas ou cidades que possuem outras propostas, ou seja, é integrada ao mundo. Sua singularidade dá-se na sua proposta de vida em transaberes, livre de taxonomias, dualidades, hierarquias etc., no entanto, consciente que está em um mundo que possui majoritariamente outras características, e isso é respeitado, ainda que passível de crítica.
A economia de Vortexa ainda está sendo trabalhada, bem como vários outros de seus aspectos, mas já se tem algum norte: uma considerável parte da economia de Vortexa dá-se através de escambo, podendo ser organizado enquanto sistema de crédito mútuo, ainda que cada habitante possa guardar parte de seu trabalho convertido em bitcoins ou mesmo em moeda que seja necessária para que se possa transitar financeiramente em outras partes do mundo. Uma moeda exclusiva para Vortexa pode vir a ser criada, o fracta, desde que seja conversível e exclusivamente a serviço do sistema de crédito mútuo e que isso exclua qualquer possibilidade desse sistema e dessa moeda serem organizados e distribuídos por um banco.
O transporte é feito por bicicletas, mas normalmente os habitantes andam a pé. Em caso de multiplicação de Vortexa em outras vilas próximas, a interconexão entre elas será feita por trens magnéticos. Automóveis individuais são desnecessários em Vortexa. Caso se queira dirigir-se a outras cidades ou a um aeroporto, há um ônibus elétrico disponível.
Na vila prescinde-se de chefes, então não há empregos (GRUPO KRISIS, 2017). Os fazeres são exercidos provisoriamente: estimula-se que os habitantes troquem de função, se assim o desejarem. O importante é que todos os fazeres passem pelos transaberes, ou seja, sua função seja apreendida como uma ação em um emaranhado (INGOLD, 2015) de outras funções, fazendo com que todas elas de algum modo interpenetrem-se e que os fazeres estejam conectados com o desejo da pessoa, que se evite a função obrigatória. Toda função envolve exercer a potência de ser um vortexeador.
Em Vortexa inexistem políticos. Concordamos com os autores que compõem o Comitê Invisível (2016) no sentido que há muito os políticos são inúteis, servem apenas como entertainers (acrescentaríamos que tendem à certa psicopatia, quanto mais se exerce poder, mais ela tende a emergir) para desviar a atenção do poder que se exerce de fato pelas corporações-instituições financeiras transnacionais. Apreende-se em Vortexa, a partir de Spinoza (2008) que onde mais há potência (e, por definição, alegria e liberdade), menos se exerce ou é exercido poder.
A vila é autogerida e suas decisões são tomadas em reuniões com quem quiser participar das deliberações, locais e gerais. Se o consenso não resolve, parte-se para a democracia direta em que todos votam uma decisão, com peso igual para todos. Vortexa prescinde de hierarquias, tanto no sentido político, e sobretudo, no sentido epistemontológico. Prescinde de eternidade, posto que intempestivamente dura. Em outras palavras, Vortexa constitui-se por Zonas Autônomas Temporárias (BEY, 2001).
As edificações em Vortexa são feitas de bambu, palha, barro e outros materiais ecológicos, tanto as residências como outros espaços de trabalho e convivência possuem o formato redondo, ovoide etc., no intuito de manter a energia vital. Usam o máximo possível de energia solar e outras formas de energia sustentável. É recomendável que seus moradores participem da construção das residências em algum ou vários aspectos. Os dejetos são deixados em fossas com biodigestores, gerando gás e adubo.
As residências são usadas por números variados de pessoas. Os habitantes podem optar por viverem sozinhos, acompanhados por um ou mais cônjuges, com filhos ou não ou em grupo, com ou sem cônjuges. Os filhos, após debate na comunidade, podem optar a morar com outros pais não-biológicos e essa estadia possui caráter provisório, ainda que com duração indeterminada. Toda a vila responsabiliza-se em nível elevado pelas suas crianças, idosos e pessoas com singularidade comportamental e/ou corporal, e, em um nível mais brando, todos cuidam de todos. Em Vortexa apreende-se que a qualidade de vida de uma pessoa é necessária para a qualidade de vida de toda a vila.
Para a ética em Vortexa, o gênero do habitante é indiferente. Homens, mulheres, transgêneros etc. podem exercer quaisquer funções e relacionar-se sexualmente como entenderem. Toda a questão do desejo passa por uma ética, o que é diferente de se legitimar uma tipologia sexual.
Em Vortexa, inexistem leis e sim acordos provisórios, que são sempre questionados e mudados conforme as demandas, os problemas e as deliberações em grupo. Nos conflitos e controvérsias, os envolvidos são ouvidos e se chega a um acordo sobre o que se fazer, que medidas tomar com cada um. Assim, na vila prescinde-se de advogados, ainda que se estude alguns elementos jurídicos, suas questões jurídicas tendem para a jurisprudência.
Todas as decisões são tomadas em grupo. As crianças são ouvidas e imposições são consideradas desnecessárias. Quando se chega a comportamentos extremos, os pais são convidados a deixar a criança com outros habitantes e/ou a criança é mais intensamente cuidada por vortexeadores ligados à educação e saúde.
A educação básica, em Vortexa, dá-se em convivência de crianças de várias idades, em espaço aberto e fechado e durante cerca de 3 horas por dia. Os facilitadores estimulam a criatividade, o aprendizado por descoberta e a curiosidade, e só “ensinam” se necessário. O aprendizado dá-se por temas que atravessam os saberes e nunca por um saber em particular. Evita-se especializações em Vortexa, posto que antes de mais nada todos são vortexeadores, mas, de acordo com a singularidade de cada pessoa em determinado momento da vida, o vortexear densifica-se no que tende a uma atividade mais particular, se aproximando de ciência, engenharia, arte, arquitetura etc., mas sempre passando pelos transaberes. No restante do dia, as crianças brincam, ou fazem o que mais lhe interessarem, desde que os adultos estejam cientes.
Em Vortexa, apreendem-se várias línguas, ainda que exista uma dominante. No entanto, cultiva-se a imersão no pré-linguístico e na pré-imagem, no sentido em que a imanência mais profunda com a Natureza envolve tornar-se Natureza ou cosmos, o que ressoa com o que Deleuze e Guattari (1992) querem mostrar, afirmando que o plano de imanência é pré-filosófico.
Os espaços de educação são também espaços de saúde e lazer. Em Vortexa, apreende-se que corpo e mente são uma só Natureza, fazem parte de um contínuo. Assim, a educação tem aspectos de exercícios físicos, mas que tenha também aspectos de prazer e autoconhecimento. Os espaços são construídos para conversações em roda, onde o vortexeador está junto a quem ele se dirige. Como se dispensa a hierarquia, na educação da vila estão ausentes palcos e tablados. Prescinde-se das “especializações” de médico, psicólogo ou professor. São todos atratores de educação, saúde, lazer etc. O vortexeador que está educando possui aspectos de artista e médico e a recombinação dessas funções dinamiza-se. Em casos extremos, como a necessidade de cirurgia ou de um aprendizado muito técnico e “especializado”, algum vortexeador, se possível, propõe-se a ser mais específico, mas uma técnica de cirurgia, por exemplo, nunca é “pura” e sempre se leva em conta o momento da pessoa, seus aspectos intelectuais e emocionais, além do físico. Pode haver necessidade de tratamentos, operações, internações etc. fora de Vortexa.
Vortexa tem como traço marcante a vida que ressoa com os transaberes. Nesse sentido, a vila dedica-se intensamente a criar, adquirir, suscitar sabedoria, o conhecimento aplicado à vida. Diferindo-se de um campus, em que os estudantes e professores o habitam em prol de uma universidade como centro, em Vortexa, o saber é disseminado de forma descentrada. Os locais de transmissão e criação de saberes, os espaços de convivência são distribuídos e relacionados ao longo da vila. Sua arquitetura, bem como os materiais de construção envolvidos ressoam de acordo com a peculiaridade temática de cada um. Os locais emergem a partir de temas provisórios que se apreendam como maior relevância. Os atratores de cada espaço são estimulados a circular entre si, ainda que se entenda que há mais afinidade com um ou mais temas, e lá eles tendem a ficar por mais tempo. Vamos elencar sete aqui, que dão nome e tema a cada espaço de convivência, ressoando com níveis epistemontológicos nos transaberes:
- Imanência – o contínuo de tudo que existe. Nesse espaço de convivência, apreendem-se as filosofias que tratam da univocidade do um e do múltiplo, as espiritualidades que tratam do Tao, Nirvana, Consciência etc., as ciências que tratam do contínuo e do vazio quântico. Cultiva-se a meditação, pela manhã e à noite existem sessões de meditação coletiva opcional.
- Vibração – as filosofias, as ciências, as espiritualidades e as artes – sobretudo a pintura abstrata e a música instrumental – que versam acerca do aspecto vibracional do vortex/cosmos.
- Atratores – os saberes que tratam dos padrões da vida, ritmo, caos, sequências, percussões, literaturas que criam novas sintaxes etc.
- Emaranhados – o aprendizado das relações: clínica, ressonâncias musicais e de todos os outros tipos, emaranhamento quântico, a biologia do campo morfogenético, sincronicidade, não-localidade, simultaneidade, jogos, brincadeiras.
- Coexistência – a apreensão das relações entre organizações diferentes, coexistentes em níveis diversos: as relações de micro e macrocosmos, autossimilaridades fractais, “colapso de onda”, Monadologia, correspondência, (epi)genética, teatro etc.
- Devir – as mudanças e as mudanças das mudanças (inclusive das supostas “leis” cósmicas), a instabilidade, a turbulência, a transcendência a posteriori, a crítica às escatologias, o movimento enquanto inerente ao cosmos, as passagens, os processos, o cinema, a impermanência (budista etc.). A constatação que o sentido da vida é criar sentidos para ela.
- Espiral – o local mais extenso, de grandes encontros, debates e as maiores celebrações em geral.
O número de 7 é um número qualquer. Outras vilas podem organizar seus temas-atratores de outras formas e mesmo esses podem ser modificados ao longo do processo de aprendizado em Vortexa.
Em Vortexa, anualmente dá-se uma espécie de congresso chamado Co(s)micidades. Esse título propõe que nele se trate tanto do aspecto cósmico quanto da alegria dos temas. O cósmico no sentido em que a vila está inscrita no cosmos e o cosmos nela. A alegria é baseada em Spinoza (2008), quando diz que os bons encontros levam ao aumento de potência, que levam à alegria e que, por sua vez, conduzem à liberdade. O Co(s)micidades também possui ressonância com a obra de Henri Bergson (2004), no sentido em que ela propõe que o riso serve para reprimir as tendências separatistas, denunciando a rigidez, dirigindo-se à inteligência pura e que o riso precisa de eco, ser grupal. Os atratores são oriundos de Vortexa e outros lugares e são convidados para estimular o debate, em roda, sem destaques, com pequenas intervenções, ainda que alguns possam ser reincidentes no debate. O Co(s)micidades termina, como de costume em Vortexa, em uma grande festa.
Prescinde-se do conceito de “doença”, em Vortexa, apreendendo o problema relativo à saúde enquanto diferentes intensidades no fluxo da vida, com a possibilidade de emergir coágulos ou acelerações que atrapalhem o fluxo adequado. Um problema respiratório é apreendido como uma questão dos pulmões, uma densidade no fluxo respiratório que está em um corpo e que todo ele é influenciado e influencia no problema, bem como suas questões emocionais e seus costumes familiares e sociais. Tratar disso é também um processo educacional e uma arte de viver. Assim como ensinar, por exemplo, o cálculo diferencial e integral é feito correlacionando o dx como um aspecto mais específico da mônada leibniziana, com o “colapso” de onda quântico, com fractais, com o Princípio de Correspondência no hermetismo cuja instância de relação mais intensiva é o vortex.
As pessoas de singularidade comportamental prescindem de diagnóstico. A sociedade, em Vortexa, propõe-se a assimilá-las em sua singularidade, legitimando o comportamento singular. Em casos extremos, como o de botar em risco a integridade física de outra pessoa, será feita uma intervenção em que tudo é negociado, inclusive a escolha daqueles que vortexearão o aspecto clínico, bem como as possíveis medicações. A singularidade comportamental é assimilada, porque nela a consistência é mais relevante que a coerência, no sentido em que a criação evoca a liberdade (entendida como a apreensão em que o indivíduo é imanente ao cosmos [SPINOZA, 2005]) e que, posto que esta imanência é extensa a todos, deve-se prescindir de controle, hierarquia: devires consistentes podem engendrar uma nova coerência. Nesse sentido, a intervenção leva em conta que a realidade é múltipla e plástica, e quem possui singularidade comportamental pode estar acessando níveis de realidade mais amplos. Assim, a singularidade comportamental pode ser uma possibilidade de etnografia cósmica, e cabe ao vortexeador que lida com tal pessoa estar atento a isso. É preciso, de todo modo, diferenciar singularidade comportamental de baixa potência ética, ou seja, aquele que simula singularidades com fins manipulatórios e de ganho secundário. Nesse caso, essa pessoa deve ser colocada em questão pelos habitantes de Vortexa.
A espiritualidade é livre, no entanto, estimula-se a prática opcional de meditação e autoinquirição nos espaços de convivência, com várias técnicas. Como autoinquirição entendemos a prática de constantemente usar as acontecências como apontamentos rumo à Consciência cósmica (awareness). Em outras palavras, a meditação secularizada no Ocidente vem se tornando um mero exercício de relaxamento e “expansão de consciência” e ao fim da meditação, retorna-se ao “meditador”. Estamos clamando aqui por uma prática que cultive a percepção e intuição de pertencimento cósmico e que ajude na apreensão rumo à pré-linguagem e à pré-imagem.
Quaisquer dogmas são enfaticamente problematizados, a opção por algum dogma apenas deixa de ser questão depois de várias reflexões em grupo acerca do tema.
A diversão, em Vortexa, é variada, com exibição de filmes com debate, peças de teatro, exposições, concertos de música erudita, shows de rock, pop, eletrônico e sobretudo muita festa. A concepção de Vortexa é festiva, a educação é prazerosa e celebrativa. As pessoas dançam, encontram-se e conversam nas diversas festas que ocorrem geralmente no Espiral. Os esportes também são variados, mas as competições são menos estimuladas, sobretudo na infância, em prol da solidariedade, da coletividade, de modo que o jogo é realizado, sempre que possível, baseado na cooperação. A busca é pela diversão e pelo aperfeiçoamento, o que é diferente de “vitória”.
As pessoas chegam a Vortexa por meio de entrevista em grupo e análise das propostas do que se quer promover na vila. O que se leva em conta são as afinidades com as características da vila e a possibilidade do candidato a co-criar com elas, além de uma intuição do nível de potência ética do candidato e de como ele poderia trabalhar e apreender os transaberes em Vortexa.
Vortexa é uma transtopia bem como uma transcronia, pois por ela atravessam devires transespaciais e transtemporais, no sentido em que Deleuze e Guattari (1992) comentam o Erewhon de Samuel Butler, um anagrama de now here, ou seja, aqui e agora. A vila é intensiva e, por enquanto, sem localização. Mesmo que ela se intensifique a ponto de coagular em algum tempo-espaço determinado, sua potência continua livre, podendo ressoar tanto no cultivo conceitual e existencial de quem se inspire e conspire nela, mesmo habitando outras conjunturas espaço-temporais. Vortexa está em qualquer tempo e lugar, mas mais intensamente na liberdade extrema do vortex(ear) cuja intensidade prescinde de determinações de espaço-tempo. Habitar Vortexa é, antes de morar em algum lugar, atingir um aconchego cósmico de quem adquire intimidade com o vortex, ou seja, a vila almeja ser um excelente lugar para se desenvolver uma intimidade cósmica. Habitar vortexa é adquirir os livres passos da dança tempestuosa que emergem na confluência dos saberes. Vortexa habita seus habitantes tanto quanto seus habitantes habitam nela, em suma, habitar Vortexa é vibrar – no sentido de vortexear – no mais harmônico compasso do vortex.
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Referências bibliográficas
BERGSON, Henri. O Riso – Ensaio sobre a Significação da Comicidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
COMITÊ INVISÍVEL. Aos nossos amigos: crise e insurreição. 1 ed. N-1 edições, São Paulo, 2016.
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix, O que é a filosofia? 1 ed. Editora 34, São Paulo, 1992.
GLEICK, James. Caos- A criação de uma Nova Ciência, 9 ed. Rio de janeiro, Ed. Campus, 1989.
GRUPO KRISIS. Manifesto contra o trabalho. Disponível em http://www.krisis.org/1999/manifesto-contra-o-trabalho/ acesso em 08 de setembro de 2017.
JOB, Nelson. Confluências entre magia, filosofia, ciência e arte: a Ontologia Onírica. Rio de Janeiro: Cassará, 2013.
INGOLD, Tim. Estar Vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2015.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. São Paulo: Autêntica, 2008.